segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um quase cronista!



















Nada é eterno. Tudo passa. Tudo o que é sólido. A vida é um sopro – e ela só existe em termos físicos, materiais. Por isso amigo, viva agora! Não demore pra dizer qualquer coisa. Diga já. Antes que seja tarde e depois não dê mais tempo pra dizer. Uma besteira, bem grande. Qualquer coisa! Já falei. Diga, diga! Ainda há tempo... Ao contrário de L. C. Prates, não dou a mínima pra manuais de auto-ajuda. Prates era muito indignado na telinha, por isso, talvez, a auto-ajuda o faça bem. Às vezes atirava no escuro. Pegava pesado ‘com’ e ‘sem’ conhecimento dos fatos. E o bicho pegou. Não pela sua falta de conhecimento, mas pelo modo de dizer. Ouvi dizer. Também não sei. Não estou para ‘gorar’ o ex-comentarista da RBS. Falando nisso, Prates agora está sendo publicado em um jornal aqui da cidade. ‘Coisa de louco!’ como dizia um caboclo amigo meu. Bebia mate sentado na porta do rancho e largava suas críticas sem meias palavras. Eu só ouvia. Gostava da forma ‘não sensacionalista’ dos seus ataques verbais. Era um autêntico cronista. A diferença é que nunca esteve num veículo de comunicação (além de não ser sensacionalista). Não, não estou relacionando Prates com o sensacionalismo televisivo, isso é malícia da sua mente. É só uma crônica – de péssima qualidade, diga-se de passagem, (e sem humor algum), percebam! Mas preciso dizer antes que o sopro da vida se encerre. Por isso, digo agora, de forma crônica e antes que alguém bata na minha porta me oferecendo algum livro ou manual de auto-ajuda ou de alguma religião que prega a salvação da alma porque o corpo não interessa, antes do final do mundo, que pelos detritos do calendário maia, é no final do ano que vem. Que venha! Tá bom, tá bom seu José, não sou nenhum Prates ou um Arnaldo Jabor (ainda bem!). Nem mesmo um Xico Sá ou um Mirisola. Me conformo comigo mesmo, um homem interiorano que mal rabisca seus textos em troca de festas nutritivas e algum troco pro trago. Um maldito entre muitos benditos. Um pervertido entre muitos puros. Um errante entre muitos moralistas. Tudo isso e muito mais. Não nego. A vida é curta demais pra que eu me explique, portanto, encaro os fatos. Economizo tempo não tentando me justificar. Coitado de mim! Enfim... Isso é o mais próximo que eu já cheguei de um texto de auto-ajuda. Estou aprendendo! Aos poucos, aos poucos...

Bang-Bang!

Histórias do Velho Oeste: Anunciação...

No começo, eram índios e caboclos, os nativos desta terra. Naquele tempo já não havia lei, mas havia certo respeito. Os índios caçavam e plantavam. Os caboclos plantavam e caçavam. Cada um na sua. Até se davam bem quando se encontravam. Claro que, volta e meia, uma peleia acontecia. Meu avô sabia disso tudo, pois viveu o final desse tempo. Mas como as coisas mudam, o tempo passou e as coisas mudaram. Meu avô viu seu pai ser expulso da terra e os índios serem maltratados, usurpados, explorados, mortos. Plantava e colhia erva mate. Lidava um pouco com gado. Mais pra lavrar a terra mesmo. Minha avó na lavoura: mandioca, batata, feijão, etc., etc. Dava pra viver, e bem! Mas eles chegaram. Trouxeram consigo a ganância. Uma promessa de terra fértil, solo rico: ouro, prata e diamante. E isso era verdade - tirando o ouro, a prata e o diamante. Não julgo os imigrantes pobres por isso. Julgo sim, os ricos colonizadores e suas ambições. A mentira das companhias colonizadoras para invadir e cercar o espaço que agora é totalmente privado. E os índios e os caboclos ficaram na saudade. Quando criança eu passei fome. Quando criança eu passei sede. Mas meus pais, que muitas vezes deixaram de comer e beber, não deixaram que eu sucumbisse no tempo. E eu cresci. E eu me tornei homem criado. Pêlo duro e temperamento indomado. Recebi um legado como herança. Tá no sangue. Tá na alma e em alguma cicatriz que ficou do meu tempo de guri. Um homem como eu, e que passa seus dias no Velho Oeste, precisa de três coisas na vida: uma boa montaria e um bom e verdadeiro amigo. No caso, um cavalo e um cachorro. A terceira e última: um bom pau de fogo. Isso mesmo, uma arma, um revólver. Sem isso fica difícil sobreviver. Sim, sobreviver! Porque aqui ninguém vive. Coronéis e as famílias que circulam em torno destes - como moscas varejeiras em torno da carniça - depois de sacanearem valendo os índios e caboclos, de enganarem os imigrantes mais pobres, criaram um mundo que é só pra eles, com porteiras e aramados, capangas e excessos. O que eles não sabem, é que isso tudo não dura pra sempre. Muitos, assim como eu, são herdeiros do passado e estamos aqui, no presente, bem debaixo de seus narizes, quase invisíveis e prontos para a peleia.


Histórias do Velho Oeste VII, o baile

Meus olhos entupidos de poeira. Não via dois palmos a frente. “Estou morto!”, pensei. Todas as pessoas do salão me olhavam com espanto. Não haveria de ser diferente, o baile fora interrompido por minha causa. Marieta observava tranquilamente o baile nas costas de Jordanio, aquele almofadinha, filho de papai e mamãe, donos de terras aqui aos arredores, madeireiras e membros da elite local. Eu, um mero forasteiro com lenço – vermelho - mas sem documento, suspeito de alguns incêndios na cidade, cheguei ao baile com a única intenção de me divertir um pouco. Mas um caboclo estrangeiro, estranho e suspeito num baile familiar, onde se concentra todo o poder em sobrenomes, só poderia dar no que deu. Logo que entrei porta adentro, percebi que pisei em terreno inóspito. Me danei! Mas já era tarde pra voltar atrás, e já que estava lá dentro com todos os olhos me mirando, resolvi ficar. Não teve jeito. Fiz a besteira de ir até aquela reunião de coronéis e seus agregados e submetidos. Estava feito... “Quem entra num baile tem que dançar!”, já dizia meu velho pai, caudilho de marca maior. Mirei a prenda mais bonita do salão e fui me chegando, devagarzinho. Marieta era filha de um bolicheiro braço direito de um coronel. Tomei uns tragos pra deixar de lado qualquer paranóia e me despenhei na empreitada. “Com licença moça! Aceita dançar esta marca comigo?”. Marieta arregalou seus grandes olhos verdes e sua pele assumiu um tom pálido a deixando ainda mais bela. Não percebi que a moça estava acompanhada quando fiz este gesto. Jordanio que estava logo atrás de Marieta, tomava sua cerveja numa roda de amigos, todos muito bem trajados e com ares de superioridade militar. Percebi o erro, mas não retrocedi. O semblante indeciso de Marieta assumiu um misto de desespero e simpatia. Um meio sorriso da moça pra mim foi o suficiente para fazer Jordanio perder as estribeiras. Virou-se num só pulo já sacando da sua faca de prata. Mas ele não esperava que eu fosse mais rápido e que minha adaga fosse mais precisa. Antes mesmo que ele me cutucasse, enfiei a adaga no pulmão do bicho. Uma poça de sangue se formou bem na frente de Marieta, que sem reação alguma parecia me agradecer com seu silêncio gritante...

Continua...

Reuniãozinha básica de fim de semana..





eita dúvida que me mata!


acho que vai ser esse mesmo..



















Julio e eu, fazendo história.. rum & vinho, baita combinação pra uma noite fria..


pronto, tá na mão!
























não esquecendo do prato: carne de sol, mandioca, queijo (muito queijo!), temperos verdes e pimenta (muita pimenta!)..

isso tudo dá mais sentido ao mundo..



sexta-feira, 17 de junho de 2011

GREVE gera MOVIMENTO que gera alguma coisa que gera outra, etc...

Mais uma greve acontece. Olho pela janela e vejo lá fora pessoas reunidas. São tão perigosos! – assim como eu. Sinto que nem tudo está perdido. A greve traz de volta um romantismo fantasmagórico, secular (senão, milenar) - o romantismo da ação como elemento vivaz na trajetória das sociedades humanas. Por mais que alguns ‘intelectuais-filósofos-passivos-pacifistas’ (ou pacienciosos) de tino ‘pós-moderno’, torçam seus narizes, a beleza também está no movimento. A luta travada na rua que vai além, muito além, do legalismo institucionalizado entre quatro paredes. A greve dos professores do Estado e dos cobradores e motoristas de ônibus (os ditos transportes públicos) encontram-se em um grande movimento de categorias distintas e uma única classe pelas ruas de Xapecó – que segundo a definição do velho Karl Marx se chama: a ‘classe trabalhadora’. E isso é romântico! Mas isso não significa que ‘esse romantismo’ seja um mero ideal, uma utopia distante e/ou fantástica. É real! Está acontecendo. E não longe daqui. Aqui mesmo. Olhem pra fora. O mundo gira e está em pleno movimento. Não dá pra ficar parado. Vamos lá! Levante a bunda da cadeira e saia pra rua você também. Não espere a morte aí, sentado, na existência minimalista do mero reprodutor. A ação de chama. A vida te convida para dançar. Mexa-se! A teoria só tem valor quando é posta em prática. Dizer, falar, escrever, faz parte, mas não é tudo (ou é quase nada). E eles estão tentando. Colombo (que é Raimundo e não Cristóvão), apela, jogando baixo, ameaça descontar dos professores grevistas os dias parados. Estratégia de desmobilização. Fragmentar o movimento é uma tática velha, mas que dá resultados (geralmente!). Nosso atraso social se dá também (e talvez, principalmente), pelo mau trato aos formadores-deformadores: os professores. E eu, como um ser dessa ‘laia’, me incluo nisso. Não estudei pra ser simplesmente um ‘falador’, e na minha condição – e tendo consciência dela – faço, da forma que sei e posso, algo para somar nessa ‘luta’. Percebam! Hoje minha crônica é um quase manifesto de classe – é o meu lado comuna que às vezes acorda. Mas não é só isso. Meu interesse vai além do apoio a categoria da qual eu faço parte. Estou pra gerar movimento como a greve está pra gerar ‘justiça social’. Já que, onde está o movimento está a vida, pois ela nunca para – quando parar já não é mais vida, é morte... & insignificância.


A maconha e a política

     * ao som de Bob

Fernando Henrique Cardoso, o FHC, nosso ex-presidente (pré-Lula), anda lutando pela descriminalização da maconha. Corajoso o rapazinho! Pelo que sei, FHC é sociólogo, então, em tese, entende da problemática. Tudo bem, não foi um bom presidente. Foi vendilhão e tudo mais. Mas agora o caso é outro. A maconha como qualquer outra droga, alucina. Mas ao contrário da cocaína, do crack e do Oxi (só pra citar as mais populares entre as ilícitas), ela deixa o usuário calmo, enquanto as demais citadas causam euforia e paranóia. Maconha é uma droga fraca, se a compararmos com as demais, inclusive com as ‘drogas legais’, como o álcool por exemplo. Nunca ouvi falar de alguém que assassinou sob o efeito da maconha. De outras drogas já, principalmente do álcool. O que não dá pra entender, é que, se uma droga (a maconha neste caso), comprovadamente, causa menos dano social (ou quase nenhum) – e humano, enquanto o álcool é um dos que mais causa problemas (desde direção perigosa no trânsito até brigas que acabam em mortes) – e degeneração física; porque uma – o álcool, neste caso, é legalizada (não sofrendo discriminação), e outra – a maconha, é ilegal (sendo amaldiçoada)? Motivos e motivos. Econômicos, políticos e morais. A falácia de que ‘uma droga puxa a outra’, ou de que ‘a mais fraca é a porta pras demais’, cabe mais ao cigarro e ao álcool do que a qualquer outra. Portanto, apenas mais um discurso. Por trás de toda esse desencontro de informações, dessa resistência contra a liberação do uso da maconha, estão as intenções. Veladas, as intenções usam a ‘saúde humana’ como pretexto contra a legalização, além da ‘doidêra, bicho!’ (e não digam que sou maconheiro por este meu texto. Assim fica fácil para desqualificar meu pensamento, já que o preconceito e ignorância referente ao tema ainda é grandioso no quadrado social). Drogas fazem mal pra saúde, fato I. Mas sempre existiram, fato II. Além da maconha e álcool e etc., temos os refrigerantes, os comprimidos, as telenovelas, o axé-music, etc. Tudo em excesso chapa, aliena, causa ‘problemas’. Mas a culpa é da maconha, não é? Se FHC usa essa ‘bandeira’ com interesses pessoais e/ou políticos, não sei. Mas que é necessário quebrar este tabu, isso é! Falando nisso, já fumou seu cigarro ou bebeu sua cervejinha hoje? Haja neurônio!


Siglas e siglas: a volta dos que nunca foram...

Novamente, a troca de siglas partidárias. De PFL para DEM (Democratas), agora de DEM para PSD. O PSD é um partido antigo, pelo menos na sigla. Agora, não sei se este ‘novo’ PSD que o governador (desafeto dos professores) Raimundo Colombo acabou de se filiar, deixando pra trás o DEM (o que houve?), e que muitos outros também estão fazendo (inclusive aqui em Xapecó), é o mesmo que já existiu por aqui no passado. Pra não pensarem que estou zoando, no livro-pesquisa ‘O linchamento que muitos querem esquecer’ da professora e jornalista Monica Hass, encontramos, entre outros, o seguinte trecho: “Além do medo de falar a respeito, as pessoas não tinham certeza sobre nomes e datas. As primeiras referências, localizadas nos jornais da época, acrescentavam pouca coisa. No caso da imprensa local, o único jornal existente na ocasião do crime, ‘A Voz de Chapecó’, vinculado ao PSD (Partido Social Democrático), deixou de publicar notícias sobre o massacre após a prisão do delegado Arthur Argeu Lajus, membro do partido e aliado dos donos do poder local, acusado como um dos responsáveis pela organização do linchamento. As edições dos jornais que continham as notícias do crime não foram localizadas na Biblioteca Pública Municipal de Chapecó”. Motivo pelo qual escolhi este trecho: ‘achei bonito!’ – não acham? História minha gente, história... Assim como foi com o velho PFL, pelo jeito o DEM também vai ficar na saudade (ou é apenas uma mudança de nome?). A ‘desfiliação em massa’ também não é novidade. João Rodrigues, o ex-‘prefeito de verdade’ (chavão publicitário de campanha – não sou tão criativo assim para criar isso) anos atrás fez um ‘movimentão’, carregando gente do PP para o DEM, culminando na ira do PP. E assim vai... Só resolvi tratar deste tema, pois também estou movendo uma campanha para desfiliação em massa. Meu partido vai mudar de PCA (Partido das Coisas Aleatórias) para PCP (Partido das Causas Perdidas). Convido a todos que participem! Somos um partido sério, diferente da maioria (discurso exclusivo). O motivo da mudança? O partido anda enfraquecido, e para adquirir mais rebanho, o jeito é inovar. Estratégia de marketing, sacou?!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Cães para Juremir


Juremir não tem cães. Vou dar alguns cães para Juremir. Acho que ele merece. Sua falta de cães o faz um pouco menos cachorro. Juremir é um cão. Um cão que ladra e morde. Nem todos os cães ladram, mas não mordem. Juremir morde. A mordida de Juremir não é fatal, mas pode causar algum dano. Seus caninos são pontiagudos e afiados como punhal. Um dia Juremir já chorou a morte de um cão. Um dia Juremir também foi mordido. Hoje, Juremir passa seus dias sem cães a farejar o mundo. Por isso Juremir tem certa alergia do mundo. Compreendo Juremir porque sofro o mesmo. A diferença é que sou cercado de cães. Às vezes também sou um deles - um cão! Me torno! Nos postes da vida é que conheço outros cães - pelo cheiro. Meu faro aguçado de cão vagabundo é minha linguagem mais fiel. Não erro nunca! Juremir queria cães a distância. Puro instinto. Cadelas o agradam mais, certamente. A mim também. Somos cães sem pedigree nem dono. Cães olfatórios de rua. Cheios de pulgas. Não gostamos de coleira. Alguns cães acostumam com coleiras, eu não. Juremir também acho que não. Por isso a nossa ‘meia chatice’, a nossa ‘meia ira’. Ira do cão! Me afino com cães e crianças. Me afino com comida cheirosa - e não com ração. Há cães por toda a parte. Tipos, espécies, variedades de cães. Cães silenciosos e barulhentos. Cães pestilentos. Cães vagabundos e de madames. A maioria dos cães tem a cara dos seus donos, e os que não tem donos como eu, como Juremir, tem a cara de si próprios. Tenho um amigo que também é cão. Um cão andaluz. Herdou o nome de um filósofo maldito e cínico, do grupo dos ‘cães filósofos’. Os melhores! (junto com Nietzsche é claro!). Nietzsche é alemão. A Teckila, minha cadelinha, também é de origem alemã. Uma Teckel ou Duchshund. Cão de caça. Assim como os filósofos, os cães alemães também são inteligentes e perigosos. Gosto de cães de origem alemã. Aliás, admiro parte da cultura alemã. Um país de grandes pensadores que sofreu derrotas avassaladoras nas duas Grandes Guerras Mundiais, se recuperou de ambas e hoje é uma das nações mais ‘fortes’ do mundo. Decerto herdou essa energia, essa força dos seus cães – cães bárbaros! Eu tenho origem alemã – no nome. Mas sou um cão bem brasileiro. Daqueles! Como Juremir. Fraco fisicamente, mas forte no nome e na vontade crônica de combate. Au-au!



Da amplidão...

“Eu me contradigo?
Pois muito bem, eu me contradigo,
Sou amplo, contenho multidões.”
(Walt Whitman)

Sim, eu não sou confiável sob vários aspectos, pois me contradigo. Sou uma contradição ambulante, uma metamorfose contínua. Se acha que é fácil me localizar, sinto informar-lhe, está enganado! Não sou tão óbvio quanto posso parecer. Aliás, é essa contradição que me garante o movimento – físico e mental. Se parte considerável das pessoas é convicta, tem opinião sobre tudo, eu não me incluo entre esses. Sou um oceano de erros e desencontros – portanto, também de possibilidades (e isso me amplia o vôo). Vivo em constante transformação. Tenho caos dentro de mim. E se a confusão te perturba, é o sinal de que você também ainda tem chance de mover-se. Só se move quem tem vida, além da mera existência física e da racionalidade cunhada em determinados valores morais. Mas a contradição não se dá em todos os momentos e em todos os aspectos da vida e do pensamento, não. Ledo engano! Existe uma e outra contradição. Variantes. Vertentes. Formas. E é isso que da sabor ao mundo.

“O dito e o escrito não provam quem sou,
Traga a plena prova e todo o resto em meu rosto,
Com meus lábios calados confundo o  maior dos céticos”.
(Walt Whitman)

Eu não sou isso que escrevo - não só isso! Isso é só uma parte de mim. Eu sou feito daquilo que me alimento, ouço, leio, assisto, vejo, pratico, daquilo que vivo. O meio influencia muita coisa nessa constituição, mas não tudo. Parte vem de dentro. Nem tudo é exterior. Mantenho certa coerência entre meu pensar e meus ditos-escritos. Mas pratico também ‘alguma’ contradição. Mas não a contradição dos incoerentes, dos hipócritas, mas a contradição dos provocadores, dos que duvidam de quase tudo e não se satisfazem com anúncios publicitários, discursos ou ganhos pessoais. É muito cômodo concordar sempre. Acreditar sempre. Estar sempre seguro (ou sentir-se – segurança por acaso existe?). Enfim. Se me contradigo, e da forma que o faço, é pra não deixar certezas pairando no ar, mas sim, dúvidas derramadas pelo chão – e a crônica, assim como a filosofia combativa tem isso: ‘Antes um sátiro que um santo’ (Nietzsche). Sendo assim... ‘VIVA A CONTRADIÇÃO!’

sábado, 4 de junho de 2011

‘Assuntos pop’

Sou pop. Um professor pop entre meus alunos. Um guitarrista pop entre os que admiram meu modo de tocar. Um cronista pop entre meus leitores. Sou um homem pop. Escrevo textos pop sobre assuntos pop num mundo pop. Saio todo dia estampado nas páginas de um jornal, o que me faz ser um ser pop. Apareço pro mundo também através da internet, o que também me faz pop: Facebook, twitter, orkut, blog, etc., etc. Tudo converge ao pop. Toco rock, e rock é uma música pop. Sou guitarrista, e a guitarra é um instrumento pop. A morte do Osama, a crise no Líbano, a greve dos professores, a prisão do líder do FMI, o aquecimento global, o possível e trágico final do mundo que supostamente será em 2012, etc., etc. Todos são assuntos pop pertencentes ao mundo pop. Somos uma grande danceteria de música pop. Alguns dançam freneticamente, outros apenas ouvem a música. Tem também aqueles que entram neste mundo pop só para criticá-lo. Outros tapam seus ouvidos e fecham seus olhos, evitando ouvir e ver o espetáculo. Eu faço um pouco de cada coisa. Sou um pop contraditório. Um pop experimental e psicodélico. Um pop-man libertário-conservador. O cinema e a fotografia, além da música, são duas das minhas preferências artísticas pop. Mas o que é pop? Tudo o que é pop pode ser popular. E é! Quer dizer... eu acho! Ser pop hoje é estar por aí. O ser pop está no jornal, na internet, na revista, na capa do disco, falando a algum público ou aparecendo em outros meios de propagação de informações. Atualmente não é difícil ser pop. É só querer (ou não?). Alguns não gostam do mundo pop. São ‘Cult, intelectuais, de alguma casta superior’ (ou assim se vêem). Alguns ‘iluminados’ invejam o mundo pop negando-o com certa virulência. Mas isso é comum - isso é pop! Decerto os ‘iluminados’ vivem num mundo ‘elevado’ que eles próprios criaram pra si. Um mundo idealizado. São idealistas românticos presos no catecismo das suas idéias e atitudes. Seres quase mitológicos que, certamente, um dia, virarão pop também – ou serão esquecidos, soprados juntos a poeira do tempo. Às vezes chego a pensar que do pop ninguém mais escapa. Tudo está condenado ao pop. * Ao som de uma banda pop...



Ele(s) sempre tenta(m)...

Eles estão por aí, atordoados, no fundo de algum quarto escuro pensando em como sair. Às vezes, até se arriscam em entoar suas reclamações catequéticas em público. Se vestem da rebeldia dos malditos, mas no fundo são idealistas puritanos que tentam, através de falácias, esconderem suas mágoas sócio-históricas (até que disfarçam bem!). E eles sempre voltam a azucrinar meus ouvidos com seus gritos lamuriosos por detrás dos muros em que se escondem. Sou mira fácil por ter meu nome e minha imagem publicados junto aos meus devaneios numa folha de jornal e em meios virtuais. Mas isso não muda nada. Aliás, muda sim! Graças aos ‘ataques’ disfarçados de criticas fundamentadas, tenho pautas para alguns textos. No fim, certas atitudes acabam alimentando minhas crônicas. Agradeço! Decerto alguém deve ter idéia de como é difícil escrever todos os dias. Decerto, alguém deve saber o quanto custa um pacote de feijão. Claro, muitos sabem! Decerto, alguém se esqueceu de avisar aos ‘críticos do vazio’ que espaços se conquistam e não se ganham assim, tão fácil. Não foram avisados que respeito e certos reconhecimentos também se conquistam e não se impõem. ‘Querer ser’ é diferente de simplesmente ‘ser’. Toda a conquista requer certo tempo, ousadia e luta. Nada cai do céu por um desígnio divino - sinto informar! As coisas se constroem, e muitas vezes, essa construção é penosa, mas também, pode ser divertida, prazerosa. Logo, me divirto escrevendo e isso me dá prazer. Mas não nego, às vezes, escrever também pode ser penoso. Se não tivesse nada pra dizer, pra considerar, não escreveria. Se o faço, é porque tenho alguma condição pra isso - e se faço disso um ofício, um ganho, é porque essa condição se comprova. Não sou o melhor escritor do mundo, eu sei. Nem do país, Estado ou da cidade. Mas também não sou o pior. Conheço uma de gente pior do que eu. Bem pior! E alguns melhores. Alguns! Na minha rua, talvez eu seja o melhor. Talvez! Mas isso não interessa. O que interessa é que luto pra fazer o que gosto, e que tenho leitores pra isso – motivos das publicações (além de um jornal que acredita no meu trabalho). Mas não só de críticas vivem as crônicas (só pra considerar os elogios). Enfim, avisem os desavisados: “Ou tu ocupa os espaços, ou os espaços te ocupam” – bang!


quarta-feira, 1 de junho de 2011

In vino veritas...


















Se baixo os olhos vejo o mundo dentro de mim. Se os ergo, vejo o mundo de fora. Há mais mundo dentro do que fora de mim. Meu corpo é um universo de coisas que durante anos eu alimentei. Voltei de uma viagem. E essa viagem foi longa. Durou o tempo necessário de uma queda. Uma queda à distância e de uma altura vertiginosa. A queda livre pra dentro de mim. O interior de mim mesmo. O eu cavernoso. O surto, o devaneio, a razão doente, a alucinação, a orgia dos sentidos, o impossível, o improvável, o intragável, o inatingível, o inabalável. Abandonei a formalidade dos dias úteis e sob uma lua de convulsão, me fundi ao infinito. Quando ainda criança, descobri meus primeiros sopros de liberdade. Um garoto de uma cidade de interior que ficou conhecendo muito bem tanto a loucura quanto a razão. Nesta transação foi que eu adquiri uma alma sonora.  A música pôs a primeira fatia de mundo dentro de mim, meus primeiros acordes. Depois, a literatura, a poesia indestrutível que até hoje ecoa na minha cabeça. Meus ouvidos e minha alma premiados com isso. Mais tarde, a imagem: a fotografia e o cinema. Por fim, a ciência, a filosofia, a História. E o mundo se abriu como um botão de petúnia que desabrocha na primavera. Tanto o mundo externo quanto o interno floresceram diante dos meus sentidos. Um mundo que completa o outro. Ambos conflitantes entre si. Ambos repletos de quedas e levantes, abismos infindáveis e superfícies magistrais. Meu coração de prata e o magma que corre pelas minhas veias. Meus olhos vivos. Meu amor de veludo. Minha dor lasciva. Meu esconderijo latente. Minha existência de luzes acesas e alguma escuridão. Tudo o que eu amo tem aroma. Tudo o que eu desejo tem poesia. Tudo o que eu, por algum motivo ignoro, existe dentro do meu pesadelo. Foram tantas conspirações entre um blues arrastado nos acordes errados da minha guitarra e bêbadas baladinhas de rock dentro da noite! Me deitei em camas macias e estrangeiras e tive experiências flutuantes de menino-cão que brinca sozinho em jardins secretos. Questionei a religião e estive no céu. Questionei a razão e me tornei outro...

Hoje, meu próprio manicômio sou eu. Questionei o mundo e conquistei a consciência num jogo subliminar de naufrágios esquecidos. Não fosse isso, seria um santo. Um santo partido num altar de rezas macabras. Aquele que em seu interior só leva valores inseminados pela insensatez de um deus promíscuo. Um corpo que carrega dentro de si um deserto. Seria assim se não me desse o luxo de experimentar, provar, sentir o sabor do mundo para no fim me fragmentar em dispostos e contraditórios lados de uma mesma caricatura. Cria de mim mesmo. Teatro triunfante no absurdo. Mais sutil do que o tombo de um inseto. Mais estrondoso do que mil sinos apocalípticos de anunciação. Eu, um homem e seus dois mundos paralelos e distintos. Eu, mundano & divino. Amargo, ácido e licoroso. Eu vivo prazerosamente destilando meu próprio veneno no meio dessa festa ‘tão sóbria’. Me tornei antídoto de mim mesmo & passo os dias sorridente como as crianças que correm sujas pela rua: Minha imagem para o paraíso!

Sinfonia em dias decadentes

 O maestro que hoje deveria reger uma sinfonia num palco iluminado bebe seu rum deitado no sofá da sala escura. Olha para o teto enquanto se embriaga. Ele estudou anos e anos a fio para ser bom no que faz, e é. Fez calos nas mãos e no cérebro por isso. Hoje, decadente, espera o tempo passar. O velho maestro já foi mestre um dia. Era assim que seus alunos o chamavam. Era assim que a Escola e os pais de seus alunos o chamavam. Hoje, o maestro foi chamado de idiota por um aluno. Hoje, o maestro não saiu de casa pra ensinar, preferiu o rum. Enquanto bebia pensava no tempo em que era respeitado e admirado. Pensava no tempo em que o seu conhecimento sonoro tinha valor. A garrafa de rum já estava quase no seu final. Ligou a tevê e viu coisas mirabolantes e hipócritas. Viu a música que tanto ensinou ser tratada como uma puta. Pensou: ‘Não se trata uma mulher assim!’. Tendo em vista que toda a puta, além de puta, é mulher. Puta é só uma palavra, um rótulo desmoralizador na boca dos ignóbeis e insensíveis que contaminam este mundo com suas mediocridades. Na boca de um poeta, puta se torna uma palavra mágica e bela, e o maestro sabe disso. O maestro sabe que o que vale é o motivo, o tom de voz, o modo que a palavra é dita, e não ela por si só. Sabe que isso faz toda a diferença. Ao contrário do estúpido, o maestro é cauteloso com seu tom de voz, assim como o poeta é com a palavra. Mas isso não entra na cabeça dura dos que falam mais, muito mais, do que ouvem. Falam pelos ouvidos, depreciando a função dos mesmos. O maestro também era chamado de professor e artista. O maestro tinha sonhos e como sua música, seus gestos eram sonoros. O maestro era sonoro, pois sua função ecoava. Hoje, o maestro é visto como um miserável na fila de espera. Um pedinte que depende da vontade alheia. Bem menos do que um burocrata qualquer ou qualquer um que seja chamado de artista na televisão. Tem menos voz ativa do que estes. Deu um ultimo gole no rum e atirou a garrafa na tevê. Levantou cambaleante do sofá e decidiu voltar pra escola. Embriagado suportaria a estúpida realidade.


Histórias do Velho Oeste, parte IX: A lei do cão!

Apontei direto pra cabeça do sujeito. Ele vacilou, mas eu não. Engatilhei lentamente o trabuco e puxei o gatilho. Plantei uma azeitona entre os olhos do caboclo e aquele olhar de cão raivoso se desfez no ato. A menina estava livre do seu tirano. “Justiça seja feita!”, murmurou perplexo o padre, fazendo o sinal da cruz. “O que foi?”, perguntei sem hesitar. “Na, na, na, nada meu filho! Eu, eu, eu só...”. “Tudo bem seu padre, eu respeito à autoridade que Deus lhe deu, fique tranqüilo” – mas não fosse isso... “O, o, obrigado meu filho!”. “Não me agradeça seu padre. Apenas livrei a menina desse maldito filho da puta”. Deixei o defunto pronto e no lugar apropriado para a velação. A menina abriu um sorriso típico de uma criança da sua idade, porém, com um ar de satisfação e depravação. Anos sofrendo abuso do padrasto, só poderia reagir dessa forma. Mas meu motivo inicial não foi esse. O desgraçado havia matado um amigo meu há alguns meses, jogando seu corpo no rio Uruguai a mando de algum coronel, depois de ter espancado e tentado abusar da mulher que há tempos eu cevava. Ela ficou bem feia, coitada! Bateu até que pôde o perverso. Ela não era flor que se cheire, mas era mulher. E das belas! Eu gostava da Ana. Depois da sua surra e da morte do Ramiro, seu irmão e meu amigo, Ana juntou suas trouxas e se mandou do Velho Oeste. Foi pra capital atrás de uma vida melhor, mais digna. Queria estudar e ser alguém na vida, longe dessa terra sem lei. Por aqui os coronéis deitam e rolam, fazem o que querem com as pessoas, menos com um homem como eu. Pensam duas vezes em comprar briga com gente da minha laia. No fundo, sabem que estamos dispostos a qualquer coisa para não sucumbirmos no tempo. Já se provalecem demais com os índios e caboclos, expulsando-os das suas terras enquanto seus capangas abusam das suas crianças, como este, que agora já deve estar esperando na fila do inferno. Não sou justiceiro nem nada, mas antes ele do que eu! É a lei do cão. Mas é assim. Tenho que dançar conforme a música, e às vezes, ela não é tão agradável como deveria ser. A menina ri pra mim com devoção. Devolvo meu trabuco pra cintura, faço o sinal da cruz e saio lentamente da igreja sobre o olhar ainda perplexo do padre.