sexta-feira, 30 de maio de 2014

Por Maria...


Abriu a guaiaca e puxou dois patacões em prata. Saquei meu 45. Não me contive: “Essas moedas velhas não pagam nem o suor de Maria, seu patife!”. Fagundes era um homem bom até vacilar feio com Maria. Uma azeitona muito bem cravada na testa e o homem desaba feito rocha implodida a dinamite. O chão tremeu. Fagundes pesava seus bons cento e cinquenta quilos. Quanta banha naquele corpo! Maria abriu um leve sorriso de canto de boca para não denunciar a público sua satisfação em ver o balofo tombando. Ele havia a massacrado numa noite inteira de coito forçado a troco de dois míseros patacões? Filho da mãe! Eu até respeitava o Fagundes antes dessa tolice. Eu sei que Maria não é flor que se cheire, mas ninguém deu o direito do homem fazer essa judiaria com ela. Maria costuma varrer meu chão, lustrar minhas botas, arriar meu cabelo revolto, encilhar meu cavalo, limpar meu berro e ainda, volta e meia, me faz algum agrado. Mas hoje, cedinho, cedinho, a venda do Feliciano teve seu chão tingido de vermelho. Depois do estampido, ligeiramente fiz o sinal da cruz, a modo de pedir perdão para o Senhor-Nosso-Jesus-Cristo. Feliciano também fez, assim como os demais clientes que bebiam esparramados pelo balcão. Maria não. Ela sorriu e limpou o suor da testa.


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 30/05



Leituras do Cotidiano, 30/05


Discrepância na teoria e prática

Na universidade federal a prova de mestrado em educação discutia uma 'educação para além do capital'. Enquanto isso, no rádio a publicidade de uma escola particular anunciando que é 1º lugar no Enem, apontando isso como um 'valor' agregado ao estudante, num discurso destinado ao mercado de trabalho, promessa de um 'futuro promissor'. Alguma coisa está fora de prumo nisso, não?!

E a 'Chape'?

Depois de toda a promoção do poder público acima do 'heroísmo verde e branco', do 'natal verde e branco', onde famílias 'nobres' e 'poderosas politicamente e financeiramente' da 'region' pousaram com essas cores (da bandeira) em outdoors pela cidade, onde discursos inflamados rasgando seda para a dita 'série A' convenceram e iludiram, onde grandes investimentos privados e públicos no time fizeram dele o que ele é hoje, um instrumento (entendam como puderem), mudaram até o nome do estádio, de 'regional Índio Condá' para 'arena Condá', excluindo o índio do 'negócio' - e que negócio! Nada contra o futebol ou ao carinho da torcida pelo time, a questão é outra. Os que percebem além sabem muito bem do que eu estou falando...

E a ‘Chape’? – 2

Parabéns 'assucia'! (quem frequentava bares 'nas antigas' entende)

Agora os oportunistas da política local podem aparecer novamente de verde e branco enaltecendo nossa cidade e seu povo ordeiro e trabalhador, o time teve sua primeira vitória contra o outro verde e branco de São Paulo...

E a ‘Chape’? – 3

O próximo jogo é (foi) com o Internacional de POA. Já que não sei do resultado – ainda!  - pois escrevi esta tirada antes do jogo (e não sou vidente), vou me abster de arriscar um resultado, mas, independente de qualquer coisa, a questão continua vinculada aos comentários anteriores. Obrigado!


Roqueiros estereotipados que envelheceram em tudo


Sem generalizar, mas muito da roqueirada que toca inspirada e só ouve rock 60, 70 (entre as melhores décadas do gênero) e 80, envelheceram intelectualmente (porque viraram conservadores politicamente e saudosistas musicalmente, parando no tempo), e musicalmente (porque se limitam em ouvir e reproduzir ou tocar o mesmo de sempre, o clichê). Suas 'rebeldias' envelheceram dado ao fato de se conservarem 'idealistas puritanos' naquilo que ouvem e pensam. O mundo gira e o som ecoa e se propaga, o ontem e o hoje são tempos diferentes, porém, ambos, tempos que se coligam e se integram, o que muitos dessa roqueirada não conseguem entender. Viraram caveiras estereotipadas que não se movem para além do lugar comum e 'seguro'...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



sexta-feira, 23 de maio de 2014

A imoral e os maus costumes

Eu prezo pelas crianças e bichos, velhos e jovens. Os adultos estão no comando. Eles servem ao sistema assim como o sistema serve a eles. Os demais são utilizados pelo sistema, mas não necessariamente são servidos por ele. Por isso e por outras, não sou favorável à redução da maioridade penal. Aliás, a ordem social precisa ter certa moral que vai dar em ações éticas para poder também ter a ética da cobrança. Então, antes de tudo, nos devemos fazer uma pergunta: ‘A sociedade da forma que é, da forma com que trata crianças e jovens, tem moral suficiente para cobrar ou exigir algo destes?’. Há quem diga que não se trata disso. Mas se trata do que então? Como é que você cobra algo de outro alguém se você mesmo não cumpre com este algo, ou não tem este algo afinado em si? Em outras palavras, como é que se exige moral sendo imoral ou antiético? E a coerência? Sem coerência não há sentido ou fundamento. E eis que parte significativa da sociedade está assim. Mas isso não é de hoje, historicamente a sociedade se constituiu de forma piramidal, onde a concentração de poder massacra o primeiro degrau (debaixo) da escada na pirâmide social. Nisso, crianças e bichos, velhos e jovens, são os mais vulneráveis, as maiores vítimas - ou seja, são mais vítimas do que criminosos (quando o são) nesta ‘lógica’...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 23/05.



Leituras do Cotidiano, 23/05

No ventre da pampa...

Criei-me no campo. Mas também na cidade. Entre Xapecó e Caxambu do Sul. Na época, Passo Fundo, se comparada a Xapecó, era chamada de ‘cidade grande’, e pra lá eu ia meio direto visitar parentes estimados. Nascido em criado em uma família tipicamente gaúcha, pois foi do Rio Grande do Sul que vieram meus avós, tanto paternos quanto maternos, e assim foi com meu pai. Natal José Silvani, um gaúcho da região de Erexim que conserva muitas das tradições, um dos fundadores do primeiro CTG da cidade, ainda nos anos’70, entre outros. Entre o belíssimo sítio dos meus avós maternos, o matadouro do meu avô paterno e a cidade, eu cresci. Entre canções e poesias nativistas aprendi minha primeira forma de linguagem artística. Eu era criança. Cresci um tanto e me tornei campeão em declamação de poesia gaúcha em todo o Sul do Brasil. Viagens, rodeios, concursos em que sempre trazia medalhas ou troféus para casa, a maioria deles, de primeiro lugar (modéstia parte! – risos). Meu pai, um grande declamador e trovador que também arranha uma ‘oito baixos’ (gaita ponto) e um violão espanhol (nylon), foi quem me ensinou. Criterioso, o seu Natal não dava mole. Sofri um pouco, mas aprendi algumas coisas que acabaram me impulsionando a outras. Quem me vê e quem me viu. De artista gaúcho a guitarrista e compositor de rock. Entre bombachas e alpargatas, chiripás e botas, durante um bom tempo fui ‘gauchista’. Vou usar o termo ‘gauchismo’ para me referir a esta postura que é (nem que seja volta e meia) estar tipicamente pilchado (referente ao traje gaúcho) e manter algumas práticas referentes a certos aspectos da cultura gaúcha, daqueles que, no caso, frequentam CTG’s, rodas campeiras e afins. Até hoje mantenho com meu pai um razoável acervo musical em disco de vinil de artistas gaúchos, sob tudo, nativistas, os meus preferidos. Em algumas das minhas viagens a Porto Alegre, de anos atrás, percebi certo embate entre dois movimentos dentro desse ‘gauchismo’. De um lado os chamados tradicionalistas, do outro, os nativistas, e isso demonstra que o ‘gauchismo’ não é feito apenas de um único viés cultural, a política existe dentro dessa ‘ótica’, dessa cultura. Por fim, larguei a um bom tempo das bombachas, porém, tenho muito respeito a elas, mas não como sendo algo saudosista ou puro, mas simbolicamente falando, ou seja, respeito alguns aspectos dessa minha ‘origem’ (uma delas, no caso), pois também fui construído enquanto ser social dentro dessa cultura, e parte dela se mantém viva em mim. Encerro este breve relato com uma estrofe da poesia Eis o homem, de Marco Aurélio Campos (Os Teatinos):
                                                                                                                                 


Brotei no ventre da Pampa, 
que é Pátria na minha Terra. 
Sou resumo de uma guerra 
que ainda tem importância
Diante de tal circunstância, 
segui os clarins farroupilhas
e, devorando coxilhas, 
me transformei em distância. 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



sexta-feira, 16 de maio de 2014

Idealismo e corrupção


A corrupção também está (e principalmente está) por detrás da dita representação política oficial. Está no ‘investimento’ de empresários nesse jogo, nos atos e até pensamentos do homem ‘comum’ no seu dia a dia. E se isso não for visualizado, não há combate, mas apenas convencimento e maquiagem. O que existe e muitos talvez não percebam, é uma disputa de poder - mais, uma disputa ideológica e de linhas teóricas de pensamento, o que está por trás de ações, inclusive. Uma contradição, um contraste, uma discrepância. Nem céu, nem inferno. Nem bem, nem mal. Mas crenças, posições, e interesses humanos - além dos capitais e econômicos. A coisa é mais complexa do que aparenta e se discursa por aí. Com isso, não estou sendo negativista, alguém sem esperança, nem niilista, apenas dizendo que a organização humana e sociocultural não é um paraíso, antes, um purgatório, e devemos perceber isso. Essas disputas, essas contradições e ‘jogos’ que se estabelecem na realidade, no andamento da vida. O ideal não é vida, é apenas a reprodução de uma ideia mirabolante e divinizada, uma crença no além, no nada absoluto que age como um fantasma em nossos dias, não nos deixando acordar do sono entorpecido por supostas ‘verdades’ e ‘salvações’. Enfim, bem vindos ao mundo! 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 16/05




Leituras do Cotidiano, 16/05

Contraponto...

Atualmente colhemos o descaso de antigamente. São linchamentos (por alguns, estupidamente chamados ‘justiçamentos’), assassinatos, violência policial, corrupção em muitas esferas, e muitas outras formas de violência que inundam a programação televisiva e as nossas vidas. Mas nada disso é novo senhoras e senhores, e não é tudo culpa do governo atual como os reducionistas ou mal intencionados querem fazer crer. Enquanto alguns são convencidos, o espetáculo midiático faz altos pontos de audiência, e nós, povo, pasmados, vemos tudo de boca aberta, acreditando que o problema é novo, recente, de agora, conforme quer que acreditemos os interesses que existem por trás de todo este espetáculo. Desculpem pela interrupção dessa sua ilusão, mas o problema é antigo, histórico. Pior, cultural! Sim, nosso movo de vida, nossa ‘cultura macro’ é doente. Tanto que, muito do que acontece (ou não, pois às vezes não passam de rumores), se torna ‘viral’, ou seja, se reproduz e se espalha numa velocidade típica de quem tem pressa e urgência – em mudar? Alguns! Muitos, pressa em morrer. Sim, morrer, pois o tempo voa e nós, fixos com nossos olhares no abismo, caímos sem sentir, anestesiados por sentimentos de ódio, rancor, mágoa, frustração, vingança, competição, ganância, entre outros. Há muito o abismo olhou para quem fixamente ainda olha para ele (leia-se Nietzsche). Tanto que, muito do prazer de quem é massificado, não está no que é positivo, pertinente, abrangente, amplo, possível, mas sim, está naquilo que é negativo, pessimista, diminuto, mesquinho, medíocre, assim como parte significativa das notícias, filmes, novelas e toda a programação televisiva. Uma enxurrada de informações desconexas, rumores, intrigas, onde produtos carregados de ideologias e valores medíocres dão a direção por onde a caravana deve andar, fenômeno típico de uma sociedade que se informa e se ‘intelectualiza’ através dos meios de comunicação de massa, assim como, de um sistema educacional precário e defasado em quase tudo. Não, não estou sendo pessimista, niilista ou algo que valha, apenas escrevo sobre o pouco que percebo, sinto e sei, a modo de crítica, reflexão e, quem sabe, impulso para uma desconstrução. Isso mesmo, desconstrução! É preciso, antes de mais nada, desconstruir. E os meios pra isso estão aí (também!), basta que, quem os utilize, o faça de maneira a contrapor a massificação e a reprodução dessas mazelas comunicativas e culturais.  


Uma resposta do ‘velho Buk’ aos que criticam o ‘digno escriba’ por ele ‘vender’ ideias ou palavras:   

“Mas passar fome, infelizmente, não melhora a arte. Apenas a obstrui. A alma de um homem está profundamente enraizada em seu estômago. Um homem pode escrever muito melhor após comer um belo pedaço de filé acompanhado de uma dose de uísque do que depois de uma barra de caramelo de um níquel. O mito do artista faminto é um embuste.” (Charles Bukowski)


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...



sexta-feira, 9 de maio de 2014

Leituras do Cotidiano, 09/05

‘Caso Fidelis’: discurso, moralismo, legislação e cultura...

"Não é ditadura, é respeito. (?)... E talvez *a gente (?) só aprenda a respeitar o espaço do outro através do rigor da lei..."

(...) "Na contramão do *senso comum (?), a Câmera de Vereadores de Chapecó aprovou, por unanimidade, e o prefeito José Cláudio Caramori sancionou, a lei 6.555/2014: 'Fica proibido o consumo de bebidas alcoólicas nas avenidas, rodovias, ruas, alamedas, servidões, caminhos, passagens, calçadas, praças, *ciclovias (?), pontes e viadutos, hall de edifícios e estabelecimentos comerciais conexos à via pública, nas repartições públicas e área externa de campos de futebol, ginásios de esporte e praças desportivas.' A autoria do projeto de lei foi do vereador Márcio Sander, (...)" - fonte: Revista de Chapecó, nº 23, p. 29.

Obs.:
'*' e 'entre parênteses': intervenção minha.

* 1. 'a gente'? A revista não fala por mim, pelo menos...
*   2. 'senso comum'? Apontar, simplesmente o consumo de bebida como o 'problema central' por acaso é algo fundamentado, aprofundado? Que 'educação' e 'cultura' se promovem na cidade, e que 'espaços de diversão e confraternização públicas' são promovidos para que essa realidade seja diferente?
* 3. 'ciclovias' em Xapecó?

E quando um legislador, base do governo local, vota na lei que 'proíbe' essa prática, essa cultura (sim, cultura!), o 'rigor da lei' é coerente com o discurso? A bebida não é o todo. O todo é o caráter, que é formado pelas referências e concepções. O dito 'espírito de porco', conta mais que a bebida, podem ter certeza – ele também compõe o ‘estado de embriaguez’. A sensibilidade e consciência definem, geralmente, situações como estas. Abuso na velocidade (violência) e omissão de socorro tem mais do fator cultural-educativo do que do uso de bebida em si.


Conflito de terras: jogatina do Estado e concentração de terras...

Dois pequenos agricultores mortos por indígenas em mais um conflito de terras na região. Fato triste, deplorável! Dado por mais um conflito entre 'explorados'. E a Reforma Agrária? E as instituições? O Estado? Realidade dura. Enquanto os meios de comunicação de massa e a ideologia por trás deles, criam culpados, também criam vítimas, engordando o espetáculo.


20 anos sem...

- Airton Senna, né Herman?
Não. Sem Mário Quintana.
- Mas quem foi esse?
Esse foi Mário Quintana, um poeta.
- Poeta?
Sim.
- Mas qual é a importância de um poeta frente a um grande campeão de corrida, um dos maiores ídolos do Brasil?
Nenhuma. Um poeta, neste contexto, neste modelo de sociedade não tem importância alguma.
- Ufa! Ainda bem que, pelo menos nisso, você concorda comigo, né?!
Por isso a sociedade é o que é...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 09/05



Que história é essa?

‘Graduado em história com especialização em filosofia e sociologia na educação, além de algumas cadeiras em arte-educação (linguagens, especificamente falando)’. Resposta para alguém que, com tom de voz austero, me questiona. O que o sujeito parece não saber, é que falamos em ‘correntes historiográficas’, ou seja, linhas de pensamento e pesquisa em história. Da história tradicional, a também chamada positivista-informativa, temos o materialismo histórico, a partir de Karl Marx e a sociologia. Depois, a Escola dos Annales, também conhecida como ‘das mentalidades’, e por fim, a ‘nova história’. Portanto, quando o sujeito fala em simplesmente ‘estudo do passado’, utopia, nostalgia, o que for, está falando a partir do raso do seu conhecimento. Nem tudo é cultura para o historiador, como alguns ‘acham’, assim como, nem tudo é determinado. Na ‘corrente’ chamada ‘nova história’, por exemplo, o tempo é concebido como ‘espiral’ no seu estudo e contextualização. Portanto, história não é só aquilo que alguns sujeitos ‘acham’. Aliás, achar sempre é pouco. Talvez não para alguns metidos a filósofos e seus ‘pensamentos’ reducionistas, mas para os que estão além de um ‘achismo’ idealista sim. É preciso sempre olhar além dos limites da sua própria convicção, pois como diria um próprio e grande filósofo, Nietzsche, ela, a convicção, pode ser a maior traidora. 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 09/05



sexta-feira, 2 de maio de 2014

Leituras do Cotidiano, 02/05

Bananada: 'Somos todos macacos’... Só que uns mais macacos do que os outros...


Não sou fã assíduo, mas também como banana. Principalmente como mingau, esmagada em prato com garfo, com açúcar mascavo ou mel e canela. Para quem se exercita habitualmente de alguma forma, ajuda a evitar câimbras. Alguns também usam a banana para satisfazer desejos sexuais. Tem daqueles que usam como arte, e essa ‘causa eu apoio’, como é o caso da banana mais emblemática da história do mundo, aquela que foi capa do disco The Velvet Underground & Nico, assinada pelo artista pop-arte, Andy Warhol. Tem também quem use a banana para, através da ação simbólica, desconstruir uma cena, como bem foi feito pelo jogador brasileiro Daniel Alves que, ao ser comparado a um macaco, naquele jogo que todos viram pela televisão ou internet, juntou a banana jogada por algum ignóbil no gramado e comeu, depois continuou com sua função, chutando a bola pra frente. Já o ícone Neymar assumiu um discurso horrível que foi reproduzido por muitos outros, dizendo: ‘Somos todos macacos!’. De um ídolo da esquerda governista, o Emir Sader, que volta e meia come bananas com casca e tudo, ao marketing global do Luciano Huck e CIA e o ícone direitista e também comedor de bananas Reinaldo Azevedo, todos estes apoiam a causa. Do que uma banana é capaz, não é? O poder da banana que identifica opostos,  pela boa saúde do espetáculo nosso de cada dia, amém! Depois dessa sim, somos 'todos' macacos, num picadeiro, zoológico ou treinados num programa de auditório de domingo à tarde, sendo motivo de risos de quem paga para ver. Sistema dinâmico que come tudo. Come a banana e quem come a banana.


Somos todos macacos... Mas cada macaco no seu galho...

A campanha viral do ‘somos todos macacos’ juntou arautos da direita e da esquerda, num carnaval de alegorias, enquanto o racismo prossegue, firme e forte. Um colega e amigo sociólogo disse: "Há anos a luta é pela afirmação e reconhecimento da identidade negra e não por uma campanha despolitizada que utiliza justamente o insulto como elemento de 'identificação'. (...) E que todos sejamos contra o racismo afirmando positivamente a identidade negra e não um insulto." Penso se Darwin estivesse vivo, o que pensaria desse mote? Estão por fora! Se for para uma afirmação profunda e radical, que a campanha seja ‘Somos todos filhos do Carbono!’


'SOMOS TODOS HUMANOS' - apesar de alguns não parecerem (a exemplo dos racistas estúpidos)

Partindo de uma concepção e percepção que considere atos como símbolos, no uso da linguagem (visual/corporal/espacial), neste sentido Daniel Alves teve uma baita postura comendo a banana, como um 'ato simbólico' - desconstruindo a cena, já que humanos entre outros animais comem bananas. Mas isso ainda se torna mais deplorável se pensarmos que alguns humanos não têm a dignidade suficiente nem para serem comparados a esses incríveis animais da natureza, os macacos. 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...




Laborare!

Trabalhadores do mundo, uni-vos! Foi assim que o Karl Marx chamou a atenção dos proletariados do mundo para um pensamento e ação coletivas, tendo em vista seu conceito de ‘consciência de classe’. Um conceito caro, sob tudo, sob o ponto de vista da dificuldade em torná-lo aplicável a realidade. E foi assim que surgiram os movimentos sociais no contexto da industrialização, fenômeno da modernidade (como tantos outros). Atualmente, outros ‘pensadores’, não tão ‘utópicos’ como Marx, sob o ponto de vista do sonho revolucionário, pretendem menos, bem menos. Enquanto Marx se contorce no túmulo, Emir Sader se junta ao coro de figuras como Reinaldo Azevedo e Neymar, proclamando: ‘Somos todos macacos!’, por uma ‘raça’ mais igualitária, pelo menos no discurso, mas não necessariamente politizada. Outro filósofo, o pop-polemista L. F. Pondé chora a falta de mulheres disponíveis a serem ‘pegas’ no mercado da direita - na esquerda elas sobram, segundo o próprio Pondé. Mas tudo ainda é nébula e tentativa nesse mundo onde trabalho é discurso moralizador, muitas vezes, em ambos os lados. E saber que o ‘Deus está morto!’ de Nietzsche, ainda causa tanto alvoroço por não ser interpretado dentro do seu contexto. Mas tanto para parte da esquerda quanto da direita, ‘Niti’ é um pensador aristocrata. E é por isso que nessa altura do campeonato Valesca Poposuda é tida como grande pensadora...



















* também publicado no jornal Folha do Bairro, 02/05.