Cultura e política brasileiras
convertidas e doutrinadas. No Estado brasileiro dito ‘laico’,
deputados-pastores, alguns deles investigados por corrupção (leia-se Eduardo
Cunha, presidente do Congresso Nacional e principal nome na tentativa de
processo de Impeachment da presidenta Dilma, processado por não declarar seus
milhões ilícitos depositados na Suíça), promovem cultos antes das sessões da
câmara. Em Chapecó, uma imagem opulenta de Jesus no pano de fundo da câmara dos
vereadores onde discussões e aprovações ou não de projetos acontecem sob o
olhar ‘justiçador’ do Cristo. Ídolos midiáticos como jogadores de futebol,
lutadores de MMA, apresentadores de telejornais e programas de auditório,
duplas de sertanejo universitário, entre outros atletas e ‘artistas’, todos
convertidos, motivados e justificados nas suas carreiras ‘profissionais’
privadas pela religião. Ícones da nossa cultura midiática sempre que iniciam um
jogo de futebol ou uma luta de MMA, ou quando fazem um gol ou ganham alguma
luta, apontam o dedo indicador para o céu num gesto típico dos convertidos,
algo muito comum de se ver atualmente por aí. O ‘drama’ (ou ‘trama’) da
separação Joelma e Chimbinha (banda Calipso), caso regado de acusações,
espetáculos e violências. Antes desta ‘novela’, reportagens sobre a vida
idealizada, cercada de riquezas e uma forjada ‘simplicidade’ e cumplicidade
amorosa entre o casal que, declaravam-se em bom e alto tom serem evangélicos. Até
suas intimidades com o pastor da sua igreja e sua família protagonizaram cenas
deste espetáculo regado a discursos emotivos midiáticos e fé, muita fé (ou uma
encenação religiosa dela). Todos justificam seus ganhos ou sucessos pessoais
atribuindo estes à deus. “Não tomarás o nome do senhor teu Deus em vão; porque
o senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.” (Êxodo 20:7). É
o que diz o texto bíblico. Não que eu ache que tudo o que vem da religião seja
ruim, não é isso (ou pelo menos, simplesmente assim), mas a questão é que, esta
‘evangelicalização’ da cultura e política brasileiras acaba submetendo a
própria cultura e política ao discurso e aos trâmites da religião, em que, seus
preceitos antigos (historicamente, em grande parte, desatualizados ou arcaicos)
e subjetivos, usados de forma ideológica por muitos ‘líderes religiosos’ e
políticos, servem à interesses privados. Isso não é um ‘achismo’ meu, mas uma
constatação (leia-se o que acontece no nosso Congresso Nacional hoje com a dita
bancada cristã votando em massa conforme seus interesses religiosos
particulares). Esta ‘evangelicalização’ acaba criando uma cultura atrelada à
determinada ‘crença’ (discurso), onde o limite é, justamente, o que é
permitido, abençoado ou não pela religião, melhor, pelos interesses dos seus
líderes. E neste caso, é a religião quem se converte em política ideológica.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó