Educação para
além da estrutura...
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Não
precisamos de escolaridade, de títulos, formalmente falando – mais do que já
temos. É inútil aos avanços humanos e culturais, apenas ter. Precisamos de
conhecimentos, aprofundamentos, possibilidades de olhares e pensamentos,
acessos a esses ‘conhecimentos’, aos ditos ‘bens culturais’, principalmente nas
periferias do Brasil. A dita ‘classe C’ cresceu, adquiriu certo poder de
consumo dado a certo crescimento econômico do país. Mas, parafraseando a
filosofa Viviane Mosé em uma fala sua: “não é uma boa roupa que caracteriza um
desenvolvimento humano e sociocultural”. Nossa educação é ligada a produção.
Mas não a produção do conhecimento intelectual, artístico e humanitário, mas a
produção de bens e/ou produtos, facilitadores ou não da vida, do cotidiano, sob
tudo, produtos de consumo. Novas tecnologias nos servem como alguns desses ‘facilitadores’,
ao mesmo tempo em que são ‘dispositivos’ de controle (leia-se Giorgio Agamben),
que em muitos casos, acabam nos limitando ao próprio uso dessas tecnologias,
desses ‘dispositivos’, a serviço disso ou daquilo, mas não necessariamente da
vida – que vai além do fator estrutural. Aí temos um amplo arcabouço de
informações, o que, num primeiro olhar, nos parece algo bom, porém, essa quantia
nunca antes tida de informações, não significa que tenhamos conhecimentos ou
profundidade nelas. É preciso, acompanhando essas informações, conhecimentos
que possam favorecer ou propiciar a elaboração de conceitos, idéias,
fundamentos, possibilidades de olhares, para além do tecnicismo tecnológico ou
do formalismo escolar. Segundo ainda Mosé, “o vilão da formação básica é a
Universidade”, sendo que, é a partir dela que teorias são lançadas ao cotidiano
(ou não), pelos que saem dos bancos acadêmicos rumo ao exercício das suas
profissões - e entre esses, temos os professores que irão compor o quadro do
que chamamos educação básica. Referente a isso, refaço os questionamentos de
Mosé, frente ao discurso educacional atual que promove, não muito mais do que a
estrutura: “Para que serve o ensino médio no Brasil? Qual é o seu sentido?
Porque todo mundo tem que ir para a Universidade?”. Para uma saída saudável
desse contexto reducionista, é preciso, antes de tudo, valorizar a cultura, as
linguagens, as artes, o pensamento e a criatividade – para além do fator
meramente econômico e estrutural. Mas, a realidade (assim como os investimentos
necessários na educação) que temos ainda hoje, é formalizada, formalizadora e
formalizante. Ela não dá conta de uma necessidade básica e fundamental humana:
a construção de possibilidades culturais, artísticas e intelectuais, para além
dessas formalidades e estruturas formativas técnicas. Depois da alfabetização a
criança aprende gramática, e não interpretação ou leitura (leia-se aqui,
leitura de mundo). Gramática é técnica, acessório, e não possibilidade de visão
e ação sociocultural. Para se produzir textos e pensamentos com certa coerência,
poética, sensibilidade, ideias, é preciso certo ‘conteúdo’, e para isso, acessos
a certos conhecimentos. Eis o que a Universidade e depois a Escola, pouco
cumprem, ao contrário, geralmente, engessam essas possibilidades com suas
formas racionalistas e formalizadas de saber e agir, onde elas próprias acabam
constituindo-se assim, em ‘dispositivos de controle’ ou ‘instrumentos de
reprodução’. Portanto, o debate da Educação deve ir além da economia, da
estrutura, dos métodos e técnicas. Ele precisa ter o teor do sensível e o sabor
das inquietudes filosóficas e das dilacerantes aventuras poéticas.
(Inspirado na fala da filosofa Viviane Mosé no '2º Congresso Todos Pela Educação em Brasília', do dia 10 de Setembro).
* Também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 12/09