Debaixo de muita chuva, a passagem de Lula por Xapecó com sua
caravana nacional, foi motivo de uma grande reunião popular na praça central,
mas também de muita confusão e violência gerada por ‘opositores’ que gritavam
palavras de ódio, exibiam faixas pró-ditadura militar e Bolsonaro. No momento
do comício, além de água, choveu ovo, lata, garrafa, pedra e fogos de artifício
em cima da cabeça da população, entre crianças e idosos, que foram assistir e
ouvir Lula e outras lideranças políticas e sociais falarem.
Passei a tarde de sábado ministrando um curso de Linguagens
Poéticas junto a escritores locais, do Estado e do sul, também com alunos e
colegas de trabalho e de arte. Depois disso, mesmo resfriado e com a garganta
dolorida, peguei minha câmera fotográfica e fui pra praça, debaixo de chuva, a
modo de registrar aspectos do evento. Chegando lá me deparei com gritos de
ódio, frases racistas proferidos por uma ‘minoria’ de pessoas (‘de bem’) que se
pronunciavam a favor da ditadura militar e de Bolsonaro do outro lado da
avenida Getúlio Vargas. Certo momento ouvi cantarem: ‘Amamos a polícia militar’.
E, por detrás da barreira humana que a PM montou, eram arremessados os objetos
que, acabaram atingindo pessoas que estavam em frente a igreja matriz. Uma delas
fui eu (levemente, mas doeu, inchou e arrochou meu dedo). Mas outros, não
tiveram a mesma sorte. Vi pessoas sangrando passar.
Enquanto objetos voavam sobre as cabeças dos que,
pacificamente estavam ouvindo as falas, a PM imóvel, sendo que, os arremessos
saiam de perto, por detrás dos policiais. Precisou alguma revidação e alguém
falar no microfone em bom e alto tom, cobrando alguma atitude da PM para que
tomassem alguma atitude. Pelo menos foi isso que vi acontecer. E foi tomada,
principalmente quando o Lula foi anunciado no palco, pois foi quando alguns enfurecidos
tentaram passar para o lado da praça. Olhando tudo atentamente, vish!, vi que,
a meia dúzia de ‘corajosos’ iria levar um pau. Alguns até entraram, mas foram
empurrados pra fora do cerco montado para garantir integridade dos que estavam ali
para ouvir.
Me perguntei, da onde tanto ódio? Porque a PM demorou tanto
para agir contra os agressores? Ali, como já falei, haviam muitas crianças,
idosos, professores, jovens. Só não deu merda maior, porque o número de
opositores era pequeno, e do outro lado, a grande maioria era população, não
militante, e a maioria da militância era ‘pacífica’ (talvez tenha sido também
orientada para não reagir a nível). Frente a isso, João Pedro Sdédile, líder
nacional do MST, deu seu recado. Fernando Haddad também. Lula, acabou
silenciando os enfurecidos da oposição, fazendo com que, até eles o ouvissem.
Sem paixão alguma (não sou entusiasta nem filiado ao PT, apenas tenho noção
política e histórica), vi, mais uma vez, o poder de oratória e retórica do
Lula, um dos elementos que o fez ser tão ‘popular’. Havia já visto uma fala sua
em 2002 ou 2003, numa das edições do FSM (Fórum Social Mundial). Fala da sua
posse como ‘primeiro presidente popular da história do Brasil’, gostem(os) ou
não dele. Na época, já percebi um dos motivos por assim ele ser considerado. E
neste sábado, onde o ódio transparecia nos gritos de uma ‘oposição’ violenta,
arremessados em objetos e palavras, novamente esta percepção (e lembrança) me
veio à tona.
Por fim, fiz alguns poucos e encharcados registros. Mas não
tive condições de ficar até o final, pois além do cansaço de um dia magnífico
de literatura, no meio de bons espíritos, somado à garganta e ao resfriado, que
somaram-se por sua vez com a dor latejante do meu dedo atingido por algum objeto
lançado por um ignóbil que age sem pensar, peguei o rumo de casa. Mas, no
caminho, mais um fato estúpido. Fomos levar um casal de amigos (a professora
que ministra comigo o curso de Linguagens Poéticas) de carro até seu veículo
que ficara estacionado atrás do hotel Bertaso, para que eles não corressem
riscos de serem violentados por aquele povo que tinha ‘sangue nos olhos’. Mas
acontece que, sem imaginar tamanha estupidez (violência), estes amigos deixaram
o carro estacionado bem pro lado onde se concentraram os furiosos opositores. Chegando
lá, muita polícia fortemente armada, com cães, em meio a garoa, e marmanjos
sendo revistados. Além das lixeiras derrubadas, detritos e coisas quebradas, o
para-brisa do carro dos amigos atingido. Resultado do descontrole
emocional-intelectual que o ‘ódio’ criado neste país por certos discursos e
ideologias promove.
Cordão da PM enquanto objetos e fogos eram lançados contra a população
Meu dedo roxo-inchado, lesionado pelo ódio alheio que nem me conhece
e segue o baile...