* Obs.: o título desta reflexão também poderia ser ‘o vírus e a educação’, ‘o
vírus e a cultura’, ‘o vírus e o conhecimento’ ou ‘o vírus e a sabedoria’.
O
covid-19 ou conrona vírus saiu da Ásia, mas precisamente da China, mais
precisamente ainda da cidade de Wuhan, província de Hubei na região central do
país (e que fica aproximadamente 4h30min de carro até Wudang, onde estão localizadas
as montanhas que abrigam templos taoistas, talvez o maior reduto do taoismo na
China, e a credito, no planeta), e se espalhou pelo mundo - e neste exato
momento em que escrevo, segue a se proliferar. Todos devem saber, a China é o
país mais populoso do mundo, mas também, um dos mais organizados e
disciplinados em sua educação e/ou cultura. Filosofias, espiritualidades ou
modos de vida milenares conferem ao país tal condição. Países próximos também
herdaram deste ‘tigre asiático’ esta cultura que envolve muita espiritualidade,
diversidade e disciplina. E além do conhecimento técnico, científico e
tecnológico que a China possui hoje, foi desta disciplina, provinda da sua milenar
tradição cultural, que a China conseguiu ‘controlar’ a disseminação interna do
vírus que neste instante assola a humanidade. Ou seja, o povo cumpriu o protocolo de prevenção e combate ao vírus, ficando em
casa.
“O
que não se regenera, se degenera”.
(Edgar Morin)
Os
menos sensíveis – ou mais grosseiros (como foi o caso de um dos filhos do ‘presidente’,
o deputado Flávio Bolsonaro), dirão, a partir de um reducionismo simplista que ‘a
culpa pela crise é da China’, outros que ‘o governo ditador e comunista chinês
fabricou e espalhou este vírus para derrubar o capitalismo, os EUA e os países
livres’. Mais abaixo (ainda?!) destes, tem aqueles que, incrivelmente dizem que
‘o vírus foi um plano da China comunista para destruir Bolsonaro’, decerto, dada
a ‘importância’ do ‘nosso presidente’ na ordem do dia e do mundo. Tudo o que
não precisaríamos agora é uma crise diplomática com a China, deflagrada pelo ‘filhinho
do papai’ e seus vômitos inconsequentes. Assim como o pai, cada vez que fala ou
age cria riscos. Ou seja, este governo em forma de ‘clã’ (família Bolsonaro) é
um perigo e coloca muita coisa em risco, atua praticando crimes de
responsabilidade (entre outros), e incrivelmente ainda está no governo do país,
como? Perguntemos isso ao Dr. Sergio Moro, ministro da justiça, alguns
empresários, ao STF, aos deputados e senadores, acredito que tenham a resposta.
"Tudo está ligado, como o sangue que une uma família. Todas as
coisas estão ligadas. O que acontece a Terra recai sobre os filhos da Terra.
Não foi o homem que teceu a trama da vida. Ele é só um fio dentro dela. Tudo o
que ele fizer à teia estará fazendo a si mesmo." (chefe Seattle, 1856)
O
taoismo é uma das principais bases (talvez a principal) do conhecimento milenar
chinês, que envolve a experiência, o estudo e a espiritualidade (que envolve cultivo
de energia e práticas meditativas), sendo uma ‘filosofia espiritual de
conhecimento prático’ que possui uma ‘medicina’ própria e ancestral, herança
dos nativos, organizada por estudiosos, antigos mestres e mestras deste
conhecimento, desta sabedoria.
E
qual é a relação do taoismo enquanto conhecimento e/ou cultura com a situação
envolvendo a pandemia viral? Sendo o taoismo a base da MTC (Medicina
Tradicional Chinesa), ele, enquanto conhecimento, fornece os princípios fundamentais
para várias prevenções e tratamentos. Em Wuhan, a MTC somou-se a medicina
moderna ocidental no tratamento dos casos de contaminação pelo vírus, o que
resultou num trabalho bem sucedido. Enquanto os pacientes infectados eram
tratados quimicamente pela medicina de cunho ocidental, também eram pela
medicina tradicional chinesa. Como prevenção e parte de tratamentos, foram
aplicados os princípios e conhecimentos taoistas do Chi Kung, do Tai Chi, assim
como a acupuntura, a moxaterapia, a meditação, o uso de ervas em chás, a
alimentação equilibrada, etc. Junto a isso, algo fundamental, a disciplina.
Sim, o isolamento social requer de muita disciplina, e para que o vírus fosse
contido, esta postura foi fundamental.
“Através da retidão organiza-se o reino” (Tao Te Ching, Lao Tse)
Então,
a fórmula foi de certo modo ‘simples’ ou prática: de uma forma geral, tratamento
e prevenção somando os conhecimentos (oriental e ocidental), com boa disposição
e organização dos espaços e cuidados necessários aos infectados, e aos não
infectados, o bom uso das tecnologias e a disciplina de parte significativa da
população, em auto-isolar-se e na autoprevenção, a partir dos princípios e
práticas cotidianas de origem tradicional e/ou taoistas. Em suma foi esta
disciplina, a que, infelizmente não possuímos, que fez (faz e fará) a diferença
no controle e/ou contenção do vírus. Por isso, todo respeito ao conhecimento
daquele povo. Aliás, à todo o conhecimento que seja humanizado e que respeite a
naturalidade e a Natureza. Mas, como a realidade não é feita de ‘seria’, tratemos
de lidar com a nossa condição, como a nossa realidade, mas, por favor, utilizando
a inteligência. Nisso, não copiar o que dá errado, mas sim o que dá certo, já é
um grande avanço. Então, copiemos o exemplo de alguns países e Estados
asiáticos como Taiwan, Singapura, Coréia e a própria China, ao invés de
reproduzirmos preconceitos estúpidos contra estes povos e suas culturas. Precisamos
de melhor educação e uma transformação sociocultural (que envolve a política e
também a economia). Educação esta que pode(ria) nos conceder a disciplina
necessária para lidarmos com situações calamitosas como a atual. Por isso VAMOS
PARAR! FIQUEMOS EM CASA já!
"Que
o homem é a mais nobre das criaturas pode ser inferido do fato de que nenhuma
outra jamais contestou essa pretensão." (G. C. Lichtenberg)
Certamente,
se tivéssemos menos prepotência, arrogância e falatórios, mais serenidade e
busca por equilíbrio – ou seja, mais disciplina ao modo taoista, por exemplo, controlaríamos
(e nos controlaríamos) bem melhor a propagação deste vírus, no mínimo.
Equilibrar a si próprios é também somar no equilíbrio da vida, pois ela é isso,
um grande espírito que envolve todos nós, e entre pessoas e vírus, da maior à
menor forma de vida, todos, incondicionalmente, fazem parte da Natureza que,
quando desequilibrada, trata de equilibrar-se para que a vida continue, e neste
reequilíbrio, às vezes, alguns seres são descartados. Por isso precisamos viver
com a Natureza e não contra ela, e compreendermos que nós, seres humanos, não
somos a forma mais evoluída ou melhor de vida, mas sim, mais uma, com tanto
valor quanto as outras - perante a grande-mãe, a Natureza. Pensar na nossa
pretensa superioridade, é uma crença, e não passa disso, pois, como em outras
palavras está escrito na principal obra taoista, o Tao Te Ching, ‘a Natureza,
perante a Vida, não distingue os seres, tratando-os todos, como cachorros de
palha’.
"Céu e terra não têm atributos e não
estabelecem diferenças: tratam as miríades de criaturas como cachorros de
palha." (Tao Te Ching, Lao-Tse)
Que
possamos aprender com este momento difícil, saindo dele ‘fortalecidos,
transformando a tragédia em potência’ (como diria Nietzsche), e aprendendo
sobre tudo que, ‘todo o excesso é perverso’ (verso do Tao Te Ching), e que a
Natureza e a Vida buscam equilíbrio não metas ou objetivos finais. Por isso,
vamos parar de correr e gritar em demasia. Aprendamos a caminhar, com passos
leves, com o vento, e ao invés de gritar, falar ou sussurrar. A Natureza,
grande-mãe e mestra nos oferece Caminhos, para caminharmos com calma e
relaxamento. A angústia e a dor são resultados dos nossos passos, de outro
lado, a alegria e a plenitude também. Passada a tempestade, que venha a
calmaria e o aprendizado, que nos forneça mais sabedoria para não errarmos
tanto.
"A
grande virtude do Céu e da Terra chama-se vida" (I Ching, o
Livro das Mutações)
Cultivemos a energia/imunidade e
fiquemos em casa, agora!