Baixada um tanto da poeira, é hora de olhar para o ‘fenômeno’
com mais calma, o que gera maior consciência e amplia o olhar sobre. Me refiro
a paralisação dos caminhoneiros dos últimos dias, que contou com a participação
de ‘intervencionistas’ e donos de empresas de transportes (entre outros grandes
empresários). Movimentos sociais, na maioria dos casos, foram impedidos e/ou
não quiseram participar, por dois motivos. O primeiro, foi por causa da
tendência ‘apartidária’ do movimento de paralisação que, discursando isso,
quase não se esforçou para afastar os partidários da ‘ditadura militar’ e da
elite (grande empresários). Ou seja, a ‘direita’ nacional fomentou e alimentou
discursos dentro deste contexto. Oportunismo não faltou, até perderem o
controle da situação, em em muitos casos, voltarem-se contra a paralisação.
Mas, a sobra seguiu atuando, e com violência. Me refiro aos
‘intervencionistas’. O segundo motivo da não participação dos movimentos
sociais, foi por causa dos próprios movimentos que, na maioria dos casos,
comandados por ‘cúpulas partidárias’, não se coçaram para ir até os paralisados
dialogar, a modo de tentar dar um rumo mais social, nacional trabalhista e
fomentarem a ‘consciência de classe’ (leia-se Marx) para o movimento. Falo isso
por conhecimento e experiência própria.
A maioria das instituições (assim como muitos movimentos
sociais) são comandados por cúpulas, e na maioria dos casos, partidárias. Nada
contra partidos políticos ou organização, mas sim, contra a ‘cultura de cúpula’
(ou elite). Nossa história enquanto democracia e movimento social, quase sempre
teve este aspecto, o de concentração de poder em alguns nomes e siglas, onde
que, quem não pertence a este grupo seleto ou não se submete as filiações
partidárias, acaba, muitas vezes, ficando como ‘instrumento’ dessas cúpulas ou
elites de esquerda. “Ah, olha só, o Herman endireitou!”. Não, não é nada disso.
Apenas me permito fazer a análise ou crítica, a partir de, como já falei, certo
conhecimento de causa. Quanto a direita, acho que nem é preciso eu dizer que,
são os reis em concentrar poder e agir como casta. Mas a esquerda
institucional, poderia mudar neste sentido. Ou seja, sair um pouco da redoma
dos interesses partidários e ser mais democrática ou libertária. Mas, como já
foi dito aqui, nossa cultura política foi constituída com este aspecto que é
histórico. E isso acaba atrapalhando a própria esquerda em se mover com mais
inteligência e rumo à uma real e potente transformação social, cultural e
política. Mas, chego a pensar que as cúpulas não querem – ou é a própria
esquerda e suas entidades que não conseguem? Por quais motivos? Lhes faltam
novas perspectivas? Outras referências? Sim, penso que seja isso (além do vício
no ‘modo de vida burguês’).
O ‘velho modo’ já não cabe mais. Grande parte dos movimentos
sociais e instituições da esquerda, se afastaram, em algum sentido, da sua
base, por não mais estarem no mesmo plano, na mesma realidade, na mesma
condição ou status. A baixa adesão de trabalhadores em Greves organizadas ou
chamadas pela esquerda, é uma prova disso. Muitos trabalhadores não se sentem
representados. Por isso, é preciso reler, repensar, e
partir para práticas diferentes de atuação e de viver o cotidiano. Não há mais
fundamento em ser apenas teórico (aliás, nunca teve) e agir só dentro das
instituições do Estado. É preciso desconstruir as cúpulas, as elites, as
castas, esta hierarquia ideológica que sobrepõe a necessidade e a coerência das
ações.
Enfim. A esquerda, o trabalhador, perdeu mais essa. Ou alguém
acha que a direita, a elite econômica foi quem perdeu? Deixamos, mais uma vez
de fazer nosso dever de casa, e agora vamos amargar mais alguns retrocessos.
Parabéns para nós brasileiros! Parabéns para vocês que, lá do
alto, não enxergam o que está embaixo, por estarem, justamente, além do que
muitas vezes discursam. Como ‘homem de fronteira’ (e taoista), vivo no meio
(buscando certo equilíbrio e naturalidade), e assim consigo enxergar ambos –
‘equilibrista a prova de territorialidades’. Venham visitar nossa aldeia de vez
enquanto, assim, talvez, possam realmente enxergar, e quem sabe, mudar seus
olhares, suas posturas e atitudes, voltando-se para ‘o simples’, e assim, mudar
a realidade para uma onde as cúpulas, elites, castas, onde a concentração de
poder (seu status e vícios) não tenha nem mais sombra.