quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Brindemos por Xapecó!


















A terra em que pisamos agora não teve nome um dia. A mesma terra que já era habitada muito antes da chegada dos imigrantes, das empresas colonizadoras e dos coronéis. Povos indígenas e caboclos eram esses habitantes. Os sobreviventes daquela antiga geração (que ainda são, mesmo em condições não tão favoráveis). A cidade que já foi escrita com ‘X’ um dia, e que passou a ser escrita com ‘Ch’ por motivos ‘obscuros’ (ou por algum interesse de ordem ideológica e política?), hoje aniversaria. Atualmente se fala de algum levantamento antropológico para uma ‘possível’ demarcação das terras indígenas e, antes mesmo que isso aconteça, pessoas, instituições, políticos, entre outros, se mobilizam contra. Que medo é esse? Muita calma nessa hora! É a democracia de vocês que está sendo, de fato, posta em prática! Qual é? Vocês não são só discurso, são? Os indígenas não eram! Os caboclos não eram! Na praça central o busto do coronel. As ruas levam nomes de ‘gente importante’ (e há gente que não é importante? – principalmente segundo a moral cristã) que construiu essa cidade em suas diversas dimensões. Ao lado da igreja matriz, lá está ele, sobrepujante, o desbravador, símbolo da força daqueles que desbravaram o Velho Oeste – no caso, depois dos indígenas e caboclos (mas este é só um detalhe, pra muitos, inclusive, ignorado). Falo do lado dos que ficaram a margem, pois dos ‘desbravadores’ de origem européia, grande parte dos citadinos já o fazem, reproduzindo valores eurocêntricos, mesmo não tendo plena consciência disso. Esses, no caso, já são contemplados pela história oficial e costumes ocidentalizados. Aqui, na dita terra de Condá, forasteiros foram linchados e queimados em via pública, sob os olhos da sociedade, do poder público da época, da política, da igreja, das crianças. Pobres crianças! ‘Mas isso é passado Herman, já não importa tanto!’ Pra mim, ‘historiador’, por mais medíocre que seja, importa sim! Pra mim, escritor-compositor-professor-morador dessa cidade, importa sim! Carrego também, o peso dessa História nas costas e na consciência, pois tenho memória e a alimento com boas doses diárias de exercício mental. Mas nem tudo é dureza nessas minhas recordações. Se não gostasse nenhum pouquinho da cidade, já estaria longe daqui faz tempo. Enfim. As coisas boas são mais fáceis de conservar e buscar. Pra um cronista do cotidiano como eu, me enobrece rememorar e dar meus parabéns pra cidade que também é minha, cantando e dançando ao lado daqueles que muitas vezes não são nem notados. Por isso, um brinde pra nós... TIM-TIM!



Professor não precisa de salário, trabalha pelo gosto e vive do vento

“Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário”. Esse é o apreço que o governador do Ceará Cid Gomes tem pelos professores. Um remédio pra curar sua insensibilidade: confiscar seus bens e dar uma picareta pro imbecil, para que ele sobreviva quebrando pedra (e vamos ver se ainda vai pensar assim). Um medíocre desses deveria perder seu cargo e ter sua vida política cancelada – ‘Não sonhe Herman!’. Ah! Às vezes eu também quero sonhar, pô! Também sou de carne, osso e imaginação! Mas, declarações estúpidas como esta do Cid (que tem o mesmo sobrenome que um dos meus, infelizmente!), não são raras de se ouvir em meios de comunicação por aí, saídas geralmente da boca de (de)formadores de opinião ou ‘autoridades’. Aqui em Santa Catarina, o Sr. Luiz Carlos Prates, ex-comentarista da RBS, agora colunista em jornais escritos do Estado, já declarou infâmia similar. Dias atrás li uma dessas suas colunas onde ele escreveu: “A escola não disciplina (...), e os professores, eles mesmos, são uns frouxos”. Frouxo é a (piiiii...).  E é este sujeito, este ‘jornalista’ e ‘psicólogo’ que será homenageado no almoço do dia da imprensa em Xapecó. Imaginem em que pé estamos! Não tinha outro homem da imprensa para prestar homenagem? Pelo menos alguém que respeite aqueles que lhes deram aula um dia, que os ensinaram a ler, escrever, pensar, etc. Aqueles que prepararam ou estão preparando seus filhos ou netos para o futuro. Não que todos os professores dignifiquem seu trabalho (pois alguns também são medíocres de doer), mas quem são esses ‘engravatados’ para dizer o que um professor é ou não é, deve ou não deve ser e fazer? Deveriam esses ‘faladores’ se curvarem para os ‘mestres’ e não tratá-los como servis. Se vivemos num sistema que trata o professor como ‘qualquer coisa’ e a educação como produto, é o sistema que tem que mudar, ser criticado e penalizado, e não o professor. Os moralistas são os piores entre os medíocres (de)formadores de opinião, ainda mais esses preconceituosos. Deveriam, todos eles, serem calados, tendo seus espaços limitados aos trabalhos braçais, que é pra não ocupar espaço nos meios de comunicação, isso para evitar de alimentar pré-conceitos e reproduzir opiniões idiotas como as que andam vomitando por aí.


Xapecó nas entrelinhas...

Eu penso que a prefeitura deve ter uma explicação. E tem. Tem que ter! Qual é o motivo das lombadas eletrônicas não estarem funcionando no município? Alguém já deve ter se perguntado isso. Uma grana deve ter sido investida nelas e agora elas estão desligadas. Um tempo atrás vi pela televisão um ‘escândalo’, relacionado à corrupção, superfaturamento, coisa assim, envolvendo a empresa das lombadas eletrônicas e algumas prefeituras no Sul do país. E aqui? Algo disso tem haver com a já idosa Xapecó? A empresa é a mesma? São perguntas de um curioso. E eu sou curioso. Muito curioso. Se bem que, só me é curiosidade aquilo que tem algo ‘esquisito’ por detrás. É a tentação. Não tem jeito. A curiosidade é o começo do conhecimento, da sabedoria. E eu queria saber o motivo das lombadas eletrônicas estarem desligadas. Já faz certo tempo. Semanas. Ou meses? Se fossem alguns dias, tudo bem! Tudo tem que ter certa tolerância, mas também, certo limite – quando se trata de questões sócio-estruturais e públicas. Nessa semana de aniversário do município, o poder público bem que poderia anunciar algo do tipo: ‘explicações públicas referentes aos gastos e/ou investimentos serão dadas, até disponibilizadas em outdoors levantados na praça central’, como já aconteceu outrora’; ‘a praça será liberada para apresentações de bandas de rock locais e outras atrações culturais’, como também já acontecia outrora; ‘a prefeitura disponibilizará o som e um palco para que esses eventos artísticos aconteçam’; ‘finalmente, a prefeitura oferecerá um espaço, um estúdio para ensaio e/ou gravações para que as bandas de música da cidade possam prosseguir nas suas produções’, como já foi prometido um dia antes de uma eleição; ‘centros de cultura e arte serão criados nos bairros da cidade, com professores aptos, para que a cultura local acompanhe o crescimento econômico e físico-material do país, e conseqüentemente, da cidade’, entre outros. Utopia minha? Pode ser... Mas aí sim existirão motivos para eu comemorar o aniversário da cidade, já que sou parte dela e deixo minha parcela de contribuição nisso tudo, assim como muitos que por aqui vivem. Tudo para a construção de uma cidade melhor de se viver. Minhas críticas por aqui, nesse tempo de jornal, não é por maldade ou sacanagem, não. Nem por fazer simplesmente oposição ao poder instituído. Antes, uma cobrança por direito e uma preocupação com o lugar onde vivo e onde me construo enquanto gente, ser social-cultural e histórico.


sábado, 20 de agosto de 2011

Uma história da miséria (um conto de ficção?)

Era uma noite fria. Eu e Parafuso andávamos lado a lado em busca de um local  quente para passar a noite. Qualquer lugar é mais quente do que a rua no inverno. Mas fazia anos que não dava um frio tão intenso. Ah, Parafuso! Meu fiel amigo de estrada. Diversas vezes, enquanto eu bebia, ele me fazia companhia, com seu olhar todo voltado pra mim. Olhar sincero, de compaixão. Olhar canino. Depois, quando eu já não mais me entendia, Parafuso deitava ao meu lado com seu corpo peludo e me aquecia. Sempre que podia, eu fazia uma fogueira pra nos protegermos do frio. Não foi diferente naquela noite. Enquanto eu olhava para o fogo, lembrava do dia em que Parafuso apareceu na minha vida. Ah! Aquele olhar! O bichinho era tão pequeno que eu tinha o maior cuidado ao pegá-lo na mão. Havia encontrado um terreno baldio para armar minha pousada, quando ouvi um choro canino que vinha detrás de um capinzal. Me aproximei e foi então que encontrei aquele cãozinho dentro de uma caixa de papelão misturado a alguns parafusos velhos - e esse então foi o motivo do seu nome. Levei-o para perto da fogueira e dividi com ele o pouco arroz com carne moída que tinha. Ele abanou o rabo me retribuindo com um olhar de agradecimento. Olhar que ficou gravado pra sempre na minha memória. Ali nascia nossa amizade. Algo comum nos unia: nossas vidas miseráveis, de abandono e andanças. Alguns anos se passaram e Parafuso cresceu. Eu envelheci junto ao meu amigo peludo. Esse inverno foi o mais frio e miserável que já passamos juntos. O ácido da cachaça corroendo meu intestino, enquanto Parafuso, raquítico, enfraquecido de tanto caminhar e pouco comer, já nem latia mais. Naquela noite, maldita noite, alguns jovens bem vestidos passaram por nós enquanto tentávamos aquecer um ao outro. Derramaram cerveja gelada em mim. Parafuso tentou me defender quando foi chutado violentamente por um dos garotos. O frio estava me matando, não bastasse a fome. A cachaça amenizava minha dor e aumentava meu delírio. Num ímpeto de loucura, despejei o resto de cachaça que havia na garrafa sobre Parafuso que, muito machucado, ainda abanava seu rabo pra mim. Acendi um fósforo e acabei por atear fogo no meu único e miserável amigo. Parafuso não gritou nem gemeu. Apenas me olhou com um olhar de despedida. Em chamas, deu algumas voltas e tombou. O fogo durou até o amanhecer e eu sobrevivi mais uma noite. O efeito do álcool passou e então eu fui perceber o que havia feito. A fome voltou e eu ainda estava vivo. Contive as lágrimas... Meu coração, agora mais frio do que o próprio inverno, ainda insiste em bater.


19/10, dia mundial do Historiador e da Fotografia!


Ruínas de São Miguel das Missões - RS: já faz um tempo...
* o registro da História pela imagem... a poesia na imagem... a linguagem visual... o tempo...


“Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo.” (Paulo Freire)

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 "Ali onde os historiadores tentam se defrontar com um período para o qual existem testemunhas oculares vivas, dois conceitos de história bem diferentes se chocam ou, no melhor dos casos, completam-se mutuamente: a acadêmica e a existencial, o arquivo e a memória pessoal. Pois todo mundo é historiador de sua própria vida passada consciente, na medida em que elabora uma versão pessoal dela: um historiador nada confiável, sob a maioria dos pontos de vista, como bem sabem todos os que se aventuraram pela “história oral”, mas um historiador cuja contribuição é essencial." (Eric Hobsbawm, A era dos impérios)

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"(...) a imagem fotográfica é dramática. Por seu silêncio, por sua imobilidade. (...) A fotografia é nosso exorcismo. A sociedade primitiva tinha suas máscaras, a sociedade burguesa seus espelhos, e nós temos nossas fotografias." (Jean Baudrillard)



As ONG’S e o Estado perneta

Sempre tive um pé atrás com as tais ONG’S. Sei que nem todas servem de fachada para outros fins. Mas também sei que algumas, ou muitas, não são aquilo que aparentam. Esses dias mesmo eu vi pela televisão, uma ONG dessas que dizem defender a causa animal, servindo para o enriquecimento do seu diretor ou presidente. O sujeito vendia animais silvestres e outros pobres bichinhos em extinção pelo site da ONG, via internet, e por preços exorbitantes. Mas não se assustem, não há de ser nada! Só vou piorar um pouco a questão, dizendo que isso não é um caso isolado. Ah! Não é não! Vi um filme um dia que se chama: ‘Quanto vale ou é por quilo?’, de que não lembro o nome do diretor no momento (só sei que é uma película brasileira – e não vou pesquisar agora, estou atarefado e com uma preguiça!). É um filme interessante que soa como uma denúncia as ditas ONG’S (Algumas delas, no caso). O Brasil é uma mina de ONG’S, muitas delas, repito, de muitas boas intenções. Mas como que, nem só de boas intenções vivem as ONG’S, parte delas sugam muita grana e fazem alguma coisinha pra convencer o mundo de que estão dando duro, lutando pela melhoria social. Aquela história, aquela frase que não me canso de repetir: ‘Desconfie de quem só bebe leite!’. Alguns ‘salvadores da sociedade’, os ditos ‘melhoradores do mundo’, estão aí para fins obscuros que beneficiam apenas um pequeno grupo. Utilizam-se da publicidade, da propaganda ideológica e enganosa (mas qual propaganda não é enganosa?), para forjar suas ‘boas ações’. ONG’S que se dizem ambientalistas, outras pela causa animal, desportistas pela saúde, outras ainda pelo fim da miséria, fim da corrupção e o escambau. Como diria o cantor: ‘É muita estrela pra pouca constelação!’. Mesmo que existam aquelas que façam um papel social interessante, por fim acabam maquiando os problemas sociais. E a responsabilidade que deveria ser do Estado, da política, e cobrada do setor privado que também comanda o país, é distribuída à esses ‘grupos de ação’. Rola muito dinheiro nisso. Assim, o Estado se livra da responsabilidade que é sua, livrando também a porcentagem de culpa que seria do setor privado. Ou seja, ONG’S (nem todas, já disse!), servem de maquiagem e válvula de escape para o Estado. São como uma perna mecânica de um Estado perneta, manco ou aleijado. Disfarçam muito bem aquilo que o ‘todo poderoso e sagrado Estado’ deixa de fazer por obrigação.


TP & outros saltos ao infinito...

Uma nova & não tão nova forma de contravenção, de resistência e luta? Hackers, Piratas da rede, Anônimos, Clandestinos, Libertários de uma sociedade que se camufla em disfarces morais. Mas eles ressurgem, sempre! Mascarados sem nome ou identidade – sem disfarce moral. Mais do que um indivíduo ou um número social. Uma História, um conto, uma filosofia, um poema. Uma idéia. Sim, eles se autodenominam uma idéia. E como eu também quis não ser policiado, territorializado um dia. Mas aqui estou eu: Herman G. Silvani, ou Niko, ou quem você quer que eu seja (isso ainda importa?) – o prazer também é meu! E você quem é? Como posso te chamar? É tão fácil te conhecer assim! Agora passo a ouvir os estrondos pirotécnicos de longe. São os fogos da anunciação musical do Caos que vem para livrar do coma aqueles que durante anos estiveram em sono profundo - ou anestesiados pelo medo e a acomodação de ser apenas mais um dentro da massa, ter nome e endereço certo, impostos pagos em dia, fé no calendário & rezas ao além só pra cumprir com a tradição e estar em dia com a vaidade da salvação. Poesias em linguagem humana bem debaixo dos seus narizes, sem adereços ou mirabolâncias ao impossível absoluto. Um novo começo cintila no horizonte, e eu o vejo. Ele vem devorando as almas embrutecidas pela tradição habitual e gerando possibilidades até então utópicas. Vento nos olhos para nebular a visão da verdade inventada & abrir um céu de alternativas do pensar, do conhecer e ser-estar. Você esta vendo aquela fenda? É por ali que cruzam esses raios lunares que embriagam a noite libertando anseios de crimes prazerosos e divinos rumo a expansão. Não haverá estrelas suficientes no espaço para dar conta de tanta vida nova que surgirá. Crianças e seus cães e gatos correndo pelas ruas, livres e de pés descalço, sem nada para tira-las da selvageria poética dos seus movimentos físicos e de olho. Um absurdo tão belo que fará o coração mais amargo e duro chorar em prantos. Minha ilusão. Minha esperança. Minha fé contra a antiga crença. Fé naquilo que ainda não se fez - mas que sempre esteve por aqui. Agora beijo tua mão e vou descansar. Amanhã é dia de poesia e lá fora as sementes germinam saudáveis plantas que fazem do mundo um lugar ainda habitável, tolerável e cheio de intensidades para contemplar espíritos audazes - como o seu.



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LONDON CALLING (Referência: The Clash)

...vejam só como a grande mídia (Globo, neste caso) tenta mudar o foco de uma questão.. mas o sociólogo entrevistado desconstrói ao vivo essa tentativa.. trata-se das manifestações jovens na Inglaterra..
é a Teoria do Caos meus amigos:

http://www.youtube.com/watch?v=HI1YSPHVeIA&feature=player_embedded#! 

O CAOS NUNCA MORREU!


terça-feira, 16 de agosto de 2011

...é, talvez!

O coadjuvante


O coadjuvante sempre está à espreita. É o segundo, o retardatário. O coadjuvante é puxa-saco, baba-ovo, e tudo aquilo que legitima e deixa bem e satisfeito o protagonista (no caso, o ‘papel principal’ na novela da vida real). Muitas vezes, o coadjuvante fala em nome do protagonista, defendendo-o de possíveis críticas. O coadjuvante é a marionete, o boneco do protagonista, do ‘astro’. O coadjuvante é um reflexo. Quando o coadjuvante se olha no espelho, vê refletido nele aquele que gostaria de ser. Se não puder ser, pelo menos ter alguma relação com seu objeto de cobiça, desejo, com o seu ‘espelho’. O coadjuvante sai em defesa das idéias do protagonista, geralmente, por falta de idéias próprias. O protagonista, por sua vez, aprendeu a controlar psicologicamente o coadjuvante, que nem percebe que está sendo manipulado. Ele, o coadjuvante, faz o que o ‘astro-protagonista’ deseja, muitas vezes induzido, outras, por ser mesmo um baba-ovo. O coadjuvante também quer estar em evidência, mas antes disso, quer que seu ‘mestre’, seu ‘herói’, seu ‘astro’ esteja. Estar em evidência é difícil, devido a concorrência que é muita, por isso, o coadjuvante se vê representado pelo seu ‘ícone’, seu herói. Nisso, não poupa esforços para elevar o nome do ‘astro’. O coadjuvante assim, se sente parte de uma equipe, ou uma dupla, onde ele tapa os buracos do protagonista (no sentido metafórico, sem malícias, ok?), reforçando o que o mesmo diz, faz ou idealiza. O coadjuvante é como um papagaio ou um gravador que reproduz e reafirma os ditos e ações do seu ‘ídolo’. Já o ‘ídolo’ (protagonista), este é tão bajulado pelo coadjuvante (ou pelos coadjuvantes) que se sente único, exclusivo, maioral, superior. Ele, o protagonista, pensa que está além, num nível superior, onde o coadjuvante apenas sonha em chegar. Mas no fim, quem possibilita ares de superioridade ao protagonista é o próprio coadjuvante, sendo que, não existe protagonista sem seu (ou seus) coadjuvante(s). O protagonista não precisa lutar muito numa guerra, pois tem aqueles que lutam e até morrem por ele. A maioria dos que são protagonistas, não o são pelo talento, mas por causa dos coadjuvantes que os seguem e os enaltecem religiosamente. Ambos se completam, geralmente se merecem. Juntos formam uma entidade onde se auto defendem. Um complementa o outro numa relação de poder não tão visível a olho nu, mas tão comum na sociedade do espetáculo.



Eis o homem (?)


Ah! Esses deterministas!

“Se alguém me visse como realmente sou, não suportaria o espetáculo”.
                                                                                            (R. Rohr & A. Ebert)

Muitas pessoas crêem (porque não passa disso!), que passam a conhecer ‘o outro’ simplesmente botando o olho. Acham que é tão simples assim. Acham! Aquele papo já incrustado no senso comum por algum determinismo de ordem moral-filosófica que diz que as pessoas se revelam pelos gestos e modos e sei lá mais o que. Isso é uma ilusão (em alguns casos, ingenuidade). Eu diria que ‘algumas pessoas’ se revelam. Mas só algumas. Outras, ao contrário, escondem segredos e coisas, que nem ‘mestres’ (os verdadeiros), conseguem descobrir. Existem seres humanos com plena capacidade de disfarce. Aparentam uma coisa, mas no fundo, são outra. E esses, enganam mesmo sem querer (não por maldade ou por algum interesse, mas pela própria natureza de ser). Eu sempre tive certa sensibilidade de ‘ler’ as pessoas, interpretá-las observando-as, acredito que devido a minha própria natureza e minhas razoáveis relações com as diversas linguagens das quais me despenho em conhecer, compreender e praticar. Mas mesmo assim, não me arrisco em caracterizar algumas pessoas só pelo fator estético, expressivo ou pelo que ‘eu’ acredito. Elas podem estar se preservando em modos, atos e ações na forma representativa. O que quero dizer, é que muitos representam, mas não são. Mas os tolos não consideram isso e passam a subestimar os outros sem ao menos realmente conhecê-los. O mais aparentemente frágil homem pode ser bem maior do que seu limitado corpo. Os medíocres, esses são mais fáceis de se conhecer, mas mesmo assim, dá pra se enganar. Subestimar os outros, assim como generalizar ou ser determinista nisso, é uma demonstração de estupidez. Nesses ‘sabedores’, nesses ‘conhecedores deterministas’, há um ‘Q’ de dogmatismo cartesiano e uma religiosidade acentuada, porém, enrustida (além do discurso, é claro!). Já os mais existencialistas têm a prudência de considerar cada homem sendo único. É preciso relativizar mais, pra não cair no ‘simplismo’ das ‘verdades absolutas’ e acabadas. Nem tudo é o que parece ser. Nem todos são tão vulneráveis assim aos olhos alheios. Ainda mais, a olhos que só vêem o mundo a partir de si próprios. Coisa comum hoje em dia é ver morcego fingindo que é coruja – ou um pardal se achando falcão.


 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Mas quem é você mesmo?

Não me surpreende idiota qualquer querer criticar o mundo com discursinhos de cartilha e linguagem burocrática, como se isso fosse uma grande novidade, um grande feito. Sim, eu escrevo. Pra algum idiota recalcado que lança seus perfumes paraguaios na blogosfera, eu escrevo num jornalzinho de quinta categoria. Sim, esperava o que imbecil?! Num país que pena pelo seu baixíssimo índice de compreensão?! Numa cidade de metidos a filósofos que não passam de medíocres-bestas de um raciocínio meramente discursivo e reprodutor?! Se o jornal que escrevo é de quinta, ókei! Não tem problema! Como já disse, esperava o que? Como diria um poeta colombiano: “Minha literatura é mediana para um país mediano como é o meu”. Olhar pros outros tendo a nebulosa impressão ou interesse de que eles se acham maiorais, essa insistência, esconde uma gigantesca frustração. Se auto excluir das mazelas mundano-sociais e culturais é que é se postar ‘superior’. E isso é comum, muitos assim se enxergam. Falta tino, teor, culhão. Falta chão pra essa gente que cria ou faz parte de novelas, como as da Globo, onde o mote principal são as intrigas pessoais de caráter individualista pequeno-burguês. Críticos do mundo virtual e do mundo real, sejam do jornalismo oficial e impresso, televisivo ou mesmo de algum blog pretensamente filosófico, esses que se assentam em lugares comuns, confortáveis, são eles os que também fazem engordar o espetáculo de mediocridades já lançados pela indústria cultural, reproduzindo assim a vulgarização das idéias, tornando banais as críticas realmente fundamentadas e desconstrutoras da ‘verdade’. Toda crítica perde o sentido se não acompanhada de uma prática. A critica pela critica não passa de ‘falação’. De teorias ou pseudo-teorias filosóficas o mundo está cheio. Em suma, um amontoado de lixo verbal, publicado pra uma auto-satisfação, um pretexto para uma covardia de ser-estar, um depósito de palavras e tiros ao além. Nesses textos, nessas práticas, podemos até encontrar citações dos grandes, que só servem para dobrar, tentar legitimar alguma idéia ou dito, e que no fim andam na direção do conformismo e da acumulação das mesquinharias pessoais cotidianas. Sim, na sua auto conclusão, no seu auto convencimento, eu sou um escritor de quinta que escreve num jornal de quinta por alguns trocados. E você? Quem é você mesmo?  


Dica de leitura:

                                      * Indicado para os que sonham em ser filósofos um dia...

O ato além da alegoria

Não se escreve apenas para convencer rebanhos ou conquistar seguidores. Nem tampouco para enfeitar o mundo ou alienar a vida. Não, eu não sou um escritor iluminado. Não tenho o dito ‘dom’ da escrita. Aliás, nem acredito nele. Escrever antes de tudo, e de um modo geral, é uma prática (pra mim, uma extensão da minha existência), e, independente disso ser uma profissão ou não, escrevo - ponto. Usar minha própria pessoa como objeto (sendo que, geralmente, escrevo na primeira pessoa) pode causar alguma impressão equivocada. A conformidade me entedia, assim como enxergar unicamente o próprio umbigo me causa repulsa. Quem se propõe a escrever também está disposto a ser lido, visto, conhecido, mesmo que minimamente, ser admirado ou questionado. Quem escreve forma e/ou deforma opiniões (me incluo na segunda opção).

Segundo Gorki: “O escritor é o arauto emocional de seu país e de sua classe, é seu ouvido, seus olhos e seu coração; é a voz de sua época. Deve saber tanto quanto seja possível, e quanto melhor conheça o passado melhor entenderá seu próprio tempo, (...)” – mesmo não tendo plena consciência disso, nem intenção. Alguém lê, absorve, repassa ou nega o que o texto traz de conteúdo. Existem aqueles que, movidos por uma falsa modéstia, não querem admitir que escrevem com certos interesses, enquanto outros, deixam claros seus motivos na própria linguagem do seu texto.

Assim, também devo concordar com Thoreau: “A arte da vida, da vida de um poeta, é, diante do nada o que fazer, fazer algo”. Gritar de dentro de um mundo ideal, seguro, distante da realidade, é apenas ‘masturbação’ - e não sexo. Certa direção e/ou apontamento na escrita também faz parte desta arte, deste ofício, desta vocação: “O propósito do escritor é afirmar, de uma vez por todas, ‘Ele disse’”. (Thoreau). Quem escreve busca o leitor. E há uma tomada de posição nisso. A neutralidade por vezes, acaba sendo um subterfúgio, uma covardia. O medo do risco, a fuga, a auto-proteção daquele que ‘diz’ mas não afirma, pois não quer se comprometer. Ninguém está alheio ou além disso: ‘Produziu, encara-te a ti próprio’ (manifesto tântrico-artístico).

Grandes mestres da literatura mundial, combativos e transformadores de linguagens, pensamentos e contextos, foram críticos em suas obras, como bem anotou Baudelaire: “Todos os grandes poetas tornam-se, naturalmente, fatalmente, críticos. Deploro os poetas guiados apenas pelo instinto; julgo-os incompletos.” E mesmo os pequenos ou medianos escritores, buscam a ‘grandeza’ de suas produções – mas não necessariamente a ‘grandeza’ das suas pessoas – só às vezes, não admitem isso. Nisso, ler é essencial. Ler além da superfície e daquilo que está expresso no papel, com a sensibilidade de visualizar, perceber e compreender. Todo bom leitor é também um crítico, e a crítica não se encerra no pensamento, ela quer a erupção da palavra, do verso, do verbo, da idéia.

Mas a leitura não necessariamente torna alguém mais amplo: “O livro é um espelho: se um asno o contempla, não se pode esperar que reflita um apóstolo”. (C. G. Lichtenberg) – e ela não basta aos que buscam algo mais do que a satisfação do próprio ego. Alguns representam, mas não são. Os que são, vivem em movimento constante. Nisso, produzir arte é produzir linguagem, comunicação: “A arte literária, oral ou escrita, vem a ser trabalhar a linguagem para que de fato contenha aquilo que pretende expressar”. (A. N. Whitehead).

O artista, além do discurso ou do status que o termo carrega, é aquele que atua, compõe, publica, amplia. E a arte tem sua função, e que não é meramente alegórica. Muito ‘poeta’ e nenhuma poesia, assim como, muito ‘filósofo’ e nenhuma filosofia – banalidades contemporâneas. Utilizar-se de determinada linguagem para nada mover, criticar, possibilitar, é reduzi-la ao superficial, onde as vaidades pessoais superam a arte e a própria linguagem.


Eu e os botões do meu uniforme

O relógio despertou no meio da noite. Virei pro lado e com uma pancada certeira silenciei o tirano. Maldita invenção! Quem foi o besta que criou uma maquineta dessas que só serve pra controlar o tempo das pessoas? Pro trabalho, é claro! Pra férias, pra uma cervejinha, nem a pau! Baita invento! Bom pro patrão, aquele vampiro! Suga meu sangue até que pode, e nem sequer agradece! Deveria pelo menos pagar uma cerveja de vez em quando. Mas nem isso. Acordei já era passado das nove e meia. O telefone tocava escandaloso lá na sala. Outra engenhoca inventada pra perturbação do sossego alheio. Mas essa pelo menos serve pra falar com a pessoa que está lá do outro lado. Droga! Perdi o horário. Também, porque que eu preciso ta há essa hora no trabalho? Fico lá esperando o tempo passar. Oito horas todo dia. Ninguém merece! Aliás, merece sim... O patrão! Esse pelo menos ganha dinheiro. Mas na verdade quem trabalha sou eu, repetindo a mesma porcaria todo o santo dia. Será que vou acabar nisso? Será que vou terminar minha vida assim? Sem ver a cor da grana grossa? Enquanto aquele bunda-mole fica só no escritório... Pernas cruzadas, cafezinho, computador, telefone, secretária gostosa... E eu aqui, me ferrando, preocupado com o horário. Maldito condicionamento! Maldita rotina! Mas lá vou eu. Preciso do meu ganha pão. Operário é isso! E saber que fui enganado um dia. Porque minha mãe, meu pai, minha professora e o padre não me jogaram a real? Porque não me falaram a verdade? Não poderiam ter mentido. Ferraram comigo! Estudei pra que? Pra isso? Se bem que nunca fui um aluno exemplar. Um filho exemplar. Um cristão exemplar. Acho que foi vingança deles. Dane-se também! Hoje ainda não sou exemplar. Nunca serei! Não sou um empregado exemplar, padrão, que faz tudo certinho como o patrão manda. Nunca ganhei e nem quero ganhar prêmio algum. Destaque... Que piada! O destaque do mês ganhou uma churrasqueira portátil, de lata. Grandes bosta! O destaque do ano passado então ganhou uma bicicleta paraguaia e uma garrafa de champanha de maçã. E se achando o braço direito do patrão. Parece até que foi convidado pra passar o final de ano na chácara do patrão. Enche os bolsos do patrão e ano após ano vai pra casa a pé. Não tem nem um carro. Nem um cavalo se quer. E teve que vender a bicicleta pra pagar a tevê nova que a mulher comprou. Otário! Bem, já é quase dez horas e o telefone ainda grita. Vou pro batente de uma vez antes que sobre pra mim.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sim, essa é a minha estatura!


“Herman, o dia do escritor passou e você não escreveu nada?!” Escrevi sim! Como é que não?! Escrevo todo dia. Essas minhas maldições às vezes até me dão dor de cabeça. Não busco aplausos nem o brio. Não busco redenção nem a salvação da minha alma pelas boas ações. Aliás, o que faço-escrevo, não está ligado às boas ações, nem de longe. Ontem andava na rua e alguém me atacou. Mãos vazias, mas boca e cabeça cheias de palavras guardadas pra mim. Menos mal. Palavras até ferem, mas dificilmente te fazem ir para um hospital. “Tenho críticas e elogios para te fazer Herman!”. “Tem um tempo pra isso agora?”. Aqui? No meio da rua? “Bem, tu é que sabe!”. “Poderíamos ir para outro lugar... um bar ou café...”. Não, não, tudo bem, pode ser aqui mesmo, se for rápido, tô cheio de coisas pra fazer... “Óquei, é rapidinho!”. Diga lá então... “Blá, blá, blá... Blá, blá, blá... Blá, blá, blá...”. Nisso, dez minutos se passaram. Eu já não sabia mais se continuava ouvindo aquilo tudo ou se abandonava a falação e saía correndo dali. Não que eu não considere aquilo que me falam, mas tudo tem limite. Além do mais, não era o momento nem o lugar pra querer discutir subjetividades como as que estavam sendo ditas. Num momento tive que interromper o assunto e interrompi. Muito bem! Beleza, beleza! Concordo com tudo isso! Ta legal! “Não, não pode!”. “Tu não pode concordar com tudo!”. “Como assim?!”. “Você é tão crítico nos textos!”. Sim, sim, posso ser, mas... “Pode ser?”. “Como assim?”. “Não pode não!”. “Você é!”. Beleza, então eu sou! Mas isso não significa que tudo o que eu diga, escreva ou possa parecer, realmente é. “Ah?!”. “Como assim?”. E lá se foram mais dez minutos. Meu amigo, eu escrevo. Eu divago. Eu publico. É isso. Não sou um pregador, conselheiro ou algo que valha. Sou apenas um escritorzinho interiorano que adquiriu seu espaço em alguns meios de comunicação. “Então você ta me dizendo que tudo o que você escreve você inventa?”. “Que é tudo mentira?”. Não, não. Não tudo! E inventar não é mentir. “Ufa!”. “Já estava pensando que você era um charlatão.” Não chego a tanto. Mas também não pense que sirvo de exemplo pra alguma coisa. Considere meus textos, os que achar que deva considerar. Só isso! “Mas... mas... É tão simples assim?”. É. Bem simples. “Ora bolas!”. “E eu achando que você era grande coisa!”...


Crianças, bichos, pessoas & outras poesias...


Pitoco, o cão & o galo (fotografados na Trilha do Pitoco em algum verão...)



O descanso do Pitoco
























by Herman G. Silvani

A crise do capitalismo e a direita fundamentalista

Em meio à crise do capitalismo estadosunidense e europeu (presente nas diversas tentativas de salvar a Grécia, berço da filosofia de caráter helênica de Sócrates, Platão e Aristóteles, três ideários que influenciam o ocidente ainda hoje), a ultra-direita liberal-conservadora e fundamentalista põe suas garras de fora. Os ataques na Noruega por aquele direitista de cunho nazi-fascista é uma mostra disso. Políticos e militantes da intolerância étnico-racial se organizam velados por todos os cantos do globo. Se antes os judeus eram o principal alvo, hoje são todos os outros povos, os considerados inferiores (entre eles, os muçulmanos). Uma guerra étnico-cultural, político-ideológica e religiosa se desenha. Os valores ocidentais ufanistas de extrema direita atuam velados, de forma simbólica pela ideologia de mercado e por algumas ordens secretas na sociedade já há algum tempo (desde a Idade Média, eu diria). Só não são tão perceptíveis, ou seja, não são vistos ‘a olho nu’ pela grande maioria das pessoas. Só são vislumbrados quando atos de violência como os ataques na Noruega acontecem e viram notícia nos meios de comunicação. Grupos neonazistas e neofascistas, partidos ortodoxos cristãos e algumas ordens secretas, entre outros, atuam cotidianamente na manutenção das suas ideologias e em planejamento para o sucesso das suas tomadas de poder e território. Pregam uma pretensa e suposta pureza, uma superioridade racial-cultural, uma hierarquia social e uma economia forte, assim como seu conceito de raça ideal deve ser. Força física, intelectual, espiritual, cultural, racial, além da econômica. O idealismo de um sistema ‘perfeito’ - mas só para os ‘eleitos’ (é bom que se diga). O combate às diferenças, ao multiculturalismo, a miscigenação, é um dos objetivos centrais dessas ideologias xenofóbicas. A perseguição daquilo que se convencionou chamar de ‘marxismo’ (ou dos ‘comunistas’ – nisso, qualquer pessoa que tenha algumas concepções libertárias é considerado um). A caça às bruxas. A luta do ‘bem’ contra o ‘mal’. O aparente ‘eterno dualismo’. O perigo desse tipo de pensamento é tão presente! Por isso, não se enganem, a intolerância se esconde por detrás de uma moral. E cuidado com os ideais, eles podem sufocar o pouco de sopro de diversidade que ainda existe.


Xapecó em buracos

Já encomendei meu trator. Trator de esteira. Pra andar nas ruas de Xapecó tem que ser. Quanto buraco! E não são de hoje. O pneu ta caro! A esteira mastiga asfalto, mas pelo menos não fura nem rasga. É o jeito! Eu se fosse você, faria como eu. É um investimento, mas... fazer o que... Preciso me locomover neste chão esburacado, neste transito louco e congestionado. Com meu trator novo, além de ignorar tanto buraco, vou poder estacionar em lugares alternativos e abrir caminho quando precisar passar. Os carrões é que se cuidem! Lá vem o trator de esteira do Herman, atropelando tudo. Só vou poupar as crianças e os velhinhos e os cães e os gatos. Cavalos e outros bichos também serão desviados da minha esteira. Mas o objetivo não é esse (ainda não!), senão compraria um rolo compressor, é mais preciso. Por enquanto vou com o trator mesmo. Os buracos são meus obstáculos no momento. Parece que o dinheiro dos impostos não cura as feridas asfálticas. Elas crescem e generalizam. Transformam-se em enormes tumores. Deixam doentes. Fazem vítimas. Elas estão por todos os lados. Proliferam-se como fungos e tomam conta das ruas da cidade. Principalmente daquelas que dão acesso a locais, digamos, menos importantes. Por isso quando ouço dizer que ‘os direitos são iguais para todos’, ou ‘todos são iguais perante a lei’, tenho que rir. Balela! Se eu não tiver grana, o direito vira discurso. Mas quando chegar meu trator de esteira passo por cima também desses ‘detalhes’. Vou ouvir gente falando ‘Olha só, não é aquele escritor maluco do Voz do Oeste naquele trator mastigando asfalto?’. Um tanque de guerra também não seria nada mal. Nele, ao contrário do trator, não seria visto nem reconhecido. E ainda tem a vantagem de o tanque ser blindado e poder dar tiros de canhão. Me protegeria daqueles que querem meu coro e ainda poderia dar uns tiros de vez em quando, só pra azucrinar o marasmo dos finais de semana xapecoenses. Só não vou atirar em vão como fazem alguns por aí com suas metralhadoras giratórias carregadas de festim.  Enfim. Não haverá buraco que eu não cruze.


Miscigenação cultural entre classes (?)

A ira da burguesia industrial-empresarial individualista no Brasil frente ao governo, não é mais pela economia. Mais do que nunca na história do país, grandes empresas e grandes industriais tem tanto dinheiro. Nunca viram tanta facilidade, tanta grana. Suas contas nos bancos estão obesas. A indignação que num passado não tão distante era pela questão econômica, hoje é pela questão cultural. Essa classe não suporta ver gente pobre, filhos dos empregados, classe baixa (ou qualquer outra nomenclatura que queiram chamar), terem acesso a determinados ‘bens culturais’. Mas o extremo de tudo para os abastados é ver a ‘classe inferior’ dividindo o mesmo espaço, que em tese, deveria ser só deles. Os filhos dos pobres freqüentando o mesmo espaço que os seus filhos. O ‘separatismo econômico-cultural’ diminuindo. Isso atormenta a ‘classe superior’. Isso até parece uma equiparação econômica e cultural, e isso, causa pânico só de pensar. Assim funciona a cabecinha de grande parte dos monopolistas brasileiros. Dividir riquezas, dividir espaços, nem pensar! São tão egoístas, tão gulosos, tão gananciosos e egocêntricos que não admitem uma mínima melhoria daqueles que sempre consideraram inferiores. Isso é uma ‘tradição’ no Brasil, que vem desde o tempo da escravidão – e continua. O produtor, aquele que faz a economia do país com seu corpo, assassinando seu tempo, não pode crescer economicamente nem culturalmente. ‘Ele pode ser perigoso!’, pensam alguns imbecis arrogantes. Mas no fundo, é medo que eles sentem. Receio de perder seus status, mais do que suas posses (estas estão mais garantidas, já que aqui, no capitalismo, a propriedade privada é um bem e um direito ‘sagrado’, mais do que a vida, eu diria, pois aquele que tenta roubar um bem de outro, pode até ser morto, nisso, a vida vale menos do que o material, logo, a humanidade é menos importante do que os objetos que ela mesma construiu: ‘ter vale mais do que ser’ – pra mim não!). Os ‘pobres’ estão entrando nos seus salões luxuosos, pisando em seus tapetes vermelhos, bebendo seus espumantes e comendo dos seus pratos exóticos . Os ‘pobres’ estão ‘pegando’ suas filhas e isso tudo os incomoda. Que pena! Mas como dizem, a vida dá voltas... & o Caos sempre esteve por aqui.