terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Os indesejáveis.. os invisíveis.. e você! (?)



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Natal dos Índios xapecoenses e a Sociedade de Consumo - e do Espetáculo

 

Vou me utilizar do termo/conceito ‘Sociedade de Consumo’ (e do Espetáculo) para fazer referência ao momento - além de irritar (mesmo não sendo essa a intenção) algum pseudo-filósofo intelectualóide da pós-hiper-super-mega-ultra modernidade que se incomoda com isso, dizendo que termos/conceitos como este (assim como ‘burguesia’, por exemplo), já não se usam mais e blá-blá-blá... enquanto o que deveria ser realmente significativo (nas suas ‘análises’ ou divagações, ou delírios?), passam batidos. Alguns que se dizem ‘pensadores’ ainda agem e pensam a partir do idealismo platônico (por incrível que pareça), se portando como se estivessem para além desse mundo material-físico, como para além da Sociedade de Consumo e do Espetáculo (viu, já comecei!). Então vamos ao que (talvez) interessa...

 

 
Crônica daquilo que muitos não querem ver/saber

“Para Nietzsche criar, mais do que um gesto individual, é um processo de integração e participação na vida. A vida cria em suas constantes transformações (...)” (Viviane Mosé – filósofa, poeta e psicóloga)

 

Como todo o ‘bom pagão’ (e ‘consumista’ que também sou) saí de casa de barriga e cara cheia na noite de Natal, depois da comilança, bons tragos e boas risadas com parentes mais chegados e as crianças correndo em volta (a parte mais divertida), para ir me empanturrar e beber novamente em outro lugar. Depois dessa empreitada dionisíaca, o retorno pra casa. Já eram aproximadamente 4 horas da madrugada e as ruas estavam quase vazias, não fosse por alguns grupos de pessoas (ou algo que valha), com seus automóveis tunados, tampões erguidos e o sertanejo universitário tocando em alto volume (essa maldição!). Nesse percurso, alguns cães cheirando a calçada e um gato vasculhando uma lixeira, todos em busca de algum resto de comida. Passando pelo terminal urbano, no centro da cidade, alguns muitos indígenas deitados no chão junto aos seus balaios, em situação precária. Entre eles, crianças e velhos. Lembrei no ato, de outro dia quando fui até a rodoviária e lá também haviam muitos indígenas vendendo seus balaios, em situação precária também. Aquela imagem me entristeceu ao mesmo tempo que me revoltou. Não sou dos que finge não ver, nem daqueles que naturaliza questões socioculturais e econômicas como esta. Aquelas pessoas, suas etnias, seus antepassados, pra quem ainda não sabe ou finge não saber, estavam aqui nesse chão muito antes do euro-descendente judaico-cristão chegar e trazer consigo sua cultura segmentaria, dita ‘civilizatória’. Nessa ‘civilização’ se incluía o subjulgo e exploração do nativo (índio), de forma violenta, além da sua catequização (ou convertimento a fé e moral judaico-cristã), um pretexto para a exploração e o domínio humano e territorial. Tudo em nome de um deus único, supremo e autoritário (pelo menos no discurso impostor da Igreja e dos eurocentristas colonizadores, os mesmos que hoje são ‘ícones’ de um suposto ‘progresso’, de uma suposta ‘civilização’ bem sucedida - ou decadente?). Os mesmos que foram homenageados tendo seus nomes vinculados a praças, loteamentos e ruas da cidade. Enquanto isso, os primeiros habitantes desse chão, os ‘indesejáveis’ desse sistema... bem, você deve saber. Para muitos, esses habitantes não existem. São invisíveis aos olhos de uma ordem sociocultural e econômica que tem por objetivo maior o consumo – de produtos gerados pela ‘exploração do trabalho’ dado pela indústria configurada nesse modo de produção capitalista (leia-se Marx). Nisso, os ‘escravos’ ou ‘viciados’ neste ‘sistema’ produtivo, econômico e cultural, consomem e por ele são consumidos, geralmente sem se darem conta disso. E os indesejáveis continuam não existindo para os olhos cegos que não veem para além dos seus próprios umbigos. Estão tão encantados com o ‘poder ter’, que o ‘ser’ não importa. E o poder público faz vistas grossas a isso, também desprezando a cultura ancestral do povo nativo, seus velhos e suas crianças. E criança é criança, em qualquer parte do mundo, independente do grupo social a qual pertença. Mas, para os olhos doentios do ‘branco civilizado, fiel a Sociedade de Consumo’, isso não vem ao caso. Os indesejáveis, os invisíveis, os diferentes, sobrevivem com os restos dessa sociedade, vistos como inferiores, ainda hoje. Isso explica o ‘sucesso’ de certas campanhas ditas ‘solidárias’ que se fazem aos montes nessas datas oficiais. Depois... bem, depois não interessa (não é?).  

 

“Hoje, com a imensa mudança de meios, diante de um mundo que ao mesmo tempo desaba e floresce, resta ao homem decidir, em cada ação, que postura tomar. Se antes consultávamos um manual do certo e do errado, hoje devemos pensar, elaborar, decidir que caminho trilharemos, e isto exige, não alguém passivo, que siga regras, mas alguém capaz de atitude e transparência. A ética exige autonomia e responsabilidade. Uma atitude ética é aquela que considera o entorno”. (Vivivane Mosé)

 
 

Muito (pouco) se debate dessa questão de forma mais ampliada e dura, ou seja, radical – e é o que é preciso para sair dessa ‘desventura cíclica’ que acontece quando se trata de um tema tão urgente como a ‘ética da vida’ (é pra ontem!). Esse discursinho em torno da ‘questão indígena’ e da ‘vida alheia’, tanto batido por aí (nenhuma vida é alheia, pois ela, a vida, é um todo, uma interação do ‘eu’ com o ‘outro’, e de ‘nós’ com o meio) que já cansei de ouvir pela televisão e em algum ciclo universitário já encheu o saco. E alguns professores universitários, ‘estudantes’ (?) - já que aqui também temos universidades públicas (federal e estadual), o que pensam, dizem e fazem a respeito? Vejo muitos estudantes apenas sugando, fazendo turismo nessas universidades, aproveitando a facilidade de não pagar mensalidade, reproduzindo valores tão medíocres quanto as suas existências, para depois, simplesmente aderirem de forma leviana a essa estrutura, sendo mantenedores e/ou reformadores dela (e alguns estudantes ainda reforçam pré-conceitos e vulgaridades por aí. Imbecis!). Pouco ou quase nada sai deste ‘ciclo’ com corpo, substância e força de transformação. Como eu queria ver os grupos de indesejáveis reunidos em uma guerrilha, como a dos Chiapas Zapatistas no México por exemplo, resistindo a todo esse circo. Mas a mediocridade e conivência das ‘instituições legais e sagradas de poder concentrado e constituído’ (famílias, escolas, universidades, igrejas, clubes e ordens sociais, empresas midiáticas, poder público, Estado, etc...) também obedientes e complacentes ao consumismo e ao espetáculo, são tão reducionistas e vaidosas que não se movem para além de seus núcleos, seus interesses e vícios. Mas, contudo, não sejamos pessimistas, pois, toda ordem acaba um dia ruindo de forma a degradar a própria cultura que a mantém. E isso, senhores e senhoras, já está acontecendo. Talvez não percebam (a cegueira é tanta!), mas... o Caos, neste sentido, sempre sopra a favor dos invisíveis e indesejáveis desse mundo, e ele é maior do que tudo isso. Que isso não sirva de conforto, mas de força motora aqueles que, assim como eu, já cansaram de toda essa ladainha de um ‘amanhã melhor’, ‘mais justo’, assim como, dos discursos em torno dessas ‘desigualdades’.

 

"No es el conocimiento lo que nos acerca a los santos, sino el despertar de las lágrimas que duermen en lo más profundo de nosotros mismos". (E.M. Cioran - De lagrimas y de santos)

 
hgs.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Fim do Mundo é uma abstração!



 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 

 
 
‘Ensaístas da morte’ pregam & pregam o apocalipse. São tarados pela morte. Anunciadores do Fim do Mundo. Faz tempo que eu ouço discursos e falas que são ameaças a vida. Todos morrerão um dia, isso é fato. Só não sei quando. Não posso e nem quero saber. Se o apocalipse tem hora marcada, não sou eu quem vai mudar isso. Aliás, ninguém vai. E isso pouco me interessa. Estou mais preocupado com a vida no momento. Os ‘sinais’ de uma possível aproximação do Fim aparecem aos poucos e vão crescendo. Mas isso não anula outra possibilidade: a de Vida. Muitos passam seus dias preparando a alma para o abandono do corpo (ou para a morte), por isso vivem com a cabeça em outro mundo. O medo da perdição e da condenação eterna, tão difundido pelas religiões ocidentais, e que gera uma covardia e uma vaidade pessoal, muitas vezes inconsciente e que acaba por se tornar o alimento de um individualismo medíocre e egoísta. A preocupação com o Fim e o medo da morte coletiva gera a defesa de valores e morais retrógrados e a manutenção de tradições seletivas e intolerantes, culminando na reprodução de um modo de vida baseado nessas tradições. Por isso, a exemplo de alguns pensadores mais sensíveis e intensos, “desprezo o ‘Fim do Mundo’ como um ícone ideológico apontado para minha cabeça pela religião, pelo Estado & pelo meio cultural, como uma razão para não se fazer nada”. O ‘imaginário da morte’ e sua reprodução ou mesmo mercantilismo, agem na mente humana tanto quanto a censura ou a lavagem cerebral feita pela mídia. ‘Quem tem medo obedece!’ – e isso se configura numa estratégia de alguns poderes organizados para o domínio sociocultural, o controle e manutenção dos interesses de um grupo sobre outro. Óquei, já estou alertado do apocalipse. Agora chega de me encherem o saco com isso. Se tiver que morrer, eu morro e pronto. Sinto decepcioná-los, mas o Fim virá individualmente, para cada um e da sua maneira. A morte é uma certeza, e é pra TODOS! O Fim geral não existe. A vida não morre, ela se transforma. Portanto, chega de premonições e ameaças. O tempo nos pede ação. E não há nada mais vivaz do que a alegria de viver com certa intensidade. Portanto, passemos a venerar a vida, deixando a morte vir sem alarde. ESTAMOS VIVOS!

Herman G. Silvani
 
 
* também publicado no jornal Folha do Bairro - 21/12/2012
 
 
 

O fim do Mundo

 
 
 
 
 
 
 
 
Comunicado #4 
A AAO declara-se oficialmente entediada com o Fim do Mundo. A versão canônica tem sido usada desde 1945 para nos manter acovardados diante do medo da Inevitável Destruição Mútua e em chorosa servidão aos nossos políticos super-heróis ( os únicos capazes de lidar com a fatal Criptonita Verde)... 

Qual a importância de termos descoberto uma forma de destruir a vida na Terra? Quase nenhuma. Nós imaginamos isso como uma forma de fuga da contemplação de nossas próprias mortes individuais. Criamos um emblema para servir como imagem-espelho de uma imortalidade descartada. Como ditadores dementes, desfalecemos ao pensar em levar tudo conosco para o fundo do Abismo. 

A versão não oficial do Apocalipse envolve uma nostalgia lasciva pelo Fim e por um Éden pós-Holocausto onde os sobreviventes (ou os 144 mil eleitos das Revelações) podem se entregar indolentemente às orgias de histeria dualista, aos intermináveis confrontos finais com um demônio sedutor... 

Vimos o fantasma de René Guénon, cadavérico e usando um fez (como Boris Karloff interpretando Ardis Bey em A Múmia), liderando uma funérea banda de rock noise industrial em altos zumbidos de moscas negras pela morte da Cultura e do Cosmos: o fetichismo elitista de niilistas patéticos, o autodesprezo gnóstico dos intelectualóides ``pós-sexuais''. 

Não seriam essas baladas sombrias simplesmente imagens-espelhos de todas as mentiras e superficialidades sobre o Progresso e o Futuro, berradas em todos os alto-falantes, e emitidas, no mundo do Consenso, como ondas cerebrais paranóicas de qualquer livro escolar e da TV? A tanatologia dos sofisticados milenaristas brota como pus da falsa saúde do Paraíso de Trabalhadores e Consumidores. 

Qualquer um que pode ler a história com os dois hemisférios do cérebro sabe que um mundo termina a todo instante - as ondas do tempo lavam tudo e deixam apenas as memórias de um passado fechado e petrificado - memória imperfeita, ela mesma moribunda e autonal. E a todo instante também é gerado um mundo novo - apesar dos protestos dos filósofos e dos cientistas cujos corpos se paralisaram - uma atualidade na qual todas as impossibilidades se renovam, em que arrependimentos e premonições dissipam-se em nada num único gesto presencial, psicomântrico e hologramático. 

O passado ``normativo'' ou a futura morte do universo significam tão pouco para nós quanto o PIB do ano passado ou a degeneração do Estado. Todos os passados Ideais, todos os futuros que ainda não passaram, simplesmente obstruem a nossa consciência da vívida presença total. 

Certas seitas acredita, que o mundo (ou ``um'' mundo) já chegou ao fim. Para as Testemunhas de Jeová, aconteceu em 1914 (isso mesmo, senhores, estamos vivendo o Livro das Revelações agora). Para certos ocultistas orientais, aconteceu durante a grande Conjunção dos Planetas em 1962. Joaquim de Fiore proclamou a Terceira Era, a do Espírito Santo, que substituiu a do Pai e do Filho. Hassan II de Alamut proclamou a Grande Ressurreição, a imanência do eschaton, o paraíso na Terra. O tempo profano terminou em algum ponto da Idade Média. Desde então, vivemos em tempos angelicais - só que a maioria de nós não sabe disso. 

Ou, partimos de um ponto de vista monista ainda mais radical: o Tempo nunca começou. O Caos nunca morreu. O Império nunca foi fundado. Não somos e nunca fomos escravos do passado ou reféns do futuro. 

Sugerimos que o Fim do Mundo seja declarado um fait acompli; a data exata não importa. Os ranters, em 1650, sabiam que o Milênio se inicia agora em cada alma que desperta para si mesma, para o seu próprio centro e divindade. ``Regozije-se, companheiro'', era o cumprimento que usavam. ``Tudo é nosso!'' 

Eu não quero participar de qualquer outro Fim do Mundo. Um garoto sorri para mim na rua. Um corvo negro pousa numa árvore de magnólias rosadas, grasnando enquanto o orgônio se acumula e é liberado numa fração de segundo sobre a cidade... o verão começa. Eu posso ser seu amante... mas cuspo em cima do seu Milênio.
 
Hakim Bey (Caos: Terrorismo Poético & outros crimes exemplares)
  

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Um papo pop entre os andares do prédio (ou 'O papo é pop')


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Ei! Você não tinha barba?

Tinha! Tirei. Às vezes eu tiro. E ela sai. Mas ela sempre volta. E eu tiro de novo. E ela volta. Aí eu volto a tirá-la. E sempre que eu tiro, não demora muito, ela volta.

Ah tá! Não é você também que escreve num jornal aqui da cidade?

Sim. Escrevo. E eles publicam. E eu escrevo de novo. E eles publicam outra vez. Você também escreve uns textos num blog, não é?

Sim. É mesmo. Também!

Seus textos são um pouco polêmicos, assim como algumas publicações suas no facebook.

É? Tu acha?

Não que eu ache, mas, geram algumas polêmicas.

Eu não acho.

Mas, tem quem ache.

Na verdade, os textos são aquilo, os textos. São algumas pessoas que polemizam.

É, também acho que seja isso mesmo. Mas também escreve poesia, contos e textos filosóficos, não é?

É, mais ou menos. Às vezes eu me arrisco.

Legal! Ah! Acho que também já te vi tocando por aí numa banda de rock.

Sim. Eu toco.

Muitos shows?

É, alguns!

Legal! Ouvi seu som.

É? Ah, legal!

Gostei! Sou mais MPB, mas gosto também de rock quanto é bem feito.

Ah, obrigado pelo bem feito!

De nada. Também vi que luta alguma coisa.

Eu?

É!

Não, eu não luto.

Mas vi uma foto sua em estilo lutador, com aquelas roupas...

Ah, aquilo não é luta, é só uma posição de Wing Chun.

E o que é isso?

Uma arte marcial chinesa. Kung-fu. E eu não luto, pratico ou treino. 

Ah, tá! Mas e se precisar se defender?

Aí eu me defendo.

Então luta...

Não, assim mesmo, evito a luta.

Ah, acho que entendi. É professor, não é?

Sim. Quer dizer, dizem que sim.

Tem cara de professor de Filosofia.

Porque?

Ah, sei lá! Mas tem.

É, dizem que sou.

O que...

Professor de filosofia.

Ah, que legal!

Mas também de história, sociologia e linguagem.

Que legal! Bah, deve ter um repertório e tanto?

É, mais ou menos.

E faz o que aqui no prédio?

Sou assessor do sindicato dos professores da rede particular de ensino.

Nossa! Mais isso ainda?

É. Eu tento.

E tem tempo pra viver?

Isso é viver pra mim.

Então está feliz?

Geralmente... Mas, e você? Quem é você e o que faz?

Ah, desculpe. Só fiz perguntas... Prazer! Eu me chamo Maria... e te conheço...