Das provocações e conteúdos
Como cronista, já há alguns anos, volta e meia,
recebo ‘provocações’ referentes a alguns dos temas abordados em meus textos. E
às vezes eu gosto das provocações. Ainda mais quando elas vêm com
possibilidades para a ampliação do pensamento. Mas, só às vezes. Quando estou
afim e/ou gosto da ‘brincadeira’, acabo aceitando a provocação, então respondo.
Quando não, simplesmente ignoro, já que tenho muitas outras coisas para fazer. Isso
tudo vai depender do meu estado de espírito ou de meu tempo disponível, já que,
incrivelmente, também sou humano – só pra constar! (‘ridículo, limitado, que só
usa dez por cento de sua cabeça animal’ – talvez um pouco mais ou um pouco
menos – como cantou Raulzito), por mais que alguns achem que não. A provocação
traz em si, no seu próprio termo, duas questões que se integram formando-o: o
‘provocar’ e a ‘ação’ (que no caso, seria o ato de responder). O problema é que
muitas destas provocações são de caráter pessoal e outras tantas não se
sustentam. Geralmente, quando o provocador joga para o lado pessoal, dada
resposta, ele some, foge, sucumbe, desaparece, tira o time de campo, ou, no
pior dos casos, revida com a velha e dissimulada ignorância, na tentativa de
sair imune do jogo. Argumentos nem falar. Quem dirá bom senso – nestes casos. Sensibilidade
então?! Já entra no jogo de sola, erra o pulo (e o golpe) e se estrepa, depois
faz de conta que não foi nada e continua com suas tentativas em outros campos,
potreiros, terrenos ou paragens. E isso, caros leitores, é bem comum. Aprendi,
já faz algum tempo, com meu velho e bom amigo bigodudo (Nietzsche) que ‘as
palavras tem eco’, assim como as ações. Elas reverberam e muitas vezes, criam
força e vão dar em algum lugar. Teoria do Caos. Onde não há controle muito
menos resultados intencionados. Portanto, certa prudência, certo respeito ao
limite do que se deve, se pode ou se consegue dizer ou fazer, é um bom modo de
operar. Questão de bom senso. Sinal de inteligência. O debate, a discussão, o
contraponto é importante e saudável quando coerente e tem conteúdo para além do
ego e da mera especulação. É bem fácil tropeçar no abismo e cair quando não se está preparado
para equilibrar-se acima dele, pois o risco é este quando se caminha sob o
abismo. Praticar bem o equilíbrio e estar com uma boa bagagem faz toda a
diferença nessas horas. Puxando mais uma vez o bigodudo, ‘só se fala daquilo
que se superou’, e a ‘superação’, começa em si ou de si próprio. Saber de onde
se fala, como se fala, porque se fala e para quem se fala, também é sinal de
inteligência. Sim, eu sei que às vezes sou um pouco arrogante – ou pareço, pelo
menos. Reconheço. Mas só um pouco. Até certa dose de ‘arrogância’, às vezes, é
necessária para que as coisas criem corpo e circulem de modo a ampliar do
reducionismo para as possibilidades. Uma forma de ação e não uma condição
humana – neste sentido. Ou seja, às vezes, a arrogância acaba sendo uma
estratégia, um modo coerente de se lidar com determinada situação. Esconder-se
atrás de uma suposta humildade é que não é digno, pois, de muletas (escapismos
e pretextos), a humanidade já está cheia. E os conteúdos existem para serem
postos a prova, para serem experimentados, usados, significados e
ressignificados. São eles, os conteúdos que alimentam o pensamento e fazem da
comunicação uma possibilidade e não um determinismo guiado pela ignorância.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.