sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O punho & a palavra (um texto de reação)

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Escrever nunca é o suficiente. É preciso mover-se. Além do pensamento, dos braços e mãos, mover-se de corpo inteiro. Projetar-se no espaço e no tempo. Para que aja vida, é preciso estar em movimento. Nisso, os membros do corpo funcionam como instrumentos. O punho é um dos que mais utilizo. Não, não falo em masturbação. Nem, nesse momento, do ‘punho do sol’ do kung-fu. Mas do punho que sustenta uma caneta ou que se move acima de algum teclado. Escrevo como quem toca piano, compondo sempre uma nova música ou arriscando-me em melodias improváveis - mas não impossíveis. Letras, palavras, frases, parágrafos: o texto! Um texto que sai como um golpe da arte marcial milenar que pratico. Às vezes certeiro, às vezes sem alvo ou foco algum. Mas sempre um golpe. A palavra é navalha que corta e fere. Mas, às vezes também acaricia, como a mão de uma mãe no afago do filho que chora. A linguagem pede violência. A linguagem pede afago. A linguagem acontece por que a comunicação acontece, de uma forma ou de outra. Ao mesmo tempo em que ela aprisiona, também liberta. Falo da linguagem além da escrita. O corpo também se comunica. Também é instrumento de tal e qual linguagem. A linguagem tem voz própria naquilo que é. Ou seja, fala conforme o abrigo da sua voz no querer ser: oralmente, esteticamente, fisicamente, mentalmente, silenciosamente, gritantemente... Escrever nunca é o suficiente. É preciso mover-se. Mover-se para além da linguagem escrita. Assim como toda teoria pede uma prática, toda prática busca a sua teoria, ou pelo menos alguma que a fundamente. Discursos em forma de pretextos que justificam ignorâncias e uma linguagem que agoniza por estar presa dentro de um raso frasco de conhecimento. É esse senhores, o mundo das palavras sem trato. O mundo das linguagens que aprisionam e são aprisionadas. O mundo sem punho, sem golpe, sem afago - sem pulso, sem vida. A mera existência do frasco raso e vazio. E a mente é um frasco. Cheio ou vazio, um frasco. É preciso ler. Ler para além das linhas de qualquer texto. Ler o mundo. Ler a partir de certas referências, certos conhecimentos, certas linguagens. Ler com pulso e golpe. Ler com violência e calmaria. Ler com olhos, bocas e dentes. Ler com o corpo inteiro. Pois a palavra é navalha que corta e fere. Mas, às vezes também acaricia, como a mão do amante que suavemente toca o rosto do seu amor proibido. É preciso ir além do permitido com as palavras, para que essas, além do punho do lutador, tenham o pulso cardíaco de um corpo vivo que reage em meio a tanta prisão...

domingo, 26 de agosto de 2012

Entrevista sobre a condição cultural de Chapecó pré-eleição


*  Fui procurado pela jornalista Flávia Werlang  para uma entrevista ao DI (jornal Diário do Iguaçu), para falar como, além de morador de Chapecó, pesquisador na área musical e artística, agente cultural e professor de filosofia, sociologia e história. A entrevista saiu resumida no caderno especial “Chapecó 95 anos” do DI, e eu a publico aqui na integra:
 
 
F.W.: Como você vê a situação da cultura na nossa cidade hoje?
 
H.G.S.: Depende em que aspecto. Vou me conter ao aspecto da produção e incentivo público, já que falamos da cidade. Chapecó tem uma razoável, senão boa, produção cultural. Grupos de teatro, musicais, bandas de rock, escritores, produtores áudio-visuais, grupos de artes marciais, capoeira, etc. Porém, não há um debate interessante entre essas ‘formas’ de produção, nem tampouco internamente, entre os próprios afins. Um ego inflamado, ou a falta de concepções profundas e interessantes de muitos dos próprios produtores culturais e artísticos, impede qualquer ‘avanço’ das artes, para uma situação mais significativa. E em relação ao poder público, não há investimentos significativos nas áreas, nem tampouco, incentivos. Existe um uso político-ideológico das produções e/ou produtores. Um uso que, diga-se de passagem, muitos aceitam acomodados, ou por não perceberem ou pela própria mediocridade que infesta o pensamento e algumas práticas. O poder público, de sua parte, pouco movimenta-se para mudar essa situação. Talvez seja cômodo ou confortável que assim seja, não?
 
 
F.W.: Você acha que o Plano de Cultura da nossa cidade é democrático?
 
H.G.S.: Plano de cultura? Existe isso aqui? Não vejo ‘democracia’ nas escolhas nem decisões. Apenas interesses e/ou um tipo de ‘pão e circo’ ofertado ao público, no sentido de que, se contemple tudo e nada, ou seja, faltam critérios, a partir de discussões, debates, construções e até desconstruções de algumas ‘verdades’, conceitos, modos de se conceber a arte e a cultura e de praticá-las. Pouca consciência, eu diria, por parte de alguns produtores, parte do público e, inclusive, do poder público. Ou interesse mesmo, de ambos. As decisões deveriam partir de discussões com os ‘agentes culturais’ e artistas. Do embate é que saem possibilidades. Mas me parece que muitos optam pela comodidade, como se tudo fosse determinado ao ainda ato de seu surgimento, infelizmente. Porém, o poder público deveria ter mais iniciativas neste sentido, de provocar e promover o debate e o aprimoramento das concepções e das produções artísticas e culturais na cidade.
 
 
F.W.: Voc ê acha que todas as pessoas têm acesso à cultura na nossa
sociedade?
 
H.G.S.: Depende da cultura. Da televisiva, midiática, espetacular (leia-se Deboard e “A sociedade do Espetáculo”), dada pela indústria da cultura, sim. Mas da cultura saída dos produtores, da produção artística local, muito pouco. Não há incentivo pra isso, nem apoio, nem investimento suficiente para que as produções cheguem até a grande parcela da população, nem vindos do poder público, nem do setor privado.
 
 
F.W.: Perguntei à Roselaine Vinhas como é o trabalho nas comunidades e ela me disse que "Hoje já se faz um trabalho nos bairros com cerca de 15 pontos e que este acesso tem que ser ampliado e ser edificado todo um trabalho, não só construção de espaços equipados, mas também de levar mais linguagens aos bairros. E o trabalho de consciência, de preservação de patrimônio também tem que chegar aos bairros". Como você vê esta analise?
 
H.G.S.: Olha, se existe um trabalho consistente, ou eu sou um pouco míope devido a idade não tão avançada que tenho, ou alguém não está conseguindo ser muito sincero aqui. Conheço um pouco (ou muito) da realidade cultural e artística de Chapecó, por produzir algo em arte ou em algumas linguagens e manifestações artísticas, ser ‘agente cultural’ desde muito jovem, pesquisador e/ou estudante no assunto. Portanto, penso que o discurso supera em muito as ações e programas culturais em torno do centro da cidade. A própria Vinhas disse que o “trabalho tem que chegar aos bairros”... então “tem”, ainda não chegou... não preciso discorrer muito.
 
 
F.W.: Roselaine acredita que a cultura tem a ver com a "formação de platéia", ou seja "que a nossa agenda tem que estar constantemente educando, preparando, formando esta platéia. Formar platéia é dar o acesso e ensinar como se usufrui de toda fluição artística e cultural". Você também acredita nisso?
 
H.G.S.: Sim. Quer dizer, mais ou menos. É coerente essa colocação da Vinhas, e ela sabe, assim como tantos outros, disso. Devo concordar. Porém, essa “formação de platéia” precisa ter incentivo e investimento público. Falamos aqui de uma política pública para a cultura, que abranja produtores e admiradores dessas “artes” e amplie as possibilidades. Então, por parte do poder público, como seria esse “dar o acesso”? Minha primeira resposta relaciona-se com essa questão...
 
F.W.: O que você acha que falta ser explorado no nosso município? 
 
H.G.S.: Sinceramente?! Muita coisa. Principalmente o incentivo, apoio e espaços para a participação popular. Ou seja, estamos falando de poder público, e um poder público ‘descente’ ou coerente com o seu motivo de ser, é aquele que abre, propicia possibilidades de discussão e produção locais, valorizando o ser humano enquanto agente da história e da própria cultura, além da economia da cidade. Explorar o potencial artístico cultural também é uma falta por aqui. Cabe ao poder público proporcionar estudos, aprofundamentos e debates sobre e em torno do tema ‘cultura’ e das produções locais.
 
 
F.W.: Quais as nossas demandas reprimidas e fragilidades e por que?
 
H.G.S.: Vejo um parcial abandono dos bairros, da periferia da cidade. O aumento da criminalidade em Chapecó envolvendo menores de idade tem tudo haver com as condições culturais e econômicas da cidade. Uma cidade que cresce em altos prédios, carros importados, comércio lucrativo e forte, ‘mão de obra barata’ (explorada) e em muitos casos especializada, não tem um crescimento cultural a altura. Isso só pode dar num lugar: um futuro frio e mecânico, onde tudo funciona como uma fábrica. É preciso mudar esse rumo, caso contrário...
 
 
F.W.:  Quais as nossas potencialidades e os Projetos Inovadores que a cidade pode desenvolver na área da cultura?
 
H.G.S.: Vejo que existem possibilidades em várias áreas. Desde artesanato, artes cênicas, música, literatura, artes marciais, produção áudio-visual, etc. Um Plano Municipal de Cultura que funcione coerentemente, com calendário anual (semanal e/ou mensal), com a participação dos produtores, agentes, artistas, um projeto abrangente e ‘democrático’ com fundos, bem conceituado, e com a participação dos agentes nas decisões, uma lei de incentivo a produção cultural local, um diálogo com investidores na área (empresários e afins), além de certo conhecimento e consciência dos agentes culturais... Tudo isso é fundamental para a ‘saúde cultural’ de qualquer cidade.
 
 
Obs.: No jornal, eu saí caracterizado como filósofo e músico, pois alguns assim me consideram – portanto, não tenho ‘culpa’ - e antes que alguém resolva fazer tempestade em copo d’água por isso, já informo.
 
 
 

sábado, 25 de agosto de 2012

Educação privada de Santa Catarina entre as melhores do país...


 
E o professor?

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A informação rodou pela televisão, internet e está na capa do Diário Catarinense do dia 17/08/2012: “Educação privada do Estado é a 2ª do Brasil: Santa Catarina supera índice nacional estipulado pelo MEC para os ensinos fundamental e médio”. Folhando o jornal, encontramos: “Escolas particulares atingiram objetivos e mantêm médias que colocam Santa Catarina na segunda colocação em todo o país”, ficando atrás apenas de Minas Gerais. ‘Mérito’ de quem? Do Estado? Das Escolas? Dos pais? Dos alunos? Ou dos professores? Eu diria que é uma soma de tudo isso. Porém, certamente, quem faz a diferença são os agentes diretos e principais nessa relação, ou seja, o empenho e ‘qualidade’ dos professores. Isso, de certo modo, comprova que o profissional da educação cumpre com seu papel. Porém, a valorização do professor é inferior a essa realidade. Mas por quê? Alguns políticos, como o nosso governador, por exemplo, já chegaram a dizer que ‘o professor deve trabalhar só por amor’. Detalhe: vivemos numa sociedade de estrutura capitalista, ou seja, onde é necessário dinheiro para certa dignidade pelo menos existencial. A mais recente revista “Conteúdo”, editada pela CONTEE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino), também traz como matéria de capa a aprovação pela Câmara dos Deputados de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a educação. Vitória dos movimentos sociais, como os sindicatos e outras organizações combativas que lutam pela melhoria da educação no nosso país. O Brasil cresceu significativamente nos últimos anos, ocupando hoje o 6º lugar no ranking de desenvolvimento econômico mundial, estando à frente da Inglaterra nesse quadro. Portanto, não há mais pretextos para o baixo investimento em educação e cultura em nosso país, nem tampouco uma justificativa para os baixos salários dos professores. Em Santa Catarina, especificamente na região Oeste do Estado, os professores não dispõem nem de hora atividade, ou seja, não existe um tempo hábil remunerado para o profissional poder preparar seus trabalhos e suas aulas, uma vergonha, considerando a categoria que, segundo essa nova realidade na educação catarinense, é responsável por esse ‘sucesso’. É momento de avançar, dar o respeito e devida consideração ao professor que, se comprova, faz bem feito seu papel. Agora, é preciso que o Estado brasileiro e catarinense e o setor privado da educação, cumpram com o seu papel frente à realidade que se desenha. Mas alguns ‘inimigos’ da educação persistem em suas investidas. Além de alguns políticos, meios de comunicação de massa, uma parcela do setor privado, assim como sindicatos patronais, insistem em não querer aceitar que a nova realidade se dá pela atuação do mestre em sala de aula, fazendo vistas grossas as dificuldades que o professor encontra dentro e fora de seu ambiente de trabalho. Falta de respeito e consideração para com este que é o principal responsável por tal melhoria.

 Se a educação privada no Estado de Santa Catarina é a 2ª melhor do Brasil e o setor privado na educação cresceu como nunca nos últimos anos, porque a condição do professor não acompanha essa realidade? Uma pergunta às escolas, aos políticos, ao Estado, aos pais e colegas professores...


Herman G. Silvani

(Professor e assessor do SINPROESTE – Sindicato dos Professores do Oeste de Santa Catarina)
 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Chapecó 95 anos & a Política local...


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Chapecó já foi Xapecó um dia. E mesmo antes de ser Xapecó, ou qualquer outro título que levasse, foi “terra mãe”. Aqui existiam (e ainda existem), grupos étnicos sociais, as também chamadas tribos indígenas. Depois apareceram os caboclos – e com muito orgulho, tenho descendência dessa etnia ou cultura. Meu avô materno é caboclo. E o que define o caboclo, assim como outra etnia ou grupo cultural é, além da linguagem, alguns conhecimentos, práticas, crenças, modos. Depois vieram, com a colonização, os imigrantes e assim por diante. Acontece que nem tudo é diversidade nessa história. No aniversário de 95 anos de Chapecó, ainda vemos grupos culturais e étnicos vivendo a margem da sociedade, sendo motivos de discriminação e de pretextos das disputas por terras aqui na nossa região, além de certa legitimidade da xenofobia e eugenia por parte do pré-conceito e interesses de grupos mais ligados ao acúmulo de capital (a dita ‘elite’ local), enquanto altos prédios se constroem no meio de toda essa jogatina imobiliária que por aqui virou prática comum. Além do Shopping, das ruas largas, desfiles de carrões, enriquecimento empresarial, entre outros, temos o aumento significativo da violência juvenil e o ínfimo investimento público na parte humana e cultural. Além do aniversário do município, temos um ano eleitoral, onde muitos candidatos discursam acima das suas ideologias e/ou convicções político-partidárias – ou na falta delas. Muitos desses com a concepção entranhada de que o político, o homem público, o é, devido a uma ‘superioridade’ que existe, como sendo uma casta, naturalizando para a parte mais desavisada da população essa ‘máxima’. Existe aí uma relação entre o discurso, o interesse e certo idealismo platônico, que afirma a existência de um ‘além’, um lugar privilegiado onde reside a ‘idéia’, o pensamento, o conhecimento, e que alguns seres ‘iluminados’, iconizados ou divinizados, o ocupam. Muitos desses seres (políticos neste caso – ou pretendentes a tal) discursam acima das ‘bem feitorias’ e melhorias sociais que, segundo eles, são os  próprios que promovem. Mas não, política não é ‘emprego’ e o político não é - ou não deveria ser profissão. Política se funde muito com a filosofia, e é uma ‘ciência’ que cabe, não só aos ditos ‘profissionais’ da área, mas a todos nós que pensamos e agimos dentro de certo espaço sócio-cultural. E a cidade cresce devido ao crescimento da economia nacional, e não é mérito de um ou de outro, mas sim, do lugar e do contexto nacional-mundial e historio, propício a esse ‘crescimento’. Mas o crescimento também não se dá em todos os níveis. Se Chapecó cresce materialmente, não se pode dizer o mesmo da cultura. Infelizmente! É preciso olhar para o lado e perceber que o fator cultural de nossa cidade não acompanha esse ‘crescimento’. Dentro dessa perspectiva, o que nossos candidatos têm a nos dizer? Prestemos atenção nisso, pois além do que é mera ‘obrigação’, estão as ‘virtudes’ dessa função – a de ser político. 
 
Herman G. Silvani
 
 
* Jornal Folha do Bairro - 24/08/2012
 
 
 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Transporte público? - & a volta da Greve...

















Terça-feira, 14/08, Xapecó amanhece de Greve. Não toda a cidade (que pena! – ‘piada’). Desta vez (e novamente), a Greve do Transporte Público. Acontece que o transporte dito ‘público’ em Xapecó, não é tão público assim. Desde que me conheço por gente, as mesmas empresas de ônibus, os mesmos problemas, os mesmos tratamentos, os mesmos pretextos. Por mais que uma parte ínfima da população torça o nariz pra isso, essa Greve tem seus motivos de ser – e que vão muito além da questão política. Lembremos que estamos em período de corrida eleitoral. Alguns podem (vão, e já fazem) usar isso em discurso dizendo que a Greve dos trabalhadores tem motivos eleitoreiros, o que é comum, principalmente nesta época. A demagogia nunca se cansa. A mobilização do trabalhador (leia-se Greve), ao contrário do que diz o discurso ideológico e carregado de interesses dos meios de comunicação de massa, não traz ‘prejuízo’ aos trabalhadores usuários dos meios de transporte - pode trazer transtornos, o que é diferente. Prejuízo pode trazer ao comércio do centro da cidade, as empresas, ao capital e ao lucro dos empresários, pois diminui o fluxo de consumidores no centro que ‘dependem’ do transporte – fato! Mas isso, a maioria dos meios de comunicação de massa não trazem à tona, pois não há interesse. Adivinhem por que! A princípio, transporte que é público de fato, e não só no discurso, deve ser oferecido com valores acessíveis a TODA a população, o serviço deve ser qualificado e disponível, com uma boa estrutura de embarque e desembarque, horários coerentes, circulação segura e opção ao usuário - questão de respeito e mobilidade urbana. Mas, para que tudo isso seja possível, antes deve haver uma licitação descente, e não como esta que tentou se ‘impor’, pois da forma como foi feita, só posso dizer: ‘Uma piada!’ – sem graça, mas... Digo isso, pois tive acesso a tal ‘piada’. E antes que alguns pensem ou falem que estou tendenciando politicamente aqui, não é de hoje que minha crítica recai acima do transporte público xapecoense. Além disso tudo, a Greve se justifica, pois, os principais prejudicados nesse ‘processo’ todo, são os próprios trabalhadores do transporte. Pelo serviço que fazem, e da forma que o fazem, ganham muito pouco. É uma questão de dignidade e respeito profissional, mais ainda, humano. Está mais do que na hora do poder público municipal abrir possibilidades para que o transporte seja realmente público, com a cara da decência que o usuário e o trabalhador merecem.  Exijamos TRANSPARÊNCIA nas decisões quanto ao que ‘é nosso’, pois, além de morarmos aqui, pagamos através de impostos esses serviços que, devem nos servir e não nos ludibriar.

Herman G. Silvani


* Jornal Folha do Bairro - 17/08



Enquanto a mediocridade e a corrupção assolam Xapecó, vou com o velho Buk...
















“Poema para meu quadragésimo terceiro aniversário”

acabar solitário
na sepultura dum quarto
sem cigarro
ou vinho
apenas uma
lâmpada
e uma pança
cinza e peluda
e
feliz
por estar numa espelunca.
… pela manhã
eles estão lá fora
ganhando grana:
juízes, carpinteiros
encanadores, doutores
jornalistas, policiais,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
taxistas…
e você
se vira para o lado
para que o sol que vai de encontro
aos seus olhos
seja desviado
para que você sinta a luz solar
nas suas costas repousar.

Henry Charles Bukowski

 

 



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A disputa


















Violência, espetáculo, arte e superação nos esportes, jogos e afins...

As Olimpíadas foram criadas na Grécia antiga, assim como o conceito de filosofia, e ambas as criações perduram até os dias de hoje. Muitas vezes eu problematizo a disputa ou a competição em alguns de meus textos, o que muitas vezes não é compreendido por alguns leitores. A questão das minhas análises no caso da disputa, não é a disputa em si, a prática, o esporte, o jogo em si, mas sim, o que há em torno disso, no caso, a forma com que isso é tratado e concebido pela ideologia que atua através dos aparelhos midiáticos, ou seja, o ‘espetáculo’ (também não como entretenimento, mas como formador de opinião e reprodutor de concepções e ‘verdades’). Há sim interesses de grupos de poder nessa massificação e reprodução de valores e ‘verdades’. As Olimpíadas estão aí, ocupando certos espaços na grande mídia, dissimulando valores, como os conceitos de ‘belo’, de superioridade e inferioridade. Não raras vezes, a disputa é alimentada por certa xenofobia e ufanismo pelos meios de comunicação de massa, engordando pré-conceitos e criando ícones que irão servir de referência para a legitimação de supostas ‘verdades’. Isso atua como determinismo e reducionismo das práticas e valores humanos. Eis o grande ‘X’ da questão. Diferente, por exemplo, como é feito o ‘esporte’ em algumas culturas indígenas, onde o espírito competitivo, de combate, tem fundamento na alegria, diversão e busca de superação de certos limites. Assim também pode ser, e é, em alguns aspectos dos esportes ‘oficializados’ em jogos, como os olímpicos, neste caso: “O prazer de disputar como potencial humano de superação de si mesmo e interação com o meio”. É costume separar o homem da natureza, mas para o filósofo alemão F. W. Nietzsche, essa separação não existe. A natureza também é violenta, e no homem, essa ‘violência’ então, também se manifesta. Aí vem a disputa enquanto equilíbrio do excesso dessa ‘violência’, dada pelos gregos antigos através de jogos. A manifestação da violência em forma de disputa, nos jogos, lutas, esportes, debates de idéias e na arte, como um tipo de ‘representação’, tornando o conflito e a discórdia ‘belos’, um potencial de superação humanas possível de ser vivido - uma espécie de ‘regulagem’ da natureza violenta do homem, e não só dele, mas sim, da própria natureza que se manifesta. O mundo, assim, vive em guerra, mas uma guerra pela superação, pela continuidade e melhoria de certa realidade. A própria filosofia, segundo Nietzsche, nasceu como uma espécie de combate, onde as idéias se confrontavam entre si e com o meio. Um bom exemplo dessa ‘guerra’, desse confronto ou combate, é a disputa de palavras entre os repentistas, onde quem ganha é a criatividade e a arte. Mas quando a disputa não é sincera e não carrega em si certa ‘ética’, aí deixa de ser uma disputa enquanto potencial humano, passando a reduzir-se a mera discórdia (ponto para a mediocridade). Competir com os próprios limites é uma forma de experiência humana. Segundo a filósofa brasileira Viviane Mosé, a boa luta é aquela que aumenta a nossa potência e nos faz adquirir outras capacidades. Nas palavras de Mosé: “Se a face violenta de nossa humanidade não pode ser negada, então porque o homem não limita e ordena essa violência por meio de uma disputa bela, ética e artística?”. Eis a diferença entre uma coisa e outra.

Herman G. Silvani



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Nas redes sociais, todos são agentes...
















Como todos já sabem (ou deveriam saber – pelo menos os que se ocupam desse meio), o facebook se tornou um ‘instrumento’ de propagação de informações, idéias e debates, além daquilo que é ‘individual’, é claro. Mas acontece que algumas criaturas tratam este ‘meio de comunicação’ como se fosse uma propriedade privada (e é, mas não dos que dele se utilizam, senão já não seria privada, e sim pública), ou como um latifúndio da informação-comunicação, só seus, e estes, como sendo os proprietários ou fazendeiros. Mas o facebook tem um único (ou poucos donos reunidos em torno das suas ações e interesses privados). Dá pra se dizer que ele é uma empresa ou serviço privado que serve ao público no compartilhamento de informações. Até a troca e difusão de certos conhecimentos (através de idéias e troca de informações culturais), são possíveis nesse meio. E não é só um ou dois indivíduos que pensam que, pelo simples fato de terem um perfil na rede social em questão, são donos do espaço. Talvez não tenham ainda se dado conta que abaixo das postagens estão as palavrinhas ‘funcionais’ desse meio: ‘curtir, comentar, compartilhar’. E se elas estão ali, não é por enfeite, é? Então! Certa feita, por exemplo, postei algo em um Grupo, desses de ‘discussões’, e minha postagem foi excluída sob alegação de que ali não era o lugar. Então, se fosse só isso, se compreenderia, mas não, existiam outras postagens no mesmo sentido. E daí, como fica? Então, o problema não era a ‘fuga de assunto’ da minha postagem, mas sim, o conteúdo dela. Fato! Chegamos aí numa questão de uso dos meios. Sempre defendo a idéia de que ‘você usa os meios ou os meios te usam’, então, sou dos que usam, e não raras vezes, fui (e ainda sou) alvo de ‘críticas’ por essa ‘prática’. Parto do ponto de que esse meio, se não servir para a propagação de idéias e questões de certa relevância sócio-cultural, só serve para a auto-contemplação e narcisismo, além da reprodução de moralismos e mediocridades. Além das discussões e troca cultural e de informações que o facebook proporciona, também serve para questionamentos. Mas a falta de senso crítico de alguns e a importância às mesquinharias, assim como a reprodução de mediocridades, contamina o meio. Pior é ver algumas criaturas que se portam como ‘inteligentes’ caírem nessas práticas reducionistas, mais preocupados com suas próprias dores (dores essas que os cegam fazendo com que não assumam suas faltas), do que com o ‘monstro’ que os engole. Pra esse povo, fica o recado: ‘revejam seus focos ou assumam de vez seus lados no jogo’, pois, de uma forma ou de outra, TODOS estão integrando algo...