quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A queda! (ou ‘As ONGS ilesas’)



















O ministro dos Esportes caiu. Não, não foi um tombo qualquer, daqueles que no máximo se esfola o joelho. Foi um tombo estrondoso. Orlando Silva, do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), cai acusado de fazer parte de um ‘esquema’ aí, com algumas ONGS aí. Não vou aqui me deter em fazer o que é óbvio e que a grande maioria dos meios de comunicação faz, que é repetir, reproduzir, polemizar, tornando assim, um tema ou assunto vulgar. Vou apontar minha artilharia para um outro alvo, muito mais significativo, porém, menos visado pelos atiradores de plantão. No fundo, grande parte desses meios, faz seu barulho para encobertar problemas maiores, movidos por interesses privados de grupos organizados em torno do poder e da manutenção dele. As ditas ONGS, pelo menos a maioria delas, nem deveriam nem existir. Num país que se propõe coerente, ‘sério’, ‘descente’, o Estado deveria arcar com tudo. Não é assim no discurso dos defensores do Estado? Um país como o Brasil, que arrecada tanto e que cresce (pelo menos economicamente), dia após dia, faz o que com toda a sua arrecadação? Impostos e mais impostos, riquezas cada vez mais aparentes, e nada de divisão dessas riquezas, nada de reforma agrária (tão necessária para um país que é um grande latifúndio), saúde e educação calamitosas, etc. Não, isso não é algo peculiar do governo atual, nem do anterior. Isso se arrasta dentro da história desse país. Aqui é a casa da corrupção e da falta de vontade criativa e ‘revolucionária’ da população - & viva a Veja, a Globo, o sertanejo universitário, o pão e circo! Cai ministro, entra ministro, e as ONGS continuam. E continuam os desvios e a lavagem de dinheiro (e a cerebral). Ei! Vamos montar uma ONG também? Monte a sua! É facinho! O governo garante a verba. Dá pra viver bem! Vamos montar uma ONG e ‘lavar a égua’ chê! O comuna caiu e a tucanada comemora. Tem partido novo aí (mas não tão novo!) louquinho pra pegar o filé. A carne é macia e contém proteínas que engordam. Os velhos da política brasileira sempre estão à espreita. Não sei por que, mas quando se fala em império, dinastia, essas coisas, me vem logo na cabeça o Sarney e sua família e seu Estado, o Maranhão. Desde criancinha ouço o nome desse senhor pela televisão. Deve ser o poder hereditário. Cai governo, entra governo, e o dito cujo sempre ali, coladinho. Acho que quando o Sarney não der mais pra político (olha a malícia!), vai se garantir numa ONG.



Um eterno insatisfeito

Não sei se o que sinto pelos satisfeitos é nojo ou inveja. Já tentei, mas não consigo. Não me satisfaço assim tão fácil. Nem com qualquer coisa. A satisfação depende do prazer. E o prazer pode ser algo perigoso – e é, pelo menos para a maioria. O medo impõe limites ao prazer. E todos sofrem por este medo. Tudo parece pouco quando se trata da minha satisfação. Gostaria, às vezes, de ser algo mais fácil de se vencer, de se convencer e satisfazer. Queria sentir e gostar das coisas com menos intensidade. Tudo seria mais simples e melhor pra mim. Não seria tão chato ou exigente com os outros, com as coisas, nem comigo mesmo. Mas não. Estou sempre querendo provar. Sentir o sabor de tudo o que me instiga. Quero a essência. A profundidade. O coração é mais suculento do que o couro. A pele só tem sentido na satisfação, que quando arrepiada, espalha no ar um aroma de prazer. E o prazer vem de dentro, do fundo. Não gosto da atuação, da representação daquilo que só se é possível no ato. Prefiro o real. Nem que este doa. Nem que este seja cruel e faça tremer. Dizia o velho anarquista Bakunin: ‘A representação humana é impossível. Nada pode representar o homem e sua condição’. Algo assim. ‘Os olhos não mentem!’, disse pra mim uma amiga que desapareceu numa manhã de carnaval – e nunca mais foi vista. Não creio que ela tenha morrido. Nem tenho mais tanta certeza de que um dia ela realmente existiu. Se morreu, foi porque talvez eu a tenha matado. Não, não assassinei ninguém – ainda! Esse tipo de morte não é um tipo de morte comum, mas sim uma morte da imagem do outro que construímos na nossa cabeça. E logo quando o outro ressurge, o antes morto, renasce em nós, em nossos caminhos como algo novo, cheio de vida e luz e vontades de ser e estar para nos tentar satisfazer e pela sua própria satisfação pessoal, pois um dos grandes sentidos da vida, é o prazer. Vivemos por ele quanto acendemos um cigarro ou bebemos um trago de uma bebida qualquer. Quanto lemos um poema proibido no fundo do quintal ou beijamos alguém nos vãos dos muros da moral, ou ainda, quando cantamos no meio da chuva uma canção vulgar de um cantor esquecido. E esta satisfação é verdadeira e ela tem um sentido que vai para além do bem e do mal. Aí então voltamos a matar e a fazer viver. E assim por diante. Eu, satisfeito por alguns segundos de minuto, já me remexo insatisfeito outra vez, em busca do aroma que sinto dissolvendo-se no ar...



Onde não estou...



















“Herman! Porque você está tão distante? Tão só?”. Tentando me neutralizar, me torno vulnerável. Eu ando vulnerável, baby! Nos lugares onde apareço, estou e não estou. Sou e não sou. Por favor, não me pressionem mais! Não posso escolher. Não consigo escolher. Vocês não entendem? Pra mim não há escolha. Se for obrigado a escolher, optarei pelo desaparecimento. Estou tentando me anular. Em momentos me sinto uma casa vazia. Se estou distante e só, como um cachorro acuado, matreiro, depois de sofrer algum mau trato, talvez seja devido ao meu modo de lidar com uma situação intransferível. Só eu sei, só eu sinto e necessito, e o problema, se não for meu, é de todo mundo ou de ninguém. Mas o mundo não quer problemas – principalmente os meus. O mundo não quer saber dos problemas individuais que tocam o ser humano. Existe na maioria das pessoas uma crueldade, uma dureza e intolerância a problemas ditos, anormais ou indesejáveis. Problemas que podem tocar a intocável moral social judaico-cristã. Eu até que tento me adaptar, e muito já tentei, mas minha adequação parece impossível. E vocês todos me dizem com certa imposição: ‘Ou você se adapta, ou sai fora!’. Neste circo, meu amor é improvável. Ninguém, ou quase ninguém, quer saber dele, de onde ele vem. Só o querem pra si. Me querem, me sugam, me bebem, me sufocam. Mas não, se meu amor tem que ser de um só proprietário, que seja só meu. ‘Seu amor deve ter um único lugar’. Assim eles impõem. Assim são as regras. Ele é tão grande que se torna visível e, novamente, vulnerável. Meu amor é tão grande que eu posso dividi-lo em duas generosas fatias. Mas o querem por inteiro, único, exclusivo. A fome é tanta! E eu morrendo dessa fome. Mas isso é difícil de perceber. A fome alheia quase nunca interessa pra ninguém. Eu, desgraçado na minha torpeza, sempre me importo com a fome alheia. Meu crime. Passei o final de semana inteiro bebendo. Não conseguia ficar sóbrio, nenhum minuto. Bebi que passei mal. Assim passei três dias e três noites, entre a embriaguez e a puta-ressaca. A embriaguez faz o mundo girar e as coisas parecerem bem vivas. A ressaca faz sofrer, mas também acalma. E essa calmaria me torna distante e só, porém, vivo. E viver hoje é tão raro! Ainda é outubro meus amores - & o tempo queima nossa existência: estamos o deixando escapar por entre nossos dedos. Tomem! Peguem meu coração! Vocês venceram! Entrego minhas armas. Mas por favor, não as percam para o inimigo.



Pais e filhos...


















(by HGS)


Desde crianças somos estimulados a competir. “Meu filho/minha filha, será o melhor!”. É deprimente ver a imagem medonha que vi pela televisão. A mãe que veste o filhinho ou a filhinha como o seu ídolo predileto. Gostaria de ter o ídolo. Frustrada pela sua realidade que não é a que gostaria, faz do seu filho a imagem falsificada, reproduzida do ídolo. Incita o filho a ter os gestos, os modos do ídolo. E o pai, abestalhado, do lado, dando seu apoio, aceita isso sem ao menos pensar se é isso mesmo que o filho quer ou necessita – ou o que quer para seu filho, ou ainda, o que é o melhor para ele (mas nesse estado anestésico de alienação, isso não importa). Não vê, não quer ver, ou finge não ver para não ‘ter problemas para o seu lado’. E a criança desde cedo se torna o brinquedinho robotizado e manipulado da família nuclear - sustentáculo dessa sociedade espetacular - a nova reprodutora dos desejos reprimidos e das frustrações dos seus pais e de todo o mundo adulto. E as crianças penam, pagam e são condenadas e obrigadas a seguir o rumo estipulado mecanicamente pelos seus tutelares. Nisso, liberdade, felicidade, realização, são apenas discursos que maquiam a realidade. Tudo isso muito aparente, quando no fundo, uma dor interna e incompreensível corrói o pouco de humanidade que ainda resta no âmago do ser humano. “O melhor para o meu filho, é o melhor que ‘eu quero’ pra ele!”. É quando se estabelece uma relação de protetor e protegido como uma hierarquia. É quanto o amor se torna domínio-formalidade, e não felicidade-necessidade. É o ‘amor propriedade’. Como se um filho fosse um bem material, um pedaço de terra onde se plantam idéias, crenças, conceitos e ideologias. Medo desse filho sofrer? Talvez. Mas ele por acaso já não está sofrendo? E esse sofrimento, talvez, já não seja o pior dos sofrimentos? Perguntas que os adultos se esquecem de fazer. Até suas reflexões estão condicionadas a um possível e inexistente futuro. O futuro poderá existir, sim. Mas ele ainda não chegou, e quando chegar, já não será mais futuro, será presente. Portanto, sempre estaremos nesse tempo, no tempo presente. Deveríamos aprender com o passado. Mas nem todos aprendem. No fim, acabam reproduzindo as mesmas faltas, os mesmos erros do passado. E o passado é como um filho que agoniza pedindo aos seus pais que o percebam como gente, como humano capaz, constituído de anseios, necessidades, e que precisa viver, aprender, ser, não amanhã ou no futuro que nunca chega, mas hoje, agora, no presente em que ainda está vivo...


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sem nome ... (o fragmento do lobo)

Pela manhã um raio de sol atravessa a fresta da parede e vem dar no meu olho - & eu acordo neste dia iluminado. Lá fora os pássaros cantam e as pessoas passam apressadas para os seus trabalhos – são tão responsáveis e cheias de compromissos! Crianças saltitam e gritam pelas ruas no caminho para a escola. Eu me viro nesse desconforto cotidiano, desviando o raio de sol do meu olho e ele se fecha e eu mergulho no nada. Uma récua de cavalos passa por mim. Estão a galope, todos eles. Depois, uma manada de búfalos e no fim, a alcatéia de lobos. Todos passam. Eu fico. Um lobo da estepe, solitário, empoeirado, uivando na distância. Elevo meu uivo enquanto o vento sopra e bate no meu rosto. Volto à superfície. É quarta feira, e mais uma vez falto ao trabalho. Amanhã sei que chego e assino o papel da justa causa. Mas amanhã é amanhã. Trato logo de levantar e pensar no que vou fazer hoje. Já que tenho meia manhã e uma tarde inteira de claridade pela frente. Mas não me vem nada na cabeça. Ultimamente ando sem criatividade. Preparo uma xícara bem forte de café com algumas poucas colheres de açúcar que é pra não provocar a crise de diabetes que adquiri com uma única xícara de café que Hermínia preparou um dia pra mim.  Hermínia quis me matar com seu café - ou no mínimo, deixar minha vida mais doce. Café forte, bem como eu gosto, porém, doce, doce, doce... Doce como os beijos de T.Tessa. Decerto Hermínia quis adocicar um pouco o amargo dessa nossa vida. “Hei Harry! Você precisa reagir!”. “Reagir?” – “Harry? Mas quem é Harry?”. O telefone toca e a voz doce de T.Tessa soa como uma canção de Charly Garcia nos meus ouvidos - & a canção se chama ‘El fantasma de Canterville’, baseada no conto de Oscar Wilde que leva o mesmo nome. “Olá Jack! Como você está?”. “Jack? Mas quem é Jack?”. Às vezes chego a pensar que Hermínia e T.Tessa são a mesma pessoa. Ambas falam comigo da mesma forma, dentro ou fora do silêncio que prevalece na atmosfera em que vivo. O mundo anda ruidoso demais e a tagarelice das pessoas me ensurdece. O tempo acelera e eu já estou na rua. Caminho com um poema aromático na cabeça. As palavras doem. As pessoas passam por mim e não me vêem. Os que me vêem me enxotam pra longe. Só as crianças me admiram com seus sorrisos. Um lobo solitário no meio de uma cidade transbordante de gente e em construção. Eis a significância do meu amor pela estepe. Aqui o vento uiva e eu sinto o sabor do café de Hermínia na minha boca cáustica. São os beijos doces e perdidos de T.Tessa que vem para me confortar...



O amor: estrada que dói!


"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal". (Nietzsche)

Se ‘Deus é amor’, porque o amor pode ser um pecado, um crime, assim, uma proibição? Dentro da lógica, se for assim, Deus é um pecado, um crime (depois, uma proibição). Um discurso, uma moral, um controle: parte da convenção social. Assim não se segue nenhum deus, nada disso. Isso é papo! Se segue sim, uma norma, uma moral, uma conduta, a vigência de uma convenção. Tudo é racionalizado dentro dessa moral, dessa convenção. O mais é discurso. Possivelmente, algum cristão ou pseudo-cristão, algum moralista, algum produto desse discurso, deve estar se contorcendo ao ler essa ‘blasfêmia’ crônica que eu prossigo parindo. Mas não se abalem, já devem saber que ‘a vida não é fácil pra ninguém’. Nisso, não é pra você - não é pra mim. Mas cada um faz aquilo que pode, não é? E o que eu posso, estou fazendo, e se você não me atrapalhar, não me encher o saco com suas crenças (que são só suas e não minhas) e sua falta de bom senso e sinceridade consigo mesmo, meu trabalho acontece. Pratique sua tolerância e volte-se ao seu mundo. Tente perceber do que você é feito, do que você se alimenta no dia-a-dia, antes de tecer qualquer conclusão precipitada e acabar por matar seu próprio Deus, seu amor próprio. Assim, talvez, seu paraíso lhe espere realmente. Talvez! Nesse nosso modo de conceber, reproduzir e aceitar ou não as coisas, às vezes penso que o amor é uma impossibilidade. Nisso, interpreto o pensamento de Júlio Dantas: “Quem encontrar na vida o verdadeiro amor. Deve escondê-lo, longe do mundo, como um tesouro”. Esse ‘pensamento’ me chega como um alerta: “Esconda, pois essa ‘verdade’ sangra a moral” – e a felicidade para os que punem o amor, só pode existir no paraíso (e assim o amor é enquadrado e se torna uma propriedade). Assim como a imagem de Jesus sofrendo pregado na cruz, nessa nossa moral, nessa nossa cultura, é preciso sofrer também. ‘Ninguém alcança aos céus sem um sofrimento’. É preciso sofrer para pagar, assim como conta a ‘estória’ bíblica, e assim como reproduz, mesmo que inconscientemente e distorcidamente o ‘cristão’. Mas se Jesus já pagou, porque pagar novamente? O pecado não foi saneado? Enfim... Acredito que isso vai dar em algum lugar, sim! Segundo Bukowski (um maldito escritorzinho aí!), cada espécie destrói a sim mesma. Nisso, a humanidade é como os dinossauros que, depois de comerem tudo a sua volta, passaram a comer um ao outro, e quando um só restou, acabou morrendo de fome.


Gênero: Drama
























...é assim que vem escrito na caixinha dos filmes expostos para locação nas locadoras. Às vezes me sinto parte de uma trama, numa ‘estória’ de drama duma novela mexicana ou de um filme do Pedro Almodóvar. A diferença entre eles, é que a novela mexicana sempre acaba bem, enquanto os filmes do Almodóvar, sempre mal. Talvez seja por isso que meus ‘dramas’ tem mais haver com Almodóvar. São dramas reais e não meras novelas fictícias. Almodóvar se utiliza de temas reais. Talvez essa parte ‘dramática’ da minha vida seja resultado da minha preferência pelo cinema de Almodóvar. Então, nem reclamo – mas contesto! Se trocasse Almodóvar pelas novelas mexicanas (ou as da Globo), quem sabe meus dramas terminassem bem. Mas não sei se vale à pena. Os maniqueístas que escrevem essas novelas já o fazem pensando em aniquilar e afastar um público como eu. ‘Esse tem que sofrer, como nos filmes do Almodóvar!’ – pensam eles. Mas então, que seja! Quem vive no lodo é pra se melecar mesmo! - e esse mundo cheio de situações dramáticas é um enorme pântano, um lodo, um atoleiro, que se você vacilar afunda nele. Por isso, é preciso estar sempre atento, cuidar onde pisa e com quem se está atravessando o pântano. Se sujar é coisa comum – e quem está limpo nisso por acaso? Quando o lodo chega ao pescoço, logo, logo, o sujeito será afogado. Portanto, muito cuidado com isso! Muitos estenderão a mão, certamente. Mas a maioria, para empurrar. Um que outro, para puxar o irmão de volta. Esse é o roteiro típico de um Almodóvar. Se fosse nas novelas mexicanas, o príncipe encantado, o galã ou algo que valha, apareceria de repente e salvaria a ‘estória’, e tudo acabaria bem. Agora sorria e volte para vida real porque o trama terminou e o drama da vida cotidiana continua. No fim, é Almodóvar que prevalece, com sua dureza, com sua intensidade, com suas ‘estórias’ cheias de sangue, dor, sexo, amor, paixão, violência, poesia, erotismo, música, cores, vida. Nada de muita maquiagem. Nada de muita moral. Nada de muita ilusão. O drama é um gênero cinematográfico que diz muito da vida real das pessoas. Por isso, grande parte delas não gosta desse gênero. Grande parte das pessoas não quer encarar a vida de frente, por isso sempre que podem, optam pelas novelas mexicanas (ou da Globo), ou pelo mirabolante e banal cinema de aventura Hollywoodiano, onde tudo é invenção, alienação, manipulação, espetáculo. Assim como a maioria da vida das pessoas que não querem aceitar os dramas humanos tão presentes em Almodóvar.




Penélope Cruz, uma das 'musas' de Almodóvar.. não haveria de ser diferente!



sábado, 15 de outubro de 2011

Aos meus mestres...

“Papai! Mamãe! Quero ser filósofo!”. “O quê?”. “Posso ser então escritor, poeta?”. “O que é isso garoto?!”. “Ta bem! Desculpem! Que tal então professor?”. “Cê ta brincando ou ta ficando louco?! Tu vai ser é médico, dentista, engenheiro, arquiteto, algo assim, e fim de papo!”. “Mas pai, mas mãe...”. “Não tem mais nem menos! Pare de falar besteira e vá já pro seu quarto!”. Antigamente, professor, ou escritor, ou poeta, ou filósofo, era mais do que uma profissão, e não era apenas um status social também, era um ‘título’ admirável, respeitável, enobrecedor. Mas todos esses, de certo modo, são mestres (ou deveriam assim ser feitos, tratados, considerados e respeitados como tal). Mas não, hoje isso não é mais assim (ou bem assim). O mestre (ou o professor, além do conceito tradicional que é ‘aquele que professa’ – vamos aqui abrir e expandir o termo além desse conceito), é aquele (ou pelo menos deveria ser), que no domínio de certos conceitos adquiridos por estudos, pesquisas, leituras, experiências e vivências, está apto e disposto a propagar, a dialogar, a socializar seus conhecimentos com o mundo. Numa relação de troca e nunca de imposição, o mestre adquiriu conhecimentos e saberes que, por sua vez, serão novamente trocados e espalhados por onde passa. Essa é a função primordial do mestre. Com certa anulação do ego, o mestre possibilita o aprendizado, livre, aberto, audaz. Nada de doutrinamento, mesquinhez ou reprodução. Mestre que é mestre possibilita a construção do conhecimento e a desconstrução do que se tem como ‘verdade absoluta’. A principal arma do mestre é o questionamento, a perseverança, tão necessários ao conhecimento. Sem isso, não há conhecimento, apenas, discurso, disfarce, doutrinamento, ideologia. O mestre supera tudo isso na hora da relação com o outro, nessa troca infinita que se estabelece entre os seres humanos. Hoje, o que entristece muito qualquer mestre é saber que os mesmos pais (parte considerável deles) que largam seu filho nas ‘mãos’ do mestre ou da escola, não querem que ele seja um mestre. Querem-no um técnico. Alguém que com sua profissão ganhe dinheiro, só isso. É uma questão de concepção de um mundo atrelado ao capital, e nisso, o capital atrelado diretamente a um conceito de felicidade e boa vida, a um ideal romantizado dessa falsa realidade. Mas, independente de tudo isso, ainda é o mestre que abre possibilidades, mesmo as de enriquecer e ser ‘bem sucedido’ (resta saber o que realmente seja isso). O mestre, hoje, desprestigiado como nunca, ainda existe, e mesmo que raro, faz de seus discípulos a esperança da humanidade que já é uma virtude e não mais uma condição. Enfim... Viva o mestre!


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

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Tenho um coração esfacelado por dois furos de loucura. Um risco de faca no peito da alma. Caminho na linha tênue que separa a razão dessa loucura. Às vezes eu gosto da loucura. Às vezes, preciso da loucura. Minha razão é controvérsia, claro que é! Minha loucura é imensa, claro que é! O risco, às vezes, pode levar ao sucesso, como ‘o que não me mata me fortalece!’ - & assim falou Nietzsche - mais ou menos isso. E assim os dias passam, entre um furo de bala ou um risco de faca, entre uma rasura literária e outra, entre um poema impossível e outro, entre uma paixão corrosiva e outra nem tanto, entre uma razão fragmentada e uma loucura inteira. Só não deixo de cantar. Isso não. Já é pedir demais pra mim. Faço quase tudo ou de tudo um pouco, só não sei fazer ‘verdades’, mas me arrisco nos tiros que dou, entre um alvo fictício e outro, um trago e outro mais - mas são os alvos reais que gemem e gritam em silêncio por detrás de seus altos e fragilizados muros de proteção. Um pouco de luxúria e perdição me convém. Um pouco de mistério e fuga. Um pouco de realidade nua e crua, como aquela carne com a qual eu me deitei ontem e tive alguns momentos de êxtase profundo. Depois, uma cerveja intercalada com algumas doses de rum, meio charuto e algum poema do velho Buk pra não se esquecer de quem eu sou e pra que é que vim. Sempre fui prematuro, em quase tudo. E hoje sou também na minha velhice. Um homem com menos de meia idade em corpo, feitura e disposição, e com mais de 60 em algumas idéias, em algumas práticas, em alguns defeitos. Minha criancice atingiu níveis exemplares em brincadeiras selvagens. Minhas palavras desmedidas. Minha dor de barriga. Meus olhos escuros. Minha boca sedenta por beijos de verão. Eu agonizo vendo cenas de horror na televisão ou ouvindo cantar pela rádio aquele cantor ou dupla sertaneja que tanto odeio. Esse mundo não dignifica nenhuma humanidade, apenas a torna mais besta e idólatra. Eu, da raça dos destruidores, dos que vingam o passado em versos mundanos, absurdos de toda a ordem ou terrorismos poéticos, eu que desconstruo mais do que construo, dou minha contribuição pro mundo hoje. Me sento em um banco de praça pra compor esse texto que vai dar em lugar nenhum. Talvez alguém entenda (ou ache que entenda), não sei. E não saber é tão vago que eu fecho as cortinas do meu quarto e desapareço. Deixo a noite cair. Me misturo nela. Querida! Amanhã talvez eu volte... HGS.



A criança de dentro de mim... uma esperança!



















Hoje é dia da criança. Meu dia também. Sou mais criança do que adulto. Também acho que sou mais velho do que adulto. O mundo adulto não me diz muito respeito não. Por isso, minhas crônicas aqui são escritas a partir do mundo infantil e senil para o mundo adulto. Meu lado adulto é um pouco duro demais e eu quase não consigo conviver com ele. Dele, me sobra pouco, muito pouco. Por isso tento mediá-lo com meu lado criança, cuja sinceridade e a alegria são as principais características. Já meu lado velho de ser, é um tanto exigente, chato, sarcástico, irônico, ácido. Já tomei tanto trago no tempo e me perdi por aí, neste mundo adulto, que me tornei um velho duro e um pouco arrogante. Velhos podem. Sendo assim, eu posso. Me dou esse direito, sem falsas modéstias ou a humildade aparente que transforma o homem em caricatura. Sendo assim, não posso deixar de escrever neste dia tão significativo pra mim. Como também trabalho com crianças e vivo cercado delas diariamente nas escolas em que me misturo a esses ‘anjos do caos’, também as amo e deposito nelas toda a minha fagulha de esperança no mundo. Mas hoje estou triste. Triste por saber, ver e sentir o modo com que o mundo adulto trata as crianças. Porque hoje, justamente hoje, dia da criança, o ‘mega-show’ da Efapi vai ser o do Luan Santana? Sim, eu sei por quê. Você, ao menos não desconfia? Ideologia mascarada. A indústria cultural, desde a idade mais ingênua e aberta à criatividade, vai imprimindo na mentalidade e sentimentos das crianças o ‘gosto’, numa manipulação humana que já inicia cedo, bem cedo. Os velhos e mesquinhos sonhos (ou pesadelos?), o conhecimento superficial, o limite da intelectualidade, tudo nos valores, tudo nas práticas que o mundo adulto soca goela abaixo nas crianças. Instituições, poder público, publicidade, desenhos animados, filmes e novelas, pais e família, todos querem e tentam, consciente ou inconscientemente, manipular e construir a criança segundo seus bels prazeres, seus desejos, suas razões, frustrações e seus interesses. A criança é quem paga o pato e vira atrativo, alvo e vítima dessa festa toda. Meu lado criança agoniza com isso. Só os adultos cegamente ambiciosos, gananciosos, sedentos por bens e uma vida mais cômoda, covarde e medíocre é que não vêem ou sentem isso. Adultos, deixem as crianças com suas selvagerias alegres e sinceras, com seus rostos sujos de terra brincarem no vento, longe dessa parafernália ideológica que vocês chamam de segurança, bem estar social e futuro. O futuro só existirá para as crianças (já adultas), se elas, nesse presente, poderem ser crianças. Por isso é que eu deixo sorrir a criança de dentro de mim.


A fuga da melancolia

Hoje estou vestido com a roupa da melancolia. Ando pra lá e pra cá dentro de casa, solitário e com a roupa cinza de ontem. Cinza é a cor da minha melancolia. Não me pergunte porque nem quando, ou o que será. Só perceba que hoje a melancolia está como um abraço colada em mim. Espero uma música que me embale nesse estado de espírito. Radiohead é um bom pedido. Vou até a sala e ligo Radiohead no som. A melancolia sorri. Eu sorrio. Sinto a música entrando pelos meus ouvidos, meus olhos, minha boca. A música entra pelos poros do meu corpo e vai dar direto na alma. Minha melancolia cinza se alegra comigo. E nós dois, juntos, cantamos o refrão da música que toca no som da minha sala. Arriscamos uns passinhos dessa ‘não dança’. Estávamos quase ficando verdes quando, desritmados, voltamos a nos acinzentar. Paramos. A música acaba. Minha melancolia continua. Agora ela me abraça ainda mais forte. O tempo está passando e amanhã é segunda e a segunda, segundo Neruda, arde como petróleo. Eu deixo que o tempo passe e que a melancolia permaneça enquanto ouço no meu som da sala Radiohead. Você não conhece Radiohead? Então precisa conhecer. Nem que não goste. Não é essa a questão. Gostar ou não gostar, é muito pouco. É quase nada. Você tem que ouvir, só isso. Deixar o som inundar seu corpo, até que ele transborde e afogue sua racionalidade petrificada. Minha paixão pela música é maior que o mundo. Minha solidão de domingo é passageira, eu sei. Mas a solidão que dói de saber estar deslocado desse mundo, essa é eterna. Eu sonho com você chegando e abrindo a porta aos gritos. As palavras que você grita são versos. O poeta que você verbaliza em tom agudo e alto se chama Antonio Paladino – ‘e os versos se perdem no Caos...’. Acordo dessa breve utopia imaginativa. Agora minha melancolia passa a ter um nome: Angústia. E eu agonizo esperando o domingo passar. Na segunda-feira ardente como petróleo, o trabalho, a obrigação, o movimento corporal e rotineiro, a mecanização e a massificação do eu dentro do espaço delimitado para o trabalho, possivelmente me fará sentir melhor. Um pouco melhor. A rotina cansa e aliena. O horário mecânico submete e adestra. E a melancolia, finalmente sai em fuga. Essa  companheira infame foge da razão como um animal flechado foge do seu destino.


sábado, 8 de outubro de 2011

Enquanto isso no ‘Velho Oeste’....

É espetacular! (parte II)















Dia 07 de outubro, primeira noite de Efapi 2011. Parque lotado. Nunca havíamos tocado pra tanta gente assim antes. E foi muito bom! O som não tava lá aquelas coisas e pouco dava pra se ouvir no palco, mas... Parte considerável do público respondeu nossas provocações sonoras e musicais, o que para uma banda local de composições próprias e independente (leia-se Epopeia), foi ótimo. Essa noite foi também a noite do projeto ‘Entrevero de rock’, uma reunião de bandas locais que busca fortalecer a cena do rock independente de Xapecó. Estava indo tudo muito bem, quando a última banda do projeto entrou no palco. Não deu tempo nem de esquentar e o som foi cortado para a entrada de um outro ‘espetáculo’, o do poder público. Num tempo maior do que a apresentação das bandas locais, a prefeitura deu seu show publicitário. A última banda teve seu tempo reduzido para que, nos telões ao lado dos palcos, entrasse a propaganda político-ideológica dos 'feitos' da prefeitura (é a valorização da cultura local meus amigos!). De cara, aquilo me lembrou a propaganda nazi-fascista da Segunda Grande Guerra, onde o discurso de tom ufanista enaltecendo o ‘trabalho’, mexia com o orgulho da população, conclamando-a a seguir e sustentar o poder institucional – mas foi só uma relação de um historiador chato, não liguem! (normal entre essa raça encomodativa). Só faltou dizer: ‘Votem em...’, mas nem precisou. Nas entrelinhas da linguagem o recado foi dado. Segundo alguns sociólogos, é o uso da ‘máquina pública’ para a propagação de idéias e convencimento coletivo – o que os mesmos chamariam de ‘manutenção do poder’. E o respeito ao público que foi até o parque pra curtir as bandas locais tanto discursado nos telões dos palcos e na propaganda da feira? (alguns estão procurando até agora!). Bem, não estou contando nenhuma novidade. Quem esteve por lá pôde assistir isso, enfim. Realmente, é ‘espetácular!’ - & o espetáculo continua!


terça-feira, 4 de outubro de 2011

...é sucesso minha gente!


















O pátio & a feira

A euforia toma conta da cidade. Sim, Xapecó terá um pátio. Mais um. Mas esse é dos grandes – como o aqui de casa (risos!). Vai dar pras crianças se divertirem, pros jovens sonharem como nunca com o paraíso do consumo e os adultos se sentirem realizados com tamanho empreendimento. É o sucesso minha gente! O orgulho dos desenvolvimentistas. As vitrines já estão a sua espera. Só não esqueça de levar o talão de cheques ou o cartão eletrônico. Pode ser dólar também. Se não tiver, vai real mesmo. Se não tiver real? Ah! Sei lá! Vai liso mesmo! É só fazer de conta que é bem sucedido e moderno pra passear pelo pátio. Mas será que nesse pátio vai ter grama? Será que nesse pátio vai ter sombra e água fresca? Quero ver! A euforia toma conta do público xapecoense. Além do pátio, tem a feira. Sim, a EFAPI 2011: ‘grande como você!’. Não, não, esse foi o ‘mote’ passado. O desse ano é ‘Espetacular!’. É pena que eu não possa me incluir nisso. Sou tão pequeno! E nada espetacular. Não sei como é que pode, mas tem gente que me chama: ‘Grande Herman!’. ‘Grande Niko!’. Ou essa gente não enxerga direito ou estão fazendo piada com minha pessoa - ou sou eu que não entendo? Mas isso não me incomoda. Nenhum pouco. Ainda mais agora, com a abertura do pátio. Vou lá. Vai ter MacDonald’s, Havan, Lojão popular, Mercearia da Rose, Churros do polaco, Cachorrão do Magrão, entre outros – Ish! Acho que estou misturando as coisas, me perdoem! A feira então vai ser um espetáculo (principalmente de sertanejo universitário). As universidades de Xapecó e região vão dominar o território, e os universitários farão a festa. Fontes inseguras me disseram que o Luan Santana vai vir montado no seu ‘meteoro da paixão’ e cair direto na concha acústica. Vai ser uma explosão! De parte dos ‘artistas’ locais, ainda nenhuma divulgação por parte da prefeitura. Talvez as ‘pratas da casa’ não mereçam, já que não estão no topo do ‘espetáculo’, não é? Com o pátio e a feira, Xapecó vai ser sucesso e, certamente, eu serei bem mais feliz com isso...


Paraíso!

 As vitrines me seduziam tanto! Quanta coisa bonita! Quanto brilho, quanta luz! E a loja dos brinquedos e a loja dos doces, que maravilha! Meu ‘paraíso artificial’ – mesmo eu não sendo Rimbaud. No começo tudo é festa, tudo é lindo e espetacular. Depois, o tempo passa e tudo muda. Os deuses conspiram a favor da desordem superficial das coisas. É o Caos que vem nos brindar com sua dança de mistérios e transformação. O Caos, que nem um deus é. A contradição do mundo sob meus olhos infantis. Mas eu não percebia. Meu pai, cansado do dia de lida no trabalho, sob a minha insistência me levou ao shopping. Descobri um mundo lá que eu não conhecia. Mas esse mundo não era pra mim. Foi criado, confeccionado, minuciosamente, para o entretenimento daqueles que dispõe de condições financeiras para o desfrute. O entretenimento também tem seu preço - e é caro! Eu, ingênuo, uma criança, torrei o saco do meu pai até que ele me levou. O shopping estava cheio – de pessoas e bugigangas. Mercadoria para todo o lado. Comércio. Sorrisos depravados por todos os cantos. Pais que levam seus filhinhos para que estes encham os olhos, maravilhados com tantas bugigangas nas vitrines. A maioria daquilo tudo não serve pra nada ou só serve para encher as casas e o falso orgulho das pessoas de ambição desmedida. Mães mal humoradas por causa de seus maridos que, seduzidos pelo andar lascivo das beldades juvenis que desfilam suas luxúrias pelos corredores, não desgrudam os olhos delas. Coisa que na Idade Média sentenciaria as jovens sedutoras à fogueira da Santa Inquisição cristã por bruxaria. Seduzir era algo tipo, hipnotizar, tentar, dispor a alma ao demônio. Eu, como todo mundo, anestesiado de tanta coisa ao meu redor, nem sentia mais minhas pernas doendo de tanto andar. Meu pai, num esforço danado, me comprou um algodão doce. Mas eu o ridicularizei por isso. Onde é que se viu, num lugar como aquele, onde outros garotos comem hambúrguer vendido numa lanchonete onde o dono é um palhaço, eu comendo algodão doce? Coisa mais brega! Que vergonha do meu pai, andando com aquele palito de algodão rosa na mão. Mas era tudo o que o velho podia me dar. E eu não quis. Adoro algodão doce, mas naquele momento, fiz de conta que odiava, nem ser por que. Hoje que a figura do meu pai já não se faz mais presente, eu gostaria de vê-lo, daquela forma, sorridente e caminhando em minha direção com aquele palito de algodão na mão, a imagem mais bela da minha vida, e que eu desprezei. Agora, faço o mesmo. Levo meu filho ao shopping e percebo no seu olhar um brilho de sedução - esse espetáculo tão cheio e tão vazio...