segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Selva

Por Fabiane Tedesco
Essa não é uma edição de Natal comum. E como seria? Em tempos de morte e censura, o mínimo que podemos fazer é questionar e que as luzes do Natal não nos ofusque. Não se pode perder a linha, não se pode esquecer dos fatos: é um momento pesado em Santa Catarina.
É momento de um adeus que corta fundo, é momento de continuar lutando. É tempo de encontrar o inimigo, onde quer que ele esteja, descobrir suas intenções, jogá-las ao vento, espalhá-las em cada ouvido desatento.
Ah, nós jornalistas, com as barrigas cheias de ideologia: sempre ansiamos por uma boa história para contar, viver em tempos de ditadura, de censura, de grandes acontecimentos. Pois bem, aqui estamos. E agora? Agora, é hora de mostrar a que viemos.
Vimos que os anos de chumbo ficam mais atraentes nos livros de história, que quando se vive um bang bang, repleto de mistérios e dores, é bem pior. Tememos por nossas vidas, por nossos empregos, por nossas crianças que também caminham pelas mesmas ruas caladas pelo medo, desligadas para o inimigo passar impune e irreconhecível.
Tememos, mas somos fortes. Tememos, mas estamos juntos no medo, na dor, no silêncio que espera para se tornar voz, alta e clara, tomando de súbito esse velho e sentido oeste selvagem.

* Texto dedicado ao amigo e colega Herman G. Silvani que nos encantou e nos fez pensar ao longo de 290 intensas crônicas – que um dia, quem sabe, caberão em um livro.


sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal & Ano Novo! Aceleraaaaaaaaa Xapecó!


* eis o vídeo do Estúdio A que sumiu misteriosamente da UnoWebTV.. obscuridades nos bastidores do 'espetáculo'..

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

...a saidêra!

Um brinde!







                                                                                     











                                                                             para todos e para ninguém

Ontem mesmo encontrei a felicidade na esquina. Era o olhar de uma puta decadente sorrindo e fumando seu cigarro paraguaio. Era o balançar do rabo de um cão abandonado e cheio de pulgas (e não sei por que, mas acredito que alguém que possui eternidades deu seu nome de ‘perigo’). Era o olhar sujo de uma criança selvagem que corria pela rua cantando uma canção esquecida. As pessoas nascem, crescem, se reproduzem e morrem. Tanto aqui quanto em qualquer outro lugar. Algumas nem chegam a nascer direito. Outras, não crescem. Muitas não se reproduzem. Todas morrem! E eu estou feliz. Pela puta, pelo cão e pela criança. Feliz porque moro numa cidade cheia de prédios bonitos e automóveis luxurientos e gente feliz. Uma cidade onde todos podem sorrir e cantar, alegremente, sem aquela reclamação chata que alguns cronistas insistem em publicar nos jornais ou blogs por aí. Sem aquelas manifestações mais chatas ainda que muitos insistem em postar nas suas redes sociais mundo a fora ou despejar pelas ruas limpas e ordeiras da cidade. Eu sou um chato. Um chato dos piores. Mas minha chatice chega a ser cômica. Muitos não me toleram por isso. ‘Esse chato!’. Mas ser chato tem lá as suas vantagens. Sendo um chato, afasto de mim os que eu considero chatos. Mas o dia está bonito e vai chover. Xapecó precisa de água para molhar a terra, amenizar o calor e limpar toda a sujeira que existe pelas ruas ou por detrás de alguma mesa. Olho para as luzes de natal e vejo seu brilho como é artificial e pouco intenso. Olho para o sol e o seu brilho é o mais intenso e me cega. Então olho para o brilho dos olhos de quem eu amo. As crianças, os cães e você(s). Os brilhos dos seus olhos me alimentam e têm toda a intensidade de que eu preciso. Eu sorrio. Nós sorrimos! O mendigo que passa diz que eu tenho o olhar triste, porém, vivo. Me alegro. E ele diz que a minha alegria, quando vem, pelo menos é sincera. Eu ouço, enquanto alguns transeuntes sussurram: ‘Loucos!’. Da minha guitarra tiro acordes e melodias que dão para a rua. Quem passa também deve pensar: ‘Louco!’. Não nasci para tocar guitarra. Nem para escrever. Mas foi o que o mundo deixou pra mim. O que me restou nesta festa de gigantes que, lá no final, acabam sempre por devorar a si mesmos. E eu acho tudo isso trágico & divertido. Hoje é um tempo tão belo pra se viver! O natal chega e o ano logo, logo se encerra. Começa outro e assim por diante. E eu ainda respiro, porque ainda existem coisas para lutar por elas (enquanto existir energia e motivos pra isso). Pois bem, meu bem! Hoje vou sair de casa & beber uma com Dionísio - e se alguém ligar, por favor, diga que eu não existo.



Convulsão, confusão. Caos & continuação...
























“É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante”  (Nietzsche)

"Eu tô te explicando / Prá te confundir / Eu tô te confundindo / Prá te esclarecer" – assim canta Tom Zé, um dos mestres tropicalistas numa das suas canções. Assim também é meu canto por aqui. Um canto, por vezes torpe, desafinado, dissonante. Um canto em forma crônica. Às vezes também me arrisco na prosa & nalgum verso meio torto. Já fui duramente criticado, severamente menosprezado, inutilmente difamado. Mas disso tudo, ainda prefiro os elogios – e não são poucos. Mas também, não são muitos. Alguns. Tipo... Dá pro gasto! Sou fruto do meio em que vivo e tenho consciência disso. Mas também, sou agente nesse meio - & assim também grita minha consciência. Tá certo que às vezes a perco numa garrafa de rum ou em alguns copos de cerveja. Ontem mesmo sequei o resto da garrafa de uísque que guardava já a algum tempo. Fazia calor, como hoje, e os monstros lá de dentro da saudade me perturbavam. Eu não fiz conta e enchi por algumas vezes o copo. Brindei a Dionísio e fui dando meu abraço na embriaguez, essa maldita companheira que sempre me salva. Escrever não é fácil. Se engana quem acha que é. Também não acho tão difícil ou terrível. Já vivi momentos piores e sei que existem coisas piores também. Então não reclamo, escrevo. Faço das minhas linhas caóticas uma comunicação. Mesmo que nem todos a entendam. Aliás, penso que uma minoria entenda. Ou, se entendem, sei que muitos não concordam com algumas das minhas posições. Mas tudo bem, sou um homem de posições. Prefiro isso do que ser um homem de imposições. Não imponho nada. Antes, me exponho. Assim, vivo sujeito ao tempo - aos trâmites do tempo, como todo mundo. Já me perguntaram se eu não tenho medo de gerar certa convulsão. Medo? Até tenho, mas sou corajoso o suficiente para superá-lo. Alguém que andou me lendo (ou lendo o que escrevo) me disse que sou adepto da confusão. Discordo. É Caos e não confusão (leia-se Teoria do Caos). Talvez, contradição. Mas isso depende... O uso desses termos e/ou terminologias pode ser muito relativo. Tudo depende do contexto em que se aplicam (agora falo enquanto historiador). E quando falo em Caos, não é esse ‘caos’ vulgarizado pela reprodução discursiva dos meios. Se algum texto meu causou um dia algo assim, só poderia eu pedir desculpas. Mas não. Não quero! A desculpa pode ser um conforto. Aí fica fácil deitar convencido de que fiz o bem. Não estou aqui pra isso. E pra não deixar tudo muito compreensível, é o Caos quem gera continuação, não o conforto...  & “que belo travesseiro é o Caos!” (Cioran).

A crônica...


* Editorial do Voz do Oeste do dia 23/12, sexta-feira, escrita pela amiga e editora chefe:

Sobre questões crônicas
"A estrutura da crônica é uma desestrutura; a ambiguidade é sua lei. A crônica tanto pode ser um conto, como um poema em prosa, um pequeno ensaio, como as três coisas simultaneamente. Os gêneros literários não se excluem: incluem-se. O que interessa é que a crônica, acusada injustamente como um desdobramento marginal ou periférico do fazer literário, é o próprio fazer literário. E quando não o é, não o é por causa dela, a crônica, mas por culpa dele, o cronista. Aquele que se apega a notícia, que não é capaz de construir uma existência além do cotidiano, este se perde no dia-a-dia e tem apenas a vida efêmera do jornal. Os outros estes transcendem e permanecem." (PORTELLA, Eduardo. Visão prospectiva da literatura brasileira, 1979, p. 53-4. In: Vocabulário técnico da literatura brasileira. Rio de Janeiro, Tecnoprint, 1979.)
O fazer literário. Literatura, não notícia. Esse é o trunfo da crônica e o trunfo do cronista. Enquanto no jornalismo temos sempre que verificar todos os lados possíveis, na literatura há a abertura para opinião. É possível cobrar um repórter por um determinado direcionamento, mas nunca um cronista.
O cronista tem nas mãos a chance de ousar muito mais, de não agradar, de dizer o que pensa sem precisar por isso na boca de nenhuma fonte. Sua visão de mundo é o que o sustenta, não as notícias, não os fatos. O cronista é um poeta, é um artista. E não se pode calar um artista.
Fabi (fabita)


dois recados...


* pra quem ainda não sabe, anda rolando certa polêmica pelas redes sociais em torno da minha saída do jornal Voz do Oeste, onde eu era cronista diário, assim como o assassinado do professor e vereador Marcelino Chiarello (denunciante de corrupções), e o sumiço do primeiro bloco do programa Estúdio A da Unowebtv que falava de manifestações que ocorrem pelo mundo, e como Xapecó está no mapa (ainda!), não ficou de fora do assunto.. tudo sem muita explicação.. tempos 'estranhos' meus amigos, tempos extranhos.. a partir disso tudo, produzi alguns textos que já foram publicados no jornal, e outros que estão aqui no blog. enfim. leiam, reflitam, divirtam-se.. e tirem suas próprias conclusões.. gracias!

Aos insetos...

Me deixem de lado. Esqueçam minhas músicas, minhas palavras malditas. Queimem todos os meus livros, meus discos, minhas formas de continuar essa minimalista e caótica existência. Que não fique nem a poeira debaixo dos meus sapatos - meu rastro de decadência! Não quero seguidores pegando no meu pé. Nem críticos ou conselheiros me dizendo o que e como fazer ou deveria ter feito. Se quiser ler algo descente, sugiro qualquer coisa de auto-ajuda. Aí você se livra de incômodos e perturbações de ordem existencial-psicológica. Aí você vive sem o peso de uma consciência critica e/ou ousada. Apenas respira e segue a ordem artificial das coisas. Se afasta do perigo, da dor de cabeça, de possíveis indigestões. Tenho um livro escrito que jamais será publicado. Ele fala de coisas impossíveis ou improváveis. De coisas que nenhuma editora vai querer saber. De coisas que nenhum escritor satisfeito com sua literatura vai considerar. Todos fugirão da minha obra como moscas quando fogem do inseticida. “Inseticida!”. Ta aí um bom nome para o meu livro. Nele ouvirão através das paredes carcomidas do seus quartos, cantigas fantasmagóricas de personagens que sempre estiveram nos seus sonhos e/ou pesadelos, mas que vocês nunca perceberam ou não quiseram ouvi-los falar. Só crianças selvagens e velhos dementes viciados no jogo do baralho e jovens-adolescentes rebeldes de causas perdidas e putas depravadas nos seus sonhos de alegria comum e adultos bufões-andarilhos nesse circo asqueroso poderão compreendê-lo e rir dele/com ele – esse meu livro de canções vulgares e alguma eternidade. Esse meu livro underground – que de tão underground nem existe! Sugiro (ou aconselho) que não comprem. Vivam suas vidas melecadas de sonhos açucarados longe desse tipo de literatura. Henry Miller, Bukowski, Efraim Medina Reyes e Pedro Juan Gutiérrez são algumas das referências para essa enfermidade em forma de texto que em breve eu vou parir. Tenho aqui uma pequena mostra em verso pra vocês:

Os bons tempos do matadouro

(...)

“quem nunca esteve num matadouro
sabe pouco da vida
e da morte, menos ainda...

a realidade é um naco de carne no osso duro da vida”.


Lindo, não?!

Em breve! Na banca mais distante da sua casa!



*


Nada acaba, tudo se transforma... (?)

Daqui de onde estou as coisas se mostram diferentes. Durante um ano e alguns meses escrevi crônicas e algumas ‘maldições literárias’ aqui neste jornal. Um espaço aberto e aos poucos construído, conquistado, ocupado, portanto, independente. Um texto, se não escrito, pelo menos publicado, todo santo dia, é bem fácil de se produzir, não é? Quem se arrisca? “Você é louco Herman...”. De louco, todo mundo tem um pouco. Mas louco eu não diria, talvez apaixonado (pelo ofício de escrever) – e todo o apaixonado é um pouco louco. Indicado pela minha amiga (jornalista e escritora – das boas, faça-se justiça!) Fabi, a fabita, atual editora do Voz, foi que eu pude trabalhar nessa coluna. Nunca fui contratado oficialmente pelo jornal, escrevia (escrevo) para o jornal, mas independentemente. Coisa que alguns não compreendem muito bem. Foram muitos textos. Alguns bons outros ruins. Outros ainda, nem chegaram a isso. Falei de tudo um pouco e de quase nada. Neste tempo, nunca fui podado ou controlado. Por isso não me estranha muitos terem me dito: “Tá durando ein Herman!”. E agora que me despeço nesta penúltima crônica, alguns dizem: “Durou muito!”. Não sei se sou um pouco ingênuo ou tenho a segurança de que meus editores (Keli, Flávio e Fabi), sempre foram abertos e admiradores do meu trabalho, mas minha saída do jornal foi uma escolha pessoal. Não fui pressionado a mudar ou me enquadrar, apenas não aceitei uma ‘nova proposta’ vinda do jornal. Se pressionado ou motivado por algo ou alguém, não sei (dou ao leitor o direito de pensar sobre isso), mas a proposta não me caiu bem. Julguei-a incoerente ao meu trabalho e minhas posições. Hoje em Xapecó, devido a alguns acontecimentos no mínimo sujeitos a interpretações e questionamentos, motivos de debates que andam rolando por aí, minha saída do Voz se junta aos fatos. Não estou aqui afirmando nada, apenas comentando um pouco do que anda rolando, e pra mim, nada mais ‘normal’ do que isso, já que estamos falando de um país que se diz democrático e de um meio de comunicação que também promove isso. Agora, cada um pensa conforme sua capacidade de assimilação e crítica, ou conforme seu interesse. Eu sei dos meus. Se estou no meio dos debates e críticas nas redes sociais da vida, pois bem, me certifico de que era lido e admirado por alguns. Agradeço aos que foram meus editores e ao espaço precioso que este jornal teve. Espero que venha algo que dignifique a página 2 deste veículo, assim como eu penso que fiz. Sempre primando pela liberdade de expressão e não apenas pelo discurso que se faz dela. Obrigado! & eu continuo no meu furodebala (espero!). Abraço & saúde aos meus! Talvez continue...


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Acelera Chapecó! [nas investigações também...

"Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade." (George Orwell)

Ser questionador, atuante, exercer a liberdade de expressão, ser literário e/ou poético, irônico e/ou sarcástico, ter certo humor e se manifestar livremente está perigoso hoje em dia. Fazer denúncias então, nem se fala. O politicamente correto submete a linguagem e a criatividade, tornando tudo regrado e sem possibilidades. O realismo e a crítica daqueles que lutam por uma comunicação ‘de verdade’ (não essa imposição da informação que existe por aí), sofre punição, seja ela moral (com uma censura do que é dito/publicado) ou até física, com a exclusão e até morte do comunicador e, por conseguinte, da sua comunicação. Isso está acontecendo no mundo, no Brasil, em Santa Catarina e em Xapecó. Pessoas estão sendo assassinadas por isso. Depois do professor e vereador xapecoense Marcelino Chiarello, foi a vez do blogueiro catarinense Amilton Alexandre, o Mosquito. A polícia trabalha com a hipótese de suicídio. Mas, sinceramente, lendo o que o blogueiro deixou escrito nas suas últimas postagens, não vejo indícios disso. Assim como Chiarello, Mosquito deixou dito que estava sendo ameaçado e sofria retaliações pelo que publicava no seu blog ‘Tijoladas do Mosquito’. Era temido por políticos e empresários catarinenses por sua luta contra a corrupção e suas severas críticas. Mosquito ficou conhecido pelo caso de denúncia de estupro de uma menina, praticado pelo filho do diretor da RBS – e eu não vi passar na RBS sobre esse caso (porque será? – é essa a informação livre tão discursada nos obesos meios de comunicação deste Brasil varonil?). Eu mesmo já recebi um: ‘Cuidado com o que escreve Herman!’, de alguém que se preocupa comigo – mas porque devo me cuidar? Não vivemos na democracia que tanto se discursa por aí? Mas, quais forças ‘obscuras’ estão por trás disso? Quem são os censores, os assassinos? E o que tem por trás dessas mortes? Interesses? Organizações, instituições, partidos, grupos, oligarquias? O que você acha? Tem uma música de uma banda que se chama Cólera, e que diz: “Querem nos mudar, querem produzir homens bobos, controlados pra sorrir, pra seguir, pra parar (...) Querem cativar, de leve, pra formar homens bobos pra aceitar essa farsa, essa farsa! Homens bobos, controlados pra seguir, pra parar (...) Eles querem nos mudar...”. Enfim... Acelera investigação!


* eis algo pertinente produzido pelos amigos do Estúdio A:

http://www.unochapeco.edu.br/unowebtv/play/cronicas-da-resistencia-01

yá!


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Ler é a arte de desatar nós cegos" (Goethe)


onde
está
meu
...


?















para um dia quente.. cerveja, trufa e boa leitura..



Liza, flores & livros...

atuais boas leituras...






















acompanhado da Teckila & lendo 'Só  garotos' da poeta, compositora-cantora e performer Patty Smith - foda!

...assim tudo se torna mais tolerável e vivo!

Na estação...



















Estamos na estação. Esperamos o trem passar. Pra onde vamos afinal? Alguém nos espera longe daqui? Eu não sei! Você sabe baby? Então me diga... Se souber! O tempo passa e as coisas vão se transformando nesse movimento caótico que é a vida. E não me venha dizer que tudo está pré-determinado! E não me venha falar da descoberta do eu. De um lugar melhor, além disso, tudo. Dos céus ou do paraíso. Não. Aqui é nossa morada. Nosso lugar. Talvez, até sejamos intrusos, forasteiros, uma praga, uma chaga que veio só pra destruir – é o que me parece quando comparo a humanidade aos outros animais da natureza. Mas, é certo que também não duraremos. Aos poucos vamos envelhecendo e sucumbindo, como todas as coisas vivas - & as mortas, pois, ‘tudo o que é sólido se desmancha no ar!’ (já dizia o velho Marx). E o velho Marx era sábio, independente das suas utopias e teorias materialistas. Eu me sinto desmanchando no ar. Você não baby? Sua roupa, sua casa, seu jardim, suas vontades e desejos? Se ainda há tempo, o tempo é agora. Já! Se adiarmos sempre, a cada vez, o tempo se esgotará. A vida não é depois nem amanhã. Que tal vivermos? Vamos viver? Pois, ‘a vida é agora!’ – assim diz uma canção de que gosto. Mas qual é o problema? O seu problema? O meu problema? O nosso problema... Sim, os problemas são nossos. Estamos coligados baby! Nesse conto, nesse filme, nessa novela, nesse romance. Nessa prosa. Um dia, quem sabe estaremos também num poema, numa canção. Quem sabe. Ontem fiz um verso novo. Peguei no sono e ele se apagou. Não, não foi nenhuma mão ordinária. Ele se foi sozinho. Desapareceu. E quando eu acordei para relê-lo, cadê?! Já não estava mais lá, naquele papel amarelado sem linhas. Cheguei a pensar que fora um devaneio ou obra de algum sonho meu. Mas não. Eu escrevi. Tenho a quase certeza de que sim. A quase convicção. Quase. Mas quase não é nada absoluto. Quase é quase. Então eu quase sei do poema. Eu quase sei quem sou e quem você quase é. Pois bem. Acho bom eu ir parando de divagar por aqui. Lá vem nosso trem. Apita distante, mas vem. Vamos embarcar e ver até onde ele vai dar ou vamos parar numa estação que acharmos bonita, interessante? O que você acha? Quero saber de você. Por favor, me responda! Me diga! Sozinho não posso decidir – e nem quero partir. Afinal, estamos juntos, não estamos?



Algumas contra-indicações (se não beber ou ousar, não leia!):

"só para raros!"


Pedro Juan: submundo cubano.. Efraim: poesia colombiana com ares de maldição..


Sant'anna: literatura brasileira da laia.. Kafka e Dosto.. indispensáveis!


Nietzsche e Thoureau.. indispensáveis! ..'Geração beat' (Claudio Weller), para compreender o contexto..





'clássicos' indispensáveis.. dos bons! 





Henry Miller: 'maldito clásscio' norte americano.. Welsh com seu 'Pornô', continuação do 'Trainspotting'..


* Grandes teóricos, pesquisadores e ensaistas e suas obras indispensáveis:







*_*




velho Buk e seus torpes poemas..





Buk & Rimbaud.. magníficos!



Frank Miller.. HQ com teor alcólico.. quem não viu o filme também, indico!


* aqui estão algumas das minhas leituras favoritas.. faltaram muitos, é claro (John Fante, Hakim Bey, Cioran, Alvarez, Mirisola, Terron...) - um tira gosto... já leu algum desses?



1 ano sem a Lua...

...e quantas vezes eu quis ter cauda

A chuva molhou a terra onde as plantas germinam junto ao corpo peludo do meu cão. E foi uma chuva nova, diferente. Uma chuva de adeus. Agora, os dias são mais tristes quando olho pela janela e já não vejo as patas dianteiras do meu cão sobrando pra fora da sua casinha.  Já não ouço seu latido nem seu resmungo grave e sonoro ecoando. O mundo era mais tolerável quando saíamos para passear lado a lado. Eu olhando em volta enquanto ela cheirava o chão. Não teremos mais a festa canina quando chegávamos em casa depois de algum passeio noturno ou viagem de final de semana, nem tampouco a alegria estabanada e sincera que só um cão pode ter. Minha canina, que eu tanto amava, agora faz uma falta que é do tamanho dela - e ela era uma cadela bem grande! Seus quarenta quilos de amizade verdadeira. Seu olhar de admiração e respeito, mais puro e verdadeiro do que o meu. Meu cão significava tanto pra mim! Anos junto dela, e um condicionado ao outro, numa amizade sincera e recíproca, presos neste mundo mecânico que criaram para limitar as manifestações das nossas naturezas mais descaradas. Ficava, e ainda fico triste em saber que o espaço dos cães que se arriscam livres pelas ruas, foi tomado por concreto, asfalto, carros e gente. Sou gente, mas ainda tenho afinidades animais. Uma das imagens mais belas do mundo, como um poema, é ver uma criança lado a lado com seu cão, brincando, em comunicação telepática, olho no olho, alegria na alegria, sinceridade na sinceridade, natureza na natureza. O mundo sem os cães e sem as crianças seria completamente triste. Meu cão foi um sonho realizado. Sonho de infância. Sempre quis ter um cachorro grande, maior do que eu, em tudo. E tive. E ela se foi. Agora, cada vez que olho pro céu e vejo a lua, lembro dela. Lua era minha companheira que agora falta. E eu a enterrei com minhas próprias mãos no pomar atrás de casa. Como Neruda escreveu num de seus mais belos poemas: “Não há nem houve mentira entre nós. Já se foi e o enterrei, e isso foi tudo.”


em memória da Lua + 02/12/2010


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Justiça!?


Muito provavelmente a maior manifestação da história em caminhada pelo centro de Xapecó . Penso que tanta gente reunida, além do possível ‘revoltante’ motivo deste caso, foi possível ao fato de que Marcelino Chiarello, além de homem público, era professor e se mostrava sempre ao lado de movimentos sociais, dos mais variados. Além da diversidade desses movimentos, estavam os sindicatos de trabalhadores, partidos da esquerda xapecoense e regional, professores, alunos, igrejas (principalmente a da linha da teologia da libertação – tendência progressista-esquerdista muito atuante na América Latina), e pessoas independentes disso tudo. Por ter essa ligação ampla com os vários setores da sociedade, Marcelino (em torno dele), conseguiu reunir uma multidão, que indignada com sua morte e seus possíveis motivos, clamava pela ‘verdade’ numa caminhada silenciosa pelas ruas da cidade, onde prevaleceu o preto como sinal de protesto e luto. Batidas lentas de tambores davam o ritmo dos passos que, lentos, se faziam notar pelo centro de Xapecó. Vi pessoas de várias etnias e origens juntas nessa caminhada. Vi crianças e jovens, velhos e adultos, todos com um objetivo comum: o esclarecimento. ‘Justiça seja feita!’ ‘Não nos calaremos!’ ‘Calaram um professor!’, entre outras, foram frases anunciadas em cartazes e faixas. Ouvi vozes mais radicais, juvenis e femininas que vinham de longe e que diziam: “Que tal arrancar a cabeça do busto do Coronel Bertaso da praça... Será que iriam gostar?”. Mas tudo foi muito pacifico e tranqüilo, como ‘manda’ a democracia, a não ser, por um e outro motorista ‘irritadinho’ que passava buzinando e xingando quem caminhava. Sempre tem os que se acham donos do espaço público com seus carrinhos semi-luxuosos. Intolerantes com as diversidades e manifestações. Esse tipo de gente descontrolada é perigosa, e se deixar, são capazes de partir para a briga. Em alguns lugares (não tão longe daqui – ou bem perto), isso pode até acabar em linchamento ou atropelamento. Manifestantes tem aura de ‘bandidos’: assim rezou um dia a tradição conservadora e ignóbil e alguns acreditaram – até hoje! Só senti a falta do prefeito, ou no mínimo de algum representante do poder público, já que se trata de um caso terrível para a ‘imagem’ do município e, além de tudo, é uma questão política, até formal, além de humana, sendo um crime contra um homem público. Mas talvez eu é que não tenha visto, e alguém do poder público tenha aparecido. Mas o importante é que o povo saiu de casa e foi pra rua, já que a rua também é lugar de gente (não só dos despossuídos e desprezados). E esse fato, além da morte de uma pessoa, se realmente foi um crime político, representa uma ameaça séria ao que se tem por democracia.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Cartas na mesa... ao jogo!

Chegamos... mas vamos para onde mesmo?

Começamos bem o mês do Natal (com o assassinato de um vereador por motivos políticos). O mês onde os cristãos comemoram o nascimento de seu ícone: Jesus, aquele que pregava a paz, o amor, a vida. Mas, parece termos voltado à Idade Média, onde qualquer coisa que a Igreja julgasse contra seus ‘princípios’ era condenado, num processo conhecido como ‘caça as bruxas’. Xapecó, para quem não conhece bem, ou para aqueles que não acordam da ilusão capitalista de progresso e futuro brilhante que aqui é propagandeado, é um paraíso. Mas, nos bastidores, o bicho às vezes pega. Como na ditadura militar que, enquanto o país crescia (e se endividava, diga-se de passagem), com suas suntuosas construções e crimes cotidianos minimizados, futebol e carnaval bombando na televisão, o pau comia nos ‘porões da ditadura’. São os bastidores de um espetáculo armado para o entretenimento e a alienação. Quem tem capacidade e/ou ousadia para ler nas entrelinhas desse espetáculo, pode ver claramente que além das ‘maravilhas’ que são expostas para um ‘bem estar social’, existe um ‘show de horrores’. E no mínimo, no mínimo, dentro de todo esse contexto (salvando as crianças e velhinhos), somos, TODOS NÓS, cúmplices, de uma forma ou de outra. Ou devido à falta de interesse na busca pelo conhecimento ou por acomodação e covardia - ou seja, pelo consentimento, pois como diria o cantor: “quem cala consente!”. Muitos foram convencidos e acreditam piamente que a liberdade existe, ‘esta liberdade’, este conceito de liberdade onde estamos condicionados, presos, onde fomos escravizados. Me refiro à liberdade econômica, que é a que o mundo capitalista ocidental judaico-cristão conhece e pratica. Então, nos achamos livres (mas isso só quando temos dinheiro no bolso, não é?). Livres para ir e vir, postar qualquer coisa nos nossos blogs e nas redes sociais – e tudo vira festa! Agora, quando o bicho pega, nos irritamos e nossas vaidades e nosso individualismo pequeno (ou grande) burguês vêm à tona. Outro dia vi no facebook uma imagem de um policial que crivou de bala dois jovens assaltantes que foram mal sucedidos na sua investida contra ele. Acontece! Mas na postagem, alguém escreveu que “bandido tem que ser tratado assim, à bala!”, e “Graças a Deus!”. Então, bens materiais são mais importantes do que a própria vida para o cristão? E o ‘Não matarás’, mandamento bíblico dos cristãos? E saber que parte significativa daqueles que se dizem cristãos pensam assim. Maquiagem? Hipocrisia? Falácia? Não sei, não sei. No mínimo, cumplicidade...



O jogo

Mais um trago pro mundo girar ao contrário, porque do jeito que está não dá. A coisa ta triste. Pesada. Uma nuvem de censura no ar. Queima de arquivo na vizinhança. Alguém que sabia demais apagado por forças ‘ocultas’. Crime político, provavelmente. O ‘politicamente correto’ na fala, na escrita. Censura e poda novamente. Quem se manifesta em risco. Quem ama, sente, troca, se sensibiliza, em risco. Ameaças de todos os lados, por todos os cantos. Sociedade doente, cercada de convicções bestas e ordinárias. Crianças ingênuas no meio disso tudo. Recém começaram a sofrer a poda das suas possibilidades. Serão reprodutoras desse jogo se tudo continuar assim. Um jogo imundo, onde os vencedores já estão garantidos – se cumprirem com as regras, é claro! Mas as regras não são tão claras. Elas confundem, enganam, ludibriam, distorcem, equivocam, usurpam, humilham, culpabilizam e até matam se for preciso. Eis o jogo! E você acha que não está nele. Desculpe informá-lo, mas todos estamos! De um modo ou de outro, todos jogam. Mas isso não significa também, que devemos seguir as regras como elas são dadas. Percebam quem está com as cartas. Além dos reis e rainhas e de toda a corte, do bispo e outros, existem os coringas. E esses são mais amplos em possibilidades de jogo, porém, os mais cobiçados e, por outro lado, indesejáveis quando estão nas mãos dos oponentes. Lendo o magnífico livro de Antonin Artaud, ‘Van Gogh, o suicidado pela sociedade’, pela terceira ou quarta vez, chego nessa citação: “E assim foi que Van Gogh morreu suicidado, porque o consenso da sociedade já não pôde suportá-lo”. E o jogo é um consenso, onde no mínimo, todos somos cúmplices, já que jogamos. Porque se somássemos forças e burocratizássemos menos nosso modo de ver e aceitar o mundo, nosso dia a dia, se quiséssemos no fundo descobrir, aprimorar esse mundo, essa sociedade, faríamos. Como? De algum jeito. Às vezes, as coisas só são complicadas porque nós mesmos complicamos, fazendo desse jogo, um jogo de azar, literalmente. Não me pergunte como, descubra e faça você mesmo, é o único jeito. Se eu disser como, para aqueles que me seguirem ou acreditarem em mim, eu estarei dando as cartas. E não é isso! Mesmo porque não sou tão confiável assim (lembrem-se, sou cronista - posso ser poeta, mas não um líder). Enfim... O jogo continua! Mas de que lado da mesa você está jogando?


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Não aprendi a dizer amém.. então questiono!

Em torno do assassinato...

Dizem que ele era o vereador mais atuante da câmara de Xapecó. Pelo pouco que ouvi em debates nas rádios, era mesmo. Pelo menos falava, criticava, denunciava. E pra que serve um vereador? Não, não é pra ligar luz elétrica na sua rua, nem pra te favorecer com um emprego qualquer ou autorizar com votos falcatruas do poder público. Não. Um vereador é um político, e este deve ser coerente com seu discurso. E qual é o discurso político? Acho que nem precisa dizer, não é? Notícias que me chegam aos ouvidos por todos os lados dizem que a polícia trabalha com a hipótese de homicídio. Nada de ‘matar para roubar’ ou esse tipo de crime ‘impessoal’.  Rumores dão conta de que Marcelino Chiarello havia denunciado esquemas de corrupção na cidade, e que tinha mais ainda pra denunciar. Coisa da grossa! E é assim que quem trabalha como um ‘político de verdade’ paga? Bela consideração. Eis a democracia! Falácia do cacete! Xapecó tem um histórico de crimes políticos. Quase todos eles abafados, nublados, além de contar com a pouca memória histórica da nossa população. A também professora Mônica Hass (Chiarello era professor, além de vereador), quando escreveu seu livro ‘O linchamento que muitos querem esquecer’, até onde sei, sofreu perseguições e ameaças, tendo que se retirar por um período da cidade. Talvez alguém saiba e/ou lembre deste caso, onde forasteiros foram linchados por moradores daqui na época, depois seus corpos incendiados em pela rua, incentivados por forças obscuras: famílias tradicionais, Igreja, autoridades, etc. – facilitadores do fato macabro (isso, pelo menos, é o que consta na pesquisa-livro ‘O linchamento’). Existe também um registro histórico em forma de poesia deste fato, por um poeta da época. Então, fontes, não faltam. Mas, essa é uma história ‘maldita’, que para alguns, suja o nome da cidade – e sujou, e suja! Agora um novo fato acontece. Motivações políticas? Não sei (ainda!), mas tudo leva a crer que sim. Mas, e os culpados, serão pegos? Virão à tona? Quem são eles? Aqui já foi o império do coronelismo (e ainda não é?). Índios, caboclos e outros ‘indesejáveis’ já foram caçados e mortos por aqui num passado não tão distante. E a justiça, dizem que ela tarda, mas não falha. Será? Quero só ver! Só espero que a polícia faça o seu trabalho coerente com o discurso, assim como políticos deveriam fazer. Marcelino demonstrou que fazia ao denunciar. Vamos esperar pra ver, mas nunca de braços cruzados...


Rezemos...


















Enquanto as pessoas passam hipnotizadas com as luzes de natal, vitrines das lojas, shopping, com a mirabolante programação da fatídica televisão, um homem é assassinado por denúncias de corrupção. Não muito longe daqui. ‘Logo ali!’. Mas não tem problema, temos o sertanejo universitário para a ‘felicidade’ geral. Somos livres e alegres. Temos nossas tatuagens, piercing’s, nossas calças rasgadas, nossa arrogância displicente, nossa rebeldia fabricada - estereotipados que somos. Nosso ar de liberdade - econômica. Viva! Viva a democracia! Essa festa! Enquanto adultos doutrinam suas crianças como se fossem cães no adestramento e dão a direção aos jovens, deixando suas frustrações para eles como herança: ‘palavras da salvação! Amém!’. Crescer, ser ‘alguém na vida’, casar, ter filhos, casa, carro do ano na garagem e morrer. Eis a receita dada, pronta, sacramentada, da ‘felicidade’. Eis a tradição, a cultura, os valores. Eis a moral! E a miséria continua. Não só a miséria da falta de alimentação (essa, aqui no Sul não é grande problema), mas a miséria do intelecto, da razão, do conhecimento, da memória. A miséria humana. Aqui é o ‘Velho Oeste’ dos mocinhos e bandidos, índios, caboclos, elites familiares. Alguns se deram bem acima de outros. E esses ‘outros’ se fu... (piiiiiiii): ‘Olha o linguajar Herman!’. Ah é, estava esquecendo... E viva a democracia! Anda perigoso ser justo. Anda perigoso ser ‘democrático’. Anda perigoso ser coerente. Nos querem de joelhos. Nos querem mesquinhos e medíocres, aceitando tudo de boca fechada. Nos querem semi-mortos, consumidores, pagadores de impostos, ‘bons filhos’ e adultos reprodutores desse jogo. Nos querem como brinquedinhos num parque de diversões. ‘Nada de denúncias e dignidade, viu senhor?!’. Não mexa com a ‘alta estirpe’! Reis e coronéis abraçam-se nessa festa, dançando a mesma dança, com suas máscaras, pois estamos numa festa de máscaras, fantasiosos, crentes na chegada do messias, aquele que vai nos dar o paraíso, já que aqui, o sofrimento prevalece, e é sofrendo que se chega ao paraíso: ‘palavras da salvação!’ – opa! Acho que já escrevi isso por aqui. Mas não tem problema, a memória histórica é curta mesmo. Amanhã é outro dia e haverá outros atrativos para nos entreter, nos anestesiar, nos hipnotizar. Nos fazer vibrar com a promessa de um bom fim. De mãos dadas e ajoelhados, rezemos!


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Extraordinárias!

Shofia Loren, Penélope Cruz, Charlize Theron, Natasha Kinski... Essas são algumas das mulheres mais belas e extraordinárias da história do cinema em minha opinião. Além de belas, são grandes ou boas atrizes, independente da produção e das suas belezas. Sou fã dessas mulheres e não é nenhum segredo da minha admiração por elas. E que mal tem nisso? O mal (se é que isso existe), a malícia ou a distorção do fato, está na cabeça das pessoas. Justamente dos moralistas, aqueles que têm certo toque de conservadorismo no comportamento e na fala. Através de discursos medíocres, puritanos, deterministas, vivem a criticar alguma sinceridade que os mais ‘livres’ expressam. Assim também, se defendem e se escondem atrás das suas máscaras. São o dá pra chamar de hipócritas e moralistas. Esse tipo de gente enche o saco e atravanca possíveis mudanças, a criatividade e a poética das coisas. São formais e mecânicos. São maniqueístas e burocratas. Santiotas chatos e covardes! E o mundo está repleto de gente assim. Já cansei de ouvir pirraças entre casais que saem à noite pra se divertir ou sei lá o que, e acabam discutindo ou brigando, até com certa violência, porque um ou outro comentou sobre alguém que acha interessante, elegante ou bonito, criativo, ou algo assim. Aí vem aquela discussão vulgar, mesquinha, de domínio, de cobrança ou punição. Espírito de um moralismo social que poda e empobrece as relações humanas. É o ‘amor’ como território, forma de propriedade privada dos sentimentos e anseios. Nessa relação de domínio, a censura ao olhar, ao gosto e a própria necessidade de se expressar, é evidente. Como uma forma de controle social, cultural e religioso, as relações ditas amorosas, muitas vezes resumem-se nisso. E a vida se dilui nessa mediocridade de insensibilidades, diversão e prazer, prevalecendo o autoritarismo e o sofrimento. Em muitos filmes, desenhos, músicas e principalmente, na maioria das telenovelas, essa moral, essa cultura, essas relações diminutas, são reproduzidas e inculcadas por parte significativa da população que, acomodada e doutrinada para tal, acaba por aceitar isso de uma forma ‘inconsciente’ e naturalizada. A diferença nesse meu ‘gosto’ por essas mulheres que citei logo no início do texto, está num dito que uso muito: “Existem as pessoas elegantes, interessantes e as pessoas enfeitadas”, assim como “existem as pessoas ordinárias e extraordinárias”. E você, a qual desses grupos pertence?


*Minha contribuição para a saúde do mundo virtual:


Shofia Loren


Penélope Cruz



Charlize Theron


Natasha Kinski


A raça dos resistentes...

Acho que quando Fidel morrer eu vou chorar. Foi o que eu disse em sala de aula para alguns alunos quando discutíamos a Revolução cubana. Não que eu seja seguidor do líder comunista da Ilha de Cuba. Talvez, pelo romantismo acima da sua figura. Bem ou mal, gostem ou não, Fidel é a maior representação viva de uma luta, de uma revolução em sua prática. Numa trajetória fantástica, Fidel deixou seguidores que o idolatram, admiradores, assim como, pessoas que o odeiam. Um homem sem meias palavras. Uma figura ímpar na história mundial. Foram feitos filmes e livros sobre ele e o contexto em que este ex-guerrilheiro esteve envolvido. Fidel Castro, hoje tem 85 anos de idade e passa por problemas de saúde. Continua em Cuba, não mais na chefia do Estado, mas ainda com muita voz ativa. Outra grande personalidade (também ‘marxista’), só que mais teórico e pesquisador, é o historiador inglês-egípcio Eric Hobsbawm. Hobsbawm, lúcido e ativo, é considerado o ‘grande’ historiador vivo, nos seus 94 anos de idade. Passou pelas duas Guerras Mundiais, Guerra Fria, várias revoluções, sempre produzindo, pesquisando, analisando, escrevendo. Certamente, senão o maior, um dos maiores intelectuais da história ainda vivo. O poeta brasileiro Manoel de Barros também entra no rol dos resistentes. Vive no pantanal e tem magníficos livros de poesia publicados. Um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, produzindo no alto dos seus 95 anos de idade. Dono de uma linguagem própria, divertida, sincera e livre das influências européias, Manoel de Barros nos saúda com sua grande obra poética. Mas o que me leva falar dessas três personalidades, desses três cepos da história da humanidade? Talvez seja o tempo. Sim, é o tempo. Ambos resistem e estão dentro da estirpe dos resistentes, em vários sentidos. Ambos lutaram, da sua forma (e ainda lutam), por algo que acreditam, cientes dos seus trabalhos, das suas trajetórias, talvez, das suas importâncias dentro da história e do conhecimento humano. Não, isso não é idealismo. É humanidade. De minha parte, não é idolatria. É memória e consideração. Figuras como estas, não nascem todo dia – é bom que se diga. E eu, como homem da história, não posso deixar morrer no meu quadro de admirações, na porcentagem de memória que ainda tenho, esses três homens que movem o mundo através das suas produções, das suas existências. Talvez isso não interesse pra maioria, mas aí está. Meu registro em forma crônica desse tempo que ainda não acabou.

Escrito em 11/11/11.


Essa vida... um filme! (colorido.. em preto e branco.. e às vezes, sem cor alguma)

Sou um viciado. Em algumas coisas. E quem não é? E entre um desses meus vícios, está o cinema. Ta certo que já fui mais ‘usuário’ dessa ‘droga’. Hoje, sem muito tempo, ainda consigo ver algum bom filme durante a semana e às vezes no fim de semana. Entre trabalhos, leituras e ensaios com a banda, me sobra pouco pro cinema. Não que seja a última opção. Na verdade, nem é caso de opção. Em se tratando de cinema, sempre tive mais apego e afinidade com os vilões. Na verdade, com os ‘anti-heróis’. Os heróis, geralmente, são muito ideológicos, mecânicos, moralistas, e eu não gosto nada disso. Tem um filme de que gosto muito que se chama “Anti-herói americano”. Essa película explica um pouco do que estou falando. Nos filmes do velho oeste que, desde criança, via com meu pai, sempre ficava ao lado dos índios e nunca dos mocinhos. Já adolescente, quando metido a punk, caiu em minhas mãos um filme que iria reforçara ainda mais esse meu gosto pelo ‘lado B’ das coisas. Trata-se do filme “Laranja Mecânica”, do diretor Stanley Kubrick (um dos meus preferidos da língua inglesa), adaptação do livro de Anthony Burgges. Neste filme, o personagem central, Alex Delarge, um caricato anti-herói, é interpretado pelo ator Malcolm McDowell, numa das maiores interpretações de toda a história do cinema. A força do personagem foi tanta que acabou por ofuscar um pouco (ou muito) outras atuações de McDowell. Só depois de muitos anos pude ver um personagem à altura de Alex, o Coringa, do filme “Batmam: O cavaleiro das trevas”, do diretor Christopher Nolan, também uma adaptação, desta vez, de um clássico das histórias em quadrinho de Alan Moore. Interpretado pelo ator Heath Ledger (um dos grandes do nosso tempo), o Coringa desconstrói a moral da sociedade capitalista com sarcasmo e crítica social. Outro personagem que, provavelmente, acabaria ofuscando um pouco outros futuros personagens de Ledger (se ele ainda estivesse vivo). Ledger morreu cedo, no auge da sua carreira, deixando, com força, sua marca no cinema, devido a sua ‘encarnação’ no Coringa. Neste caso, tanto Alex quanto o Coringa, dois anti-heróis, pra muitos (os que não compreendem de personagens nem de literatura), são meros criminosos, mas para os mais ‘entendidos’, acabam sendo como heróis contra a mediocridade e moralismo da sociedade. Desconcertantes dessa ordem que oprime e forja as pessoas, tornando-as nada mais do que um número. E eu, como um bom (ou mau?) cronista, encerro por hoje, fazendo das palavras de um anti-herói entre os pensadores chamado Nietzsche, as minhas: “Antes um sátiro do que um santo".
























Malcom McDowell




Alex Delarge


Heath Ledger

Coringa











domingo, 20 de novembro de 2011

Samanta com rum & eu

















Ontem choveu torto no meu apê que eu me molhei todo. Abracei a garrafa de rum e dormi molhado, por dentro e por fora. “Ah! Dane-se!”, pensei. Já estava duro de trago mesmo. Me joguei na cama, puxei o cobertor peludo que ganhei da minha avó de herança e apaguei. Acordei no meio da manhã com um arrepio na espinha. Meus dedos estavam churingados como bochecha de velha e meu estômago ardia. A garrafa de rum ainda tinha um gole, um bom gole. Minha boca seca. Acabei virando a garrafa. O céu da boca, um céu aberto. A vermelhidão do crepúsculo num fim de tarde primaveril onde revoadas de pássaros passam formando uma paisagem para os poetas mais românticos escreverem algum verso meloso. E o rum queimando tudo: “Fogo neles rum!”. Levanto da cama e meus sapatos estão fedendo. Eu não lembro de ter urinado nas calças. Eu não lembro de ter guardado algum naco de carne dentro dos meus sapatos. Só lembro de ontem a noite, antes da minha chegada em casa. Pulei o muro e subi as escadas acompanhado. Quinto e último andar desse miserável prédio. Mas antes disso, de tudo isso, do banho de chuva, do rum, da cama, eu estava num bar com Samanta. Nome de travesti. Só nome. Samanta, antes é um anjo do apocalipse que veio pra me buscar. Olhos oceânicos no meio de toda essa escuridão sem fim. Me jogou na cara uns versos meio evasivos, meio adolescentes, porém, com uma força vinda de algum lugar por onde Rimbaud decerto um dia descansou. Samanta me parecia ingênua, indefesa quando a vi. Mas logo, logo, se mostrou uma jovem corrosiva, dessas que só ébrios como eu ousam dar as costas. ‘Ei Tango, você é um imbecil! Um doce e raro imbecil! Me diga uma coisa. O que te leva escrever praquela revista horrorosa?’. ‘O dinheiro baby! Grana! Compreendes muchacha?!’.  ‘Se você pagar mais um drinque, acho que passo a compreender’. ‘Ókei baby!’. ‘Ei seu Artidor, traz mais um trago pra minha amiga aqui...’. ‘Amiga? Mal te conheço!’. ‘Tá bem... Pra minha...’. Depois disso, lembro de algo como um beijo doce que arrancou um bife dos meus lábios e dos vários goles de rum que dividimos enquanto a inveja dos deuses, como raios, despencavam do céu. Veio a chuva e os corpos molhados em movimentos ritmados e, às vezes, sem ritmo algum. Depois de um cochilo, como uma criança desamparada, Samanta me abraçou com força por alguns segundos. Depois desapareceu escadaria abaixo. Eu fiquei imóvel feito um animal empalhado, ouvindo os últimos ruídos que se foram com os passos de Samanta. E foi isso...



Eu animal ‘colonista’ social

Eu sou um animal. Um animal pop. Além de dar aulas de história, filosofia, linguagem, produção textual, redação e literatura, escrevo maldições literárias (ou não) num jornal, num blog; componho e toco guitarra numa banda de rock, tiro e queimo fotografias, me arrisco em alguns movimentos de kung-fu, como e bebo bastante, entre outras funções. Também já fui capa de revista (Globo Rural). Já me confundiram com um colunista social, mas nunca com um astro do rock xapecoense ou um escritor xapecoense dos bons - mas aqui tem disso? Bem, não vem ao caso! Sou um animal, assim como você, e estou montando uma nova revista na cidade onde serei o ‘colonista social’. Sim, uma revista aqui da roça, lugar onde moro e tenho orgulho (por acaso alguém já veio aqui em casa pra duvidar?). Pras minhas fotos pousarão muitas personagens, principalmente as do mundo animal. Bois, boys, vacas, galinhas, zebrinhas, veados, garças, asnos, antas, jacarés, morcegos, cobras, baratas, tigres, gatas, cachorros, lagartos, minhocas... Uma diversidade. Como uma fauna de verdade deve ser. E esse mundo por acaso não é uma fauna? Encontramos bichos de tudo quanto é tipo. Os peludinhos e os sem pelo algum. Os amáveis e os bravinhos. Os bonitinhos, os mais ou menos e os feios. Os que inspiram confiança, os que inspiram medo e os que inspiram nada. E que bom que é assim, não é? Nunca faltarão animais gentis (outros nem tanto), em poses para o meu magnífico click. Eu e meu olho mágico de artista conceitual-contemporâneo-vanguardista. Sou o melhor fotógrafo de celebridades da fauna xapecoense, disparado! Não tem pra ninguém! Nem Tiago Freitas, Antonini, Digão... Ish! Nada disso. Eles que se acostumem! Minha polaróide já está no concerto, a ponto de bala. Vai ser um escândalo. Notícia na televisão que, as propagandas publicitárias do shopping Pátio e da Efapi 2011, vão parecer piada. Vou vender anúncios como ninguém nem como nunca. Todos vão me querer no seu plantel. Sou um animal determinado. Um lobo que habita as estepes por aí – e nessa solidão, tenho tempo e espaço pra pensar e criar meus meios. Astuto e com muita energia pra gastar com suas presas. Me transmuto fácil de lobo pra falcão. Assim dou meus rasantes. Assim, vôo sobre os abismos que um tal de Nietzsche deixou como perturbação humana. HGS, o ‘colonista social’ é pop! Animaaaaaal! E pros daqui que vão pro litoral e dão as costas pra sua origem, vai o meu recado: “Você pode até ter saído da roça... Mas a roça nunca saiu de você!”.