sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

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Com o vento... o ano da serpente (no chinês) vai passando, em meio a algumas brisas e muitos vendavais. Um ano radical, assim como foi o do dragão no ano anterior. O dragão com seu sopro fumegante preparou terreno para a serpente, que com sua sutileza e seus botes letais, percorreu caminhos. Caminhos que são possibilidades. Daqui mais algumas semanas, entraremos a trote, galope ou disparada, no ano do cavalo. O provável é que estaremos em pé e fortes. 2013 tem sido um ano cheio. Foram muitas crônicas ou textos. Alguns mais sérios, outros nem tanto (alguns, em nada sérios!). Textos filosóficos, sociológicos, literários, irônicos. Outros, apenas textos, sem mais. Eu, você e o outro, sobreviventes, como a vida quer. Momentos de prazer e felicidade, outros, de desgosto e tristeza – é o movimento caótico da vida que sopra nossos rostos desenhados pelo tempo. O tempo passa e com ele nós passamos. Nisso, agradeço neste tempo, aos que acompanharam este escriba semanalmente ou aleatoriamente. Aos que como eu, se indignam com algumas coisas do mundo, mas, mesmo assim, não perdem o riso nem a prosa afiada. Estamos na história pra isso, e a vida nos abraça para que, dentro dela, façamos nosso andejo. Enfim. Ano que vem, possivelmente retornaremos mais fortes, pois sobrevivemos à serpente, entendendo mais um pouco que ela faz parte de nós – e como diria meu amigo bigodudo (Nietzsche): “O que não me mata me torna mais forte”. Abraços, saúde e continuação...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 20/12



Leituras do Cotidiano, 20/12

Entre a luz e a escuridão...
















Aproximamos-nos do Natal, a festa cristã. Publicidade e festejos na TV e o Cristo pregado no fundo da câmera de vereadores ou em algum tribunal injuriado. Todos de branco cantando a paz. Mesmo que essa seja apenas um discurso, uma promessa ou um ideal. Xapecó ornamentada com suas luzes e enfeites. Ruas iluminadas, comércio faturando, tudo como faz tempo que é. E importam as fraudes nos concursos municipais? E importa a desvalorização do professor? E importa a constante ameaça no aumento da taxa do transporte coletivo? Os acordões, favoritismos, etc.? E importam os processos de cassação? O suicídio mal homicidado ou o homicídio mal suicidado do professor-vereador? A tentativa de homicídio do assessor? Câmeras desligadas nas horas erradas – ou certas? Enquanto PSD entra debaixo das asas do governo federal. E importa a aliança por aqui? Que o diga o PT. Ou seria o PSD? Há quem diga que: “tanto faz Herman!”. Ou tanto fez? Mas aqui, onde os coronéis cravaram suas cruzes, palanques e suas cercas de arame farpado, aqui no Oeste bravio onde o facão decepou cabeça do índio e a bala calou o forasteiro, onde a paz enfeita a vitrine e a guerra acontece velada – inclusive bem debaixo dos olhos do ‘grande irmão’ (leia-se 1984, o Big Brother de Orwell). Aqui onde eu respiro com um pouco de dificuldade, e mesmo assim resisto, existo, mantenho o riso e a vontade de potência em dia. Aqui onde escrevo essas linhas mal traçadas, onde o ofício de pensar não é visto e poucas vezes considerado, e quando o pensamento se torna palavra escrita-publicada e, finalmente pode ser visto ou lido, para alguns que dizem pensar, ele rechaçado. Aqui nessa terra que já foi chão batido e hoje é asfalto, tapete preto carcomido, onde a água da chuva enche o buraco bem no meio da rua e tudo vira mito. Aqui, onde a maioria dos jornais impressos e televisivos obedecem ao esquema, a base de alguns trocados. Aqui, onde os homens servem às coisas e não as coisas servem aos homens, onde não há trilho, muito menos trem. Aqui onde não tem ciclovias, mas onde máquinas motorizadas, assassinas e poluentes são as donas do espaço público. Onde cães e gatos são abandonados pelas ruas por filhos da puta vaidosos e egoístas que veem nos outros a solução dos problemas que são seus, porque os fazem ser – e não que sejam.  Aqui onde, apesar de tudo, insisto em viver e estar. Aqui onde, apesar de tudo, encontro bons motivos para viver e estar. Aqui onde, apesar de tudo, estou. Faço parte desse contexto, dessa história, e de outras mais. Transito e me movimento no meio disso tudo e muito mais. Em que teço mais críticas do que elogios, é claro, sou cronista! O que é bom eu curto e faço, ou pelo menos tento. O mais, enfrento e transformo em texto. Enfim. Obrigado por compartilharem comigo este singelo espaço leitores! Que sejam bons os próximos dias, o próximo ano! Abraços e saúde! Continuamos...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 20/12



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A alma de um tempo...
















“Eu sou o capitão da minha alma”. Foi assim que um homem de caráter, vivaz como poucos, anunciava sua liberdade. Liberdade que, por mais subjetiva ou relativa que possa ser, ainda tem motivos para ser pronunciada, afirmada, buscada. Ele fez da sua existência algo maior do que uma passagem. Passou, como tantos e como todos que ainda hoje aqui estão. Mas sua passagem deixou caminhos, portas e janelas abertas, por onde o sopro da independência, da emancipação, da liberdade e das diferenças (não das desigualdades), entra e sai, num fluxo constante de movimento, onde o respeito e a convivência são valores básicos e insubstituíveis da humanidade. Não foi um mero exemplo que ficou, pois continua sendo. Mais que isso, é inspiração e símbolo de homem público que luta por humanidade - entre os maiores símbolos de resistência que já existiram em forma humana - e não só símbolo, mas realidade! Foi um resistente que ampliou o conceito de política a sua maneira. Um homem destinado a resistir e viver, a olhar para o outro para ver a si próprio. Um povo, uma luta, uma imagem. Mandela permanecerá sempre vivo, na memória, na alma, nas ações e palavras daqueles que tem o ardor da humanidade latente dentro de si. Vivo até que o último homem que perceba, respeite e cultive a relação com o outro respire e pise nesta terra. Fez parte da alma de um tempo. Sentiremos saudades...


·         Em memória de Nelson Mandela. 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 13/12...



Leituras do Cotidiano, 13/12

Esporte espetacular!

‘Selvageria no estádio’. Foi nesse tom que ouvi várias vezes a notícia. Mas não, o que aconteceu no jogo em Joinville, entre Vasco e Atlético Paranaense, não foi selvageria, o que caracteriza o chamado ‘reino animal’ e não ‘racional’. Foi sintoma de demência cultural, isso sim, pois como futebol, violência também faz parte de determinada cultura. Uma coerência dentro de certa realidade. ‘Como assim Herman?’ Ué, não andam chamando estádios de Arena? Em Xapecó mesmo, um dia já tivemos o ‘Regional Índio Condá’ que agora passou a chamar-se ‘Arena Condá’. Saiu o estádio regional e o índio, entrou a arena. E Arena é pra isso: luta, violência, espetáculo ou ‘circo para o povo’, como bem acontecia no Império Romano. Numa cultura onde se promove a disputa, a competição, a busca por uma 'vitória' idealizada, onde, junto a isso, a violência é entretenimento e geradora de lucros. A supervalorização do futebol, de torneios e grandes negócios como o UFC, filmes e novelas que idealizam e fomentam a disputa, pela própria grande mídia, que é a mesma que promove e depois noticía, que enaltece e depois 'critica'. Eis o jogo, eis o 'espetáculo!’. Então, imagens como as que vimos no jogo em questão pela televisão, 'fazem parte do espetáculo' (leia-se 'A sociedade do espetáculo' de Guy Debord). A grande mídia fala em 'punição', ok! Nisso, deve ser a primeira a ser punida, com a limitação de vínculo de determinados programas, jogos, 'espetáculos', etc. ‘Mais arte, menos esporte competitivo!’ – caso contrário, ‘tá tudo certo!’


Enquanto isso em Xapecó...

Nessa semana tivemos o lançamento do DVD do 'filme da chapecoense'. Não tirando o mérito do time, nem desprezando o papel motivador e a paixão do torcedor, mas, o espaço onde o filme foi lançado foi no shopping pato Chapecó, para um número restrito de convidados. Então... Na hora de pagar ingresso, motivar o time, brigar por ele, sofrer nas arquibancadas, alimentar esse esporte e espetáculo, o povo é motivado e induzido a participar, assim como, é útil. Já na hora da divisão da 'alegria' da conquista, da colheita dos louros, o mesmo povo é escanteado. Baita, né?! Não, não estou reclamando, nem tampouco de mágoa por não ter sido convidado ao lançamento. Isso não é importante pra mim. Só estou tecendo minhas impressões, cronista que sou, a partir do que percebo, vejo, analiso. E eu vejo e não morro tudo...

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"Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está em todos nós. E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros. " (Nelson Mandela)


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, sexta-feira 13...



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A baixo das luzes...











Nostalgia (filme de Andrei Tarkovsky)


Deixe de lado os discos que lhe dei. E quando sair não se esqueça de apagar as luzes. O Natal já começou. As crianças alegres esperando presentes, já que vivemos sempre esperando algo, alguma recompensa. Desde novos somos motivados a isso. Então querida, não culpe as crianças. Elas não sabem os motivos do que acontece para além dos seus sonhos. Seus desejos são apenas desejos de quem aprende desejar através dos mais velhos. São herdeiras dos nossos excessos e de nossas faltas, das nossas crenças e de nossas políticas, de nossas realidades e das nossas hipocrisias. Os discos que lhe dei, não tem mais valor, eu sei. Doe-os para alguém que os possa novamente ouvir, sentir e dizer: ‘Nossa, como os discos de vinil soam bem, geram outras sensações!’. Não, não é apenas nostalgia, romantismo, saudosismo ou algo que valha. É sim a sensação do corpo que pede, treme, vibra e se agita junto do som. É a alma que canta. Saí da nossa casa antes de ti e antes do Natal. Nunca tivemos pinheirinho brilhando na nossa sala porque para as crianças pareciam indiferentes. Hoje, já não sei se eram.  Então penso nas crianças que na rua olham as luzes de natal brilhando, e se ganham algum presente de algum bom coração perdido como o meu, ficam felizes. Meus olhos são como os olhos dessas crianças que, cedo ou tarde, brilham para o mundo, e é esse brilho que alimenta a vida de esperança, a tão necessária esperança de que tudo mude e possa voltar a ser bom, como já foi um dia.


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 06/12