domingo, 25 de março de 2018

Lula de passagem - abaixo de chuva líquida e sólida...

Debaixo de muita chuva, a passagem de Lula por Xapecó com sua caravana nacional, foi motivo de uma grande reunião popular na praça central, mas também de muita confusão e violência gerada por ‘opositores’ que gritavam palavras de ódio, exibiam faixas pró-ditadura militar e Bolsonaro. No momento do comício, além de água, choveu ovo, lata, garrafa, pedra e fogos de artifício em cima da cabeça da população, entre crianças e idosos, que foram assistir e ouvir Lula e outras lideranças políticas e sociais falarem.

Passei a tarde de sábado ministrando um curso de Linguagens Poéticas junto a escritores locais, do Estado e do sul, também com alunos e colegas de trabalho e de arte. Depois disso, mesmo resfriado e com a garganta dolorida, peguei minha câmera fotográfica e fui pra praça, debaixo de chuva, a modo de registrar aspectos do evento. Chegando lá me deparei com gritos de ódio, frases racistas proferidos por uma ‘minoria’ de pessoas (‘de bem’) que se pronunciavam a favor da ditadura militar e de Bolsonaro do outro lado da avenida Getúlio Vargas. Certo momento ouvi cantarem: ‘Amamos a polícia militar’. E, por detrás da barreira humana que a PM montou, eram arremessados os objetos que, acabaram atingindo pessoas que estavam em frente a igreja matriz. Uma delas fui eu (levemente, mas doeu, inchou e arrochou meu dedo). Mas outros, não tiveram a mesma sorte. Vi pessoas sangrando passar.

Enquanto objetos voavam sobre as cabeças dos que, pacificamente estavam ouvindo as falas, a PM imóvel, sendo que, os arremessos saiam de perto, por detrás dos policiais. Precisou alguma revidação e alguém falar no microfone em bom e alto tom, cobrando alguma atitude da PM para que tomassem alguma atitude. Pelo menos foi isso que vi acontecer. E foi tomada, principalmente quando o Lula foi anunciado no palco, pois foi quando alguns enfurecidos tentaram passar para o lado da praça. Olhando tudo atentamente, vish!, vi que, a meia dúzia de ‘corajosos’ iria levar um pau. Alguns até entraram, mas foram empurrados pra fora do cerco montado para garantir integridade dos que estavam ali para ouvir.

Me perguntei, da onde tanto ódio? Porque a PM demorou tanto para agir contra os agressores? Ali, como já falei, haviam muitas crianças, idosos, professores, jovens. Só não deu merda maior, porque o número de opositores era pequeno, e do outro lado, a grande maioria era população, não militante, e a maioria da militância era ‘pacífica’ (talvez tenha sido também orientada para não reagir a nível). Frente a isso, João Pedro Sdédile, líder nacional do MST, deu seu recado. Fernando Haddad também. Lula, acabou silenciando os enfurecidos da oposição, fazendo com que, até eles o ouvissem. Sem paixão alguma (não sou entusiasta nem filiado ao PT, apenas tenho noção política e histórica), vi, mais uma vez, o poder de oratória e retórica do Lula, um dos elementos que o fez ser tão ‘popular’. Havia já visto uma fala sua em 2002 ou 2003, numa das edições do FSM (Fórum Social Mundial). Fala da sua posse como ‘primeiro presidente popular da história do Brasil’, gostem(os) ou não dele. Na época, já percebi um dos motivos por assim ele ser considerado. E neste sábado, onde o ódio transparecia nos gritos de uma ‘oposição’ violenta, arremessados em objetos e palavras, novamente esta percepção (e lembrança) me veio à tona.

Por fim, fiz alguns poucos e encharcados registros. Mas não tive condições de ficar até o final, pois além do cansaço de um dia magnífico de literatura, no meio de bons espíritos, somado à garganta e ao resfriado, que somaram-se por sua vez com a dor latejante do meu dedo atingido por algum objeto lançado por um ignóbil que age sem pensar, peguei o rumo de casa. Mas, no caminho, mais um fato estúpido. Fomos levar um casal de amigos (a professora que ministra comigo o curso de Linguagens Poéticas) de carro até seu veículo que ficara estacionado atrás do hotel Bertaso, para que eles não corressem riscos de serem violentados por aquele povo que tinha ‘sangue nos olhos’. Mas acontece que, sem imaginar tamanha estupidez (violência), estes amigos deixaram o carro estacionado bem pro lado onde se concentraram os furiosos opositores. Chegando lá, muita polícia fortemente armada, com cães, em meio a garoa, e marmanjos sendo revistados. Além das lixeiras derrubadas, detritos e coisas quebradas, o para-brisa do carro dos amigos atingido. Resultado do descontrole emocional-intelectual que o ‘ódio’ criado neste país por certos discursos e ideologias promove.

Depois fiquei sabendo que foi feito um cordão humano pelo povo ali presente, que cercou Lula e o conduziu a pé até o hotel, protegendo assim sua integridade física. Nisso tudo, alguns que gritavam por ditadura militar, tiveram o seu momento com a ação tardia, mas de fato, da PM. Provavelmente não gostaram, mas, quem pede, às vezes recebe, não é? Agora, minha vida segue, entre poesia, fotografia e alguma pancada que vem de não sei aonde. A resistência a toda esta violência e falta de equilíbrio está naquilo que é a prática da sensibilidade, da serenidade, do olhar para a vida e para o outro, e não para o ódio.























Cordão da PM enquanto objetos e fogos eram lançados contra a população




                    Meu dedo roxo-inchado, lesionado pelo ódio alheio que nem me conhece


e segue o baile...