sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Leituras do Cotidiano

Onde chega a incoerência, a imoralidade e falta de ética na política nacional?

Oposição (PSDB, DEM, PP, assim como membros do PMDB e PSD, que em tese são aliados na base do governo) quer o impeachment da presidenta Dilma por ainda não terem aceitado a derrota nas urnas, além da elite econômica da qual são representantes que sempre foi contra os programas sociais do governo atual. Um ato típico, medíocre e covarde de 'vingança', na estratégia mesquinha do 'quando pior melhor'. Um atentado contra a democracia.

Em entrevista na TV o presidente do PSDB nem disfarçou e, descaradamente disse que 'se o presidente do congresso Eduardo Cunha levasse adiante o pedido de impeachment da presidenta, seu partido votaria contra sua cassação, no processo de acusação de dinheiro ilícito de Cunha na Suíça, caso contrário, votaria a favor'. Ou seja, uma proposta 'indecente' dita em bom e alto tom publicamente. Falta de ética e moral, falta de vergonha na cara destes 'ilustres engravatados'. Enquanto isso, parte do PMDB, também descaradamente propôs que o PT aliviasse o lado de Cunha, em troca, também aliviariam no caso do processo de impeachment de Dilma.

E como pode Cunha, sofrendo um processo de cassação ter tal 'poder'? Cadê a coerência nisso?

Urgentemente é necessária certa 'moralização' e coerência na política institucional oficial brasileira, talvez algumas boas aulas de ética. Caso contrário, continuaremos reféns desta jogatina pelo poder a qualquer custo.

A carta

A carta de Temer para Dilma (lida em alto tom e muitas aspas no jornal da Globo), entrega que o pedido de Impeachment é mesmo um golpe. Me desculpem, mas agora só não vê quem sofre de 'miopia' ou não quer ver...

Crime organizado contra a democracia

Cunha, Aécio, Temer e Paulinho da 'fraqueza sindical': união do 'crime organizado' contra o Estado Democrático de Direito. E o golpe sendo dado...

Cunha-ram o golpe...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.





sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Leituras do Cotidiano

Professor explorado: educação mal tratada e medíocre

Enquanto governos, polícia e Estado reprimem violentamente estudantes e professores dentro das escolas (leia-se São Paulo) e nas ruas (leia-se Paraná), não valorizando devidamente o trabalho dos professores, parte significativa do setor privado (escolas particulares) representadas pelo SINEPE (seu sindicato em SC) exploram o trabalho do professor. Como?

Passar horas corrigindo e elaborando avaliações, recuperações, exames, etc., em casa, madrugada à dentro ou em finais de semana, e o SINEPE, nas negociações entre sindicatos, faz pouco caso, ignorando esta exploração, não querendo nem ouvir falar em 'hora-atividade' (tempo pago ao professor para bem avaliar e produzir materiais que servirão ao aluno e à escola).

Este é modo com que se faz uma educação de qualidade? Educação que vá além do mercado e das burocracias, além da disputa besta que ainda são os vestibulares, concursos e afins? Essa é a educação que querem os pais, as escolas, os professores, os alunos? Alguém já perguntou a estes últimos se é isso mesmo e desta forma que deve ser?

Por isso e por outras é que o país, a educação e a cultura (de uma forma geral) estão como estão, são o que são. O que mais existem são pretextos, justificativas, desculpas. Agora ‘a culpa é da crise'. E antes, era de quem?

De uma forma geral, o número de estudantes matriculados na rede particular de ensino aumentou, assim como aumentaram o número de escolas, cursos e faculdades neste terreno, e - assim como aumentam as mensalidades pagas pelos alunos/pais. Mas, e o salário do professor? A hora-atividade? A dignidade dos principais agentes da educação (os professores) porque não acompanham estes 'aumentos'? Eim SINEPE?!

O que ainda salva um tanto da educação, da dignidade que ainda resta nela, são justamente, alguns mestres ou professores (trabalhadores da educação), além de alguns projetos, os que não são valorizados e, portanto, dignificados na sua missão (que vai muito além da profissão). Enfim.

Enquanto assim for ou continuar, teremos isso, o que todos estão vendo e muitos fingem não ver e desconversam: Uma educação (que compõem a cultura) capenga, mesquinha e/ou medíocre de uma maneira geral, e uma cultura e realidade violentas, corruptas, estúpidas ou débeis, nas suas formas de pensar, agir ou ser...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Leituras do Cotidiano

Dos discursos e contradições

A 'esquerda' latino-americana perde um importante espaço político com a derrota de uma aliada ‘centro-esquerda’ na presidência da república. Enquanto isso, na espetaculosa medíocre mídia brasileira, comemoração em tom cínico. O novo presidente argentino em discurso eleitoral disse que vai governar 'sem ideologia', mas na sua primeira fala pós-eleição também disse que vai pedir a retirada da Venezuela do MERCOSUL. Grande ‘coerência’, não?! O sonho da esquerda em unificar a América Latina como soberana frente aos interesses imperialistas capitaneados pelos EUA, vai desfalecendo, enquanto o ‘velho’ neoliberalismo que assombrou os anos’90 vai sorrindo novamente.

Um erro da teoria economicista?

A melhoria da condição econômica da população brasileira e, consequentemente, o aumento do consumo, não acompanhados na mesma proporção de um aprofundamento cultural e educacional, gerou um aumento significativo da intolerância, da violência (física e simbólica), assim como da manifestação da ignorância em muitos níveis sociais e políticos. Isso comprova que, não é só a ‘economia’ quem determina o meio e a cultura, como proferem alguns interpretes do marxismo e seu aspecto ‘economicista’. Erro teórico? (se é que isso existe, pois toda teoria quando apontada para o futuro como um caminho de tempo linear-progressista que promove uma crença idealista de progresso, é apenas uma perspectiva, uma projeção, uma crença, e não uma verdade ou realidade), ou erro de interpretação? Em todo caso, além de teorias, leituras e interpretações, é necessário perceber as transformações históricas e suas contradições, para além da crença e da perspectiva ou intenção. Toda teoria não deve ser concebida como um receituário, bula ou religião, mas apenas como possibilidade. Os avanços sociais que o Brasil teve nestes últimos anos com os governos Lula e Dilma vão balançando com isso – por isso.

Novo romance místico?

Eduardo Cunha alivia sua investida no processo de impeachment da presidenta Dilma. Em troca, do outro lado, parte significativa do PT alivia o processo de cassação de Cunha. É o jogo amigos! Um jogo, sob tudo, obediente a uma estrutura de poder que, historicamente, tem como forma as negociações, as trocas de interesses e de benefícios. Tudo em pró de um poder que quase não se sustenta, onde a realidade se torna uma ironia do destino, jogada, como dizem, a toda sorte, como bem fabulam certos discursos místicos. Enquanto isso, a realidade nua e crua de alguns muitos brasileiros continua sendo um carma.


‘O bolsonarismo é o despertar do neonazismo a brasileira’.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Leituras do Cotidiano

Da lama ao pó

"Céu e terra não têm atributos e não estabelecem diferenças: tratam as miríades de criaturas como cachorros de palha." (Lao-Tsé)

Anos e anos de exploração. Exploração do trabalho, humana e da natureza. A velha crença monoteísta judaico-cristã e liberal-capitalista que diz que ‘deus fez a natureza para ela servir ao homem’, e que ‘a natureza é uma fonte de recursos inesgotáveis’. Para o taoismo, homem e bicho ou qualquer outra forma de vida, tem o mesmo valor (nações indígenas brasileiras também tem esta relação com a natureza). Todos são parte de um só. ‘Mas aqui não é a China, Herman!’ – alguém me diz. ‘Sim, eu sei. Mas aqui também não é a França’. Nisso, também temos nossas próprias tragédias e sofremos com terrorismos variados. Um deles encobriu parte das Minhas Gerais a poucos dias, matando bichos, gente, plantas e o rio. Não, não foi um ‘acidente’ como noticiaram alguns meios de comunicação. Foi um ato terrorista. Ato que não foi feito pelo tal Estado islâmico, mas sim pelo Estado brasileiro e seu desleixo, aliado ao setor privado da economia. Ato acumulativo. Ato terrorista-histórico. Sugaram o que puderam dos minérios da região. Extraíram riquezas do solo com a mão de obra pobre, barata, explorada até o talo. Europeus enriqueceram com esta colonização de exploração, com nossos ouros, diamantes e exploração do trabalho. ‘Levaram o outro e deixaram a lama’, disse um morador de Mariana. A Vale do Rio Doce (agora só ‘Vale’) matando a vida no Vale do Rio Doce. Que ironia! Da lama política institucional oficial ao pó do bom senso, da razão e da sensibilidade – tudo sujo, contaminado, poluído e soprado a toda sorte. Um pó que, quando soprado, forma uma nuvem que atrapalha a visão... Para continuar com nossa miopia sociocultural.

"Que o homem é a mais nobre das criaturas pode ser inferido do fato de que nenhuma outra jamais contestou essa pretensão." (G. C. Lichtenberg)


Entre o sangue e o sagrado

A França sangra. A Síria e o Iraque sangram. Meu olho e nariz sangram. Parte dos meus pensamentos são feitos a sangue e suor. A Igualdade, Liberdade e Fraternidade ocidentais são uma ficção. De um lado bombardeios aéreos, de outro, homens bomba. Dos dois lados vítimas inocentes desta ‘barbárie’ contemporânea. Primeiro a cristianização do mundo, agora, sua islamização. Ambas crenças e práticas monoteístas, cada uma a seu modo, pregam uma única e absoluta verdade, irredutíveis. Ditadura da palavra sobre o corpo, da crença sobre a realidade. Mas no fim, é a realidade quem dita. Vida no além, uma crença, uma perspectiva ou hipótese. Morte no aqui-agora, uma realidade. A realidade é nua e crua e não pergunta se se acredita ou não nela. Só acontece. A resposta nada inteligente e moral do ocidente ao terrorismo: bombardeios e mais mortes. A vida humana nestas condições já não é tão importante assim, como se pensa a partir dos livros sagrados das religiões em questão. De sagrados para sangrados, livros e territórios. Mas ainda há o petróleo, a conveniência e uma pseudo-razão. Todos se acham bons e os preferidos de deus. Mas nenhum é. Nem um. Ninguém.



* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Leituras do Cotidiano

Saúdo o mundo ao meu redor. As pessoas passam sem me notar. Não enxergam ou fingem não ver. Parece que não há mais poesia pelas ruas. Carros e seus motoristas afobados entopem o trânsito e atropelam cães, gatos, velhos e crianças. E eu observo tudo bem de perto. Tento dizer algo, mas minha voz não chega aos ouvidos ocupados desses cidadãos trabalhadores e ordeiros. Correm. Como eles correm! Deixam seus filhos na escola para algum professor cuidar e no final do mês receber uma miséria por isso. Em casa, empurram seus filhos para o vídeo game ou internet. Uma mão na direção outra no celular. Assim conduzem seus veículos pelas ruas destruídas desta cidade com pouca memória. Construções históricas dão lugar a prédios retos e brancos, quando não, para estacionamentos. Carros e mais carros. E a vida passa sem sinalização que a faça ir mais devagar. Já está na hora de ir. Recolho meus apetrechos. Cobertor e chapéu velhos, minha garrafa de canha, meu rádio de pilha. O dia foi longo e cansativo. Algumas moedas vão garantir meu jantar e o trago. Amanhã procuro outro ponto da cidade para ganhar a vida e observar a corrida deste mundo louco. Minha cidade já foi mais bonita e tranquila. As coisas mudaram. Algumas não. A vida continua sendo um apanhado de contradições humanas...


"Chapecó, aqui tudo acontece (?)"

Desvio de merenda escolar por deputado e secretária da educação, vereador morto misteriosamente (leia-se caso Chiarello), caso de privilegio fraudulento na contratação de serviço entre poder público e empresa promovedora de eventos (leia-se caso Efapi), assim como no transporte público, entre outros. É, aqui tudo acontece mesmo.


‘Caminhoneiros' ou 'empresas de transporte'?

Li uma matéria na internet que dizia que 'caminhoneiros autônomos' iriam iniciar greve. Mas na televisão vi/ouvi um grande empresário dos transportes falando. Será mais uma dessas 'greves' motivadas pelo patrão? Como a 'greve' anterior que conseguiu liberar ainda mais o aumento de peso de cargas (interesse das empresas de transporte). Uma 'greve' quem tem como uma das pautas a renúncia da presidenta. Os trabalhadores tem seus motivos e direitos de greve, de fato. Porém, algumas questões envolvidas acabam distorcendo alguns propósitos dignos deste ato. Nesta moita tem lobo e neste pasto tem ovelha...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Leituras do Cotidiano

Os ‘intelectuais’ brasileiros de ‘direita’

Alexandre Frota, mais um ‘intelectual’ de ‘direita’, aderiu à moda de fazer vídeos no youtube criticando nossa ‘realidade’ política, sob tudo o governo. Sociólogos, filósofos, historiadores, que nada! Frota é o cara!  Cunha, Bolsonaro, Feliciano e Frota (entre outros), compõem a mais ‘fina intelectualidade’ liberal de ‘direita’ em nosso Brasil varonil. Esqueçam das leituras e estudos universitários. Não tem pra ninguém. A ‘verdade’ está na bíblia e nos discursos fetichiosos e ideológicos destes ‘intelectuais’ brasileiros. Mas quem é Alexandre Frota mesmo? Ah, estudem seu histórico, sua biografia, sua filosofia, sua ética e moral. Vocês, populacho de humanas e sociais, são uns ignorantes mesmo! Frota é a fina flor da nossa ‘classe intelectual’ brasileira de ‘direita’. Macho alfa, tatuado e bombado, como bem quer a moda juvenicida e a indústria cultural que a vende. Discurso conservador e atitudes descompromissadas, bem a cara da contradição e incoerência de parte dos brasileiros de fé no calendário e no amém. Não é Efapi... Nem Expoeste, mas é espetacular!


A incoerência nossa de cada dia...


Tudo e mais um pouco acontece e ainda tem gente que não vê. E como diz a filosofia do meu velho e caboclo avô materno: ‘Mundo pra ser mundo tem que ter de tudo um pouco’. É deputado oestino alterado discursando aos gritos no Congresso por uma moral (ou moralismo?), dessas que se diz ‘favorável’ a família e aos bons costumes. O mesmo deputado (conhecido também por ‘deputado pornô’) que tem acusação e processo por desvio de merenda escolar junto à secretária de educação do município de Xapecó (além da condenação por xenofobia, segundo informação compartilhada no facebook – também sei de outras). Um ‘pró-família, moral e bons costumes’, outra ‘secretária de educação’ e, certamente, ambos, ‘contra a corrupção’. O discurso é... o que é! Isso aí, que todos podem ver. Ou pelo menos, deveriam ver. Mas alguns não querem. Preferem acreditar e continuar na cegueira ou comodidade. É a vida! Ou a morte na vida? Vamos minimizar? Digamos que seja só a visão embaçada então, pronto. Estamos conversados. 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Sistema de Castas na Educação: um profundo e irredutível estudo a partir de Nietzsche e Marx


Introdução

Lendo um filósofo de ‘pouco nome’ - destes ‘malditos’, outrora chamados de ‘cães filósofos’ (a modo de alguns pré-socráticos) - que são extirpados pelo status quo e geralmente malquistos nas universidades badaladas - mundo afora, Brasil adentro - cheguei onde ele falava do sistema de castas, e relacionando, ao veredicto torpe (e foi-se minha última garrafa de Malbec contrabandeado) de que, aqui no Brasil também possuímos nosso(s) sistema(s) de castas. Mas o nosso é diferente do que o da Índia, por exemplo (neste momento, um amigo marxista-religioso e sabe-tudo, pelas costas me grita: ‘Ah sim, são as classes sociais, a burguesia e o proletariado!’. Internamente respondo: ‘Não, não é diretamente a isso que me refiro. Mas, se assemelha muito’. Falo das castas (ou classes) dentro de uma mesma profissão, neste caso específico, a dos professores. Sim, elas existem, as castas! De um modo geral, professores são divididos entre universitários e colegiais - para além da nomenclatura ou localização espacial - o que é pior: divididos por um status dito intelectual e que também acaba sendo social e cultural. Uma divisão que vem de cima para baixo, hierarquicamente, a partir da titulação (ou das graduações). Um status que confere a professores universitários certo poder, um poder hierárquico de tipo classista, independentes dos seus gostos ou convicções (mas muitos gostam, e como!), a partir dos diplomas (e sua indústria). Diplomas estes que os ‘autorizam’, ou seja, lhes dão ‘autoridade’ sobre determinados assuntos (o que seria um tanto justo, não fosse certa realidade na educação, tanto colegial quanto universitária, e nas relações de poder) mas, mais que isso, uma autoridade em decisões grupais dentro da própria categoria que, assim, já não é mais uma única e unida classe que, em tese, por estudar, possui sua ‘consciência de classe’ (como lindamente sonhou Marx), mas uma categoria dividida em duas classes ou castas distintas, onde uma sobrepõe seu status sobre a outra, dentro de um sistema de valores hierárquicos que se mantém, se afirma e se reproduz - e aí sim, a meritocracia tão criticada por muitos passa a ser justificada e aceita, até tornada ‘justiçamento’, conciliável a certa acomodação profissional (o discurso muda conforme se altera certa realidade pessoal). Uma autoridade hierárquica que autoriza mestres e doutos, nos altos de suas titulações  e atribuições (e Platão ri-se satisfeito pelo seu dualismo idealista ser tão cultivado, onde o mundo real pertence aos ‘seres de ideias’, mesmo que elas não sejam só suas – ou bem suas), e os autoriza sob tudo, no discurso. A prática? Bem, a prática é outra ‘estória’ – o mundo das coisas não é real (mais risos de Platão se ouvem do além).

Desenvolvimento

Contrapondo isso, o filósofo/filólogo alemão F.W. Nietzsche diz que o ‘eruditismo exagerado’ pode tornar o conhecimento petrificado, uma imobilização do presente em nome de um passado sempre revisitado, quando não saudoso e idealizado. Outro fator da crítica do filósofo ao ‘eruditismo acadêmico autorizado e forjado pela titulação’ são os ‘especialistas’ que, tornam-se fragmentos de um todo particularizado e distribuído para que este todo jamais volte a ser percebido e/ou pensado como sendo-o. Ou seja, um ‘especialista’ é um instrumento da segmentação e fragmentação de conhecimentos compactuados, o que soma nas ideologizações e não na amplitude e diversidade do pensamento, do conhecimento e das linguagens. Em relação a isso, Nietzsche também nos diz sobre o erudito:

(...) não faz outra coisa senão revolver livros (...), acaba por perder íntegra e totalmente a capacidade de pensar por conta própria. Se não revolve livros, não pensa. Responde a um estímulo (um pensamento lido) quando pensa, - ao final a única coisa que faz é reagir. O erudito dedica toda a sua força a dizer sim ou não, à critica de coisas já pensadas – ele mesmo já não pensa... O instinto de autodefesa abrandou-se nele; em caso contrário, defender-se-ia contra os livros. (LARROSA, p. 31, 2009)
Para Nietzsche, o especialista é “Prisioneiro do ponto de vista único que domina e que o domina, escravo dos caminhos trilhados que conhece a dedo mas que impõem a ele o seu percurso”. (LARROSA, p. 31, 2009)
Na sua obra ‘A Gaia ciência’, poeticamente Nietzsche intitula especialistas e literatos (os que correspondem aos eruditos e aos jornalistas) de “consumidores e produtores de livros que não fazem dançar”.

Considerações Finais

No sistema de castas brasileiro, de um lado temos os intelectuais eruditos especialistas universitários, de outro, os professores colegiais (ambos suscetíveis a ouvirem sertanejo universitário).
Sim, tudo isso pode ser um grande equívoco ou exagero - ou não. E Marx? Bem, Marx, para quem o sabe, está bem dito nas entrelinhas (e para além delas).

Conclusão (um tanto óbvia):

Aqui não é a Índia, mas também temos nosso sistema de castas.


Referências

LARROSA, Jorge. Nietzsche & a Educação. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

SILVANI, Herman G. Niezsche & Marx: uma gota de paz em tempos de peleias oceânicas. 95 ed. Xapecó: Clandestina, 2015.

Πλάτων (Platão). O comedor eruditizador das galáxias. 2000 ed. Atenas: Ideal, 400 a.C.



* primeira parte deste 'estudo' adaptado e publicado em forma de crônica no jornal Gazeta de Chapecó.




quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Leituras do Cotidiano

Uma parte

Meu tempo de maior produção é à noite. Pera aí, me deixa explicar. Produção escrita. Não lembro se alguma vez rabisquei um poema na luz radiante do dia – oh! Alguns textos e crônicas até que sim, mas poemas e contos acho que não. Aliás, também não lembro qual foi a última vez que escrevi uma estória. O conto é uma das minhas práticas escritas preferidas (como gênero literário narrativo – oh!). Algumas imagens ou frases poéticas, assim como pensamentos, anoto, de passagem por algum dos cômodos da casa, durante o dia. Falando nisso, minha casa é cheia de anotações pelos cantos. No quarto, na sala, no quarto de ensaio musical que também é biblioteca, na cozinha. Sim, na cozinha. Muitas anotações em blocos, cadernos, pedaços de papel, além dos livros e revistas. Muitos livros espalhados por tudo. É assim, nesta confusão, que eu me acho, no meu modo de organizar minha vida privada. Escrever é uma arte! Dizem. Nem sempre! Retruco. Não escrevo a troco de elogios, nem por arte ou só por dinheiro - eu disse: “nem ‘só’ por dinheiro” (e isso é diferente de “nem por dinheiro”). Eis o valor de um ‘só’ numa frase - vejam só! Escrever, às vezes, é como pintar ou tocar uma música. Você tira um pedaço de si para compor uma parte no mundo – isso, quando há intensidade. Às vezes. Uma parte. Quando há...


No Cu(nha) do Brasil

Milhões na Suíça. Meu porsche. Minhas vaidades. Paz irmãos! Assim reza um cristão (ou quase isso) que também é deputado, além de moralista e hipócrita. Milhões sujos como seu porsche e sua história política. Sua história humano-pessoal não interessa. Falamos aqui de um ‘homem público’, eleito democraticamente (por parte significativa de devotos fiéis seguidores que dizem amém e ajoelham-se fácil, fácil). Sim, senhores e senhoras, estamos em pleno dois mil e quinze e no Brasil a justiça ainda brinca de faz-de-conta. Terno, gravata e um bom discurso livram a cara de muita gente – além dos financiamentos privados e de certo protecionismo que vem do além. Não de um além-divino, mas de um além mais próximo, um além-terrestre. Nós sabemos do que eu estou falando, não sabemos?


Coisas da vida

Tantos caminhos e um só caminho. Tantos ares, tantos cantos, tantos lares – e nenhum. Tantas vidas que vivem em um tempo só. Outras nem se quer tiveram tempo pra viver. Muitas delas sem se encontrarem nem ao menos uma vez – na vida. Assim são as coisas desta vida. Uma vida ampla e longa, e que, às vezes, é tão curta que muitos dizem nem verem passar...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Leituras do Cotidiano

Sociedade Ogroista

Vivemos numa sociedade de 'ogros'. Esqueçam da figura carismática do Shrek, não é isso. Então, quem são os ogros? Ogros são seres ditos humanos que tem um cérebro do tamanho de uma ervilha e que, por isso, usam a força bruta do corpo endurecido e domesticado pela tradição e pensam que tudo se resolve com estupidez e violência. Um crime supostamente combatendo o outro. Não conseguem compreender que, se há violência de um lado, do outro deve haver ‘paz’, sendo que, uma violência somada à outra gera uma terceira, resultante das outras duas, ainda mais intensa e de maior proporção. Somar na estupidez, eis a 'contribuição' dos ogros neste mundo...


Professor e Estudante: resistindo para existir


Sou Professor. Não vou dizer que ‘com muito orgulho’ pois isso é muito clichê e não é de todo ‘verdade’. Mas sim, tenho certo ‘orgulho’ de sê-lo. Teria mais se meu ofício fosse mais dignificado, considerado, valorizado, respeitado. Estado e setor privado, devem muito (ou quase tudo) ao professor. Mas, ao contrário, não nos tratam muito bem. Alguns pais de alunos também fazem pouco caso da nossa condição. Professor e aluno são funções preciosas numa sociedade que se queira educada, culturalmente e politicamente falando, numa educação ampla e profunda. Porém, para isso, não basta a habitual formalidade aplicada a estas funções. Como não basta todo o discurso acima deste ‘futuro’ que nem sequer existe, e que, seguindo este mesmo discurso, um futuro que depende do professor e dos estudantes. Como professor já cansei de ouvir isso. E as efetivas ações para que este tratamento e condição dignos existam? Para que este ‘futuro’ não seja só da boca pra fora? Sou professor e estudante, por isso carrego dois fardos pesados, porém, não me deixo diminuir, persisto e prossigo, lutando para que realmente minhas funções como tal sejam dignificadas a altura dos discursos e formalidades. Contudo, apesar dos pesares, ser professor e estudante, tem lá suas vantagens. E eu, como tantos, as faço dignificar, às vezes, na marra. E é assim que resistimos existindo...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Leituras do Cotidiano

Militarismo, um governo a parte?

A partir de postagens em perfis de policiais militares no facebook, um sociólogo constatou que a violência e a discriminação faz parte de certa ‘cultura militar’. Um dos elementos mais propagados nestes perfis é a apologia à violência e ao uso de armas como pretexto moral de certa ‘correção social’. Outro fato comum é o uso vulgar do termo ‘vagabundo’ por parte significativa dos policiais, uma palavra adorada por muitos militares e historicamente carregada de significados preconceituosos e discriminatórios. A ‘cultura militar’ atual tem relações diretas com o período da ditadura militar brasileira, onde se perseguiam e reprimiam estudantes, professores, intelectuais, artistas e pensadores, em nome de uma pretensa ‘ordem’ - ordem para quem?

A psicanálise constatou que parte significativa do autoritarismo e abuso de poder, assim como outras violências, tanto físicas quanto verbais, acontecem como uma compensação de frustrações e impotências. Alguns estudiosos também falam de uma lacuna intelectual e falta de sensibilidade, sendo que, historicamente, o militarismo é marcado pela repressão e caça aos diferentes: movimentos culturais e sociais. A partir disso, a questão que não dá para ignorar: O que se ensina nos quartéis? Não seriam os policiais doutrinados para tal repressão às diferenças e minorias? 

Alguém vem e me diz que ‘policiais ganham mal, por isso agem assim’. Então quer dizer que ‘ganhar mal’ justifica o abuso de poder? Sou professor e ganho tão mal quando um policial, e muitas vezes sou mal tratado e desvalorizado na minha profissão, então se fosse por esta ‘lógica’ deveria eu descontar isso no meu trabalho e nos meus alunos?

Casos de violência policial e abusos de poder são corriqueiros no Brasil. Leia-se os inúmeros e cotidianos casos no Rio de Janeiro, por exemplo, onde policiais forjam situações para cometerem seus crimes. Aqui em Chapecó, professores e alunos da Universidade Federal (UFFS) denunciaram uma abordagem violenta da polícia contra eles numa festa. Violência física e verbal: xenofobia, racismo, machismo, preconceito, discriminação, chutes, tapas e socos, spray de pimenta e até ‘confisco’ de celulares para que não vazassem imagens da abordagem na internet. Enfim...


Nesta ‘cultura militar e violenta’, seria a polícia um governo a parte que faz suas próprias leis? Que age acima da lei constitucional? Que justiça é esta? Que moral é esta? Que ética é esta? Um crime por acaso justifica outro? É preciso urgente rever esta situação antes que tudo vire banalidade e guerra...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Leituras do Cotidiano

Ta-lento...

Como eu queria ter talento. Pelo menos para poder escrever o melhor poema que já tenha sido parido por estas bandas.  Ser um professor organizado, regrado, correto, de moral. Ser um artista que tenha pelo menos sua arte reconhecida. Ser um homem bem aparentado e de passos firmes nesta sociedade de status, consumo e aparências de deus dará. Mas não. Nasci sem este brilho. Minha tribo é a tribo dos clandestinos malditos que resistem para poderem viver. Entre todos, meu pior desempenho: ganhar dinheiro. Eu não sei ganhar dinheiro. Nasci sem este talento. Herança de meu desafortunado bisavô italiano que veio corrido da Sicília? Ou de Dionísio, meu maldito deus em vão? Como tantos sem talento, virei professor de humanas e sociais e linguagem. Graduado e pós-graduado pelas universidades da vida – ainda faço alguns quadros que vão enfeitar alguma parede com meus títulos. Para o orgulho da mãe, sarro do pai e ignorância dos irmãos. Um caso típico de sem talento para ganhar dinheiro e se fazer notar através dos títulos. De-fi-ni-ti-va-men-te! Mas não choro ou me lamento por isso. A cerveja, o rum e o vinho são meus psicólogos e amigos mais fiéis, e é com eles que eu me abro em dias de fúria da natureza. Com eles aprendi muito, nas escolas e universidades da vida que são mesas e balcões de bar. Retroceder nunca, render-se, jamais! Não sei de onde, mais esta frase não é minha, tirei de algum lugar que me soa familiar. Já sei, da minha adolescência. Sim, já fui adolescente. E no meu tempo, não existiam todos os ‘prés’ que existem hoje. Ou seja, nunca fui ‘pré-adolescente’ ou ‘pré’ qualquer outra coisa. Saltei prematuro da infância para a adolescência. Tive boas escolas com minhas primas e suas loucuras infanto-juvenis. Voltando ao talento, tema da crônica de hoje, para se ter talento não basta nascer e viver, é preciso também desenvolver habilidades – agora falei bonito, como professor mediano que sou. Já posso discursar como um mestre talentoso e orgulhoso de si próprio e da profissão que escolheu pra si para viver. Mas o mundo não poupa nem perdoa. Se não for talentoso que pelo menos imite bem. Eis o conselho de um velho, sábio e safado mestre meu de sobrenome alemão. Ele escrevia contos, romances e poemas como poucos. Mesmo sem talento foi dos mais talentosos de seu tempo. Teve sangue fervente nas veias e pulsação nas vísceras que o fizeram ser. Escreveu com peso, às vezes elegância e muita profundidade. Também foi da raça dos resistentes. Tanto que incomoda até hoje. Enfim. Fico por aqui, pois, por hoje, minha falta de talento já rendeu o que tinha que render. Tchau!


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Leituras do Cotidiano

Abandonar as muletas


O idealismo é um dos maiores ‘atravanques’ de uma mudança de concepção e percepção ou leitura de mundo, o que reflete na mudança de atitude, o que, por sua vez, gera ações que podem mudar certa realidade. A busca da pretensa pureza ou perfeição, assim como do divino, é um embuste irreal que quase sempre tem fundo ideológico. Tudo o que é conceito purista e/ou idealizado, ligado ao monoteísmo e ao idealismo platônico parte de uma concepção ou discurso de ‘verdade única e absoluta’. A corrupção gerada por troca de interesses e certas ‘naturalizações’ está por detrás da dita representação política oficial, principalmente no ‘investimento’ (financiamento ou ‘doação’) de empresários nesse jogo (campanhas), assim como, nos atos e até nos pensamentos do homem ‘comum’ no seu cotidiano, e se isso não for visualizado, não há combate, mas apenas justificativas ou pretextos e maquiagem. O que existe e está por trás das ações, muitos talvez não percebam, é uma disputa de poder, no caso, mais, uma disputa ideológica e de linhas teóricas de pensamento ou crenças. Uma contradição, um contraste, uma discrepância. Nem céu, nem inferno, nem bem, nem mal, mas crenças, posições, doutrinamentos, ideologias e interesses humanos, sejam eles privados ou de grupos de poder, ditos também, políticos. A coisa é mais complexa do que aparenta e se discursa vulgarmente por aí. Com isso, não estou sendo negativista, alguém sem esperança ou niilista, apenas dizendo que a organização humana e sociocultural não é um paraíso platônico ou divinizado, e devemos, em primeira instância, perceber isso: essas disputas, essas contradições e ‘jogos’ que se estabelecem na realidade, no andamento da vida. O ideal não é vida, é apenas a reprodução de uma ideia mirabolante e divinizada, uma crença no além, no nada absoluto que age como um fantasma em nossos dias, não nos deixando acordar do sono entorpecido por supostas ‘verdades’ e ‘salvações’. Nisso, ídolos ou ícones, idealizados ou divinizados tem o mesmo papel, que é o de servir como referência, apoio ou mesmo ‘muleta’ para justificar determinados pensamentos, ideias, crenças e, o que é pior, ações, todas elas, tendenciosas, sejam elas provindas de certa ingenuidade, ignorância ou interesse. Eis o atravanque dos dias. Eis a submissão de certa educação familiar, religiosa, midiática, colegial e acadêmica, assim como da política oficial institucional e da formação das famílias e modos socioculturais de interagir com o outro e com o meio. Nossa ‘formação’ é reducionista e por isso, parece que precisa de ícones, deuses ou semideuses, exemplos para poder se manter sobre as muletas que nos foram dadas. Tanto que, quem já ousou, experimentando abandonar as muletas, ao invés de rastejar apoiado sobre elas, pôde andar da forma que quis ou conseguiu, e até correr.  


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



terça-feira, 22 de setembro de 2015

Leituras do Cotidiano

Mediocrização político-intelectual do Brasil

Já virou fetiche! Eduardo Cunha e sua trupe PMDBista, assim como Aécio Neves e sua trupe revanchista, estão tão fissurados e sedentos em derrubar uma sigla (PT) e dois nomes (Dilma e Lula), que ignoram todo o resto, inclusive a realidade atual do país e do mundo, assim como o passado, a história do país, suas falhas e os avanços, além do debate que deveria se instaurar: ‘a crise do nosso sistema político, econômico e educacional’. Estão tão determinados nesta caçada que acabam esquecendo (ou fazem de conta?) que também são parte deste país, deste governo, desta realidade, deste sistema, deste momento. São eles, os deputados, parte deste 'todo' que, ao invés de aprimorar o que foi feito em avanços nacionais com o olhar para a nação, retrocedem por birra ou dentro da estratégia mesquinha de 'quanto pior melhor', pondo em risco um país que ainda não se estabeleceu direito - e com atitudes assim, nunca vai. E parte da população acomodada, ingênua ou ignorante em suas existências intelectuais reproduzem esta sede de desmantelamento, não de um partido ou nomes ligados a ele, mas de uma nação.

Mas é claro, eu falando isso 'só posso ser petista ou comunista'. Assim reduzem meu pensamento e minhas palavras a um julgamento mesquinho, típico de telenovela global. Assim fica fácil desvirtuar o que é realmente significativo. É fácil ser medíocre e reducionista quando a urgência é a polidez dos pensamentos e ações. 

             Temos ainda muito o que aprender para ser uma 'nação livre' das próprias sequelas histórico-sociais, para além das vaidades pessoais, crenças obsoletas e ideologias reducionistas/ deterministas. Um dia, quem sabe, aprenderemos a perceber e ver para além do alcance do olho, da nossa miopia sociocultural. Para sermos finalmente assim, não apenas um determinado lugar no mapa e espaço, mais um povo que se perceba nação.


Um embaço!

Obs.: Qualquer coisa que qualquer um fala e aparece na grande mídia viraliza e soma-se ao espetáculo contemporâneo.











* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.