O academicismo e a filoteologia
Geralmente eles vêm dos bancos acadêmicos, e em mentalidade, de lá
ainda não saíram. São os chamados ‘academicistas’. Alguns deles adentram no
mundo das ideias e de lá também parecem não saírem mais. Sem generalizar, muitos
começam estudando para serem padres até que algo aconteça e sejam seduzidos pela
Teologia da Libertação ou algo do gênero (uma ala cristã da política de
esquerda, com fortes raízes e apelo na América Latina) ou por uma rapariga que
lhes cruze o caminho. Na universidade cursam filosofia, além de estudarem teologia,
exigência da santíssima Igreja. Se formam e estão prontos para o exercício da
fé e/ou da ‘filosofia doutrinária’, também conhecida como o que Karl Marx
chamou de ‘ideologia’. Por isso também é que parte de quem milita politicamente
ou apenas ‘lê’ filosofia, confunde ‘teoria’ com ‘ideologia’, pensando e agindo
como seres ideológicos, mas não necessariamente ‘filosóficos’, ‘sociológicos’ ou
‘teóricos’ (em outro momento pretendo escrever sobre a relação entre ‘teoria’ e
‘ideologia’). Também chamados ‘esquerdistas’, são crentes num ‘paraíso
socialista’ permeado por uma ‘pureza ideal’ (febre platônica e herança
religiosa cristã), acreditando piamente terem a verdade sob a luz da razão (sua
razão) e por isso também, serem os ‘iluminadores’ da escuridão no caminho do
trabalhador – e é destes que voz falo. Esses ‘esquerdistas’ muitas vezes agem
como pastores frente aos seus rebanhos, como detentores das palavras da
salvação. A modo dos iluministas, se convenceram de que detém a razão
irredutível, ou seja, a ‘luz guia’ da classe operária e oprimida - neste caso,
e isso fica claro em seus discursos ideológicos: ‘O povo, este não tem condições
estruturais, econômicas e nem intelectuais o suficiente para se autoconduzir’,
segundo esses ‘bons samaritanos socialistas’. Seguem cartilhas organizativas e
as tratam como se lá estivessem as mais profundas filosofias, dando uma
‘utilidade’ a filosofia como se ela funcionasse como uma receita de bolo, algo
pronto, dado, perfeito e imutável. Motivados por certo idealismo platônico,
reutilizado pela Igreja medieval e seus ‘pensadores’, esses
doutrinários-doutrinadores acabam fazendo da filosofia um instrumento de seus
interesses, ou como se fosse uma forma de autoajuda frente as suas ansiedades psicossomáticas.
Segmentadores, fragmentários, muitas vezes moralistas e geralmente burocratas
da razão, de uma razão fabricada em bancos acadêmicos e lapidada por crenças nos
idealismos mais funestos da filosofia socrática e burocracia greco-romana, onde
o monoteísmo e o dualismo se reproduzem e se naturalizam em discurso e prática.
Nietzsche, filósofo alemão moderno (e contemporâneo), também chama esses ‘reducionistas’
(que, geralmente carecem de diversidade nas suas referências, portanto, na
amplitude que a linguagem deve ter para se tornar ‘liberação’ ou ‘espaço livre
e possível’ e não ‘prisão’ ou ‘território’, tanto de esquerda quanto de direita),
de ‘especialistas’ - tema de um próximo texto desta série que é apenas o início
de algo que provavelmente não tenha fim. Enfim. Continua...
* Obs.: Esse
texto é apenas uma crônica, ou um ‘ensaio’ de algo maior e mais embasado
teoricamente falando que, futuramente será produzido. Uma análise ou uma
discussão (quem sabe, apenas um devaneio) - além disso, fique claro que não é
‘pessoal’, ou seja, direcionado a alguém ou algum grupo político em específico.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.