quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Luzes iluminam... Mas também ofuscam

Sejam todos bem vindos ao espetáculo! O Natal chegou! O prefeito da cidade inaugura as luzes de Natal e sai em desfile pela avenida central saudando a população em cima de um caminhão enquanto multas de transito caem na minha caixa de correio como se fossem baratas procriando, devido ao mau funcionamento de sinaleiras e outros desserviços prestados. O excesso de veículos circulando na cidade causa acidentes e um trânsito horas intransitável, principalmente para os pedestres e ciclistas que perdem seus espaços para essas caixas de lata – o transporte ‘público’ continua com seu serviço diminuto, mas sendo um grande negócio. O gás que sai das descargas dessas caixas de lata enche meu pulmão de toxinas, mas eu insisto em respirar. Buzinas e ruídos aprofundam ainda mais a minha surdez. Mas tudo bem, é Natal e todos devem ficar felizes. O comércio central brilha junto às luzes de Natal enquanto o sol torra os transeuntes que pisam sobre as poucas folhas restantes das árvores caídas que um dia traziam sombra para o centro da cidade. ‘É o desenvolvimento’, dizem eles. Mas vamos nos alegrar, afinal, é Natal! ‘Natal da família chapecoense’. Dizem! Apesar de tudo, com sinceridade, desejo boas festas e saúde aos meus também sinceros leitores. Que novas energias renovem também nossos ares. Continuamos...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 24/12.



sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Aprimorando a arte!

Grupo de Estudo e Prática de Wing Tjun Kung Fu Xapecó é novamente matéria de jornal:





Leituras do Cotidiano, 19/12

Professor e seu mundo

Ano letivo que se encerra. Crianças que se despedem. Eu que, ao mesmo tempo me alegro com o sucesso das nossas aulas recheadas de filosofia, história, sociologia, poesia, literatura, cinema, etc., me entristeço com a falta do sorriso, atenção e carinho das crianças e jovens que movem minha esperança no mundo, me motivando para continuar sendo professor. As salas de aula, corredores, pátio da escola, estão vazios. Possivelmente verei alguns dos meus alunos no próximo ano. Outros, por aí. Mas sei que, alguns, talvez, nunca mais verei. E assim acontece a vida de um professor. Você está cercado de estudantes barulhentos durante quase um ano inteiro. De repente, está solitário no silêncio do vazio. Você ajuda a constituir seres pensantes, como filhos seus, e tem tantos filhos. De repente, já nenhum. O mundo, ao mesmo tempo em que é cheio, também é vazio. O professor tem relação com o pai e a mãe que, criam seus filhos com amor e carinho e depois os libertam para o mundo. Um mundo, às vezes, complicado e violento (em seus vários níveis), mas, às vezes, maravilhoso de se estar e viver. Sem meus alunos/as, minhas aulas, confesso, me sinto um tanto perdido, mas sei que, em breve, estarei novamente cumprindo com a função a qual me integrei, a de ‘ensinar aprendendo’, pois, é nisso que consiste meu caminho neste universo da educação, da cultura, do aprendizado, do conhecimento. Enfim. Sou professor e tenho alegrias por isso, por mais tristezas que cruzem meu caminho. Esta função ainda é gratificante. Ainda é importante. Eu diria, fundamental! Eu, professor nas escolas e estudante no mundo...


Manchas na política nacional


O cara foi bem votado. Recordista, conste! Volta e meia destila sua mediocridade e estupidez pela obesa mídia nacional. O nome do dito cujo é Jair Bolsonaro. Já foi militar e é congressista. Compõe hoje, um dos piores (senão o pior) congresso da história do nosso país. Um deputado que tem no tom de seu discurso o escárnio contra as diversidades. Algo típico e comum em regimes nazifascistas. Uma besta que posa de vítima e cidadão ético. Ele tem sua moral. Uma moral sob tudo duvidosa, onde, por trás dela se esconde, possivelmente, um ser patológico, cheio de impedimentos, frustrações e fetiches pelo que é bizarro e violento. Transforma esta ‘patologia’ em ideologia e ação política, no que deveria buscar tratamento. Um dos mais votados da história. O típico político eleito pela massa de manobra de uma indústria cultural que trabalha em pró de interesses privados. Eis a cara de parte de nossa política oficial, pois ela é feita de pessoas, homens públicos, com o Sr. Bolsonaro e afins, e os interesses por trás deles. Mas, também existem aqueles que fazem jus ao seu papel de representar a sociedade, mesmo sendo a menor parcela, fazem o contraponto desta condição quase miserável que é a nossa política nacional. Enfim. Enquanto assim for, estaremos na corda bamba, nos equilibrando para não cair no abismo. Que o Sr. Bolsonaro seja execrado da política nacional e viva sua vida longe da política e dos holofotes, pois, é assim que seres como estes se alimentam e ocupam espaços que deveriam ser dignificados e não vulgarizados. Amém!













* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



Ética (?)

Uma das melhores concepções de ética que já vi veio da filósofa, psicóloga e poeta Viviane Mosé, que diz: “uma atitude ética é aquela que considera o entorno e o porvir”. Tendo em vista o ‘outro’, ética não é algo que se compre ou se negocie. Ética se constrói sendo. E são as relações humanas, sociais e/ou culturais que definem muito do que é a ética, que, assim, também pode ser coletiva. Toda a ética vem acompanhada de certa moral. Moral e ética são amantes que convivem em diálogo, e é difícil pensar em uma sem a outra. Novamente o ‘um’ e o ‘outro’, constituindo uma relação. Uma relação, sob tudo ética, e convergindo em certa moral. Mas, o que acontece muito, é o discurso submeter, ou estar além desta relação. Tomemos por exemplo um ‘homem público’, o Sr. deputado Jair Bolsonaro, campeão em votos nas últimas eleições. Polêmico por suas declarações ‘violentas’, Bolsonaro ofende, agride, menospreza, imbeciliza. É esse um cidadão ético? De moral elevada? Ou apenas um embuste espalhafatoso que representa a mediocridade moral e cultural de um país? Convicção ou demência? O que é Bolsonaro? Um ‘homem público’ que não considera o entorno nem o porvir, é o que melhor representa uma política arcaica e medíocre, como parte significativa da nossa. Mas há quem ache ele ético. Acreditem! Qual será a concepção de ética desses?


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 19/12.



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Em tempo...

Venha o tempo em mim. Me traga rasuras, estragos, vivências. O tempo soberano que cura é o tempo tirano que mata. Ele, só ele tem poder junto à vida. Venha o tempo em mim. Me traga o riso idiota do palhaço sem sonho. A amargura nobre do burguês sem riso. O semblante risonho da criança selvagem. Um naco de perversidade do velho bêbado imoral que perambula pelas ruas sem pátria nem patrão. Venha o tempo em mim. Meus cabelos brancos, minha meia potência, minhas rugas e pele murcha como a fruta deixada ao sol. O odor do que aos poucos apodrece e não perdura. O tanto de tempo que me deu vidas e que deixei para trás em copos e garrafas de venenos baratos nos bares da vida. Venha o tempo em mim. Me traga aquele eu que já fui e ficou para trás, nos tempos de infância, quando corria sujo e livre pelas ruas vazias em cenários bucólicos. Já fui do mato. Já fui da roça. Já fui gente que andou descalço no tempo das lidas. Já habitei cidades invisíveis e campos infinitos longe deste abandono civilizatório das multidões vazias. Venha! Faça do que resta dos meus sonhos um pouco de realidade. Nem que seja uma realidade breve e com pouca ou quase nenhuma variação. Está em tempo. Pois o tempo, eu sei, um dia não mais se fará. E eu, em tempo, me despedaço para um dia, quem sabe, me recriar. Em mim, tempo ainda há. 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 12/12.



Leituras do Cotidiano, 12/12


Miséria nossa de cada dia

Eita miséria! Ver/ouvir ‘celebridades’ com pouco cérebro discutindo gênero, direitos, isso ou aquilo em programeta de televisão daqueles que só vendem seu próprio peixe. Acho que sabem do que ou de quem falo, não sabem? Mas deixa pra lá, disso o mundo dos excessos está cheio e é fácil saber. Espetáculo familiar de sábado à noite e/ou domingo à tarde. Nos dias da semana, a novela forma mais do que qualquer universidade, ensina mais do que qualquer escola. E assim anda nossa cultura pop, como nossa educação, nossa mentalidade e as razões forjadas por tudo isso. Lixo industrial produzido e propagado a granel e consumido em massa para o bem estar do espetáculo nosso de cada dia. Circo para o povo! E nossa miséria cultural/intelectual só aumenta. Ainda bem que temos alternativas e possibilidades. O brasilzão é grande! Salve nordeste! Salve eu e salve você que vê e transita para além do espetáculo. Um dia, quem sabe, estaremos sãos e salvos. Mas, por enquanto, Bolsonaros e afins, persistem em seus estupros discursivos e políticos. E alguém é cúmplice. Foi eleito, não foi?! Por voto secreto e democrático, não foi? Agora aguenta o filho da puta! (perdoem-me putas, vocês não merecem tal comparação, mas entendam este incurável escriba, como sendo isso, o que foi escrito aqui, uma ‘figura de linguagem’. Sei que despindo vocês desta roupa social e ultrajante, são bem mais do que um título comum e vulgarizado pelas bocas infames deste mundo). Falando nisso, a mãe do dito cujo já deve ter se matado pelo filho que tem. Pobre senhora! Tenho pena dela. Mas enfim. Também somos parte desta festa. Não a organizamos, eu sei, e nem todos são nossos convidados, mas, estamos nela, gostemos ou não. Portanto, vamos curtir e fazer valer nossa estada, marcando o contraponto a contragosto daqueles que só sabem sugar. Eles um dia, também cairão, e o tombo não será pequeno. Podem esperar!

 *

Cai a noite. O poeta sai de sua casa com os olhos ardendo em brasa. Ficou a tarde toda aventurando um poema. O poema não saiu. O poeta irritou-se e foi para o bar. Chegando lá encontrou o poema, rindo-se, embriagado como uma puta decadente. O poeta irritou-se pela segunda vez.
- Hei! Me vê uma cerveja!
Bebeu uma, duas, três... Seis cervejas.
Bêbado, agarrou o poema e sem piedade, o estrangulou.
- Morre desgraçado!
O poeta a passos lentos foi para casa.
Ligou a tevê, abriu uma cerveja, deitou no sofá...
Sentiu-se bem.



* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Leituras do Cotidiano, 05/12


Convulsões

Este foi (está sendo) um ano duro. Enquanto o Brasil e o mundo empobrecem artisticamente e intelectualmente com a morte de grandes mestres das artes e do pensamento, como Rubem Alves, Ariano Suassuna, Manoel de Barros e agora Roberto Bolaños (Chapolin, Chaves e Chesperito), o carismático e instigante Pepe Mujica deixa a presidência do Uruguai, com muitos avanços, principalmente na área social. Mas coisas boas como a aposentadoria de Sarney na política e o anúncio de ‘pausa na carreira musical do cantor Latino’ acontecem também, para ‘equilibrar’ um pouco as baixas. O grande jornalista e literato Xico Sá sai da Folha por motivos políticos e dá belos e contundentes disparos referentes à conjuntura nacional, como: ‘Não é a primeira vez que se prende empreiteiro no Brasil. Mas é a primeira vez que o governo não intervém para soltá-los’. Enquanto parte significativa da posição dá os braços à oposição, junto a grande mídia para minar o governo recém-reeleito de Dilma que, ‘escolhe’ sob ‘livre e espontânea pressão’, alguns ministros na (in)lógica de incoerência com o discurso progressista que hoje, é comum até na mais extrema direita. E assim caminhamos não sei pra onde. E assim caminha a humanidade. Convulsões que nos chegam de todos os lados. E nós pasmamos embasbacados com tudo. Seja pela tela da televisão ou dos modernos celulares, as notícias e informações superficiais deturpam a realidade e nos tornam consumidores diários do espetáculo. ‘Circo para o povo’. E cá estamos nós, no meio desta ‘zorra total’, admirando sem saber por que todo este excesso de superficialidade. E ‘todo mundo’ hoje ‘é’ sociólogo, filósofo, historiador. Pior, ‘todo mundo’ é juiz no mundo convulsivo das redes sociais, mesmo sem ao menos a desculpa de ter estudado estas áreas do conhecimento. Estamos sofrendo de crises convulsivas em várias situações e de várias formas. ‘E agora, quem poderá nos defender?’. Ainda bem que temos mestres vivos e o legado dos mestres mortos como referências e contraponto ao espetáculo convulsivo da indústria cultural e das ideologias que a permeiam - além do Caos... 


Um ‘todo’


Pensamentos são páginas que folhamos ao lermos o livro chamado conhecimento. Nisso, é preciso conhecer para pensar sobre o objeto deste conhecimento. O conhecimento vai para além da informação. Por isso, nem tudo, ou quase nada, do que circula nos meios de comunicação, é conhecimento. Ou seja, na imensa maioria é só informação e, geralmente, descontextualizada, dado o modo de como nosso ‘jornalismo’, escolas e universidades, atuam na sociedade. Modo fragmentado dentro daquilo que ficou convencionado por ‘especialidade’. É preciso profundidade no conhecimento? Penso que sim. Porém, esta profundidade não pode se transformar em segmentação ou fragmentação. Aprofundar ou ‘especializar’ tendo em vista o ‘todo’, ou, sem perder o vínculo com o ‘todo’. E o ‘todo’ é composto de ‘diversidade’. Portanto, ‘especializar’ o ‘ser humano’, como ‘conhecedor’, a partir de boas e vibrantes referências, pois, todo o conhecimento deve vir ampliado pelas várias linguagens desenvolvidas no decorrer da experiência histórica. Ou seja, o ‘bem pensar’, vindo de um conhecimento profundo e amplo, depende de certo trânsito em várias linguagens. Trânsito mental (intelectual), sensível e físico-existencial (corporal), já que o ser humano não vive em pedaços, sendo ele, também um ‘todo’. 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó. 



Folhas vivas

Folhas vivas são aquelas que trazem impressas em si as marcas do tempo – pois o tempo é vivo - para além da notícia ou informação que repentinamente morre. Se estas tem vida curta, o conhecimento gerado por elas pode ser eterno. Nas entrelinhas das folhas que vivem estão vinculados os teores críticos juntos a informação que, por sua vez, não é dada, mas suscita pensamentos e questões: comunicação que vai além do fato. E nisso, o Folha do Bairro cumpre com seu papel que também é o de comunicar. A brevidade das notícias, informações ou textos publicados em meios de comunicação, não pode servir de desculpa para a superficialidade e mediocridade dos mesmos (e é o que, infelizmente, acontece muito por aí). Nisso, tenho sorrisos em dizer que faço parte de um jornal que não é o maior da minha cidade, mas que cumpre com seu papel que é o de informar e ‘problematizar’ a sociedade, como poucos. Um jornal com postura e que não se rende a jogatina batizada da informação ideológica. É uma honra para este escriba que vos remete semanalmente a palavra, caro leitor, publicar textos neste nobre espaço. Portanto, agradeço e parabenizo ao Laurimar, a todos os que compõem o jornal, e a vocês leitores, motivos destas minhas palavras. 11 anos não são 11 dias, são histórias vivas que inspiram outras. E que venham muitas histórias mais...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 05/12.