segunda-feira, 28 de março de 2011

Estúdio A & a blogosfera

..o Maninho e o Zé (respectivavente, produtor e apresentador do programa Estúdio A), dois amigos de longa data, me pegaram de surpresa numa tarde dessas e estiveram novamente aqui em casa para gravar outro programa. O assunto: Blogs! Isso mesmo, o mundo dos 'blogues', a blogosfera. Sendo eu um ser que habita um pouco este 'universo' virtual, assim como tantos, dei minha parte de contribuição para o debate sobre este tema tão atual.. Nisso, entra na roda a temática dos fanzines (ou zines), que são publicações independentes (físicas), anteriores aos blogs.. enfim.. Divididas em 3 partes, confiram as entrevistas e imagens nos links abaixo:

http://www.unochapeco.edu.br/unowebtv/play/blogs-01

http://www.unochapeco.edu.br/unowebtv/play/blogs-02

http://www.unochapeco.edu.br/unowebtv/play/blogs-03


& Viva a Contradição!

As amoras e o mundo


Atrás da minha casa tem um pomar. Pequeno, porém, produtivo. Sempre acho um tempo para ir até ele e colher algumas frutas frescas. Frutas colhidas do pé têm outro sabor. Comidas debaixo do pé então, nem se fala! No pequeno pomar atrás da minha casa tem um pé de amoras pretas. Agora está na época das amoras pretas. Me junto aos sabiás e outros pássaros para comer amoras. Moro praticamente no centro da cidade e acreditem, atrás da minha casa tem amoras e sabiás. Adoro amoras pretas! Quando quero fugir um pouco da vida citadina, urbana, vou até o pequeno pomar atrás da minha casa colher amoras. Isso se tornou uma prática quase que cotidiana na minha vida cheia de compromissos com a educação, a informação e a cultura. Colher amoras no pomar atrás da minha casa também é cultura. Saber que lá ainda cantam os sabiás e ouvir os seus cantos é tão importante quanto à informação oficial de todo o mundo. Cultivar um pomar por menor que seja onde existe um pé de amoras e sabiás que cantam faz parte de uma educação tão importante quanto à educação formal de toda a sociedade. Eu colho amoras. Eu cultivo um pomar atrás de casa. Pequeno. Eu tenho ouvidos para o canto dos sabiás. Eu sou um ser urbano e muito mais do que isso. Contrário a lógica de qualquer mercado, de qualquer tipo de civilização burocrata e tecnológica, eu como amoras. Eu ouço sabiás que cantam. Logo, eu sou um criminoso. Sim, um criminoso. Cometo atentados contra a ordem superficial das coisas. Não me contento em ser útil apenas. Quero colher e comer amoras pretas, bem debaixo do pé e de pés descalço, sentir a terra entre meus dedos. Quero degustar todo o sabor dos anos incrustado nas amoras pretas, ouvindo os sabiás cantando. Estar de folga e inútil para o mundo das coisas. Me lixando para a economia e a política do mundo. Esquecendo que existe futebol, novela e sertanejo universitário. Por algum instante ninguém sabe que eu existo. A importância do mundo está no sabor das amoras pretas e no canto dos sabiás que estão no pequeno pomar que tem atrás da minha casa... Porque eu ainda sinto sabor no mundo!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Coisas & gente da minha laia... (divagações no Psicodália 2011)


* nas pontas: dois componentes da banda Os Monumentais (que aconpanham Rafael Castro); da esquerda pra direita: Koti (O Lendário Chucrobillyman); com o chapéu na mão, componente da banda Os Penitentes (que acompanha o Koti), e eu - em foto para uma revista 'colírio'...


eu & O Lendário Chucrobillyman...



descançando um pouco (olha o detalhe no banco!)...


 na adega do Seu Dionísio.. Chico e Maike (o macaco  ou poeta).. pro lado de fora, Liza...



Liza, Rafa, o compositor, guitarrista e historiador André Onghero e eu, prontos para o brinde... 


 degustando...



Tubaína de abacaxi numa lancheria de beira de estrada.. coisa boa!


 Marco Polo, o compositor e vocal da banda pernambucana setentista Ave Sangria & eu.. bate papo instigante nos bastidores...



Sérgio Magrão, Flávio Venturini, eu, Sérgio Hinds e 'o batera'.. antes do 'espetáculo' da banda setentista O Terço...



o mestre Tom Zé e eu.. bastidores e um bate papo daqueles...


* coisas do Psicodália:




resultado de alguma das oficinas de produção visual...



resultado de intervenção performática de um bufão ou clown..


num lugar como este não tem como não dar uma viajada...

* mais, muito mais, em: http://www.epopeiarock.blogspot.com/

boa viajem!






Não se faz mais cristãos como antigamente!


Domingo, geralmente acordo tarde. Meu sagrado descanso semanal. Em dias úteis isso não é possível, pois preciso acordar cedo para as minhas aulas. Alunos me esperam e foi pra isso que eu estudei, essa é minha profissão (além de escrever pra este jornal e tocar rock por aí) - ponto. Gosto de dar aulas, assim como gosto de escrever e tocar guitarra. Também gosto de comer e dormir. Pra mim, isso não é só uma necessidade existencial, é um prazer. Domingo pela manhã eu dormia tranqüilo depois de uma noitada de pizza, vinho, carteado e muita música. No auge do sono acordo um pouco assustado pelo alto volume de um carro de som e buzinaços. “Ué, está acontecendo alguma eleição por aí e eu não fui votar?”. As buzinas irritadiças dos automóveis somadas a minha curiosidade me fizeram levantar da cama para verificar o que estava acontecendo. Muitos automóveis em carreata ostentavam bandeiras azuis e brancas enquanto as buzinas gritavam ensurdecedoras. Claramente aquilo era pra chamar a atenção das pessoas que descasavam preguiçosas nos seus leitos (e para acordar seres notívagos como eu). No som excessivo dos alto-falantes, um locutor anunciava algo ligado a alguma igreja. As palavras ‘igreja’ e ‘Cristo’, foram as únicas coisas que identifiquei no meio de toda aquela orgia matinal. Depois disso perdi meu sono precioso. Amaldiçoei a passeata por isso: “Que coisa! Essa gente não tem mais o que fazer não? Já que estão com o espírito descansado em Jesus, porque não vão dormir e descansar seus corpos vestidos de vaidade mundana ao invés de ficar perturbando o sono alheio? Que tipo de cristãos são esses que acordam em pleno domingo fazendo algazarra pelas ruas da cidade? Pelo que sei, o domingo é sagrado para o descanso, segundo os ‘bons cristãos’. Já não se faz mais cristãos como antigamente! Já não chega os malditos playboys que na madrugada passam com o som dos seus carros arregaçados, acordando quem precisa dormir um pouco? Agora mais isso! É mesmo o final dos tempos!”. A carreata foi embora e levou consigo meu sono sagrado. Passei o dia fazendo nada enquanto aquelas centenas de pessoas se exprimiam em alguma igreja por aí, clamando pelo perdão dos seus pecados.

quarta-feira, 16 de março de 2011

estive por aí...

estive ausente por uns dias e a porra da internet está fora do ar lá em casa desde o carnaval.. a idéia inicial era postar semanalmente algo por aqui, mas... coisas do Caos!

no feriadão do carnaval estive viajando, literalmente! um pouco 'trabalhando', um pouco curtindo (ou muito!)..

estou publicando em doses homeopáticas, impressões desta viajem no www.epopeiarock.blogspot.com .. dêem uma olhada. são textos e fotos (minhas e da Liza) do festival Psicodália 2011, sob meu olhar.. enfim...

enquanto isso, aqui, fiquem com algo (um poema) que publiquei no espaço "Estilhaços Poéticos" do Caderno Comportamento do Jornal Voz do Oeste num sábado desses (abaixo)..

gracias y hasta luego!



















yo.



Um poema (?)


pela noite, vagamente...

vou pela avenida Fernando Machado
recoberto pelo sereno da madrugada
e os carros passam lentamente a procura de uma diversão qualquer
alguns buzinam achando que eu estou pra isso
mas não, eu não sou o que pensam
e nem estou disponível
continuo meu caminho e percebo o movimento a minha volta
entre travestis luxuriosos e putas decadentes, estou eu
um escritor anônimo que nunca publicou um só poema
misturado ao que restou do dia
como tantos outros, um sobrevivente

uma bela pessoa me para e pede se tenho fogo
se travesti ou mulher, não sei
é tão gente que eu não distingo
saco do bolso do meu casaco o avio:
“fiat lux!” – & a bela pessoa sorri
eu não estou afim de saber se é ou não mulher
então vou direto ao assunto:
“não, hoje não meu bem!”
a bela pessoa sorri novamente
saio de cena em meio à fumaça da tragada do cigarro
da bela pessoa que não faço questão de distinguir
& prossigo abaixo do sereno que se intensifica

ando por alguns metros,
quadras e quadras ficando pra trás
meus sonhos e minhas vontades abandonadas
junto aos destroços deste fim de mundo
uma criança disputando o lixo com um gato pestilento me confunde
e uma dor aguda se apossa da minha consciência
perco a razão e uma lágrima queima meu olho, mas não cai
sinto nojo da humanidade por isso
o cheiro de azedo do álcool se mistura com outro cheiro,
algo entre sêmen e mijo
ou um perfume vagabundo que já envelheceu num corpo cansado

num bar que separa uma igrejinha pentecostal de um drive in
mato minha dor com uma cerveja barata
enquanto belisco um petisco rançoso
o bodegueiro tem cara de bandido e a única garçonete da espelunca
tem ares de uma arrogância aristocrática
três pessoas além de mim estão no bar:
um casal que se amassa numa excitação selvagem num canto escuro do bar
e um homem bem trajado que escreve algo a lápis num bloco imundo

sentado no balcão passo alguns minutos em silêncio
e enquanto bebo minha cerveja
ouço uma música sertaneja-chorosa que fala de traição
saída de um radinho AM de cima de um armário velho

a garçonete arrogante de ar aristocrático cantarola
acompanhando a música chorosa do radinho
e o casal continua na sua excitação
enquanto o bodegueiro me encara por detrás do balcão
isso tudo não me intimida e eu termino meu trago em silêncio
nesta noite em que neguei os serviços de uma bela pessoa
coisa que, tempos atrás, jamais aconteceria
penso que estou velho demais pra isso
e meu prazer de hoje já não é o mesmo de ontem

depois de algumas cervejas e do petisco rançoso
jogo minhas moedas sobre o balcão e saio
o olhar bandido do bodegueiro me acompanha até a porta
pelo lado de fora, pessoas passam, voltando ou indo para seus trabalhos
alguns cabisbaixos, outros motivados
os cabisbaixos só vêem o chão
já os motivados, carregam nos seus semblantes, além da ambição,
certo desprezo pelas pessoas errantes da noite
decerto pensam que são menos ferrados, os estúpidos!
não sabem eles o tamanho da escravidão a qual estão submetidos
“a liberdade é uma maldita ilusão nos olhos mortos da conformidade!”

caminho do fim da noite até o primeiro clarão do dia 
depois, integro um horizonte de cinzas...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Festa da Carne 2011 - 2 textículos:

Punk, carnaval e cinzas...

Desde muito cedo, ainda criança, já não simpatizava com o carnaval. Cresci e continuei não me interessando, mesmo sendo a festa mais popular do Brasil - não interessa! Tudo o que é muito popular não me atrai. Até já participei de algum festerê canarvalesco, mas com a única intenção de agarrar alguma menina, zoar com a playboyzada que se reunia nos blocos para encher a cara até passar mal e devolver a podridão estomacal para o mundo e ficar um pouco despercebido no meio da multidão. Alguns pensavam que meu ‘look’ era uma fantasia, por isso eu podia me misturar à multidão e ser menos notado. Não que eu gostasse disso, mas, pelo menos não era o centro das atrações como quando eu saia em dias úteis de semana pela rua desfilando meu ‘niilismo’ estético punk. Nos blocos, lança perfume e bebedeira, entre outras drogas mais típicas do carnaval. Brigas bestas e azaração (a melhor parte, creio!), tudo isso caracterizava (e ainda caracteriza) o carnaval, pelo menos o que eu conheço. Eu, um jovem metido a punk, camisa dos Ramones, Dead Kennedys ou Sex Pistols, calça rasgada no joelho, cabelos espetados (a la porco espinho), coturno ‘militar’, tênis bamba, chinesinho ou all star (neste tempo all star era um tênis barato) nos pés e algum trago barato para fazer a cabeça e suportar o mundo. Tempo de contradições - ainda não curadas (graças a Dionísio!). Não suportava o samba, já que conhecia só o samba enredo e aqueles mais grudentos do ‘mundo pop’ (estes, ainda não suporto). Mas conheci, compreendi e passei a apreciar o ‘samba raiz’, de morro ou terreiro, principalmente. Se tem uma coisa que me traumatizou ainda na infância, é a chamada carnavalesca da globo: “A gente vai se ver na globo!”. Deusdocéu! Enquanto todos extrapolavam suas alegrias contagiantes (mas não para mim), pelas ruas e clubes da cidade, eu era tomado por uma tristeza mundana e pelo pessimismo. O tempo passou e eu pensei que isso acontecia porque eu era ‘punk’ naquele tempo. Mas não. Continuo sentindo (em doses mais suaves) essa mesma tristeza e pessimismo. É, acho que continuo um pouco punk quando o assunto é carnaval.


Samba no pé

Se todo brasileiro tem samba no pé, então eu já não sou brasileiro. Meu Sampa é no copo com alto grau etílico. Até respeito essa ‘manifestação cultural do povo’ – e da globo - plim-plim! Tempos atrás no Brasil, enquanto o pau comia nos porões da dita-dura, o carnaval televisivo (e não a festa da carne da cultura popular) e a copa do mundo de futebol garantiam a ignorância do povo sobre sua própria História e condição presente (na época). Não que eu não goste de samba, aliás, um dos melhores discos da História da ‘música brasileira’ pra mim, é um disco de samba. Mas não aquele samba de alegoria das escolas de samba, mas sim o samba de terreiro de Rui Maurity, um samba encarnado, literalmente. Tudo muito simples e sincero, espiritual, ritualístico, sensual, tribal, sem precisar de trejeitos e da sensualidade forçada das ‘musas do carnaval’ pelo machismo midiático. Nada de temáticas moralistas, nada de clichês e/ou tentativas de convencer quem quer que seja através de algum apelo maniqueísta. Nisso, tenho o samba nos ouvidos, na alma, na carne, no campo acústico e sonoro que é o corpo, na mente. Dizem por aí com o senso comum tapando o sol que ilumina as idéias, que quem não curte samba e futebol no Brasil, não pode ser considerado brasileiro. Que seja! E se assim for, então, não sou brasileiro! E daí? Pertenço ao mundo. A este mesmo mundo, cheio de delírios, equívocos, mediocridades e alguma realidade divertida e intensa na qual eu acho motivos para prosseguir. Me adapto de alguma forma a tudo isso. Ainda bem que o samba vai além do que se sabe dele pela televisão. Ainda bem que no morro o samba está na cabeça e na alma (além do pé). Ainda bem que no terreiro o samba gira e faz girar, o samba dos atabaques afro, das entidades, da roda, do jogo. E o samba acontece divertidíssimo e distante do circo comercial-moral-industrial, sob a proteção de Exu. Neste carnaval-oficial, estarei distante, num mundo astral superior, curtindo rock e samba do meu jeito e ao meu modo. Adôlá!