A visão em vermelho
...e ela via o mundo
com os olhos mais embaçados que os meus.
Sorriso largo na boca
ensebada. Aroma de carne viva na rua.
Quadris disformes nos
passos descompassados. E eu a amava.
Em meu peito eu
cravava esperanças.
Um verme mais querido
do que qualquer santidade. Divino e vulgar.
Como eu gostaria de
beijar aquele ventre dilatado
De tanta fúria, de
tanto fazer.
O trabalho na rua só
a tornava mais pura pra mim.
O vermelho do batom
gasto, o verme-vermelho do sangue sujo.
E eu a amava.
Fazia versos, canções
absurdas pintadas em muros quase verdes de limbo.
Enquanto um e outro a
passava
Eu no meu canto só
querendo
Covarde, estúpido,
quase morto.
Verme de verso imundo
nunca enxergava direito.
Eu, só eu. Sonhava
dançando dentro daquela boca melada
Que cheirava a
pileque de vodka barata, e continuava...
...e ela via o mundo
com os olhos mais embaçados que os meus.