Farrapos (com
citações de Mario Barbará)
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Crônica de Farrapos - última parte...
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Crônicas de farrapos - parte II
*
Sei da parte interessante do movimento Farroupilha, da luta econômica pela cultura do charque e contra a exploração do Império, da luta pela República e tal. Mas disso, a 'história oficial' e os meios de comunicação de massa dão jeito - minha intenção e função aqui é outra. E antes que alguém me
venha com pedras nas mãos, só escrevo o que escrevo (e neste caso, sobre a dita
revolução farroupilha e suas entrelinhas), porque tenho certo conhecimento do
assunto. Cresci entre Centro de Tradições Gaúchas (CTG), rodeios crioulos e
artísticos, festivais nativistas, viagens pelo sul do país sendo declamador (campeão do
sul na declamação) - sendo que, meu pai (lenço branco na foto), esteve entre os
fundadores do primeiro CTG da cidade. Venho de uma família gaúcha onde alguns
cultuam as tradições. Além de conhecer ‘de dentro’ tal cultura, fui (sou)
estudante de manifestações como esta, tendo algumas leituras e análises a
respeito. Digo isso, só para que saibam de onde (e com que grau de propriedade) estou
falando/escrevendo...
Na foto: Eu
(criança de lenço vermelho), meu pai (de lenço branco) e um dos grandes
cantores da música nativista, Cesar
Passarinho (de lenço vermelho), anos atrás...
*
Antes o mate, depois a peleia!
Cevo um mate. O amargo que
bebo sem fazer cara feia (já que não sou assombração!), é meu vício. Não o
único. Um dos vícios. Depois do café e do vinho, o chimarrão é uma das minhas
bebidas prediletas. Herança indígena e distante. Herança dos meus antepassados
e do meu pai (numa maior proximidade). A erva quando boa, relaxa (erva-mate,
que fique claro!). Há um dito popular que pergunta ao novato bebedor: “Conhece
pé de erva?”. Tem um quadro que é uma foto do meu avô por parte de mãe,
caboclo-gaúcho, ainda jovem, trabalhando no corte da erva-mate no interior do
Rio Grande do Sul (na cidade de Soledade, pelo que sei), de que gosto muito.
Bombacha, facão na cinta e um chapelão de palha que lembra os sombreiros
mexicanos. Eis minha ligação indireta com a erva (a mate!). Bebo o chimarrão
diariamente, antes de alguma refeição ou no final da tarde. Bebo, às vezes,
enquanto escrevo ou leio. O chimarrão, mais do que uma bebida ou uma tradição
ou um costume, é um ato. Sim, um ato. Um ato que resiste ao tempo, a modernidade
excessiva. Um ato de resistência e de troca. Quando bebido em roda, entre
amigos e semelhantes, tem o símbolo da hospitalidade, da comunhão entre os
homens. Meu pai conta que o mate selou até a paz entre rivais. Pelo menos
naquele momento. No momento de relaxar e compartilhar o chimarrão. O mate
proporciona, além da relação social entre as pessoas, um momento, por mínimo
que seja, de calmaria e igualdade. Na hora do mate, todos estão na mesma
condição. Um ritual acontece neste instante. E toda a trajetória do chimarrão,
desde o seu plantio, passando pela colheita, o corte e tudo mais, até chegar à
boca da cuia e ser preenchido pela água quente, faz parte do momento. O mate
traz em si a História da nossa região, de costumes antepassados que sobrevivem
ao tempo. Nisso, o mate é símbolo de resistência. Com todo o individualismo
burguês-capitalista-tecnológico-mecânico contemporâneo, um costume, um ato
ancestral, burla a ordem superficial das coisas. É, outra vez, o Caos se
manifestando e comprovando que o movimento causado pela roda (como na roda de
chimarrão), faz o mundo girar e o entendimento humano ainda ser possível.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Crônicas de farrapos...
Farrapo...
Estou
em farrapos. Mais
um balaço e morro. O último atravessou meu ombro e foi dar no meu cavado que
tombou feito uma araucária num ato de desmatamento. É, assim é a guerra! Se é
que dá pra chamar aquilo de guerra. Assim é a batalha e a lei do mais forte.
Assim foi minha vida. Meu cavalo tive que sacrificar. Meu único amigo,
companheiro de andanças. Um balaço no peito e o bicho ali agonizando. Eu,
impotente feito uma novilha que vai pra carneação. Não consigo bater no peito e
dizer, como tantos fazem, com orgulho: ‘Sou gaúcho!’. Eles nunca estiveram numa
batalha. Aí fica fácil discursar, bater no peito, gritar grosso. O exército
farroupilha, depois de feito o acordo com os imperiais, me deixou aqui, feito
um trapo. E quem é o farrapo nessa história? Eu, um negro, sem chão pra pisar,
sem terra pra plantar - e agora sem cavalo pra montar. Eu, um índio. Eu, um
caboclo - sem um mate pra cevar. Me deixaram sem espaço. Era só uma promessa.
Fui lanceiro pro estancieiro. Fui cortador de erva, secador de charque,
domador, fui escravo e fui obreiro. Me criei na lida e o que aprendi do mundo,
foi o mundo que ensinou. No lombo do meu cavalo atravessei horizontes. O
capataz obediente sempre em volta, o patrão, sua terra, imensa, infinita.
Latifúndio, me disseram um dia. Um pedaço me prometeram se eu fosse pra guerra.
Uma guerra pela causa, diziam. República! Libertação! Palavras que nunca me
fizeram sentido. E deu no que deu. Eu aqui, sem rumo. Até meu cusco serviu de
sebo pro laço do patrão. E eu não tive escolha. Me tornei caudilho. Fui
mercenário. Saqueei, matei, fiz miséria dessa gente. Sempre na promessa de
tempos melhores que ainda não chegaram – e tenho medo, nunca chegarão! Sou do
pampa. Sou filho da terra. Meu rancho hoje é isso. Essa tapera velha que tu ta
vendo! Chão batido, pés descalço. Nem minha bota de garrão sobrou. As três
marias perdi na última batalha onde também deixei metade do meu braço. O fígado
ficou na venda do Herculano. O coração com Anita, a filha do patrão. Nada mais
me resta. O general pegou seus homens e foi-se embora. A promessa de voltar
ficou no esquecimento - dele. Assim como eu. Lutei e tive meu nome apagado da
história. Agora, ouço uma notícia. Querem outra vez separar esse latifúndio do
resto do país. Não, eu não lutarei por isso. Nunca! Quero minhas últimas forças
para dizer ‘Não!’. Já fui tapeado uma vez, me basta! Um monte de falador com
panca de macho roncando mais grosso que o fole da oito-baixo: ‘Sou gaúcho!’. Um
desfile de vaidades dentro de bombachas em alguma comemoração dita farroupilha
por aí. Não tenho mais lenço. Não tenho bandeira nem uma lança pra peleia. Só o
esquecimento e a ignorância dos que botam panca. O tempo passou e minha herança
é essa. Mas eu ainda tenho o sonho, sim. E ele tem nome: Reforma Agrária!
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Vestígios de uma noite qualquer
Num
só pulo saltei do sofá. Em minha volta o mundo girava e uma voz na minha cabeça
gritava. A garrafa de vinho no chão guardava no seu fundo um resto do líquido
dionisíaco. Juntei-a num gesto automático e suguei o que restava. Olhei para
meus pés sujos e sussurrei: “Será que ontem bebi tanto assim cacete?” Andei a
passos lentos e descompassados rumo ao banheiro. A bexiga estourando, a cabeça
latejando e o coração ainda pulsando: “Tudo bem, estou vivo!”. O toca-discos rodava
em chiados no finalzinho daquele álbum do Tom Waits que tanto gosto. A luz do
banheiro acesa e no espelho trincado a mensagem escrita em batom encarnado:
“Foi muito bom meu benzinho, pena não poder ficar para o almoço”. Mas quem
esteve comigo nesta noite? Eu não lembrava. Tentei recordar por alguns
instantes e nada: “maldita memória!”. Só deixou seu cheiro. Perfume barato.
Bituca de cigarro filtro escuro no chão da cozinha. Fios ruivos de cabelo na
cama além do suor adocicado de fêmea no cio. Um pouco intrigado pelo vazio na
memória, só lembrava de um bico fino de sapato vermelho apertando meu peito.
Quis esquecer. Puxei a velha máquina de escrever debaixo da cama e me despenhei
num poema improvável. Depois de alguns minutos tentando, não saiu nada que
prestasse: “Estou velho demais pra isso”. Desisti. Fui até a geladeira e saquei
uma cerveja. Bebi toda em três ou quatro goles. Depois outra e outra. Ao todo
foram umas sete. Já estava ficando bêbado de novo quando o telefone tocou.
Lentamente fui ver quem era. Tirei o telefone do gancho e uma voz que não me
era estranha, porém irreconhecível, falou: “Olá baby! Ainda está vivo?”.
Demorei alguns segundos, mas respondi: “Sim, claro, se não, não teria atendido
o telefone”. “Só estou ligando porque fiquei preocupada. Hoje pela manhã, antes
de ir embora, parecia não estar nada bem”. “É? Mas estou vivo ainda”. “A noite
foi maravilhosa meu bem!”. “Infelizmente não posso dizer o mesmo”. “Porque, não
gostou da nossa farrinha?”. “Não sei. Não lembro de muita coisa. Na verdade,
não lembro de nada”. “Nossa, foi tão ruim assim?”. “Eu estava muito bêbado”.
“É, eu lembro muito bem disso”. “Mas fala aí, quem é você e o que quer
comigo?”. “Nossa baby, poderia ser mais romântico, não é?”. Depois dessas
palavras bati o telefone na mesa e deixei a voz estranha falando sozinha no
outro lado da linha. Abri mais uma cerveja e me sentei próximo à janela da sala
que dá pra rua. Não tinha noção do horário, nem do que acontecera nas horas
anteriores, mas tinha a convicção de quem eu era, e isso me bastava por
enquanto.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Independência ou sorte!
Pátria
amada. Pátria armada. Pátria amarga. Pátria que hoje está em 6º ou 7º lugar no ranking das maiores economias mundiais,
na frente até da Inglaterra - e 88º em educação – detalhe! Pátria-Brasil, terra
fértil e propícia à corrupção e ao desleixo do Estado e do setor privado.
Herança portuguesa ou isso é só pretexto para justificar ou amenizar tamanha
vergonha? Vergonha para alguns, para outros, orgulho (me parece). Acordar cedo neste
dia de feriado nacional-patriótico e ir para o centro da cidade em marcha como
nos ‘bons tempos’ da ditadura – e quanta gente gosta da dita-dura?! – catar o
hino e se sentir um pouco patriota, mesmo não sendo ou nem acreditando nisso. Saudosismo
dos que não compreendem ou não compreenderam aquele período histórico? Ou
tentativa de fuga da realidade atual numa idealização de um passado grotesco
que arde como ferida não cicatrizada? Brasil das inúmeras cicatrizes e poucas
justiças, que não teve a reforma do judiciário e muito menos a Reforma Agrária
- por quê? Já se perguntou isso hoje? Ontem? O fará amanhã? Amanhã, talvez seja
tarde! O futuro a nós pertence! – bela idealização do amanhã que nunca chega -
e quando chegar, já não será mais o amanhã, e sim, o presente outra vez. E tudo
vira passado, história e pó (tudo o que é sólido, no caso), assim como disse um
dia um velho filósofo: “Tudo que é sólido se desmancha no ar!” – é pena que
certos costumes, crenças e pensamentos não são sólidos. Pátria armada em
desfile-marcha militar, num mundo que gasta mais em armamentos do que em saúde,
alimentação e educação. Pátria amada em suas diversidades, cores, cheiros,
sabores... Pátria amarga em alguns sabores e fatos que nos ampliam as
cicatrizes. Mas não há problema. Temos o futebol, o horário eleitoral, a rede
globo, a novela das oito, os heróis nacionais. E são muitos! Eles substituem
nossas ações pelas suas (será?). Suas imagens, seus sorrisos forjados nos
desfiles das suas riquezas justificadas. São semideuses dessa pátria. Mas nós
cantamos o hino, com toda a convicção, pelas ruas neste dia, no pátio das
escolas, pelos largos corredores do manicômio de cada um de nós ou acompanhando
exemplos da televisão. Somos todos um pouco mais brasileiros neste dia,
estrangeiros no próprio corpo e espaço que ocupamos, pois nada é nosso nem de
ninguém, tudo é passagem e impressão. Tudo é devaneio em meio a tanto comodismo
e infecção. Nossas feridas estão abertas, pulsantes, vivas, doloridas. Mas
dizemos que não, pelo menos hoje, enquanto a bandeira é hasteada e tremula sob
nossos olhares (ou na falta deles) e sobre nossas convicções. Somos
brasileiros, não desistimos nunca, nem de nossos equívocos ou falta de bom
senso. Mas vamos em frente, pelo menos, tentando perceber o passado e com os
olhos ativos no presente. Assim, quem sabe um dia, nosso hino passe a fazer
sentido para além dessa tradição...
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Mudanças (?)
* Por alguns simples motivos, resolvi (ou tive) que passar a moderar os comentários do meu blog, assim como deixar certas ‘ações’ de lado. Nisso, elenco 4 bons e reais motivos para essa 'mudança'. São eles:
1. Está difícil para ler os
comentários diariamente, já que ando cheio de trabalhos e afins, e moderando,
passo a ter certo controle dos mesmos, deixando-os acumular para lê-los juntos
e num mesmo tempo, facilitando minha vida (risos); até o final de ano tenho uma
agenda de compromissos de trabalho e produções, então vou priorizar ainda mais isso.
Só sou adepto dos ‘insultos’ criativos ou inteligentes
2. Ao contrário do que alguns
amigos pensa(va)m, minhas ‘respostas’, argumentações e ‘tiros’, nunca foram
perca de tempo, mas sim ‘provocações’ - ‘alimentos’
para certa continuidade e/ou objetivo. Cinismo? Talvez! Prefiro dizer, ‘estímulo
para o jogo’ – um jogo caótico que continua na desconstrução. Então revelo: já
coletei comentários ‘pessoalistas’, odiosos e carentes (ou miseráveis) de
fundamentação o suficiente para incluir em um dos meus ‘estudos’ ou projetos
(dentro das áreas da linguagem em filosofia e sociologia, com algo de
psicologia - relacionados a indústria da cultura e a reprodução em seus meios, assim
como a fragmentação do pensamento no contemporâneo e a falta de argumentação e
coerência em algumas ideias propagadas por esses meios) - algo referente a isso,
creio que, em breve, será publicado. Alguns, dialogicamente, já chegaram a me
dizer: ‘Mas você fala sobre tudo Herman!’. Outros, em tons de ira: ‘Você acha
que sabe de tudo seu arrogante!’. Não, eu não falo ou escrevo ou me posiciono
sobre tudo. Muito menos sei de tudo – ninguém sabe. Só falo, escrevo e me
arrisco naquilo que tenho certo transito, conhecimento, visão e leitura. Estar
bem ‘armado’, bem posicionado e optar por certa linguagem e postura, não
significa ‘saber de tudo’ ou ser ‘arrogante’. Tive, e tenho, o privilégio de,
desde cedo, ter contato e acesso a várias possibilidades, linguagens, vias,
caminhos (consideremos que pensar a partir do todo tornou-se uma raridade, e
hoje, é um ato de ousadia). Ainda bem que, pelo menos a maioria dos que vem me
falar e/ou comentar, parecem compreender isso. Enfim... Para não me prolongar
muito, daqui pra frente, só responderei ‘insultos’ criativos e/ou inteligentes
(risos).
3. A maioria dos comentários referentes aos textos publicados são feitos por rede social via mensagem e por email - outros, pessoalmente, por leitores, admiradores e/ou ‘críticos’ que casualmente encontro por aí.
4. Infelizmente, alguns
(geralmente, meia dúzia - ‘os mesmos de sempre’), ainda não se libertaram da
mediocridade secular que assola a humanidade, nem tampouco das amarras da
concepção judaico-cristã e do idealismo platônico que vive inculcado nas suas ideias
e ações, ou seja, ainda não estão preparados para um debate ou discussão salutar
ou criativa, nem tampouco, sabem usufruir de certa ‘democracia’ ou ‘liberdade’
nos meios e espaços, ocupando-os de forma mesquinha, contribuindo para a
massificação, o reducionismo, o determinismo, o idealismo, a fragmentação e a
reprodução da própria estrutura que lhes/nos engole – são os alimentos mais
digestivos dessa estrutura. Portanto, merecem certo ‘silêncio’, certa ‘ignorância’,
certo ‘desprezo’. É isso. Nisso, um fragmento de Nietzsche cai bem como complemento:
“Zaratustra é como um vento impetuoso para todas as baixezas: e aqui está
o conselho que dá a seus inimigos e a todo aquele que cospe e vomita: guardem-se
de cuspir contra o vento!”
* Mas os textos continuam, tanto
nos meios impressos como nos virtuais, vivos e pulsantes.. e em movimento.. assim
como eu...
Obrigado aos que com eles (os textos), e comigo,
dialogam!
hgs.
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