sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

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Com o vento... o ano da serpente (no chinês) vai passando, em meio a algumas brisas e muitos vendavais. Um ano radical, assim como foi o do dragão no ano anterior. O dragão com seu sopro fumegante preparou terreno para a serpente, que com sua sutileza e seus botes letais, percorreu caminhos. Caminhos que são possibilidades. Daqui mais algumas semanas, entraremos a trote, galope ou disparada, no ano do cavalo. O provável é que estaremos em pé e fortes. 2013 tem sido um ano cheio. Foram muitas crônicas ou textos. Alguns mais sérios, outros nem tanto (alguns, em nada sérios!). Textos filosóficos, sociológicos, literários, irônicos. Outros, apenas textos, sem mais. Eu, você e o outro, sobreviventes, como a vida quer. Momentos de prazer e felicidade, outros, de desgosto e tristeza – é o movimento caótico da vida que sopra nossos rostos desenhados pelo tempo. O tempo passa e com ele nós passamos. Nisso, agradeço neste tempo, aos que acompanharam este escriba semanalmente ou aleatoriamente. Aos que como eu, se indignam com algumas coisas do mundo, mas, mesmo assim, não perdem o riso nem a prosa afiada. Estamos na história pra isso, e a vida nos abraça para que, dentro dela, façamos nosso andejo. Enfim. Ano que vem, possivelmente retornaremos mais fortes, pois sobrevivemos à serpente, entendendo mais um pouco que ela faz parte de nós – e como diria meu amigo bigodudo (Nietzsche): “O que não me mata me torna mais forte”. Abraços, saúde e continuação...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 20/12



Leituras do Cotidiano, 20/12

Entre a luz e a escuridão...
















Aproximamos-nos do Natal, a festa cristã. Publicidade e festejos na TV e o Cristo pregado no fundo da câmera de vereadores ou em algum tribunal injuriado. Todos de branco cantando a paz. Mesmo que essa seja apenas um discurso, uma promessa ou um ideal. Xapecó ornamentada com suas luzes e enfeites. Ruas iluminadas, comércio faturando, tudo como faz tempo que é. E importam as fraudes nos concursos municipais? E importa a desvalorização do professor? E importa a constante ameaça no aumento da taxa do transporte coletivo? Os acordões, favoritismos, etc.? E importam os processos de cassação? O suicídio mal homicidado ou o homicídio mal suicidado do professor-vereador? A tentativa de homicídio do assessor? Câmeras desligadas nas horas erradas – ou certas? Enquanto PSD entra debaixo das asas do governo federal. E importa a aliança por aqui? Que o diga o PT. Ou seria o PSD? Há quem diga que: “tanto faz Herman!”. Ou tanto fez? Mas aqui, onde os coronéis cravaram suas cruzes, palanques e suas cercas de arame farpado, aqui no Oeste bravio onde o facão decepou cabeça do índio e a bala calou o forasteiro, onde a paz enfeita a vitrine e a guerra acontece velada – inclusive bem debaixo dos olhos do ‘grande irmão’ (leia-se 1984, o Big Brother de Orwell). Aqui onde eu respiro com um pouco de dificuldade, e mesmo assim resisto, existo, mantenho o riso e a vontade de potência em dia. Aqui onde escrevo essas linhas mal traçadas, onde o ofício de pensar não é visto e poucas vezes considerado, e quando o pensamento se torna palavra escrita-publicada e, finalmente pode ser visto ou lido, para alguns que dizem pensar, ele rechaçado. Aqui nessa terra que já foi chão batido e hoje é asfalto, tapete preto carcomido, onde a água da chuva enche o buraco bem no meio da rua e tudo vira mito. Aqui, onde a maioria dos jornais impressos e televisivos obedecem ao esquema, a base de alguns trocados. Aqui, onde os homens servem às coisas e não as coisas servem aos homens, onde não há trilho, muito menos trem. Aqui onde não tem ciclovias, mas onde máquinas motorizadas, assassinas e poluentes são as donas do espaço público. Onde cães e gatos são abandonados pelas ruas por filhos da puta vaidosos e egoístas que veem nos outros a solução dos problemas que são seus, porque os fazem ser – e não que sejam.  Aqui onde, apesar de tudo, insisto em viver e estar. Aqui onde, apesar de tudo, encontro bons motivos para viver e estar. Aqui onde, apesar de tudo, estou. Faço parte desse contexto, dessa história, e de outras mais. Transito e me movimento no meio disso tudo e muito mais. Em que teço mais críticas do que elogios, é claro, sou cronista! O que é bom eu curto e faço, ou pelo menos tento. O mais, enfrento e transformo em texto. Enfim. Obrigado por compartilharem comigo este singelo espaço leitores! Que sejam bons os próximos dias, o próximo ano! Abraços e saúde! Continuamos...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 20/12



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A alma de um tempo...
















“Eu sou o capitão da minha alma”. Foi assim que um homem de caráter, vivaz como poucos, anunciava sua liberdade. Liberdade que, por mais subjetiva ou relativa que possa ser, ainda tem motivos para ser pronunciada, afirmada, buscada. Ele fez da sua existência algo maior do que uma passagem. Passou, como tantos e como todos que ainda hoje aqui estão. Mas sua passagem deixou caminhos, portas e janelas abertas, por onde o sopro da independência, da emancipação, da liberdade e das diferenças (não das desigualdades), entra e sai, num fluxo constante de movimento, onde o respeito e a convivência são valores básicos e insubstituíveis da humanidade. Não foi um mero exemplo que ficou, pois continua sendo. Mais que isso, é inspiração e símbolo de homem público que luta por humanidade - entre os maiores símbolos de resistência que já existiram em forma humana - e não só símbolo, mas realidade! Foi um resistente que ampliou o conceito de política a sua maneira. Um homem destinado a resistir e viver, a olhar para o outro para ver a si próprio. Um povo, uma luta, uma imagem. Mandela permanecerá sempre vivo, na memória, na alma, nas ações e palavras daqueles que tem o ardor da humanidade latente dentro de si. Vivo até que o último homem que perceba, respeite e cultive a relação com o outro respire e pise nesta terra. Fez parte da alma de um tempo. Sentiremos saudades...


·         Em memória de Nelson Mandela. 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 13/12...



Leituras do Cotidiano, 13/12

Esporte espetacular!

‘Selvageria no estádio’. Foi nesse tom que ouvi várias vezes a notícia. Mas não, o que aconteceu no jogo em Joinville, entre Vasco e Atlético Paranaense, não foi selvageria, o que caracteriza o chamado ‘reino animal’ e não ‘racional’. Foi sintoma de demência cultural, isso sim, pois como futebol, violência também faz parte de determinada cultura. Uma coerência dentro de certa realidade. ‘Como assim Herman?’ Ué, não andam chamando estádios de Arena? Em Xapecó mesmo, um dia já tivemos o ‘Regional Índio Condá’ que agora passou a chamar-se ‘Arena Condá’. Saiu o estádio regional e o índio, entrou a arena. E Arena é pra isso: luta, violência, espetáculo ou ‘circo para o povo’, como bem acontecia no Império Romano. Numa cultura onde se promove a disputa, a competição, a busca por uma 'vitória' idealizada, onde, junto a isso, a violência é entretenimento e geradora de lucros. A supervalorização do futebol, de torneios e grandes negócios como o UFC, filmes e novelas que idealizam e fomentam a disputa, pela própria grande mídia, que é a mesma que promove e depois noticía, que enaltece e depois 'critica'. Eis o jogo, eis o 'espetáculo!’. Então, imagens como as que vimos no jogo em questão pela televisão, 'fazem parte do espetáculo' (leia-se 'A sociedade do espetáculo' de Guy Debord). A grande mídia fala em 'punição', ok! Nisso, deve ser a primeira a ser punida, com a limitação de vínculo de determinados programas, jogos, 'espetáculos', etc. ‘Mais arte, menos esporte competitivo!’ – caso contrário, ‘tá tudo certo!’


Enquanto isso em Xapecó...

Nessa semana tivemos o lançamento do DVD do 'filme da chapecoense'. Não tirando o mérito do time, nem desprezando o papel motivador e a paixão do torcedor, mas, o espaço onde o filme foi lançado foi no shopping pato Chapecó, para um número restrito de convidados. Então... Na hora de pagar ingresso, motivar o time, brigar por ele, sofrer nas arquibancadas, alimentar esse esporte e espetáculo, o povo é motivado e induzido a participar, assim como, é útil. Já na hora da divisão da 'alegria' da conquista, da colheita dos louros, o mesmo povo é escanteado. Baita, né?! Não, não estou reclamando, nem tampouco de mágoa por não ter sido convidado ao lançamento. Isso não é importante pra mim. Só estou tecendo minhas impressões, cronista que sou, a partir do que percebo, vejo, analiso. E eu vejo e não morro tudo...

*

"Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está em todos nós. E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros. " (Nelson Mandela)


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, sexta-feira 13...



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A baixo das luzes...











Nostalgia (filme de Andrei Tarkovsky)


Deixe de lado os discos que lhe dei. E quando sair não se esqueça de apagar as luzes. O Natal já começou. As crianças alegres esperando presentes, já que vivemos sempre esperando algo, alguma recompensa. Desde novos somos motivados a isso. Então querida, não culpe as crianças. Elas não sabem os motivos do que acontece para além dos seus sonhos. Seus desejos são apenas desejos de quem aprende desejar através dos mais velhos. São herdeiras dos nossos excessos e de nossas faltas, das nossas crenças e de nossas políticas, de nossas realidades e das nossas hipocrisias. Os discos que lhe dei, não tem mais valor, eu sei. Doe-os para alguém que os possa novamente ouvir, sentir e dizer: ‘Nossa, como os discos de vinil soam bem, geram outras sensações!’. Não, não é apenas nostalgia, romantismo, saudosismo ou algo que valha. É sim a sensação do corpo que pede, treme, vibra e se agita junto do som. É a alma que canta. Saí da nossa casa antes de ti e antes do Natal. Nunca tivemos pinheirinho brilhando na nossa sala porque para as crianças pareciam indiferentes. Hoje, já não sei se eram.  Então penso nas crianças que na rua olham as luzes de natal brilhando, e se ganham algum presente de algum bom coração perdido como o meu, ficam felizes. Meus olhos são como os olhos dessas crianças que, cedo ou tarde, brilham para o mundo, e é esse brilho que alimenta a vida de esperança, a tão necessária esperança de que tudo mude e possa voltar a ser bom, como já foi um dia.


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 06/12



sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Concebido numa tarde ociosa...

















('Vision' - Odilon Redon)


Sempre que vem alguém dizer ‘você está  bem hoje’, é porque num outro dia você não estava bem. Outro dia, alguém veio e disse: ‘Herman, você está estranho hoje!’. Isso me deixou tranqüilo, pois, dentro de certa lógica, significa que, normalmente, não estou estranho. Guardadas as proporções e relatividades disso tudo, cada dia é um dia e a cada dia o estado de espírito se comporta diferente. Quando alguém vem e fala: ‘O que foi?’, sem ter nada sido, algo está errado. E se não é contigo, certamente é com quem perguntou, pois essa dúvida, essa desconfiança, esse receio, vem do questionador, neste caso. Você está na sua e só porque o outro acha que ‘você está diferente hoje’, você tem que ouvir e, às vezes, até pensar sobre isso. Isso tudo só quer dizer que a realidade nem sempre é perfumada e que as coisas geralmente não são o que parecem ser, além de que, as pessoas observam muito nas outras, mesmo não sendo boas observadoras ou interpretes, pois, geralmente também, erram muito nas suas percepções. Então, assim idealizam suas próprias realidades para poderem tentar entender, ou achar que entendem da realidade do outro a partir da forma ou expressão corporal ou física, como que se a alma falasse através do corpo. Já pensaram em olhar para os olhos? É através deles que a alma se manifesta ao mundo exterior. Bem, pelo menos eu acredito que seja.


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 29/11



quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Leituras do Cotidiano - 28/11

PSD (des)agregando valor no camarote do PT...














Não, não sou jornalista. Mas vou dar uma de tal agora:

Extra! Extra! Notícia Bombástica! PSD formaliza em Brasília apoio à reeleição de Dilma!

"Acreditamos que o melhor para o Brasil é a continuidade do governo Dilma Rousseff" (Kassab) - "A senhora tem mostrado todas as qualidades pessoais para levar o país adiante" (Raimundo Colombo)... E o discurso muda do dia pra noite, rapidinho! Alguns 'esquerdistas' já dando 'boas vindas' aos novos 'aliados'. As perguntas que não querem calar: 'O que levou o PSD declarar apoio ao PT?' E 'o que leva o PT a aceitar essa aliança pós, ultra, mega, hiper, supra moderna?' 

Para rememorar, ou pra quem ainda não sabe, o atual PSD, é uma 'dissidência' do DEM, que a pouco era o (extinto) PFL, e que antes de sê-lo, era a ARENA, a extrema direita de caráter nazifascista, partido da 'ditadura militar'. 


Entrevista de crianças que 'se formaram' no Proerd:

- Aprendi que... drogas fazem mal pra saúde...

- Aprendi que... é pra ficar longe das drogas...
- Aprendi que... é pra ficar longe das drogas e da violência (como se isso fosse uma escolha tão simples assim)...
- Aprendi que... drogas fazem mal pra saúde...

Penso: Será que o Estado e seus 'servidores' (polícia, neste caso), realmente sabem algo sobre 'drogas'?


Mania e febre...

Se você acha que escrever em jornais é incompatível a boa literatura e a filosofia, sinto em informar-lhe, mas foram em jornais impressos que grandes mestres da prosa, poesia e do pensamento expressaram suas palavras e ideias, e a crônica é um bom e digno caminho pra isso. Não que eu seja um grande mestre, ou que esteja a caminho disso, mas, há algo maior do que a ruminação em torno daquilo que pode e não pode, deve e não deve, é ou não é. Digo isso, pois tem ‘escritor-filósofo’ por aí, achando que seu blog ou facebook são mais valorosos do que uma simples coluna em um jornal qualquer. Acometidos por uma febre platônica, pensam estar além dos espaços cotidianos. Mania de idealista que não consegue perceber sua própria mediocridade.  Conste...




* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 28/11



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

É necessário...














Sexta-feira e acordo antes do horário. Que droga! Preciso trabalhar e ainda não está na hora. ‘Produzir é necessário!’ É sempre o que ouço todo maldito dia da boca grande do chefe. Um saco! Um dia desses eu juro que dou uma porrada no ‘boca grande!’ Tenho praticamente duas horas antes de bater o cartão. Até lá não posso mais dormir. Se dormir, não acordo mais. Parte da noite passada passei bebendo e jogando conversa fora com Patrícia. Ela é um pouco complicada, mas sua companhia acaba sendo sempre agradável. Depois que ela foi embora, toda torta e com a cabeça cheia de rum e cerveja, a solidão bateu a minha porta. Não se importando nenhum pouco com o que eu achava, se sua presença era boa ou não, a solidão veio com tudo. Um pouco bêbado, mas ainda não de cara cheia como Patrícia quando foi embora, passei a mão na máquina de escrever e numas folhas brancas que sempre tenho dentro de uma caixa no chão no canto do quarto. Sentei na minha escrivaninha velha, herança do meu avô paterno, e seguindo os conselhos do meu chefe bocudo, comecei a escrever, pois: ‘Produzir é necessário!’. Quis um poema, mas saiu um conto. Não teve jeito. Acho que a poesia me abandonou – se é que um dia a tive. As palavras do chefe batem forte na minha cabeça enquanto um conto desumano e violento contra o emprego e o chefe e a favor da mulher e da filha do chefe, da sua irmã e sua mãe, nasce. Senti prazer em torná-las parte da minha festa de cabaré, enquanto ele e o emprego ficavam trancafiados num porão escuro, sem água nem luz, repetindo: ‘Produzir é o caralho!’. Pensando nisso me sinto melhor. E agora falta pouco menos de uma hora para bater o cartão e ouvir do ‘boca grande’ aquilo que vocês já sabem...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, em 'dois patinhos' do onze...




quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Leituras do Cotidiano - 21/11

Somos ‘série A’...

‘Estamos na série A! Somos elite!’ - no futebol... Vejo/ouço isso na televisão, na internet, rede social, rádios, adesivos em carros, ruas, etc. Penso: pena não sermos também 'A' ou 'elite' na arte/cultura, educação, saúde, administração pública, política... Ao contrário: favoritismos, processos de cassação, desleixo, dívidas públicas, omissões, falta de justiça, homicídios mal suicidados e outras tentativas, motivos para greves e outras reclamações, etc., fazem de Xapecó, série 'C, D e E' em vários aspectos. Enquanto isso, 'pão e circo' para o povo! A cada grito de gol o imperador ri, discursa e comanda. Mas o grito, assim como o gol, assim como o futebol e sua série 'A', não são o problema. O problema é o grito contido, interno, sem voz. Aquele mais sufocado do que o grito de gol. Espero (mas não parado) que um dia, também sejamos série 'A' em questões mais emergentes e fundamentais.


 Greve! Prefeitura volta atrás!?   

Agora fica fácil, depois da 'derrota' do poder público frente à greve dos servidores, voltar atrás e discursar na mídia que 'falta entendimento dos funcionários' referente aos motivos da greve: ‘Depois que entenderem, vão ver como é bom e
aceitar, aí o projeto volta para votação’.

Sentido inverso: 'primeiro se impõe, depois acontece (a greve) - diz-se que ela é ilegal ou criminosa, volta-se atrás, e por fim, pede-se o diálogo'. Não deveria, democraticamente falando, ser o contrário? 'Generosa essa nossa administração, não é?' Depois de 11 dias de greve: 'voltar atrás' para rever, dialogar, 'ensinar' (dizer o que é bom ou não para os trabalhadores - será que os funcionários, incluindo professores, são de tão difícil compreensão assim?) Ou é pretexto de quem teve que recuar, mas não pode demonstrar isso?

Obs.: vigilância sanitária parada, indústrias de alimentos (frigoríficos) sem produção = prejuízos! E a pressão, eim Zé?! 


‘Honras militares’ para os restos mortais de Jango...

Chega a ser cômico (no limiar entre o cômico e o trágico)! O presidente que sofreu o golpe e tem suspeita de ser assassinado pelo regime militar, agora recebe 'honrarias militares'. O mundo, às vezes, parece uma piada feita por um deus pândego e maldoso que ri de tudo o que lhe falta...



* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

República reeditada

A República nasceu em comum desacordo ou em incomum acordo, entre uma elite e o povo. A elite ficou com a terra e com o ouro, enquanto o povo... Bem, o povo até hoje, no ovo! A República foi velha, foi nova, e é velha de novo. Nossa reles pública! Nossa casa sem lar, nosso lar sem sentido, nosso sentido sem teto – e nossa glória sem terra. Somos ‘habitantes de cidades destruídas’, como bem canta José Paes de Lira – onde veículos afogam bicicletas. Somos filhos de uma ordem e um progresso importados que excluiu a nação nativa em detrimento de uma nação inativa. A partir disso, fundamos espaços de adestramento a que chamamos escolas, faculdades ou universidades. Fundamos bancos, cartórios, câmaras, senados, sanatórios. Cenas de uma realidade forjada em papel assinado, documento legalizado, legitimado, feito! Trocamos curas por cruzes e promessas nunca cumpridas. Casas de oração e doutrinamento, igrejas e lojas maçônicas, entre a farda e o fardo, deram a direção do vento. E o vento trocou de nome. Seja ele monarquia ou república, seja ele deus ou diabo, são facetas do mesmo plano, cães do mesmo rabo. Um plano terreno, baixo, como um golpe, uma rasteira de capoeira, arte nobre, preta,  que ainda não se ensina na escola. A República não foi uma proclamação, nem tampouco uma revolução. Antes, uma reclamação, ouvida e tornada verdade. Uma verdade, sob tudo, duvidosa. Acredite quem puder!



* também publicado no jornal Folha do Bairro, 15/11



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Entre o lixo e o luxo...

















Um ‘catador’, leitor desse escriba (que orgulho!), membro da Associação Cooper São Francisco, me enviou uma carta através do Folha, pedindo minha manifestação sobre a problemática atual referente ao lixo produzido em Xapecó. A carta começa destacando que “está vindo muito lixo orgânico” misturado ao reciclável, e eis um grande problema. Isso me faz lembrar de quando começou o programa de separação do lixo, nos primeiros mandatos do governo PT de Xapecó, que inclusive, foi uma das cidades pioneiras nisso no Brasil. A separação modificou significativamente a realidade e consciência socioambiental da cidade, e foi eficiente devido a uma massiva campanha de divulgação que incentivava tal ‘capricho’. E hoje, onde está esse incentivo, papel fundamental do poder público? A carta continua: “Também observamos que a empresa Tucano está coletando junto com o lixo orgânico o lixo seco. Isto causa um retrocesso socioambiental (...)”. O amigo ‘catador’ (ofício fundamental para uma ‘realidade mais limpa’), tem pleno conhecimento do que fala. Tiram ou diminuem o espaço das famílias que trabalham com a coleta e separação, terceirizando o serviço e deixando com que o lixo se misture e isso se torne uma concentração de renda. Com isso, e sem uma campanha de incentivo e conscientização para a importância da separação, andamos para trás. Em tempos de comprometimento com a vida no planeta, desleixos governamentais como este, são retrocessos, como bem avalia nosso amigo ‘catador’. Contudo, precisamos retomar essa questão e dignificar o trabalho alheio, assim como, o ar que as novas gerações vão respirar.


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 08/11



quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Leituras do Cotidiano - 07/11

A ameaça vermelha continua?


Depois do ‘movimento libertador de 64’, ou seja, a grande revolução pelo bem estar do país e da família brasileira que afastou o ‘perigo soviético-comunista’, estabelecendo a ordem e o progresso nessa terra abençoada por Deus, tivemos alguns anos de desenvolvimento material, espiritual e de paz. Vândalos anarquistas e estudantes vagabundos que não queriam trabalhar foram devidamente punidos. A verdadeira cultura brasileira foi valorizada, assim como a decência das famílias. Graças a isso ainda temos um hino, uma bandeira e um país, onde a sagrada propriedade privada é garantida aos que trabalham e se esforçam para subir na vida – tanto que a ‘ordem e progresso’ está estampada na nossa grandiosa e magnífica bandeira! Graças a isso, somos o primeiro lugar na América Latina em... em... em... Naquele período, abolimos conteúdos subversivos nas escolas que usurpavam nossas crianças. Filosofia, história e sociologia foram transformadas em EMC (educação moral e cívica), OSPB (organização social e política do Brasil) e religião, disciplinas fundamentais para garantir nossa nação como uma nação livre do comunismo sanguinário e manchado com o vermelho do sangue até na sua bandeira. Esperar o que de uma bandeira que tem armas mortais estampadas na sua fronte? A foice, um instrumento rústico, de povos rústicos e selvagens, cortante se afiado, e o martelo, um instrumento de ferro que pode ser usado para quebrar crânios e matar gente, herança dos povos bárbaros que, a modo dos Sem Terra hoje, invadiram e pilharam propriedades alheias, na época da antiguidade, do magnífico Império Romano, maior exemplo de civilização que o mundo já viu. Graças aos nossos militares tivemos disciplina, decência, boa conduta, moral. Graças a eles também... também... também... Enfim. E hoje, o que temos? O perigo comunista voltou ao país com os governos do Lula e Dilma no poder. O PT que, depois de anos de radicalidade, abriu-se para a democracia de partidos limpos, puros e íntegros como o PMDB, e está se abrindo para o PSD também, precisa urgentemente se livrar do PCdoB (partido comunista – olha a sigla!), e conciliar seu governo com o PSDB. Aí sim teremos novamente, um desenvolvimento no... no... no... que... que... que... Enfim. A atual greve do funcionalismo público traz de volta à Xapecó a ameaça vermelha – outrora trazida por forasteiros que foram punidos exemplarmente. E as greves são armas mortais contra a democracia, culpa dos sindicatos que ainda tem práticas provenientes da antiga URSS e das China e Cuba, ditaduras comunistas que querem dominar o mundo. Enfim. Vamos rezar por nossos governantes, que eles mantenham distante de nós essa praga vermelha, essa ameaça. As futuras gerações agradecerão!

...e como dizem algumas crianças e alunos por aí: “só que não!”



 Obs.: isso não é uma ironia! Nem sarcasmo.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó... (Obs.: ESSE TEXTO NÃO FOI PUBLICADO NESSA DATA, MAS, SERÁ, PROVAVELMENTE, NUMA PRÓXIMA EDIÇÃO - OBRIGADO!)



sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Negritude, memória, pimenta & prazer


Estive em Salvador, Bahia. Minha primeira vez no nordeste brasileiro. Uma rápida, porém, intensa experiência. Discuti, fiz política ou militei. Troquei palavras e risos. Reencontrei amigos e fiz outros novos. Mas também bebi, comi, andei. Fotografei o que pude e o quanto pude. Muita história, muita dor, muita vida e amor. Salve Salvador! Terra de gente! Gente que no corpo tem pele preta e no riso dente branco, que de tão branco reflete um algo de calmaria. Salve Salvador, terra de todos os santos! Terra de meu pai Xangô, de Oxóssi, Iansã, Nanã e Iemanjá – entre tantos! Terra de samba, berimbau e capoeira - mas não só isso. Terra onde o preto velho descansa seu tempo na rua e os cães transitam soltos por todo lugar, enquanto crianças correm empinando suas pipas com seus sorrisos de inspiração. Terra que, ao contrário do que muitos pensam, é feita de trabalho, sim, muito trabalho, mas não o trabalho que concorre e corre para a morte. Trabalho necessário, para a sobrevivência, sem entrega da alma ao acúmulo. Corpos que passam o tempo prestigiando a vida. Corpos que são prestigiados - no gingado da negra e do negro, na roda de samba, na descida do Pelourinho ou decaído na mesa do bar. Corpos que ardem, sofrem e cantam. Corpos que sorriem. A alma cheia de paixão e a vida que no riso se alimenta. Eu, no meio disso tudo, o estrangeiro que gosta de pimenta, fartado do prazer de um estar, e que agora também é um pouco mais...


(foto by Herman)


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 01/11



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Leituras do Cotidiano - 31/10


Uma fábula do mundo real

Andava distraído, pisando em formigas sem querer. Pisava em formigas que cruzavam encarreiradas meu caminho, com pedaços de folhas cortadas cuidadosamente sobre suas cabeças. Decerto iam para seus ninhos estocar alimento para o inverno que estava por chegar. E eu, com toda a imprudência humana, as pisoteava, sem me dar conta de quantas mortes eu praticava naquele instante. Formigas morriam enquanto eu andava, perdido na minha distração cotidiana. Queria chegar cedo ao trabalho para impressionar o chefe. Pela primeira vez ele diria: “Chegou cedo!” “O que houve? Caiu da cama?” De minha parte eu nem responderia, se assim fosse. Puxaria logo o meu berro e dispararia três tiros à queima roupa. Plantaria duas azeitonas no peito e uma bem na testa do infeliz, que cairia para trás, como numa cena de um filme hollywoodiano feita em câmera lenta. Seria um espetáculo pra mim e pros demais que odeiam o tipinho. Pelo menos assim eu seria lembrado. Alcançaria certa fama nos noticiários da televisão. Seria capa de todos os jornais sensacionalistas deste país. Meu pai ficaria, pela primeira vez, orgulhoso do filho – “Pelo menos teve atitude uma vez na vida!”, enquanto outros pais, negativamente balançariam suas cabeças. Daria entrevistas e ganharia o respeito de alguns colegas de cela no presídio. A classe empresarial iria ficar indiferente, mas os credores iriam me odiar. Os devedores brindariam em minha homenagem (eis que nasce um novo herói!). A mulher do chefe me agradeceria por livrá-la do marido detestável que chegava em casa todo dia tarde e cheirando perfume e suor alheios. Sua amante choraria lágrimas de crocodilo por perder as flores semanais, a lingerie semestral, aveludada e vermelha, os jantares a luz de velas, regados de boa espumante e olhares invejosos. Quereria minha morte, certamente! Eu não ganharia o próximo salário, em compensação não precisaria mais olhar toda manhã para aquele sorriso esnobe estampado naquela cara arrogante. Muitos seguiriam meu exemplo, outros continuariam amedrontados no seus cantos, esperando o dia de folga e o salário mínimo no final do mês, sonhando em um dia ter um carro como o do chefe. Mas isso tudo não aconteceu. Mesmo eu chegando cedo, o chefe sorriu sinicamente e sussurrou: “Tá achando que é melhor por isso?”



Para Lou Reed...

O mestre se foi depois de um ‘dia perfeito’. 
Escreveu poesia, viveu seu tempo, compôs uma nova canção inspirado na vida andeja, urbana e dos que vivem sem arrependimentos. 
O mestre criador e seu ‘veludo subterrâneo’ estão vivos na história dos que ouvem e pensam, sentem e transitam para além do que é simplesmente estável.







* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 31/10




quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Leituras do Cotidiano - 24/10

Os anarquistas tem ‘razão’!?













(Primeira Greve Geral do Brasil, São Paulo 1917, pelo anarco-sindicalismo) 

Uma das polícias mais truculentas, repressivas, reacionárias, violentas e mal preparadas do mundo, é a do Brasil. E quem é a polícia? É o braço armado do Estado. Enquanto a polícia (ou o Estado), nos mais recentes movimentos de rua, reprimia jovens estudantes pelo país, onde a direita acusava a esquerda pelas ‘ações depredadoras’ desses movimentos, e a esquerda institucionalizada acusava a direita do mesmo, ambas opositoras, mas ao mesmo tempo ambiciosas pelo Estado, e nesse sentido em ‘comum acordo’ (leia-se arranjos e coligações), os anarquistas, aos poucos, voltavam a ser manchete no cenário nacional. Logo, o mesmo Estado investiu violentamente acima dos professores, sob tudo no Rio de Janeiro, e mais uma vez, meia dúzia de anarquistas visados pelos meios de comunicação de massa e pelas ideologias de Estado, levaram a grande culpa de tudo – para o convencimento das ideologias que ainda disputam suas ‘zonas de influência’ (leia-se Guerra Fria). Tudo o que acontece daí pra frente é culpa dos chamados black blocks ou mascarados ou anarquistas – ‘quanto poder tem essa gente?’ – para os pretextos alheios. Para a direita e seus meios de comunicação de massa, são ‘vândalos mascarados’ infiltrados nas manifestações brancas e azuis democráticas, perturbadores da ordem e progresso positivista. Para a esquerda institucionalizada e/ou governista (ou o que também podemos chamar de esquerdismo), são grupos da direita patrocinados pelo imperialismo capitalista ou empresas privadas, infiltrados nas divinas manifestações vermelhas de cunho socialista-stalinista. Em ambos os casos, ambas as ideologias discursam em lados opostos, mas numa proximidade de visão onde acabam se encontrando. Agora, mais recentemente ainda, ativistas pelos direitos dos animais fizeram a soltura de cães de um laboratório atrelado à indústria farmacêutica e de cosméticos, e mais uma vez anarquistas e mascarados black blocks são os demonizados da história. E nessa festa ideológica por reformismo e/ou manutenção de poder, ou no mínimo, discurso, para ambos os lados, anarcos e blacks são o mal – enquanto o pau come nas ruas pelo braço armado e reacionário do Estado dito democrático - o grande e velho problema do dualismo platônico que infesta ideologias que miram o poder do Estado pra si. Rememorando minhas antigas leituras, dentro deste contexto, chego a pensar que os velhos clássicos anarquistas tinham razão quando se referiam ao Estado, naquela histórica e teórica disputa entre eles e os marxistas. Até que se prove contrário, a história mostra que o poder corrompe. Nisso, a corrupção vive incrustada no Estado (ou este é corrupto por natureza) ou pelo menos, desde a sua criação (invenção). Atualmente, em nome de uma suposta democracia e ordem social, a polícia violenta nas ruas aos olhos cintilantes do Estado. E a democracia é um discurso que sai vulgarizado das bocas ideológicas dos subalternos institucionalizados que disputam entre si um espaço nessa estrutura corporativista que já é deles – esquizofrênicos ou dementes por poder. Hoje amigos, frente à realidade violenta do Estado, numa releitura dos velhos anarquistas, dei-lhes a pouca razão que possuo...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 24/10