Fetiche e punição
Deputados comemoram a redução da maioridade penal como quem
festeja a vitória do seu time de futebol numa final de campeonato tirando sarro
dos adversários derrotados. Mas não antes de rezar um culto em plena câmara,
mostrando o quanto o Estado é laico e eles são bons cristãos, é claro! Sendo
que, no texto bíblico, Jesus pregava o perdão, enquanto eles pregam a punição,
o castigo. Seus risos comemorativos se explicam. Diferente do que o senso comum
pensa e os discursos midiáticos dizem, a redução acarretará outros problemas de
ordem social e jurídicos. De ‘Pátria Educadora’ para ‘Pátria Punitiva’. Para o
esbalde e deboche daqueles que tem fetiche com menores, agora poderão
livremente fazer suas ‘festinhas’ prives com adolescentes de 16 anos, sob os
olhos da lei. Enquanto traficantes aliciarão crianças menores de 16. Prostituição
e uso de álcool aumentarão, assim como as ‘festinhas’ adultas com ‘ex-menores’.
Tudo em nome da ‘família’ da moral e dos bons costumes – amém! Ou em nome do
fetiche de alguns senhores-barrigudos-engravatados. Tanto faz, eles querem é
mesmo gozar, no amplo e dinâmico sentido do termo.
* também publicado no jornal Folha do Bairro.
Imagem deprimente: ‘ilustres’ deputados rindo e comemorando a aprovação
da redução da maioridade penal. O que deveria ser triste, pois, trata-se de um
problema sociocultural e histórico e não de um jogo de futebol. No senso comum
e na opinião publicada (pelos meios de comunicação), a redução tem ares de solução,
mas para além do senso comum, dos discursos e ideologias, ela acarreta muito
mais do que uma simples ‘justiça’. O que muitos não percebem, é que com esta
redução, jovens que antes eram adultos com 18 anos, agora passam a ser com 16.
Ou seja, muitos dos senhores deputados agora poderão agir para além dos vídeos
pornográficos. ‘Festinhas’ com adolescentes de 16 anos serão ‘permitidas’ por
lei. Além do sexo prostituído, o álcool. Finalmente seus fetiches de
velhos-barrigudos-engravatados lhes trarão menos riscos criminais. E eles
festejam, comemoram, riem e tem orgasmos só de pensar nisso, além do fetiche
pela punição. Não só eles, é claro, vamos ampliar isso para todo o mundo adulto
que, covarde, por não assumir problemas que são de sua responsabilidade, os
transferem para os mais vulneráveis. Os hipócritas fazedores de leis que rezam
cultos com mãos dadas em pleno congresso (Estado laico?), até que enfim terão
seus fetiches realizados. Por isso tem motivos para festejarem a situação. É
meus amigos, eis os valores ‘familiares’ destes ‘distintos senhores’.
Com a redução, jovens pobres de 16 a 18 anos serão mais facilmente
aliciados a prostituição e ao tráfico de drogas, assim como ao trabalho de 44
horas semanais, o que, além de encurtar suas vidas livres e sadias, as tornarão
adultos antes do tempo, restringindo seus acessos ao ensino (um problema que
deveria, este sim, ser assistido pelos senhores deputados), pois, esta
aprovação afetará diretamente os mais necessitados que ainda frequentam a
escola. Ou seja, a exploração humana aumentará significativamente, onde a
educação será substituída pela punição. E tudo isso implicará em uma série de
problemas judiciais. Traficantes continuarão a aliciar menores só que agora de
16 para 15, 14, 13, 12 anos de idade. Crianças serão as próximas vítimas dos
traficantes - e dos deputados e seus fetiches.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.