A
divina comédia humana! Canta o mestre Lira (Lirinha, ex-Cordel do Fogo
Encantado) numa das suas magníficas canções. A divina comédia também é uma
antiga obra literária de Dante e o nome de um disco dos Mutantes, umas das mais
incríveis bandas musicais da história deste país. Escândalos, corrupção e confusão.
Capa da Veja. Notícia do Jornal da Globo. Crença dos mais ingênuos, desavisados
- ou estúpidos mesmo. Enquanto isso, vivemos ‘a ditadura perfeita’ (título de
um baita filme do diretor mexicano Luis Estrada) conduzida pela indústria
cultural (leia-se conceito em: Escola de Frankfurt), e/ou pela ideologia
maniqueísta, privada, mercadológica, publicitária dos meios de comunicação de
massa e seus financiadores. E assim vai. Eis nossa divina comédia, talvez, não
tão humana. O ponto mais positivo de nosso primeiro governo de esquerda da
história democrática, iniciado pelo presidente Lula e continuado pela
presidenta Dilma, foi, como disse um dos grandes comediantes brasileiros da
atualidade, a ‘democratização do capital’, no que eu diria, a ‘democratização dos
espaços e acessos’. Pobre no shopping, no aeroporto, comprando, vivendo um
tanto melhor, melhoria dos acessos e condições com os programas sociais (cotas,
bolsas, Enem, novas universidades federais, etc.), geraram a revolta de uma
‘classe dita burguesa’ pelos marxistas, no que eu digo, uma ‘classe
monopolista’ ou ‘elitista’ que não tolera ver ‘povo’ dividindo espaço consigo,
e assim perdendo seu antes exclusivismo. Não que o governo atual não tenha seus
furos, suas falhas (como todos os outros também tiveram), mas, o ‘anti-petismo’
traz como principal elemento esse ‘ódio de classe’ (por assim dizer). Coisa,
não de país, mas de mentes subdesenvolvidas. E elas estão por aí, em todas as
‘classes’, mas principalmente na média, alta e média-alta. Por outro lado, a
incapacidade do governo de fiscalizar mais de perto (e em algumas situações até
de compactuar) as questões problemáticas do país (usurpações, corrupções,
etc.), acaba facilitando a continuidade dessa cultura de desmantelamento da
nação (se é que um dia já fomos uma). Governo fraco (neste sentido) e oposição
elitista, vingativa e medíocre, e eis o resultado. Além da melhoria dos acessos
com esta democratização a que me refiro, o governo deveria tratar de buscar a
melhoria dos conteúdos. Ou seja, certos critérios que façam com que a indústria
cultural e suas mídias realmente veiculem conteúdos que sejam diversificados,
dinâmicos e abrangentes. Aí sim podemos sair deste ‘estado de comédia’ para
entrar em um estado novo, onde os risos possam ser reais e sinceros.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.