sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Crônicas: Leituras do Cotidiano, 31/01...















Os Black Blocs e a Copa: uma relação de amor culposa...

A copa vai acontecer. Bem ou mal. Gostem ou não. Acontece que a copa não é uma decisão simples. É uma decisão impositiva-imperativa. ‘Como assim Herman?’. Uma decisão impositiva-imperativa é quando alguém decide sob pressão ou orientação de outrem e com políticas piramidais. Quer dizer, não sei se é bem isso, mas parece. O povo escolheu assim? É claro... que não! Mas isso não é uma democracia? É claro... que não! Aliás, até é. Democracia liberal: Conceito de ‘liberdade’, escolha o seu! (com tom publicitário): ‘Liberdade a la grega idealista’ ou ‘a la francesa liberal burguesa’? ‘Baratinha, a preço de atacado!’ Liberdade nativa-tribal-indígena, não interessa. Nosso mundo, nossos valores, hábitos, crenças, argumentos e cultura, foram construídos acima de um ‘eurocentrismo norte americanizado’. Como assim? Ah, outra hora eu explico. De um lado a ‘direita’. Do outro a ‘esquerda’, ambas ‘oficiais’ e ‘institucionais’. Ano eleitoral. Uma ataca, outra defende, como num jogo de futebol (até nisso ele influi!). No meio, as outras esquerdas e as outras direitas. Os anarquistas, os Black Blocs, os Anonymous (outros, apenas rotulados disso), e mascarados afins, os grandes ‘culpados’ – ‘Baderneiros! Marginais! Pau neles!’. Estudantes, movimentos sociais, sindicatos (alguns, também com suas máscaras, só que de cara limpa – se é que me entendem?). Todos no meio. Quer dizer, nem todos! Ah, vocês me entenderam! PMDB (e o sujeito vem e diz: ‘Eu sou do MDB!’ – Putaqueopariu! Se meu velho avô ouve isso, dá merda! Da grossa!) no macio, deitando e rolando, rindo da situação mas deleitando-se sobre ela. PSDB, tentando, tentando! PSD, novo aliado – para a dor de cabeça de alguns e o alívio de outros. E o PT? Bem, o PT... PSTU e PSol, um pouco pra cá, um pouco pra lá. PCdoB... PC do quê? Onde? E o PT... Putz, eu me implodiria se tudo isso não fosse um ‘espetáculo’. Pior é que, poucos sabem ou ouviram falar do ‘espetáculo’, e muitos dos que sabem e/ou ouviram sobre ele, preferem permanecer em lugar ‘seguro’, ou que, pelo menos transmita uma sensação de segurança (segundo a teria do Caos, ela não existe). A segurança é uma puta que se vende fácil. Não quer compromisso com a realidade. Tá certo ela, tem mesmo é que transitar, é livre e não depende de conceitos. O dualismo é terrível. Bem e mal no fim, se encontram para um abraço fraternal. É preciso estar além. Mas é difícil, eu sei. Impossível? Não! Copa ou não copa, culpa do que e de quem. Entre o governismo ‘esquerdista’ e ‘anti-histórico’ de Emires Saderes e o libertarianismo ‘direitista’ e ‘anti-sociológico’ de Felipes Pondés, sinceramente, não sei o que é pior. Só sei que os dois andam reduzindo-se ao discurso que alimenta o ‘espetáculo’, gurus de uma massa ‘intelectualista-academicista’, esse monstro, maior do que essa ‘briga putanheira’ de ‘copa-não-copa’. Ver para além do bem e do mal é que é o problema. A (infra)estrutura está armada, até bem melhorada, mas a superestrutura, essa, anda cambaleando, bêbada pelos cantos, vidrando em UFC, Big Brother e futebol. Quando a cultura não acompanha o desenvolvimento econômico, só resta rezar. E pra quem é ateu, fudeu! Enfim. Uma crônica ‘espetacular’ para uma realidade ‘espetacular’. Meu cachorro também me acha muito coerente!


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 31/01...


Nota de esclarecimento

A copa do mundo de futebol é tida como um dos maiores ‘espetáculos’ do mundo. Do Brasil, provavelmente é. Quando falo em ‘espetáculo’ faço referência a um autor que se chama Guy Debord, e que escreveu uma obra importante para pensar o mundo contemporâneo a partir do conceito ‘espetáculo’. Trata-se do livro ‘A sociedade do espetáculo’. Fazendo uma relação com o filósofo alemão Nietzsche, um dos grandes pensadores modernos e a sua obra ‘O crepúsculo dos ídolos’, chego a minha análise. A grande mídia alimenta esse ‘espetáculo’ com  excessos que alienam ao invés de informar ou comunicar. É o jogo. É o ‘espetáculo’. Tanto que, em nossa cultura televisiva, prevalecem programas como o UFC, Big Brother e futebol. Nada contra o futebol em si. E nem teria contra o UFC ou o Big Brother se todos eles, ao invés de reproduzir ídolos e pensamentos idealistas, idólatras e medíocres, trouxessem arte, politização, conhecimento, para além do status quo. Acontece também que, alguns, por não compreenderem que, o que envolve um evento como a copa, além de gastos e todo aquele discurso opositor, é o ‘espetáculo’, ou seja, ela também é um instrumento ideológico e mantenedor. É cultura. A cultura de status em torno de um ‘esporte’ que gera lucro e idolatria. O Brasil teve grandes avanços sociais e econômicos. Agora, precisamos equiparar a cultura a isso, caso contrário, seremos a bola chutada por um Neymar ou a canela quebrada de um Anderson Silva. Se é que me faço entender...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 31/01...



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O amor é filme...










Acordei com uma dor terrível na cabeça. Lá fora, o mundo em chamas. Pulei da cama para ver o espetáculo. Era tudo o que os jornais e a televisão queriam, desde que ficassem vivos. Mas não foi dessa vez. Deus foi impetuoso. Não poupou nada nem ninguém. Os arautos do poder tiveram náuseas e viram seu mundo espetacular ruir. Corporações jornalísticas e emissoras de rádio e tevê enfartaram junto aos seus demagogos e sensacionalistas repórteres e apresentadores, o que tornou o espetáculo ainda maior. Até o homem do tempo e a mulher do social enfartaram enlouquecidos. Agora sim o espetáculo teria boas razões de ser. E eu, do alto do meu sobrado, vi tudo com desdém e certo cinismo e muito sarcasmo: ‘Não era isso o que queriam seus imbecis?! Aí está o seu circo! Agora, divirtam-se!’. Para meu deleite ser ainda maior, abri a geladeira e a última cerveja gelada da minha ínfima existência. A mais saborosa de todas as cervejas já tomadas por um homem na face da terra. Vivi estava deitada, ainda sonolenta e com as pernas abertas. A noite fora estrondosa, tanto que silenciou as explosões que aconteciam lá fora. De pé, bebericando meu último trago, senti as mãos de Vivi nos meus ombros. Ela de calcinha e eu de cueca, como haveria de ser. Lembrei-me de um outro filme de caos que tanto gostava. Um final digno de cinema para dois personagens dignos de uma vida anônima. Abracei Vivi e destilei meu ultimo beijo aromatizado pela cerveja nela. Um fim espetacular para uma vida intensa. Era tudo o que eu queria. 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 24/01


(aos amigos Zé Boita e Marciano J. Maraschin, com carinho!)



Leituras do Cotidiano - 24/01


Rolezinho no pátio

Final de expediente. Deixo recado no facebook para meus amigos. O convite é para uma diversão: ‘Ei pessoal, vamos agregar valor no nosso camarote com um rolezinho no pátio?’. E lá vamos nós. Parar na esquina e esperar o busão que nunca chega é o primeiro ato. Serviço porco e público que se tem que pagar. Depois de um atraso significativo o busão chega. Entro na lata de sardinha entulhada de gente abrindo caminho, abanando o pó da rua. ‘Meu perfume paraguaio já era!’ Fiquei mais marrom do que já sou. ‘Vida de periferia é isso mermão!’. E lá vamos nós. E o busão que não chega nunca. O pátio é longe. Depois de alguns longos minutos, chegamos. Encontro o resto da turma na esquina. Subimos as escadas. Até a porta do pátio demora a se abrir para nós. Será que ele tem detector de suburbano? O segurança puxa algo do bolso e se comunica com alguém. As atenções de dissipam das vitrines e mercadorias. Agora são todas nossas. Tem uma linda garota branquinha me fitando com desejo, eu percebo de longe. Seu pai e namorado não gostam e a repreendem. Não demora muito e o pavor de alguns escandalizadores começa. Um gurizinho comendo um Mac aponta de dedo pra nós e diz: ‘Etê pai, Etê!’. Algumas lojas fecham suas portas. Celulares nos fotografam. Somos famosos ou exóticos? Minha mina vem e me da um beijo quente. A branquinha me fitando morde o lábio. Seu namorado se irrita enquanto seu pai a aperta no braço. O ambiente silencia. A polícia chega e nos convida gentilmente com cacetes na mão para a retirada. Não entendemos o motivo, e quando perguntado, o comando diz: ‘Não importa!’. As pessoas brancas e bem vestidas, ditas ‘de bem’ aplaudem eufóricas. Continuo não entendendo – ‘Ué, não vi nenhuma apresentação por aqui?’. A paz de cemitério volta a reinar no pátio enquanto nós ganhamos a rua. Ufa! Aqui fora o ar é bem mais leve. Ouço um estrondo, como que um tapa. A menina branquinha que me fitava sai porta afora em prantos. O namorado a segurando pelo cabelo enquanto o pai moraliza, tudo sobre os lamentos e conveniência da mãe e o espanto do irmãozinho. A polícia e os seguranças não fazem nada. Minha vontade é encher o namorado e o pai de porrada, mas um cordão policial me impede. O busão chega, só que agora, sem poeira. Nossa diversão não aconteceu e o pátio continua limpo. Lembro de quando criança no interior quando minha avó dizia: ‘Piá, pega a bassora de guanchumba e vá varrê o pátio!’. Decerto o pátio estava sujo. Sujeira varrida pra debaixo do pano. E o rolezinho não agregou valor algum ao nosso camarote. Volto pra casa e pro face, onde a vida acontece menos dura pra mim. Amanhã tem mais role. Só que desta vez, levaremos as bassora.

 (Essa ‘estória’ é fictícia. Qualquer relação com a realidade é mera coincidência).















* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...




sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Rolezinho em shoppings e a ostentação

As propagandas prometem. A publicidade promete. A TV, o rádio, a internet. O discurso político. Todos prometem. Eles mentem! – ou a grande maioria não cumpre. Crianças e jovens são as principais vítimas dessas promessas. Produtos expostos nas vitrines. Roupas de grife, carrões, mulheres que seguem um padrão de beleza, etc. Tudo é desejo, ostentação e consumo. A economia brasileira nunca esteve tão bem em toda a sua história. A classe média ascende como nunca. A favela sai de si mesma e finalmente pisa no chão que a democracia e a publicidade oferecem para TODOS, independente da condição cultural e econômica. Pelo menos é assim o discurso. Pelo menos é assim a propaganda. São enganosos? O que vocês acham? Os chamados rolezinhos nos shoppings tem fundo numa questão histórica, cultural e social. E não adianta urrar. Temos feridas abertas e não há remédio ou milagre que cure. É preciso retratação. Não pessoal, mas histórica. É preciso parar de fingir e mentir. Pobres e favelados também querem ter e ser, com todo o direito que a propaganda lhes oferece. A grande mídia oferece ostentação. As lojas, os shoppings. E é isso. TODOS tem o direito. É a liberdade! É a democracia! É o capitalismo meus amigos. E pra isso, não há medicamento ou polícia. Não adianta chorar nem espernear. Vivemos de processos históricos. E os rolezinhos fazem parte deste processo. Não são causa, são efeito. Sejamos todos bem vindos ao mundo das oportunidades!


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 17/01



Leituras do Cotidiano, 17/01

'Polícia 24 horas' e a mediocridade da televisão brasileira - parte II

ou A DITADURA DA MEDIOCRIDADE...

Mídia + empresas patrocinadoras + Estado + polícia (braço armado do Estado) = manutenção da mediocridade sociocultural veiculada destinada as massas, ou seja, 'circo para o povo'... 

Referente ao programa da band e ao meu texto publicado na edição anterior do Gazeta, citado no título desta postagem, as questões:

- Esse é o Estado democrático de direito? Um Estado permissor, favoritista, que foge a responsabilidade de estabelecer critérios (ou eles existem e não são cumpridos, cobrados ou fiscalizados pelo Estado?), que, no mínimo gerem campos amplos e abertos de possibilidades e não de determinismos reducionistas, como o que mais acontece na grande e oficial mídia (televisão, rádio, revista, jornal)...

- Esse é o papel e a 'seriedade' da instituição policial? policiais e polícia se prestando a isso (espetáculo midiático, circo)? na ridicularização dos menos assistidos ou mais despossuídos (pobres). Essa é a credibilidade dessa instituição?

- Esse é o papel da mídia, do jornalismo? o de, junto a publicitários, produtores e empresários do ramo da comunicação, reforçar e reproduzir em massa a 'miséria' cultural de um país, de um povo, tornando essa cultura mais miserável ainda? Fazer o jogo dos financiadores, patrocinadores desses programas, a troco de dinheiro, capital? Tudo em nome (discurso) da 'demo-cracia' (em nome dela, se estabelece uma ditadura, a 'ditadura da mediocridade')? E o Estado, e a polícia enquanto instituição do Estado, onde estão, pra que são e a quem servem nesta hora? 

Eis a 'seriedade' e a credibilidade dessas instituições (meios de comunicação - mídias, Estado e polícia) e do setor privado brasileiro que financia esse lixo todo. Se o 'povo' cai nesse apelo é porque a cultura foi constituída e ainda se reproduz assim. Aí entra a 'responsabilidade' das famílias (e seu modo), escolas (e seu corpo docente), igrejas (e suas crenças), universidades (e seus intelectuais) e clubes sociais (e seus membros). Padecemos de um 'mal cultural' e histórico. Tudo isso precisa ser reinventado, revisado, transformado, desconstruído - ou implodido, aniquilado, findado, destruído. Eu já comecei. E faz tempo! E você?

*

“Eu não estou neste mundo para viver de acordo com suas expectativas e você não está neste mundo para viver de acordo com as minhas.” (Lee Jun Fan - ou, Bruce Lee)



* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Personagens do espetáculo e mediocridade contemporâneos (no mundo virtual)



Da classe-média ascendente

Fenômeno pós-moderno hiper-contemporâneo dado pelo crescimento econômico do Brasil a partir do governo Lula e com continuidade no governo Dilma, a classe-média ascendente surge desse ‘avanço’ econômico, jamais visto antes na história do país. Trabalhadores que pagam seus impostos em dia e acreditam no chavão: ‘o trabalho dignifica o homem’. Dada a sua falta de leitura (teórica e interpretativa, não só de livros, pensamentos, teses ou pensadores, mas de mundo), acreditam que tudo vem do esforço pessoal, concepção típica do protestantismo pós-medieval que tem no trabalho (ao contrário do catolicismo medieval) a possibilidade do enriquecimento pessoal, o que os eleva ao céu. Essa ‘nova’ classe, reproduzindo ignobilmente valores da ‘classe dirigente’ (donos dos meios de produção – a partir da perspectiva marxista), mas não pertencendo a esta (metaforicamente falando – não possuem sangue azul), passa a odiar aquilo que sempre foram (e de certo modo, ainda são), trabalhadores da classe-média baixa (essa, não ascendente, mas, mais estabilizada um pouco). Em situações mais extremas, passa a odiar o pobre (economicamente falando). Essa nova classe-média ascendente se enxerga como se fosse ‘patrona’, ou seja, passa a babar ovo ou cagar pau (termos estilizados ou gírias) da classe-alta dirigente, justamente aquela que a explora, suga, violenta, ludibria, submete. Muitos membros dessa nova classe, parecem gostar disso, já que existe fetiche pra tudo neste mundo. Estão tão cegos nas suas convicções que acabam reforçando um sistema que dizem combater ou ser contra. Todos os seus problemas, mágoas, frustrações, estigmas, etc., passam a ter culpados: os pobres, pretos, putas, mendigos, marginais (os que vivem a margem), ladrões e criminosos menores de todas as estirpes, enquanto os grandes criminosos (ricos empresários e ruralistas latifundiários, auto escalão da polícia, do judiciário e afins, que concentram renda, terras e através de leis e arranjos políticos institucionais favorecem a corrupção e o jogo de poder gerando a maioria dos problemas sociais do país) passam despercebidos ou até mesmo são idolatrados por essa classe ascendente que pouco pensa e muito fala ou se manifesta, dado sua arrogância por, finalmente, conseguir um mísero status econômico. Seus ódios são de classe e raciais. Seus ódios são manifestados contra si próprios. Não conseguem perceber a história, interpretar os fatos, contextos. Estão tão cegas em seus pequenos mundos que, desferem suas iras contra os mais fracos (ou menos favorecidos do sistema), pois estes não tem defesa alguma. Covardia e imbecilidade de um tipo de pessoa que surge debaixo das asas do Estado atual com seus avanços econômicos. Acabam, por muitas vezes, cuspindo neste próprio criador seu: o governo e seus avanços econômicos, que favorecem, justamente, e dão luz a essa ‘classe’, a mais medíocre e burra que já existiu na história do país. Se o crescimento econômico é histórico, o crescimento da mediocridade também é – e isso está evidenciado na dita classe-média ascendente.

Opinião de uma facebookiniana referente a presidiários no Brasil:

“GARANTO que eles comem MUITO melhor que nós, que precisamos comer correndo pra conseguir ir corrrendo pro próximo emprego.


Dos filósofos e artistas da mediocridade (e tatuados roqueiros elitistas)

Vivemos, talvez como nunca, o espetáculo, naquilo que pensadores como Guy Debord chamou de ‘A sociedade do espetáculo’, Gilles Lipovetsky de ‘O império do efêmero’ e George Orwell de ‘Big Brother’. A banda brasileira Os Mutantes, nos anos de 1960 já cantava ‘Panis et Circenses’ com toda essa propriedade de pensamento e atitude (e eles nem eram tatuados ou mantinham estereótipos rebeldes como os contemporâneos – veremos isso no pondo de discussão a seguir). Nisso, atualmente, filósofos, estudantes, educadores, artistas, jornalistas (ou metidos a tudo isso – principalmente de facebook), entre outros, tornam-se grandes reprodutores do pensamento e atitudes ‘dominantes’, ou seja, da dita ‘classe dirigente’, mesmo não fazendo parte dela. Desprezam o conflito que existe entre as ‘classes’ (olha o velho Marx aí novamente!), como que se, tudo hoje fosse igual ou ‘tanto faz’. Existe uma espécie histórica de ‘segregação’ racial e de classe no Brasil. Porém, é confortável (quando não covarde), por parte de ‘pensadores’ e ‘artistas’ (ou outros bichos afins), apontar o dedo e no meio do Caos encontrar culpados, pretextos ou alvos para as suas indignações, frustrações, mágoas – sempre alvos individuais, já que não conseguem (ou não querem) perceber o ‘todo’, o contexto, o que envolve os agentes sociais (cultura, valores, história, etc.). Muitos desses arautos da razão e ‘bom mocismo’ contemporâneo, apontam também seus dedos dizendo: ‘coisa de pseudointelectual, de socialista, esquerdista, ou metido a comunista’, etc., referindo-se a certa problematização frente a alguns aspectos da realidade que envolve a chamada por Marx ‘luta de classes’. É só o que sabem dizer, nos seus míseros e medíocres julgamentos. Como agora: ‘Viu, eu sabia, o Herman é esquerdista, socialista, marxista, pseudointelectual!’. Como é fácil rotular e desracionalizar o debate mudando o foco. Só um detalhe: ‘Eu confundo amigos! Assim como, muitas vezes me confundo e sou confundido. Me permito a isso, ok?!’ Como transito e divago em algumas áreas do conhecimento e da produção artística, me dou o luxo. Uma necessidade, uma condição e não meramente escolha ou vontade de abraçar tudo isso. Infelizmente (ou felizmente), tenho essa condição, o que me limita em algumas coisas e me expande em outras. Mas não escrevo isso para falar de mim. Então, retornamos a questão. Tirar um criminoso ou escolher um alvo, um culpado, apontando o dedo, é fácil, tem de monte. O problema é ampliar a visão e perceber que o mundo vai além das pessoalidades. Muita telenovela, telejornal ou cinema hollywoodiano na vida das pessoas? Creio que seja, também! É preciso olhar para fora de si mesmo para perceber o mundo, o outro, assim como outros contextos. Culpar a pessoa, o ‘pobre diabo’ por isso ou por aquilo é reducionismo. Apontar uma solução, como se existisse um receituário pra isso, com convicção ou truculência, é determinismo. E a história, meus amigos, não é feita disso. Ao contrário. Somos filhos e agentes de processos históricos (e isso vai além de Marx, conste). Sendo assim, é mais coerente abrirmos a cabeça e os ouvidos para ouvir a voz dos marginalizados, dos marginais, da periferia e daqueles que estudam esses processos, pois se estes não tem o que dizer, quem dirá o resto. Muitos dos ‘apontadores’, como juízes de uma ‘razão do bem’, não são mais do que reprodutores desse sistema, e acabam por cada vez mais alimentá-lo, mantê-lo firme e forte, e esses, geralmente acham que estão contra, quando, são pilares sustentadores. Acometidos de uma febre idealista platônica, falam como se estivessem num lugar superior, elevado, e como se tudo o resto estivesse a baixo. Talvez, alguns minutos frente ao espelho, e dando voz (ouvindo) aos agentes diretos das questões, isso pode mudar essa situação. Enfim...

Opinião de um filósofo-artista facebookiano:

“Tá me dando nojo de ver os metidos a socialista defendendo rolezinho!! Vai fazer rolezinho na biblioteca pra deixar de ser ignorante!!”


Dos tatuados bombadinhos MMA aos tatuados Roqueiros elitistas: casos de estereotipo

Opiniões odiosas, lamurientas, carregadas de preconceito, determinismo, reducionismo e outros bichos, são corriqueiras entre os estereotipados. E são diferentes categorias e espécimes deles. Quanto mais melhor para o espetáculo cotidiano. Um tipo muito comum: os tatuados, sejam eles ‘a la lutadores de MMA’ ou ‘a la roqueiros’. Esses estão na moda. Frequentam academias para manter a forma, o estilo e o status, puxando ferro ou praticando algum esporte de luta, enquanto outros, tocam algum instrumento musical, leem livros, e tem opiniões radicais (ou radicadas, melhor). Ambos tem acessos, foram bem criados em famílias classe média ou alta, não conhecem a miséria, nem a pobreza física – a de pensamento, vivem, mas não identificam isso. Sempre olham para o outro a partir de si mesmos, sem ouvir ou perceber que além de si, existe o outro, e que a sua condição não é a mesma. Alguns até conhecem, mas não sabem o que fazer com o conhecimento. Nestes, até a inteligência e as habilidades são status, pois as usam, somente para si mesmos. São tão arrogantes que não veem além daquilo que querem ver. Ao primeiro risco de perder a razão, partem para a porrada ou convidam: ‘Suba no ringue comigo que te mostro!’ – ‘Não, não, obrigado, meu negócio é com mulher. Respeito as opções, mas agarrar e rolar no chão pra mim, só com mulheres mesmo. Não gosto de músculos e nem do suor masculino, obrigado!’. Outros são incisivos e por tanto lerem, dispõem de um ‘bom repertório de argumentos’: ‘Leve o bandido pra tua casa!’ – ou: ‘Sustente você o vagabundo!’.


Dos que acreditam em receitas e fórmulas mágicas e exigem solução imediata, no pretexto de excluir


Discursos odiosos, lamentos, lamúrias, iras, mesquinharias, reducionismos, simplismos, determinismos, mágoas, frustrações, estigmas, entre outros, são elementos na maioria das manifestações daqueles que engordam o espetáculo da miséria cultural cotidiana e contemporânea. Presos a moral e valores judaico-cristãos, brancos eurocentristas e a certo idealismo platônico que os faz sentir e crer estarem falando de um lugar melhor do que os outros, ou estarem acima da realidade e do outro, esses crentes, como fundamentalistas de uma convicção que os trai (leia-se Nietzsche – “olha o Herman pseudointelectual aí citando ‘Niti!’”), são reprodutores e mantenedores em potencial desse sistema de exclusão e seletivo. Muitos são capazes de justificar seus ‘privilégios’ com a ‘seleção natural das espécies’. Querem soluções, certezas, vitórias. Falam sempre a partir das suas carências, só não percebem isso – ou, em alguns casos, devem usar isso como fuga ou pretexto). Cobram dignidade, caráter, personalidade, boa conduta – do outro, pois não enxergam suas próprias faltas. ‘São bons’, ‘perfeitos’, ‘corretos’, ‘distintos’: moralistas! Seguem a ótica dualista, onde existe o confronto eterno entre ‘bem e mal’. Talvez nunca tenham pensado ou vivido coisas ‘para além do bem e do mal’ (outra obra fundamental de Nietzsche para quem se bota discutir temas como estes que, como ‘pseudointelectual metido a socialista’ que sou, sugiro). Talvez, falta se assumirem ou se permitirem mais: ‘Torna-te aquilo que és!’, pois ‘Se olhares muito tempo para dentro do abismo, se tornará parte dele’ (‘Niti’, denovo?! que cara mais chato!). Enfim. Querem solução? Então, isso já é um bom começo.

hgs.



Rolezinhos e Segregação: impressões e constatações


..e os 'rolezinhos' nos shoppings... (título meu)

Lendo os comentários dos "homi de bem" nos artigos sobre os "Rolézinhos" penso na impossibilidade de exercício de qualquer tipo de democracia, mesmo a liberal. É impressionante a incapacidade de muita gente de compreender o mínimo das próprias regras do jogo. O nível do pensamento é altamente binário, maniqueísta, simplista e com baixíssima capacidade de abstração. 

O sujeito responde à alguém que crítica a liminar que proíbe os rolezinhos com um argumento do tipo: "Se gosta tanto deles leva pra casa" ou uma versão diferente do mesmo argumento tosco "Então quero ver se tu vai gostar se esse pessoal for fazer rolezinho na sua casa". 

Esse sujeito é perigoso, perigoso para o convívio democrático. Na verdade, a última coisa que esses sujeitos defendem é qualquer tipo de democracia ou igualdade. A igualdade é sempre uma questão de mérito: "Se não tem dinheiro pra comprar é por que não se esforçou".


(Leonardo Santos, professor da UFFS e cientista social)



ROLEZINHO

Eu não curto funk-ostentação (funk, para mim, continua sendo Tim Maia, James Brown, Funkadelic), muito menos shopping center. Procuro me manter longe de ambos. Mas acho que é preciso entender o que está acontecendo. Antes de sair julgando (e quase todo mundo se comporta como juiz hoje em dia), acho que é melhor entender o que está acontecendo.

Pensa bem: se aparece uma ferida feia na mão direita, você vai até o médico e pede para ele cortar o braço, antes que vire uma necrose, uma lepra, um câncer? Ou tenta entender que tipo de ferida é aquela para poder tratá-la?

Antes que confundam tudo, entendam que não estou dizendo que os moleques que fazem rolezinho em shoppings, estimulados pelo-funk ostentação, sejam uma ferida feia. 

Estou dizendo que estamos vivendo numa sociedade doente até o talo (afinal, são 514 anos de segregação, brutalidade e cinismo) e que as feridas vão explodir cada vez mais, em todos os lugares. 

E o que vão fazer: chamar a polícia?

Ou o médico?



(Ademir Assunção, escritor)

*

A recriminação (in)visível!

'Rolezinhos em shoppings' não são novidade.. já aconteceram no passado.. só que em outros contextos:

http://www.ideafixa.com/documentario-hiato-ou-a-recriminacao-invisivel/

O corpo e a imagem como desconstrução: 'que lugar meu corpo ocupa?'

"sou um homem de fronteira que anda de um lado para o outro, por todo lado e sem lado algum.. absorto em palavras e imagens escorregadias, em parede áspera a espera do próximo chão.. me misturo e me perco na paisagem que ajudo a constituir.. a fronteira é um espaço sem tempo e desterritorializado, onde vivo a maior parte do meu tempo.. sou um homem de fronteira, nômade e vulnerável, meu destino é em todo lugar..." 

(trecho de um texto escrito por mim a partir de um diálogo meio torpe com o amigo professor Mano)




...

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

'Polícia 24 horas' e a mediocridade da televisão brasileira

Parte I:

Tive o desprazer, o infortúnio de assistir alguns minutos (até quanto suportei) o programa televisivo chamado 'Polícia 24 horas' na Band - e o comercial anuncia: 'O programa mais realista da televisão brasileira', e eu penso: 'deve ter audiência essa merda!, para manter-se no ar - ou é financiada por alguns grupos econômicos-ideológicos de poder que o garantem’. Quanto nojo me deu. Um 'espetáculo' televisivo sensacionalista, moralista, mesquinho, medíocre, imbecil. E chamam aquilo de jornalismo. E chamam aquilo de justiça. E chamam aquilo de entretenimento (estamos mal, muito mal disso tudo!). Uma estupidez que reproduz o que escroto da parte hipócrita e medíocre da sociedade. Filmam batidas policiais onde o alvo é 'a sujeira' (entre aspas) da sociedade: bêbados, putas, negros, homossexuais, travestis, 'de menores': POBRES. 'Flagrantes' com musiquinhas e risos idiotas ao fundo, fazendo a 'parte cômica' da 'realidade', para que os telespectadores tenham seus momentos de 'circo' sentados frente as suas telas. RICOS que também bebem e fumam, brigam, e mais que isso, cheiram cocaína, roubam, matam, não são visados. Porque será? Uma 'escola' de racismo, xenofobia, mediocridade - eis o que programas como este são. Chego a pensar: 'que falta faz um Hugo Chavez da vida nessas horas para mandar fechar uma bosta dessa!'. E os imbecis dirão: 'ah, é democracia!'. Claro, para 'pobres' servirem de piada de 'ricos' idiotas ou acomodados classe-média ascendente, aí se justifica com esse discursozinho. E se fosse o contrário, ainda seria 'democracia'? Nos últimos anos tivemos bons avanços sociais no país, de fato, porém, uma das principais mudanças que não está acontecendo é a cultural-educacional  (pelo menos não na proporção econômica, como deveria, e até mais). E para que ela aconteça, é necessário uma reforma educacional e midiática - urgentes!! Estas, o Estado brasileiro (governo e toda sua estrutura política), estão devendo. Enfim. Por enquanto, o 'espetáculo' continua...

*
Engole eles mar!


Classe média ascendente (e besta), e ricos esnobes, ambos mal educados e que se acham donos de tudo, inclusive da natureza, tem seus carros inundados pela maré depois do reveillon na Praia do Meio em São Luíz, no Maranhão. Invadem a areia da praia com suas máquinas destruidoras e ainda são n
oticiados pelos meios de comunicação de massa como vítimas. Cultura desprezível que merece choque.  E viva o mar!


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 10/01




quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Leituras do Cotidiano: A crônica!


Entendam o cronista sabendo da crônica...


“Tudo é matéria para o cronista, ‘ilusionista, palhaço de circo, narrador versátil ou sóbrio filósofo’, o cronista não respeita limites na escolha do assunto nem no tom da linguagem. Ele bota graça, poesia e reflexão no tumultuoso mundo dos fatos concretos.”

Situação crônica

Minha entrada no mundo da crônica se deu a partir da leitura de escritores e cronistas como Lima Barreto (primeiro a me inspirar escrever crônicas e publicá-las), João do Rio, Rubem Braga, Mario Quintana, Nelson Rodrigues, e mais recentemente, Marcelo Mirisola e Juremir Machado, entre outros. Percebam assim, como minha situação é crônica...

Modalidades da Crônica

Além da crônica histórica ou anais, há crônica social, política, esportiva, literária, sendo esta última aquela que requer mais esmerada elaboração de linguagem e que, no seu transcender, pode ter tônica lírica, épica ou dramática, pode tender ao sociológico, ao filosófico, ao histórico, ao trágico. 

Na crônica casam-se geralmente bem a dissertação, a descrição e a narração, sendo manos frequente o diálogo. Sua linguagem tende mais para o humor, a ironia, a jocosidade, a ambiguidade, mais para o efetivo do que o racional, com forte tom de subjetividade. 

“A habilidade do cronista consiste, precisamente, em captar e resgatar do transitório cotidiano aqueles elementos ou aspectos que possam manter valor humano-social permanente.”

(Adaptação textual minha, a partir do folheto literário ‘Ô Catarina!’ #47: A Crônica)


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Comecei a escrever por uma necessidade. Talvez a mesma que me fez compor música um dia e sair por aí tocando. Sou um homem recatado, um tanto envergonhado, por mais que às vezes não pareça – e muitos duvidam. E escrever ou me apresentar artisticamente, seja com as bandas em que toco ou com o grupo de poesias onde leio (ou mesmo, em sala de aula lecionando ou nas minhas instruções de Wing Chun e fotografando), todas essas foram formas que encontrei para poder me expressar. E hoje posso dizer que vivo dessas minhas expressões. Pra tudo isso, tenho um bocado de ideias, certos conhecimentos, a palavra e meu corpo. Um errante, um canceriano sem lar como eu, não tem muita escolha, feliz ou infelizmente. Então a afinidade, o anseio e a necessidade de tornar minha vida uma vida feita de expressões. E é por isso que escrevo ainda hoje e aqui... 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, em algum dia de janeiro de 2014.




2014 - e o Planeta Água continua...

O planeta terra deveria se chamar planeta água. Pois, até onde sei, é feito em sua maioria de água (em torno de setenta por cento). Assim também é o corpo humano. Por isso, uma das frases mais comuns que se ouve quando se trata de natureza é: ‘água é vida!’ – e não é por nada. Água do mar, na praia, água da cachoeira, água no rio, da fonte, na piscina, no chimarrão, suco, cerveja. Água na água. Quando dois rios se encontram ou quando algum rio desemboca no mar. Água na boca quando um delicioso ou suculento prato está a nossa frente. E a água da chuva que molha o chão e faz com que as vegetações aconteçam? Dois mil e treze foi um ano molhado. Muita e boa chuva por aqui. Sei que, em alguns lugares a água foi tanta que inundou e fez estragos. Mas não culpo a água por isso. Talvez a invasão humana em locais impróprios. Talvez, a falta de estrutura adequada e esclarecimento à população por parte dos Estados. Talvez, por falta de condições ou possibilidades de quem sofreu com as enchentes, inundações e deslizamentos. A água flui. É tão dinâmica e fluente que, nada tem tanto poder quanto ela, e ao mesmo tempo, nada é mais suave como ela. No entanto ela pode furar uma rocha. A água não luta, ela flui ao redor das coisas. Chegamos a dois mil e quatorze com água, não tão limpa como outrora, mas ainda sendo predominante nesse planeta que leva o nome de Terra, talvez por ser aquilo que faça com que a água ainda esteja...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 03/01