sábado, 27 de janeiro de 2018

O Brasil dos golpes e dos retalhos políticos - reflexo de nosso 'espírito'

O Brasil já havia sido golpeado em contexto diferente outras vezes. Todos que tem olhos para a história sabem. Na década de 1960, projetos de João Goulart (Jango), então eleito presidente da República, iam contra os interesses das elites nacional e internacional. Com Lula, em seus dois mandados, seu projeto de governo não atingiu a estrutura econômica e de poder da elite nacional como deveria, mas interferiu na relação política e econômica do país com a elite internacional, e atingiu o ‘ego’, a vaidade da elite nacional que historicamente é escravocrata e monopolista, além de arrogante e ignorante, chegando assim também na classe média - e até em parte da baixa (classes trabalhadoras), que são potenciais reprodutoras dos modos, desejos e discursos da elite. Isso, somado a fragmentação de uma esquerda historicamente fraca e habitualmente também reprodutora de algumas práticas ‘burguesas’, deu condições para mais este golpe.

Nossa falta de identidade sociocultural (nossas práticas sociais e culturais) reflete na política, suas concepções, crenças e ações. Tentou-se, a partir do governo Lula, de certo modo, buscar esta ‘identidade’ nacional, mas não fomos capazes. Erramos em algumas ações, escolhas e decisões fundamentais? Ou é (ou foi) nosso limite enquanto povo e agentes políticos e socioculturais? Onde nós (e o governo que deve(ria) ser nosso reflexo) falhamos?

“Também somos o que cultivamos, praticamos e consumimos”. Edgar Morin, grande pensador, bem anotou que “o que não se regenera, se degenera”. Nisso, penso que é necessário nos recompormos, e além de reforçar a resistência política, precisamos olhar e buscar um modo mais simples de vida. Ou seja, ‘voltarmos ao simples’, pois, a prática de uma vida que se proponha ou se defenda como digna e justa para todos (com identidade, cultura e uma política coerente equilibradas) deve começar por si próprio, expandindo-se pelo grupo social a que pertença. Caso contrário, o que temos é apenas o ideal e o discurso.


Nisso, muitas vezes, a ‘esquerda’ parece esquecer que o Estado, sua estrutura e seus tentáculos (poderes institucionais), são burgueses, liberal e/ou capitalista (fruto de certas concepções elitistas herdadas da Revolução Francesa), e, no Brasil, este Estado (que poderia ser de ‘bem estar social’ pelo menos), é piorado por certo conservadorismo ignorante, monopolista e escravocrata. Então, ele, o Estado, do modo que é, constituído historicamente, tem um ‘limite’ quanto a sua ‘ocupação’ e suas ações, onde esbarra, justamente, no poder que o criou e controla, a ‘elite econômica’ (burgueses capitalistas). E é com isso que lidamos. Portanto, nossas ‘escolhas’ e práticas pessoais cotidianas (assim como públicas, culturais e políticas), precisam ser reflexo de nosso ‘espírito’, enquanto concepção e prática de vida seja ela individual ou coletiva.