segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Independência?

Nossa independência é uma história mal contada em um quadro exposto num museu.

Independência que se deu no lombo de um burro desenhado como cavalo, junto a uma dor de barriga coroada, majestosa. Nossa independência não foi popular, foi popularizada (ideologicamente). Então, ela é mesmo nossa? 

A palavra Brasil é relativa à brasa, braseiro, portanto, ao que queima e à cor vermelha, tanto que, por isso a árvore símbolo do Brasil foi chamada de pau-brasil (por causa da tintura vermelha extraída desta árvore - nossa história oficial já começou com desmatamento). Mas, os mais desavisados repetem com um orgulho ignorante e ideológico a falácia: ‘nossa bandeira jamais será vermelha!’. A frase no centro da bandeira vem da ideologia positivista e seu amarelo representa a família real portuguesa. Ou seja, nada disso é nacional ou original daqui. O Brasil é tão incoerente e contraditório como é a relação entre a sua bandeira e seu nome. Se os símbolos, as cores, as frases, não representam realmente nossa terra, nosso povo, porque não mudá-las? Símbolos também podem ser territórios, demarcações ideológicas, e neste caso, são. A insistência de manter estas representações estagnadas é fruto do conservadorismo que está além das instituições, ou seja, também está no imaginário, nos valores e crenças popularizados como imutáveis e sagrados, inculcados na mente de grande parte dos brasileiros. 

Sou cidadão brasileiro (pois nasci e cresci aqui), amante da terra, da Natureza e da vida. Também sou (ou estou) professor, artista e historiador, e não me sinto representado pelos chamados símbolos pátrios, sejam eles (e entre eles), o hino nacional e/ou a bandeira. Vivemos numa democracia, dizem. Sendo assim, porque, mesmo sabendo da história, tendo fundamento socio-histórico, portanto razão (própria e pessoal) e direito de escolha - que deve(ria) ser respeitado - mesmo assim, persistem em tentar me obrigar a fazer o que não necessito ou quero, como cantar o hino e se posicionar militarmente (posição de sentido) em frente à bandeira em todo evento oficial de Estado e no 7 de setembro? Se o regime é mesmo democrático, porque somos obrigados a votar e servir ao exército, além das formalidades já citadas acima? Isso não é incoerente? Ou são apenas os discursos que não representam a realidade, assim como é com os símbolos pátrios e a história oficializada da independência? 

Respeito às escolhas e crenças, e gostaria que as minhas também fossem respeitadas, pois o movimento deve ser recíproco. Se acham importante cantar o hino, se verticalizar frente à bandeira, tudo bem! Mas, e eu e todos os outros que não se sentem representados por isso, como ficamos? Seremos excluídos? Somos menos brasileiros por isso? Ou criminosos? Pois, somos sim, oprimidos, cobrados, julgados, pois a coerção social nos importuna (sentimos e sabemos disso), não através da força física, mais sob pena de sermos punidos de alguma forma, e esta pressão é muito violenta, quem sente sabe disso. Então, isso é democracia, liberdade ou independência? Ou é só um discurso de controle sociocultural?