sexta-feira, 26 de abril de 2013

Chapecó, aqui também se produz música...


Chapecó é uma cidade de aproximadamente 190.000 habitantes, distribuídos pelo centro, periferia e interior. Por ser a maior cidade e economia da região, Chapecó é considerada por alguns segmentos a “capital do Oeste”. Cidade das agroindústrias, de altos prédios e ruas largas. Sua população compreende desde indígenas e caboclos, até descendentes italianos, alemães e outros em sua formação étnica e cultural. Nisso, Chapecó é tida como o polo econômico, cultural e populacional da região Oeste. Devido a estes fatores (e outros), concentra-se por aqui grande número de artistas, entre eles, compositores e músicos. São grupos regionalistas, as ditas ‘bandinhas’, duplas sertanejas, cantores populares, músicos eruditos, etc. Um dos segmentos musicais que mais produz (senão o que mais produz) na cidade (e isso historicamente falando) - que compõem suas músicas e as registram em estúdio - é o rock. São diversas bandas e estilos, desde o rock mais ‘clássico’, passando pelo punk, hard, metal, psicodélico, etc. Entre discos oficiais e demonstrativos, muitas das bandas já possuem gravadas suas composições. Algumas produzindo seus primeiros trabalhos, outras, já com certo destaque no meio artístico-cultural regional e até nacional. Entre elas estão as bandas ‘Repolho, Epopeia, Variantes, John Filme, Carlota Joaquina, Dazantigas, Duranggos, St. Joker, Paranoia, Anestesia, Maquinários, Residentes’, entre outras.                                               
 

A história do rock chapecoense, ao contrário do que muitos possam pensar, não é recente. Ainda em meados dos anos 1960, bandas como ‘The Jat’s’ e ‘Os Bananas’ já se apresentavam pela região tocando o rock da época. Beatles, Rolling Stones, Roberto Carlos e a jovem guarda já eram muito populares por aqui e faziam parte do repertório destas primeiras bandas. Já nos anos de 1970, surgiam as primeiras gravações em disco (compacto) do rock chapecoense. Esse registro em disco de vinil se  inicia com ‘Tyto Livi’ e seu “Memórias de um certo louco” de 1977, primeiro disco de ‘rock’ de Chapecó (e do Oeste), gravado de forma independente. Um ano depois (1978), o ‘Grupo Nozes’ grava suas composições, lançando bases para o que viria a ser o rock chapecoense dos anos seguintes. De lá para cá, foram muitas bandas que nasceram, cresceram, se transformaram e prosseguiram, outras sucumbiram. Algumas bandas de certa história dentro da cultura local desapareceram por falta de incentivo, seja ele familiar, público ou privado. Outras ainda mudaram de residência, levando consigo suas produções e sua música. Hoje, algumas dessas bandas já não carregam mais o nome Chapecó em suas produções. Abandonaram a cidade para poderem sobreviver. Outras ainda vão morrendo aos poucos, por não aderirem aos modismos de uma indústria cultural que fabrica ícones em prol do ‘massacre’ daquilo que poderia ser ‘autêntico’ em arte e cultura, e que tem apoio, principalmente privado, de investidores que só visualizam o lucro por trás desses sucessos, e que, por mais efêmeros que sejam eles, geram riquezas particulares.

Então, qual seria o papel do poder público nesse contexto?
  
Ainda hoje, a maioria das bandas de rock de Chapecó passam por dificuldades em seu dia a dia, devido a deficiente estrutura e condição cultural da cidade, principalmente no que diz respeito aos investimentos, apoios, espaços e alternativas de se produzir e sobreviver, sejam eles público ou privado. Não raras vezes algumas dessas bandas se deixam explorar em troca do espaço para se apresentarem. Contudo, as bandas sobrevivem de seu próprio sangue e suor e de algumas migalhas. Pouco acontece para que sofram menos ou que se motivem a prosseguir compondo e produzindo. A prova disso é que a grande maioria das bandas tem vida curta, não conseguindo manterem-se em atividade. As que se mantém, geralmente, são as que dispõem de recursos próprios, ou seja, possuem dinheiro particular para arcar com despesas (e são poucas), ou fazem por insistência, por amor a sua música e ao seu meio, além do incentivo do público (lembrando que rock, além de música, é comportamento), o que torna a atuação do compositor e músico de rock muito difícil. 

Chapecó é uma cidade relativamente grande, mas seu crescimento cultural não acompanhou (e continua não acompanhando) o crescimento econômico e material, que sempre foram os privilegiados (e isso gera um grande problema sociocultural para a cidade). A cidade cresce, dia após dia, em prédios e construções, num contexto de especulação imobiliária, que hoje, creio, seja um dos maiores do Estado e do Sul do país. Seria preciso que o poder público e o setor privado passassem a olhar com mais carinho para o ‘lado cultural’ da cidade, investindo mais recursos e em projetos de cunho artístico e cultural, incentivando assim a produção local, para que no futuro a cidade não se torne um amontoado de concreto frio e morto. Música (assim como tantas outras artes) é uma necessidade humana – e no caso específico das bandas e do jovem, uma linguagem, um modo de interagir socialmente, num mundo que precisa (mais do que nunca), de algo que se tornou raro, ou seja, o que um dia já foi uma condição, e que hoje é uma virtude: a humanidade.

hgs.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó - 26/04


Tocando o terror...


Hoje acordei atentado. Calma, calma, não sou terrorista! Não é isso. Fui dormir quase convencido de que foram aqueles dois irmãos jovens e de origem muçulmana que explodiram suas bombas caseiras na maratona de Boston, só para não ter mais que pensar sobre isso, nessa minha cabeça inquieta. “Também, ninguém manda observar, ler, estudar tanto Herman!” – um dia me disse uma amiga, com razão. Dormi mal e acordei irritado. A ideológica programação jornalística da TV nacional só fala disso agora, além da campanha quase velada em pró da maioridade penal. Acham que punindo crianças, adolescentes ou jovens, a realidade vai mudar - acham ou é demagogia? Que interesses movem esse tipo de campanha e essas informações massificadas? Num país como o Brasil, onde o Estado é responsável por ser omisso e permitir a violência (além da física) contra crianças e jovens – isso quando não é ele o agente violentador! - que ‘moral’ tem para punir? E os falantes reprodutores que, desejosos por vingança, insistem nisso, o que dizer deles? Bem, nada! Hoje estou atentado, e antes que me maldigam terrorista, paro por aqui. Até a próxima! Talvez amanhã eu acorde mais manso... 


* também publicado no jornal Folha do Bairro - 26/04



sexta-feira, 19 de abril de 2013

Durmam-se com todo esse barulho!


Ontem eu sonhei. Ou estava acordado apenas delirando? Na verdade, foi um pesadelo. O pastor-atirador Marco Feliciano presidente da Comissão dos Direitos Humanos era presidente da república, tendo como vice, o presidente do STF, Joaquim Barbosa. A voz questionadora: ‘Mas esses já tem poder Herman!’. Eu: É, tem! Mas, no meu sonho era assim. Agora imaginem o resto - criem suas próprias ‘estórias’. No meu pesadelo, todo homicídio no Brasil se tornava suicídio e a justiça era injusta – mas confiável. ‘Mas não é assim hoje Herman?’. Ah, não acabem com minha brincadeira! Foi um sonho eu já disse!. ‘Não era um pesadelo Her...’. Ah, tá bem, tá bem! Continuando... No meu pesadelo, mistérios e muita confusão: A ‘classe’ dos juízes ganhava muito bem e se protegia entre si, seguindo interesses privados e de grupos organizados em torno do poder. ‘Mas não é assim que funciona hoje Her...’. Aaaaaah! Calada! Chega de me interromper! Deixa eu falar! Voz chata! O pior desse pesadelo é que, Xapecó havia virado província, sendo comandada por poucos e obedecida por muitos. Nesse pesadelo eu era um alguém que curtia Beethoven e lia poesia por aí. Nesse delírio, eu amava todas as mulheres, os cães, os gatos, as galinhas, as serpentes, as aranhas, as crianças, os velhos, os buracos negros do espaço sideral, o vendaval da próxima semana, a crônica surreal. Eu era surreal (observação: lembrem que tudo isso não passou de um sonho – ou pesadelo, como queiram). Durmam bem!


* também publicado no jornal Folha do Bairro - 19/04

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A escravatura foi finalmente abolida!




...pelo menos a escravatura legalizada. A 'classe dirigente' no Brasil é escravocrata. Alia-se a grupos econômicos mundiais e deixa a população mais desprestigiada a mercê da miséria, da ignorância e da violência. E não importa se jovens e crianças pobres morram por esse 'desleixo'. É o preço de certos privilégios de uma minoria burocrata e que vive de status, e um modo de vida legitimado pelo consumismo irracional e irresponsável da maioria. Quando falo em ‘classe dirigente’, roubo o conceito do professor Dr. Gaudêncio Frigotto, e me refiro a grandes empresários, políticos, ícones da indústria cultural, líderes religiosos, etc., todos os que têm muito poder e só o utilizam para seus próprios interesses.

Depois de anos, a profissão de doméstica foi levada a sério e inserida a sombra da lei e do Estado, como algo merecedor de respeito e atenção, como tantas outras. Mas, bastou saírem às primeiras notícias a respeito, que membros das ditas ‘classes’ média e alta, se manifestaram de forma conservadora e segundo seus interesses ‘pequeno-burgueses’. Doeu, eu sei, mas às vezes, a dor é necessária para que se perceba um naco maior a realidade. Essa manifestação indignada contra a legitimidade da profissão de doméstica mostra um espírito escravocrata de parte significativa da dita ‘classe patronal’ no Brasil, herança elitista-portuguesa, dos tempos do Brasil império. Pior é que ‘opiniões’ escravocratas são reproduzidas em salas de aula por alunos, crianças. Nisso, eu imagino o que alguns pais andaram falando aos filhos a respeito dessa questão.

Por acaso, um bom médico continuaria sendo bom se não tivesse roupa lavada e passada, casa limpa, crianças cuidadas, almoço na mesa? Então, é bom que os reclamantes se acostumem com a ideia, pois, até que enfim, no Brasil, os últimos resquícios de uma das várias formas de escravidão que ainda marcam a história desse país, desaparecerão - pelo menos a nível legal, pois a escravidão clandestina e dos dias úteis, das convicções e crenças báfias, de uma educação reprodutora e mantenedora, continuam firmes e fortes.


* também publicado no jornal Folha do Bairro - 12/04/2013.



sexta-feira, 5 de abril de 2013

A beleza é um estado de espírito


...já ouvi isso em algum lugar. E concordo. Também já ouvi que, em se tratando de ‘beleza’, existem dois tipos de pessoas: ‘as elegantes e as enfeitadas’ - e também concordo com isso. Viu só? Nem tudo que vem de mim é discordância – como reza o senso comum daqueles que só encheram um lado da minha moeda. Na verdade, concordo com muita coisa, só que, concordâncias, geralmente, não dão boas crônicas. Um dos grandes sentidos da crônica é o questionamento, a problematização (ainda mais se o cronista tem ‘pés’ na filosofia, sociologia, linguagem e história).

A beleza e a elegância estão nos gestos, nas palavras, no modo de ser e dizer, na gentileza das ações e da relação. A beleza física, essa pode ser (e é!), um tanto relativa. Nossa herança grega (apolínea, melhor dizendo), e em algum grau, platônico-idealista, torna a ‘beleza’ aparente, ideal, vista linearmente pelo olhar já acostumado e convencido dos homens. Conceitos como ‘perfeição’ ou ‘beleza’, da forma que são concebidos no ocidente, seja por uma tradição ‘grego-apolínea-ideal’ ou pela publicidade mercadológica, no contexto da sociedade espetacular, alimentada por uma indústria cultural que tem força de indução e convencimento, são correntes em nossos dias, e reproduzidos pelos seres mais desavisados.

Atualmente esses conceitos, como o de beleza e perfeição, da forma como são usados, se apresentam como ‘verdades’ naturalizadas, absolutas, feitas publicidade e reprodução, e estão presentes no cotidiano do homem contemporâneo, consumista não por essência, mas por demência, e isso chega de forma ‘cruel’ até as crianças (ou pré-adolescentes, como comumente se diz hoje), que acabam reproduzindo ‘ingenuamente’ esses conceitos e valores, esses ‘quereres’ feitos ‘necessidades’ por ações massivas de convencimento, principalmente através da imagem vinculada nos vários meios de comunicação. Essas ‘crianças’ acabam perdendo o bom senso para a arrogância e vaidade, convencidas das suas ‘pseudoliberdades’, quando utilizando-se desse ‘poder’ das aparências para submeter outros e fazer disso uma forma de se impor e/ou impor seus modos superficiais ao meio. E o respeito, e o interesse pelo diferente, pelo conteúdo, caem na superfície de um ‘não pensar’ e ser. E essas crianças um dia crescerão, e muitas delas não passarão de reprodutoras de um modo de vida medíocre, mesquinho e televisionado, sem resquício algum de originalidade ou autenticidade. Seres pobres (ou miseráveis) de espírito, tão superficiais quanto suas posturas, modos, pensamentos, aparências e práticas.  Essa beleza não passa da superfície. Uma ‘beleza feia’, que transparece ao menor movimento ou sussurro da pobre criatura que, se mostrar alguma beleza, só o fará quando estiver imóvel. É assim que o ser vivo é confundido com uma estátua, e a vida com a morte. 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, em 05/04