segunda-feira, 27 de abril de 2015

Força Velho Oeste!


“O que não me destrói, me fortalece” (Nietzsche)

Vindo da natureza, porém, muitas vezes devido à intervenção humana desmedida no meio ambiente, um tornado é uma das mais significativas ‘representações’ (melhor, ‘apresentações’) do poder, da força desta própria natureza que, além do equilíbrio, também é a soma dos desequilíbrios ambientais. Mais comum no norte da América, este fenômeno também acontece, mesmo que raramente, aqui no sul. E aconteceu na cidade vizinha de Xanxerê. Fui para lá com um grupo de amigos/as, já que tenho também bons amigos/as naquela cidade, prestar minha solidariedade, além da ajuda com mantimentos e mãos. O que vi foi triste. Mas, contudo, temos a solidariedade como potência de vida e continuação. A solidariedade é algo que une, integra, transforma, move. Assim como certo desequilíbrio ambiental pode ser motor de uma tempestade (ou mesmo o ‘bater de asas de uma borboleta’, como constata a teoria física do Caos), a solidariedade também move, é integradora e motor, pois gera, soma e modifica o meio. Um ato que também torna a humanidade possível, assim como sua continuação. Mais uma vez visito meu amigo bigodudo para dizer que, ‘dificuldades ou tragédias transformadas em potência nos fazem fortes’, e complemento: a partir da solidariedade que nos faz ser uma comunidade além-fronteiras. 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 24/04.



quarta-feira, 22 de abril de 2015

Por aí...


Redução da Maioridade Penal é pouco. Queremos, ansiamos, desejamos... Sentimos tesão, temos fetiche por punição e violência. Queremos agora a pena de morte! Eu, Bolsonaro, Cunha e João. Depois a gente reza e tá tudo bem! Tudo culpa da Dilma e do PT. Impeachment já! Fora Copa! Fora Olimpíadas! Vou tirar a roupa e protestar (melhor não, sou muito feio pra isso). Antes que o Brasil vire Cuba ou Venezuela. Antes que Fidel monte sua ditadura aqui. Dizem que a dita-dura de Fidel é grande, além de dura. Nunca entendi direito esta frase, mas concordo. Vi pela TV. E a TV só diz a verdade, não é? Sempre tem quem goste de uma dita-dura. Na escola um professor me ensinou: ‘Devemos respeitar o gosto alheio’. E eu aprendi. Agora, estão aprovando a dita ‘lei da terceirização’. Uma dita que também é dura, ouvi dizer. Mas concordo, pois... pois... Bem, não importa! É contra a Dilma e o PT, sou a favor. Dizem que a Dilma pode vetar. Comunista! Petralha! Já não bastam as bolsas e cotas que sustentam esses vagabundos pobres? Se não der o Impeachment da Dilma, vou embora do Brasil. Morar num país que é ‘líder’ mundial, tipo os EUA. Lá sim tem... tem... Enfim. Fora comunismo bolivariano! Não importa se sei que não sei, o que vale é a intenção, não é?


·         Obs.: Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (só que não!).


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 17/04.



Leituras do Cotidiano, 17/04

Vozes do espetáculo

Enquanto você pede Impeachment sem saber se é isso ou não o que deve e pode acontecer, eles vão avançando, como uma enxurrada que traz lixo, dejetos ou muita sujeira em dias de tempestade e enchente, trancando bocas de lobo, enchendo vielas, transbordando canais e inundando casas com seu lodo. Enquanto você, mesmo sem ter noção, clama por ‘intervenção militar’, eles aprovam coisas que prejudicam sua própria condição, a exemplo da PL 4330, que prevê a terceirização e consequentemente a precariedade do trabalho e de direitos trabalhistas, estes, que incluem você, seu tempo, seu espaço, sua vida. Mas você insiste reproduzindo discursos e manifestando-se contra uma corrupção que nem sequer vê ou sabe de onde vem, com quem e como é praticada. Mas não importa, você crê. A TV lhe diz e você reproduz. Enquanto você aplaude a ‘redução da maioridade penal’, como se isso fosse resolver alguma coisa, a cultura, a educação arcaica, o ‘modo adulto’ de relação com a criança, o adolescente e com o jovem se alimenta para continuar defasado, falho, medíocre, violento, desequilibrado. Cadeias que não ressocializam transbordando, assim como as vielas e canais que cruzam bem abaixo de seus pés, mas você não vê nem sente, até que a água bata na sua bunda ou chegue ao seu pescoço. Enquanto você só acha e enche os meios de comunicação e informação de lamúrias, reclamações ou discursos odiosos contra aquilo que apenas acredita ser o problema (mas não sabe realmente se é), empresários das comunicações, publicitários e indústria cultural, assim como seus produtos e ideologias, adquirem mais e mais poder, status e riqueza, graças a você. Parabéns! Se sinta útil por isso – como um instrumento ou objeto, o que, de certo modo, você acaba sendo. Enquanto o mundo lá fora lhe chama para ousar, criar, viver, você continua nas suas velhas e passadas convicções, concepções, crenças ou simplesmente, pré-conceitos. Enquanto você só age seguindo as orientações do ‘Grande Irmão’ (leia-se ‘1984’, de George Orwell), manifestando-se nas ruas sem ao menos saber a fundo o conteúdo dessa ‘manifestação’ (ou reprodução?), eles deitam e rolam sobre seu cadáver ambulante, neste jogo novelístico ou cinematográfico onde zumbis existem.  Parabéns! É figurante, não o ator ou atriz principal ou protagonista deste teatro filmado. Enquanto você corre eles descansam sob a sombra que dizem também ser sua, e que, talvez, quando o tempo passar e você envelhecer, e se por acaso, ainda estiver vivo ou ainda houver tempo pra isso, você descubra que esta sombra nunca foi sua, ou se foi, para piorar, nunca teve a chance de descansar em baixo dela. Que realidade triste é a sua. Sempre ouvindo, consumindo, reproduzindo. Sempre servindo e obedecendo. Sempre sendo usado e deixando-se usar. Sempre alimentando este ‘espetáculo’ de que faz parte como mero mantenedor. Um espetáculo onde alguns vivem legitimados por outros que apenas existem. Um espetáculo onde você e eu, fizemos parte do show. A diferença é que, um de nós tem esta leitura, visão e/ou consciência, e por causa disso, se move para além do espetáculo, para além da reprodução, enquanto ou outro, miseravelmente só faz barulho, pois sua voz não lhe é própria, apenas um eco de outra voz maior. Vozes somadas que formam uma só em consonância com o recado do espetáculo. Vozes distintas e próprias ainda hoje, infelizmente, são para poucos. Porém, podem ser para muitos, como sempre pôde, basta que, estas vozes livrem-se de certas palavras.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



quinta-feira, 16 de abril de 2015

Arte e história Ninja: fantasia e realidade

A história dos ninjas é ‘lendária’ é circundada pela fantasia, a partir da literatura cinematográfica que tornou esta ‘cultura’ bastante caricata e/ou romantizada. O cinema, as lendas e a propaganda, fizeram dos ninjas e sua história, assim como da sua ‘arte marcial’, conhecida como ‘ninjutsu’ (alguns pesquisadores defendem que nem sequer existiu uma ‘arte marcial’ própria dos ninjas, enquanto outros, dizem o oposto, inclusive, que teve um código próprio de conduta, conhecido como Ninpo), personagens caricatas, para além da crua (e dura) realidade em que os mesmos viviam ou compunham.

Os chamados ninjas vinham de uma ‘classe social’ baixa no período ‘feudal’ japonês, geralmente, camponeses ou filhos de camponeses pobres, e ao contrário dos também romantizados pela ‘indústria cultural’ (ver conceito a partir da Escola de Frankfurt) ‘samurais’ (soldados ou guerreiros, como capatazes de uma fazenda ou latifúndio – ver o conceito de ‘vassalos’ na história medieval ocidental), não possuíam um código de honra no compromisso com seus ‘suseranos’. Ou seja, enquanto os samurais eram educados e preparados para protegerem seu senhor, suas terras e riquezas (seu poder), o ninja era contratado e pago para espionar e assassinar inimigos dos seus financiadores (senhores feudais, nobres e imperadores – numa guerra particular entre si).

De uma forma geral, alguns historiadores defendem a tese de que ninjas eram como ‘mercenários’ que, pelo fato de serem pobres (explorados e marginalizados), se especializaram na ‘arte’ de espionar e matar, sob tudo, ‘pelas costas’ ou ‘no escuro’ (no caso, cumpriam com suas funções da maneira que fosse, sem uma ‘ética’, ‘honra’ ou ‘moral’ definida). Outros, em contraponto, dizem que embora tivessem a fama de ladrões e assassinos, os ninjas tinham a espionagem como sua maior especialidade, afirmando também que eram camponeses que criaram um sistema marcial como forma de lutar contra a opressão dos samurais e seus senhores.

Ninjutsu: Defesa Pessoal?

A partir do breve contexto acima, fica difícil confirmar uma das teses como sendo a ‘verdadeira’. Mas, podemos com isso, pensar na forma como que hoje o ninjutsu é ‘vendido’ e/ou praticado, sob tudo no Brasil. No site de uma academia de artes marciais (entre tantas outras que ‘ensinam’ ninjutsu) encontramos a seguinte descrição:

“A Arte Ninja é uma das mais letais existentes por usar todo tipo de armas e técnicas simplesmente fantásticas no combate corpo a corpo. O Ninjutsu é completo, mas leva uma vida inteira para aprender tudo o que a modalidade oferece e por isso em parceria com o Dojo de Ninjutsu (...) selecionamos técnicas efetivas que capacitam o aluno a se sair bem de muitas situações sejam elas no campo ou na cidade. O Ninjutsu moderno é adaptado para nossos dias e usa táticas atuais de combate e infiltração.”
(...)
“O Ninjutsu é uma arte simplesmente espetacular, pois trabalha com todo tipo de estratégia de combate sem regras para alcançar o objetivo a qualquer custo sem desistir nunca. Como a arte ninja é em muitos aspectos complexa e exige do praticante longos periodos de treinamentos e anos de experiência. Nós do DOJO (...) com ajuda dos Mestres Ninjas do Sistema (...) criamos uma seleção de técnicas de defesa pessoal do Ninjutsu para você que deseja um treinamento diferenciado e de grande eficiência”.

  • Obs.:  As ‘reticências entre parênteses’ são para preservar o nome da academia (empresa) em questão.

Vieses

A problematização em torno do ninjutsu no Brasil, assim como as dúvidas e questionamentos a respeito, não é novidade. Alguns acreditam e defendem que esta ‘arte’ ainda esteja viva, inclusive no Brasil, e que seja possível de aprender e/ou ensinar. Enquanto outros, acreditam que, sendo uma arte própria de um lugar, contexto e cultura, sob tudo, uma arte criada por uma necessidade (de sobrevivência e ataque), se contradiz com a ideia de que possa ser ensinada como uma ‘arte defensiva’ como muitas das propagandas de academias trazem, vendendo este ‘serviço’ sem critério histórico, social e cultural algum. A partir daqui, começamos a falar em ‘responsabilidade’ social, cultural e histórica.


·        Para saber mais – e sintetizado - a respeito dos ninjas, sua arte e história:






quarta-feira, 15 de abril de 2015

Leituras do Cotidiano

Divagações sobre algumas Naturezas


Mudanças ‘não naturais’ acontecem diariamente: o antigo efeito estufa que transformou-se em aquecimento global, a tristeza em depressão, a humanidade em virtude, e assim por diante. E quase nada disso é natural. Eu não sou natural, nem você. Talvez a nossa carne nua, e o pouco da nossa consciência despida de valores obesos, ou nosso lado curioso da alma ainda sejam um tanto naturais. Aliás, quase nada do que se conhece é natural. Tempestades oras são naturais, oras não. Assim como os terremotos e outras explosões da natureza. Nem tudo vêm dela. Existem diferenças como: a bebida não é natural, mas talvez beber seja. O alimento não é natural, mas talvez comer seja. O casamento não é natural, mas apaixonar-se e depois amar, pode ser. O ciúme não é natural, talvez a dor seja. O homem, enquanto ser social, não é natural. O suco que acabei de beber, muito menos. Tudo está ligado a algo maior, e que também não é natural. Quase nada é natural e quase tudo é discurso e conceito. Natural é a entrega, sem moral nem dogma. Sem pudor. Sem o sofrimento incrustado pela tradição. Ás vezes bêbado, me torno natural. Nu de alma e de palavra. A minha e a tua carne, são parte de um todo chamado natureza. Agora, o que acreditamos, vivemos e pensamos, não. Muito do mundo é forjado para a dita ‘convivência social’. Natureza é vida e movimento. Aquele toque na pele trêmula em noite de diversão, amor, paixão ou apenas desejo encarnado, aquele fogo interno e fátuo, imensurável, isso tudo pode ser natural, pois faz parte de uma natureza. Existe aí uma natureza selvagem e ampla, diferente daquela discursada para tentar ordenar o caos. A natureza é caótica. Mas não do caos usado ideologicamente para amedrontar, substantivo de calamidade ou tragédia, mas o caos que é ação, movimento, vida. A natureza não se acomoda, nem é território. A natureza é liberdade e caos - e temos isso em nós, e há isso também na floresta e nos animais. Masturbar-se, talvez não seja natural, mas gozar é. Sentir culpa do ato não é natural, mas ter o prazer na carne e na alma, é. Somos tão viciados e crentes em conceitos e discursos de ordem moral e sociocultural, que quando a nossa natureza se manifesta, não sabemos reconhecê-la. Perdemos com isso, pois o não reconhecimento e descaso com a natureza trazem algumas consequências de reação.

          A natureza, enquanto escrevo dentro dessas quatro paredes, se manifesta em meu peito e lá fora, onde os grilos silenciam porque chove.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



Reflexo...

Quero estar em nenhum lugar. Quero não estar. Simplesmente. Pelo menos por um tempo, até que as coisas voltem a não ser. Como nuca foram. Você e eu andando pelo nada dentro do vazio. E o vazio nos preenchendo de nada. E o nada nos esvaziando de nós mesmos. Às vezes penso no final do dia que nunca permanece. Também penso no seu riso de deboche as quatro da madrugada. Do nada você ri. Quanto te empalhei no meu sonho você ainda sorria, liberta como uma mulher da vida. E eu, um vadio que não serve pra nada nem pra ninguém, riscando poemas despedaçados na parede cinza e carcomida do nosso antigo quarto que já não figura naquilo que chamam de casa. Somos como nossa tapera, um abandono só. A alma que um dia eu já tive fugiu de casa no momento em que abandonou a sua casa. Fiquei só e sem pátria. Um corpo caído no meio de uma sala mais vazia ainda. Mas eu ainda ei de te encontrar. Nem que seja neste nada que até a memória fez questão de abandonar. Somos um só abandono, eu e você, como a nossa casa. Penso em não estar, e mesmo não estando, penso em você. Sem imagem, sem voz, sem nada. Pobre espelho quebrado és apenas uma moldura que insiste em estar. Pobre alma penada, você nem se quer tem forma. Um reflexo do que não está, mas assim mesmo é. Perdão pelos dias delirantes na beira do vazio, alma penada que grita sem ter voz.


* também publicado no jornal Folha do Bairro. 



terça-feira, 7 de abril de 2015

Contradição e moralismo


“O Brasil que anseia reduzir a maioridade penal é o mesmo que oferece foro privilegiado para político corrupto e delação premiada para bandido” (Neuri Alves)


Dados do IBGE mostram que a população de 12 a 17 anos no Brasil é de 20 milhões e, destes, 22 mil (0,01%) estão em conflito com a Lei, sendo 1.852 fichados por prática de homicídio. Sendo que, crianças e adolescentes são as maiores vítimas da violência sociocultural e física no país. Então, não é preciso procurar muito para encontrar a contradição. Justamente no dia que marca os 50 anos do Golpe Militar, mais um golpe, dado pelas bancadas religioso-conservadora (os mesmos que dizem ser 'contra o aborto'), dos latifundiários e coronéis (concentradores de terra) e dos grandes conglomerados industriais/empresariais (concentradores de riquezas). Pior é ver/ouvir alguns 'educadores' e 'jovens', apoiando e legitimando esta ação 'punitiva' (e contraditória) que, pelo mundo, não dá resultados positivos, apenas, alimenta um sistema (carcerário, político e cultural) falido, medíocre e baseado no ódio e sentimento de vingança. Moralismo? Incoerência? Alguns apostam que o próximo passo é a aprovação da pena de morte no país. Enquanto isso, o ‘espetáculo prossegue’, bem alimentado, firme e forte, frente à miopia dos nossos olhares de julgo e de pouca profundidade. 






















* também publicado no jornal Folha do Bairro.