sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Brasil no mundo!















Somando toda a riqueza da África e a redistribuindo, ainda não dá pra sanear a miséria que lá existe. Enquanto isso, aqui no Brasil, rumores do fim da bolsa família irritam o governo (tanto é que até a presidenta veio a público se manifestar a respeito). Rumores vindos, provavelmente de um fragmento de oposição que ainda resta no país, já que, até a dita ‘extrema direita’ mudou sua sigla partidária para entrar, aos poucos, embaixo das asas do governo federal. Aquilo que se tem por ‘esquerda’ (ainda!) anda em evidência no país, pelo menos a nível federal, com suas bolsas e arranjos econômicos que, bem ou mal, beneficiam parte significativa da população. Vivemos um período onde o ‘governismo’ é fato, por outro lado, essa ‘força’ do Estado de cunho ‘socialdemocrata’ (se não for bem isso, muito se aproxima), acaba deixando o país um tanto mais saudável frente a uma crise mundial do ‘capitalismo antigo’. Um novo capitalismo de desenha, ainda não tão claro e/ou estabelecido, pois o setor privado ainda tem plena ‘liberdade’ e força de mercado e de influência ideológica sobre o Estado, e isso faz com que as coisas estejam vulneráveis. Dada à histórica pobreza da África, as atuais crises europeia e norte americana, estamos relativamente bem. E isso ‘nos enche de orgulho e nos faz querer ser brasileiros’ (pelo menos nesse momento). Mas vamos ver até quando isso vai durar, pois, sem bons investimentos na Educação e Cultura, não se pode ir muito além - e o futuro pode nos reservar surpresas desagradáveis. Não sejamos pessimistas, porém, sem abandonar o senso crítico e da realidade. Enfim, olhemos para os lados percebendo que o mundo não somos apenas nós...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, em 31/05



quarta-feira, 29 de maio de 2013

Leituras do Cotidiano - 29/05

“Representante do povo”  X  “Voz do povo” (ambos do ‘Oeste’)


















Até que enfim algo ‘carnal’ aconteceu na câmara de vereadores de Xapecó. Algo para além dos ditos ‘confrontos de ideias’, dos discursos ou falácias (ou seriam confrontos ideológicos ou por interesses privados?). Só pode ter sido influência do espetáculo midiático do UFC! (risos). Refiro-me a peleia que aconteceu entre um vereador (‘representante do povo’) e um ‘jornalista’/colunista (‘voz do povo’) de um jornal (onde inclusive já escrevei um tempo atrás) aqui de Xapecó (não, não fui eu! Pratico uma arte marcial, mas não chego a tanto). Sim, eu sei que nem todos os ilustres ‘representantes do povo’ xapecoense participam da farra festiva dos votos a cabresto na aprovação - ou não - de projetos e afins, porém, grande parte (e há quem diga que, até a maioria), faz isso. Muitos acreditam que alguns vereadores representam interesses do poder público e de forma mais velada de grandes empresários da cidade. É aí também que o histórico ‘mandonismo local’ se apresenta, a nível institucional/político. Mas isso pode ser apenas ‘intriga da oposição’, calúnia, difamação, mito - ou a mais pura realidade. A liberdade de pensar sobre isso é sua, caro leitor! O motivo da peleia teria sido uma crítica que o colunista em questão desferiu contra o vereador, que segundo as ‘más línguas’, costuma tirar um sono durante as seções na câmara. O vereador teria se indignado com o comentário do colunista e o pau comeu. Independente disso, eu, cá com meus botões, penso que peleias como esta fazem falta no cotidiano desse tão nobre espaço demo-crático (se dá pra dormir e votar a cabresto, dá pra pelear também, porque não?). A sociedade do espetáculo tem dessas, ‘normal’! - pois nem só de riqueza, da especulação imobiliária, dos altos prédios e pobreza intelectual-cultural de parte significativa dos ilustres vereadores, vive Xapecó. É preciso carne! É preciso chão para essa gente que fala e discursa mais do que pensa e age. Enfim. ‘Não é Efapi, mas é espetacular!’ & Viva a peleia!


Neutralidade da mídia...

Qualquer mero comunicador, apresentador, opina na grande mídia, como se fosse um expert nos assuntos socioculturais e políticos. O ‘jornalismo’ e qualquer jornalista tem mais ‘voz ativa’ do que sociólogos, filósofos, antropólogos e historiadores - nesse nosso ‘pão e circo’ cotidiano... 




sexta-feira, 24 de maio de 2013

Janelas para a noite (& o prazer na solidão)...






















'Silêncio' - Odilon Redon (1900)


Enquanto lá fora o vento sopra e bate na janela do meu quarto escuro, eu em meu devaneio noturno prossigo buscando distâncias. Imagens me surgem e em todas elas eu estou só. A solidão às vezes é a companheira mais fiel. Ela não ludibria, não dissimula, não entorta, não agride, apenas silencia e é. E eu abraço a solidão como quem abraça a si mesmo em frente ao espelho – com toda a força e esperança contidas no ato. E o vento lá fora, teimoso, continua a bater na janela do meu quarto escuro. Daqui um pouco o galo canta e algo se move lentamente por detrás da montanha sobre a relva umedecida. A solidão vai embora sempre que alguém bate a minha porta e eu me certifico de que o mundo ainda não está vazio. No meu peito sobe uma ânsia que vem por causa de um dia cheio de compromissos que não me dizem nada, mas que sei, é preciso cumpri-los por uma determinação exterior a minha vontade. É o dia útil que chega e se apodera da necessidade, tornando-a escrava dos seus mandos e desmandos, a seu bel-prazer – o meu, volta com a noite, quando em meu quarto escuro ouço o vento soprando e batendo na janela. Minha solidão tem janelas para a noite...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, em 24/05



quinta-feira, 23 de maio de 2013

Leituras do Cotidiano - 23/05


“Literatura”:



















Sou um escritor maldito. Reconheço! Não nego e até admito com orgulho! Sou um tanto orgulhoso pra isso – e é mais prático sê-lo, já que não tenho tempo disponível para me autojustificar. Os dias passam e a maldição aumenta e se intensifica a medida do passar dos dias. Minha maldição não é Cult, não é erudita, não é capa de revista, mas é pop! Sendo assim, me tornei um escritor pop interiorano – e isso não quer dizer quase nada, a não ser pelos que dão suas atenções e importâncias pra isso. Não raras vezes encontro alguém que me aborda e diz: “Você é o Herman, não é? Escreve coisas ácidas em jornais e num blog, não é? Faz isso e faz aquilo, não é?” Sabem mais das minhas ações do que eu próprio – se bem que esse ‘saber’ é superficial, e o que realmente sou, penso e faço, não é nada fácil ou simples de localizar. Digamos que eu confunda bem aos que confundem as coisas e confundem-se a si mesmos. Ainda hoje se julga o perfume pelo frasco, e a insistência no erro continua. Geralmente faço o que posso para responder de forma mais amigável possível aos que me indagam, testam e provocam. Não tenho impedimentos quanto a isso - nem língua presa ou algum outro problema na fala (acho). Então respondo e me permito ao diálogo. Sou partidário do movimento dialógico e não do puxa-saquismo, mas algumas pessoas são boas em confundir e misturar isso... em tempos de rede social-virtual, onde o discurso, a reprodução das ideias reducionistas, a informação fragmentada e descontextualizada, extrapolam o limite do conhecimento e o bom senso,  a vulgaridade toma forma de status social. Eis o possível motivo da minha maldição.


Diálogo bate e volta:

- Herman, tu é favorável do casamento gay?
- Não!
- Ué, mas você não me parece preconceituoso!
- Não é por isso...
- Por qual motivo então?
- Não sou favorável a nenhum casamento.
- Como assim? E o amor?
- O amor não é algo que precise ser institucionalizado...

* e nem tudo é preconceito.


Declaração! (referente a polêmica ‘história mal-dita’ de Xapecó):

"Para os devidos fins, eu Herman G. Silvani, declaro publicamente que não tenho intenção de ‘suicidar-me a mim mesmo’. Dixi!"


“Política?”:


Choveu bala na favela...

Dias atrás, rajadas de metralhadora disparadas de um helicóptero da polícia que estava a caça (e caçou) o traficante conhecido como Matemático no Rio de Janeiro, por sorte não fez vítimas inocentes. Uma ‘operação’ que poderia ter sido desastrosa, e por pouco não foi. Por em risco a vida de moradores em prol de um dito ‘combate às drogas’ (o que não passa de um discurso) não me parece algo inteligente nem humanamente legal. O Estado e seu braço armado fazendo das suas. Pior é ver muitos reproduzindo esse fato como se fosse algo digno, e o comando da ‘operação’ ovacionado com honras de heroísmo. Detalhe: “isso porque não foi num bairro ou região nobre, de classe média/alta, foi na favela, com certeza!”. Assim é que se alimenta uma ‘guerra’ entre a dita ‘classe média’ ascendente (composta em sua maioria por brancos-eurodescendentes) e uma ‘classe pobre’ marginalizada (composta em sua maioria por negros-afrodescendentes). ‘Guerra’ essa, desproporcional e covarde, motivada por ‘cabeças de vento’ que promovem essa segmentação, essa eugenia, em suas reproduções medíocres nos meios de comunicação de massa e redes sociais. 

Um homem prevenido vale por dois...

Antes que alguns me venham com mesquinharias do tipo: “Defendendo o marginal Herman?! Leva pra tua casa, cuida dele e blá-blá-blá...”, deixo claro que: “Dane-se o tal Matemático!”, não gosto mesmo de cálculos!


Opinião pública?
Não. “Opinião publicada!”. Nunca vi/ouvi na minha vida, falar tanto em criminalidade juvenil nos meios de comunicação de massa como recentemente.  O tema sendo massificado e reproduzido em massa. A campanha midiática pró-redução da maioridade penal está a mil. Qualquer apresentador de telejornal opina de forma banal e descontextualizada a respeito. É a dita ‘imparcialidade’ do jornalismo ‘diplomado’ nacional (diploma pra isso?). Parte do ‘espetáculo nosso de cada dia’, senhores e senhoras! Amém!


* também publicado na pág. 11 do jornal Gazeta de Chapecó, em 23/05.



sexta-feira, 17 de maio de 2013

Leituras do Cotidiano - 16/05


 “Literatura”:
  

Histórias do Velho Oeste: Os incendiários!

















Escapei do linchamento naquela noite de primavera. Os companheiros do meu bando não tiveram a mesma sorte. Era outubro de 1950 e eu me lembro como se fosse hoje. Depois de apanharem muito da população revoltada, com suas carnes já dilaceradas, foram incendiados. Tonho ainda estava vivo pelo que me contaram depois. Deve ter sofrido muito o coitado. Fomos acusados de incendiários e éramos forasteiros. Nego as acusações até hoje. Se bem que não sou tão confiável assim! Que culpa tínhamos nós pelas garotas nos darem bola? Se arreganhavam todas quando nos viam passar em cima de nossos cavalos bem encilhados. Éramos elegantes e tínhamos risos de vanguarda. Bons tempos aqueles em que perseguíamos um ideal! Por mais que eu fosse perigoso, nunca ateei fogo em igreja nenhuma. Sou devoto e jamais faria isso! O desgraçado do delegado em comunhão com o padre, prefeito e outras autoridades, fizeram corpo mole, deixando a populança nos agarrar. Queriam nos ver mortos, e conseguiram. Mas eu sobrevivi. Talvez os imbecis não esperassem por isso. ‘Famílias nobres... ah! Que piada!’. Que nobreza há em atos como este? Eu andava bem trajado e era gentil com os que fazia contato, principalmente com as donzelas e raparigas. Andava armado, como os demais, costume da época, mas nunca precisei puxar o gatilho, graças a Deus! Sou o quinto elemento de um bando de amigos e companheiros de aventura, e o único sobrevivente. Minhas cicatrizes são incuráveis e carrego sequelas que jamais serão reparadas. O tempo passou e eu envelheci junto com minhas chagas que são eternas. Xapecó é uma cidade de tradição incendiária. Hospitais, clubes e até igrejas foram ‘vítimas’ del fuego ao longo dos anos por aqui. A maldita disputa por poder local fez vítimas e deixou um rastro de sujeira e sangue na história do Oeste – e culpa foi lançada e transferida aos indesejáveis e desprezados dessa ordem. Não é por nada que esta terra é também conhecida como ‘Velho Oeste’. Muitos dos covardes desapareceram enquanto eu permaneço – ainda estou aqui, incrustado nas pequenas decadências dessa cidade. Como uma maldição, volta e meia sou lembrado – o tormento da moral local. Sou parte nobre de uma história hedionda – o ‘pé no saco’ dos heróis que aqui foram forjados. Minha vingança foi tornar eterna a lembrança da matança dos meus comparsas. Estou vivo e me chamo Memória.

 *

“Política?”:

E os palhaços riem-se de própria desgraça...

Arma de plástico produzida em impressora 3D é o sonho do norte americano impotente e frustrado - e do brasileiro imbecil/reprodutor. Os reprodutores partidários do ‘livre armamento’ e do discurso enfadonho, hipócrita e demagógico da ‘legítima defesa’, comemoram essa invenção tecnológica e banal. Ponto para a bestialidade...

Redução da maioridade penal: muleta!

Sistema Penal: Universidade do crime - Sistema Educacional: Presídio da segmentação. Escolha sua opção!

Aliciamento de menores...

Quem paga não é a sociedade (ou o acúmulo de riquezas e os exageros dela) como geralmente quer fazer entender o discurso ideológico reacionário e retrógrado. Quem paga já é o jovem, o adolescente, a criança, jogados a sorte pelo descaso e omissão do Estado e suas instituições, muitas vezes, pela a omissão da família, da escola e do mundo adulto.

Educação penalizada...

Se o sistema judiciário e penal são incapazes e/ou incompetentes e corruptos, como exigir da criança ou do adolescente ‘boa conduta’? Onde há coerência nisso?

Covardia e moralismo...

Reduzir a idade penal é um ato de covardia do Estado e do mundo adulto. Essa redução acaba sendo uma ‘transferência’ das responsabilidades daqueles que são os principais agentes da situação, acima dos que estão vulneráveis aos trâmites desse jogo moralista de interesses particulares e estupidezes coletivas. Uma tentativa hipócrita de dar uma resposta medíocre que conforte a sociedade e sua ordem vitimizada (e violenta – para além da violência física, diga-se de passagem).

Limpeza étnico-social?

Ação policial onde um helicóptero fez chover balas numa favela deu sorte e acabou na morte do traficante. Esse fato foi (é) reproduzido em massa na internet como sendo um ato heroico dos agentes e do Estado. Mas isso porque foi numa favela, onde os desprestigiados dessa ordem, desse sistema, estiveram em risco. Se fosse num bairro nobre, de ‘classe média’ ou ‘alta’, certamente, muitos que estão na defesa dessa ação, não teriam a mesma ‘opinião’. Isso demonstra certa hipocrisia dos reprodutores e uma vontade de ‘limpeza étnico-social’, movido pela ignorância ou por um ódio motivado, das ditas ‘classes’ média e alta aos mais pobres. E se fosse no seu bairro, a chuva de balas furando suas paredes, você seria a favor?


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó - 17/05



Armas de fogo também são a causa de violência


Contradizendo ou contestando um pouco (ou muito) de uma ‘opinião’ publicada ao lado da minha crônica na semana passada neste mesmo jornal, faço o oposto, dizendo que ‘armas de fogo somam na violência’. Numa sociedade onde educação, arte e cultura (humanidades) são inferiorizadas em prol de um modo de vida utilitarista e individualista, onde prevalece a disputa e a busca por status social, onde o ‘ter’ é mais evidenciado do que o ‘ser’, dizer que armas de fogo são meios de ‘autoproteção e defesa’, é no mínimo um discurso ideológico ou falta de uma análise sociológica mais aprofundada sobre a questão. E não se trata de pacifismo ou não, estou falando aqui de coerência. Não há espaço suficiente para uma problematização maior a respeito do tema, mas, fica o meu questionamento enquanto cronista e professor na área de humanas e sociais. Leia-se que a defesa da ‘tese’ em prol das ‘armas de fogo’ (oposta a minha), foi assinada pelo presidente da ‘Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições’ – sendo assim, acho que não é preciso elencar números e estatísticas como foi feito para perceber o óbvio, não é?


* também publicado no jornal Folha do Bairro - 09/05



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Leituras do Cotidiano - 09/05

                                              

















“Literatura”:
  
Um caboclo, leitor meu...

"Puis ói Rérma, tão fincando denovo aquelas lombada eletrônica por tudo.. e as sinalêra.. lá na rua Nereu Ramos, acho que em meno de duzento metro, tem duas.. será que não tão denovo ajudando arguma empresa daquelas que foi denunciado na grobo, no fantástico, dos tar de superfaturamento? puis ói.. isso acontece porque não tem nenhum juiz cuiúdo, nenhuma artoridade decente aqui na cidade.. é uma vergonha mesmo! e o povo besta da cidade, continua gavando, votando, apoiando essa gente.. depois ainda falam mar da tar corrupçon.. tem uma máfia de empresário comungado com os poderoso do governo fazendo de gato e sapato a cidade.. e o rio Uruguay então, que tá morto.. viro água parada, morta, com as barrage.. e os ecologista.. os dito ambietalista e esse povo todo? e os vereador? a prefeitura? as organização social? ninguém fala nada.. tão tudo cagado essa gente.. e eu que sô cabocro, fraquinho, quaje sem inducação, enxergo isso.. tá feio mesmo Rérma, tá feio..."
  
Na sociedade do espetáculo...

Aluno vem e me pergunta:
- Herman, viu que um juiz de artes marciais, do UFC, foi preso por tráfico de drogas? 
Eu:
- UFC não é arte marcial... Não é Kung Fu, Aikido, Capoeira...
- O que é então?
- É um negócio!

  
“Política?”:
  
Terrorismo de Estado...

O pânico propagado nos EUA frente aos mal explicados acontecimentos na chamada ‘Maratona de Boston’ dias atrás, é uma arma daquele Estado, como uma forma de 'terror' alimentado pela grande mídia mundial, integrando uma outra forma de terrorismo, mais letal e abrangente, e com interesses maiores e globais: o ‘Terrorismo de Estado’.
  
Abolição da Escravatura...

Finalmente a escravatura no Brasil foi abolida! Com os direitos das domésticas garantidos por lei, os últimos resquícios da escravidão brasileira vão virando pó (pelo menos a escravidão legalizada). Porém, bastou saírem às primeiras notícias a respeito, que membros das ditas ‘classes’ média e alta, indignados com tal ‘avanço sociocultural’, se manifestaram. Essa manifestação indignada contra a legitimidade da profissão de doméstica mostra um espírito escravocrata de parte significativa da dita ‘classe patronal’ no Brasil, herança elitista-portuguesa dos tempos do Brasil império – resquícios de uma mentalidade conservadora e retrógrada que ocupa boa parte das mentes reprodutoras desse país.
  
Maioridade penal...

Não vale mais a pena ser criança, pré-adolescente, adolescente ou ‘de menor’ no Brasil. Na real, não sei se vale mais a pena nascer. Estão querendo, insistindo em intensificar leis punitivas (que já existem) tendo como alvo, na sua grande maioria, as próprias vítimas. Sim, vítimas desse modo de vida, desse sistema. Usam alguns casos específicos de criminalidade juvenil televisionados e feitos espetáculo, como justificativa ou pretexto para aplicar ao todo. Não bastasse o descaso do Estado com a educação e cultura, com as crianças e a juventude, agora querem os culpar por todo o mal ancestral e atual. Culpar os que receberam de herança do mundo adulto uma cultura, uma realidade, historicamente desigual, desumana, violenta, medíocre e corrupta. E querem moralizar o imoral. E querem convencer, exigir, punir, justificar, conformar, confortar, ludibriar, imbecilizar... Se vão conseguir? Não sei. Veremos! (mas nunca de braços cruzados). É fácil apontar culpados individuais quando se está de barriga cheia e pensamento vazio (o problema vai muito além do indivíduo). Mas nós haveremos de reagir! Ass.: ACSNDMA - Associação das Crianças Selvagens Não Domesticadas pela Mediocridade Adulta.


* 'Pitacos' crônicos também publicados no jornal Gazeta de Chapecó - 09/05/2013, junto a crônica.. minha mais nova empreitada...



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Em busca da redenção do passado de Chapecó

“A repercussão da entrevista de Monica Hass na elite política local”

* Artigo do amigo, historiador-pesquisador e professor, Claiton Marcio, publicado em 09/05 no jornal  "A Gazeta de Chapecó" – reproduzido na íntegra...


O debate em torno da entrevista da professora Monica Hass sobre o “Caso Marcelino” tem repercutido em diversos espaços e inquietado diversos atores. À esta entrevista, dois vereadores da atual legislatura (Marcio Sander e Dirceu Cecchin) responderam, explicitando seu ponto de vista sobre as afirmações da socióloga. As opiniões, contrárias ou favoráveis, também estão circulando nas redes sociais desde que “A Gazeta de Chapecó” deu visibilidade à questão. O debate provocado pela professora gerou reações contrárias por parte dos dois vereadores acima citados, que discordam principalmente da questão da existência de um “mandonismo” local, que serve de elo explicativo entre o caso do linchamento (1950) e a morte de Chiarello (2011). Em sua entrevista, Hass afirmou que “na verdade a gente tem uma situação que é a mesma: nós temos uma história de um mandonismo local muito forte na região Oeste como um todo e principalmente em Chapecó. No estudo que foi feito sobre o linchamento isso ficou muito evidenciado: quais são as práticas políticas que as pessoas exercem dentro da sua busca e manutenção pelo poder, que é o clientelismo, a corrupção, a violência, o nepotismo, os meios de comunicação. Essas são práticas políticas que acompanham a história política brasileira.”). Vereador em sua primeira legislatura, Cecchin expõe sua discordância da seguinte forma: “O que não podemos concordar é com a íntima relação que fazes com o 'linchamento' ocorrido no passado e a morte do vereador, dando a entender que o sistema de 'coronelismo' ainda impera na Cidade de Chapecó, totalmente contrário às emanações legais.” Este argumento, muito próximo dos modelo idealista dos princípios liberais, argumenta que as instituições sociais promovem na atualidade uma verdadeira “redenção” em relação ao passado. Em outras palavras, se existiu mandonismo/coronelismo/linchamento antigamente, na atualidade temos uma realidade diferenciada e complexa, que nos “desprende” enquanto sociedade chapecoense e oestina de nosso passado, ao menos no argumento do vereador. Mas uma coisa é certa: não há discordância sobre os elementos do passado, uma vez que Chapecó foi colonizada pela Bertaso & Maia, onde um de seus sócios era exatamente um Coronel, de nome Ernesto Bertaso. Mas se o processo de industrialização brasileira teria, aos poucos, dissolvido o poder dos antigos coronéis, existem leituras que observam “mutações” neste instrumento de dominação, ou seja, que o tradicional poder local analisado em livros clássicos como “Coronelismo, Enxada e Voto” (de Victor Nunes Leal, publicado em 1948) teria assumido outras feições, tal qual o também clássico exemplo de Antônio Carlos Magalhães durante a década de 1990. Assim, não fala-se em coronelismo ou mandonismo imaginando uma figura do passado, notadamente da Primeira República (1889-1930), mas metamorfoseada e “atualizada” no contexto em que vive. Não é possível analisar os recursos de poder utilizado por figuras políticas como José Sarney ou Siqueira Campos (governador do estado do Tocantins), por exemplo, sem se remeter aos conceitos de mandonismo ou coronelismo. Mas é necessário “atualizar” este conceito e buscar entender o mandonismo destes em uma sociedade complexa. E se um “coronel” hoje não atua como à maneira de Bertaso ou de outro coronel de seu tempo, é exatamente porque são separados por uma rede complexa de elementos que é expressa na sociedade brasileira atual: um contexto que os diferencia, uma ruptura com o passado. Mas é este mesmo termo, o contexto, que aponta semelhança no fato das duas figuras, o coronel do passado e o coronel metamorfoseado do presente, exercem poder sobre a sociedade tendo como ponto de partida os interesses de grupos privados sobre o bem público, utilizando-se da coerção para alcançar seus objetivos. Isto representa uma continuidade, uma semelhança entre os dois contextos. Este é o argumento de Monica Hass quando afirmou em sua entrevista que “hoje você tem um contexto muito mais complexo, tanto que naquela época não se tinha esses movimentos sindicais fortes que se tem agora, mas de qualquer forma o sistema é o mesmo, não muda, ele se adapta aos novos contextos, às pessoas que estão no poder, envolvidas nos seus interesses políticos, econômicos, pessoais.” Desta forma, quando a professora aponta semelhanças entre os contextos econômico e político (e não os fatos) do linchamento e do caso Chiarello, ela se remete a dois momentos históricos diferenciados (portanto, uma ruptura), mas com uma linha de interpretação comum, ou seja, a possibilidade de violência de origem política nos dois casos. Mas se existe uma distância temporal entre 1950 e 2011, como é questionado pelo vereador Marcio Sander que “não aceita a classificação de Chapecó como cidade de mandonismo pela violência que viria desde a década de 50 com a chacina até os tempos atuais com o episódio a que se refere”, (de acordo com o artigo), a professora poderia se apoiar em outros fatos que envolvem a cena local e que expressam o mandonismo em outras épocas. E neste sentido, posso auxiliar, uma vez que estudei por anos a consolidação do regime militar em Chapecó e a configuração política após 1964 no município (que envolvia tantos outros hoje emancipados).

Se não são conhecidos ou não repercutiram socialmente possíveis crimes de ordem física durante o período (1964-1985) no município, como no caso de 1950 e 2011 (e em nível estadual, como na cassação e posterior “desaparecimento” do Deputado Estadual Paulo Stuart Wright em 1973), a rearticulação político-partidária promoveu expurgos diversos na vida pública. E isto é exemplo de mandonismo local articulado com o poder central, ou seja, o executivo nacional, uma vez que não é possível dizer que pessoas como o ex-prefeito Sady De Marco (1967-1969) e o ex-Deputado Estadual Genir Destri simplesmente “suicidaram-se” politicamente. Ambos foram cassados, como aponto em meu relatório de pesquisa, em função de denúncias de “subversão” promovidas por lideranças políticas locais tradicionais vinculadas à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido de apoio ao regime militar. Em resumo, a cassação (e por consequência, a anulação política e social de duas lideranças ascendentes na vida partidária regional e estadual) aconteceu em função de denúncias promovidas junto aos militares por um vereador e um deputado estadual, herdeiros da ordem política coronelista. E quem assumiu a prefeitura após a cassação de Sady de Marco? O genro do Coronel Ernesto Bertaso. Exemplos não faltam nas décadas de 1980 e 1990 sobre a ascensão do poder político de outras famílias e suas práticas de mandonismo, e que podemos aprofundar em um outro momento. O argumento é que nesta linha de pensamento existem elos não apenas entre 1950 e 2011, mas entre 1950 e 1964 (rearticulação do poder local/mandonismo sob a bandeira da ARENA), 1950 e 1969 (cassação de Sady e Destri), 1950 e a “peste suína africana” de fins da década de 1970 (poder da agroindústria), 1950 e a tentativa frustrada de cassação do ex-prefeito José Fritsch (1997), ou seja, que a utilização de instrumentos de coerção sempre existiram e continuam existindo. Não apenas em Chapecó, evidentemente, mas o que chama a atenção de todos é a possibilidade de assassinato de um vereador de oposição, o que remete sim a uma construção histórica passada. Remete a um passado que as elites locais tentaram e tentam sistematicamente esquecer. E por isso a pesquisa da Monica e sua entrevista em “A Gazeta” continuam incomodando.

Entendo, neste sentido, que o episódio do “linchamento” é um ato fundante na história chapecoense, ou seja, depois desse acontecimento o passado ficou pesado demais para que as elites políticas pudessem carregar em seus ombros. A própria Monica Hass demonstra em seu livro que, por anos, não se vendeu lote algum na cidade após a chacina. Foi preciso por gerações esconder o passado, ocultar sua violência, e aos poucos criar a ideia de um presente de “progresso”, onde a “perseverança das famílias que aqui chegaram” (como afirma Sander) promovem o desenvolvimento da região. 


Como forma de interpretar essa história, me agradam as palavras do pensador alemão Walter Benjamin (1892-1940) sobre o quadro Angelus Novus, de Paul Klee (1920): “Existe um quadro de Klee intitulado Angelus novus”, escreveu Benjamin em sua IX tese sobre o conceito de história. “Nele está representado um anjo, que parece na iminência de afastar-se de algo em que crava seu olhar. Seus olhos estão arregalados, sua boca está aberta e suas asas estão estendidas. O anjo da história deve parecer assim. Ele tem o seu rosto voltado para o passado.” O “anjo da história chapecoense”, remetendo à ideia de Benjamin, olha com estupor para um passado de violência. Ele não faz distinção entre 1950 e a atualidade, uma vez que ele enxerga diferentes formas de violência nas diferentes ocasiões. Um emaranhado de violência simbólica, física, psicológica, política... mas que não deixam de ser expressões de violência. E quando Benjamin continua seu texto afirmando que “do paraíso sopra uma tempestade que se emaranha em suas asas e é tão forte que o anjo não pode mais fechá-las”, então, “esta tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual volta as costas, enquanto o amontoado de escombros diante dele cresce até o céu. O que nós chamamos de progresso é essa tempestade.” O anjo da história olha para o passado e é violentamente empurrado para o presente, que evita olhar, porque no presente ainda persiste a semente da violência. Ele olha para 1950 e o “progresso” o empurra violentamente para o nosso tempo. Em resumo, as diversas formas de violência expressas no mandonismo local são constitutivos desta e de outras sociedades e, por este motivo, perduram ao longo do tempo, expressos de forma variada: se a elite política prefere mostrar aos demais que Chapecó é uma “cidade de progresso”, onde “os que aqui chegaram venceram”, ocultam os destroços que ficaram pelo caminho. Exemplo disso é o vídeo “Eu sou Chapecó”, difundido em 2011 durante a realização da EFAPI, e por isso relacionada ao poder público, que busca engrandecer o “povo trabalhador” e que justamente não menciona esse passado que todos querem esquecer (sequer um índio é mostrado no vídeo sobre a história da cidade, mas somente este tema pode resultar em um artigo).

Não posso generalizar, mas é possível pensar que na academia e em outros espaços de estudos a maioria dos pesquisadores concordará com o argumento da professora Monica Hass, uma vez que atitudes vistas como “individuais”, como é o caso de um suicídio, são na verdade resultado de coerção externa e, portanto, social. Durkheim publicou seu clássico estudo sobre o tema há mais de cem anos (1897). A sociedade “suicida” o indivíduo, pois uma ação individual é resultado do meio social que o cerca (não é preciso mencionar que: 1) existem muitos estudos atualizados sobre o tema; 2) que não há unanimidade na tese de suicídio no caso de Chiarello, uma vez que o primeiro laudo apontou homicídio). E neste sentido, a autora expõe que aquilo que o Fórum em defesa da vida, os movimentos sociais e outras entidades reivindicam, por outro lado, não se resume apenas a uma rigorosa investigação da morte de um vereador e liderança política, mas também a continuação da investigação e as conclusões sobre as denúncias feitas por Chiarello. Tão grande quanto o trauma da perda de um companheiro, o temor social destes movimentos é que a divulgação de um laudo de “suicídio” apague ou coloque em segundo plano as denúncias feitas, deslegitimando quem as fez. Se isto acontecer, é reflexo sim de continuidade do mandonismo local, que silencia as vozes divergentes e oculta suas ações. E é possível pensar que neste momento, o ex-vereador olha de onde estiver para o passado chapecoense, enxergando-o como violência e tentativa de esquecimento.

 Dr. Claiton Marcio, historiador e professor de história na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Chapecó-SC.





quinta-feira, 9 de maio de 2013

Xapecó de heróis, malditos e maldições...






















"Levei seis anos para reerguer Chapecó e o PT jogou lama em cinco minutos".

Palavras de autoria do ex-prefeito João Rodrigues, surrupiadas da coluna do Bruno Pace Dori, do DI (jornal Diário do Iguaçu), publicadas em 17/04/2013, referindo-se ao polêmico ‘caso Marcelino Chiarello’. Para alguns essa afirmação do ex-prefeito (cujo chavão de campanha era: “O prefeito de verdade!”), João Rodrigues, carrega a ideia de que, antes dele, não tínhamos história. Veementemente o ex-prefeito disse que "o PT 'jogou lama' sobre Chapecó, ao tentar espalhar ao Brasil que a cidade é uma terra sem lei". Tragicômica toda essa situação em torno da morte do vereador, o que para alguns causa estranheza, pois, num primeiro laudo (o único presencial no cenário do acontecido, diga-se de passagem) foi atestado homicídio, depois vieram 'os suicídios' e a confusão se fez. Há quem diga: “Ah, culpa da PeTezada! Esses cu-munistas baderneiros. Olhem em volta os altos prédios e...”. Xapecó é uma cidade onde impera a 'ordem e o progresso' (e se assim for, o ‘positivismo’ comteano). “Nossa história é limpa!”. A pouco, foi reeditado o livro da professora Monica Hass, intitulado: 'O linchamento que muitos querem esquecer', apontando essa 'limpeza' histórica, onde forasteiros foram varridos pelos ‘heróis coronéis’ (conflito político - pra variar um pouco), pelas ‘mãos limpas - e ensanguentadas - do povo’. No meio de tanta bagunça, polêmica ou espetáculo, estive pensando: será que alguém vai escrever, num futuro não tão distante, um livro que se chame 'O suicídio que muitos querem esquecer'? ou 'O homicídio que muitos querem esconder'? Ou ainda, 'A confusão que ninguém fez saber'? Putz, dei a deixa. Tudo bem, sou genial, eu sei! Mas esse livro é meu. Se alguém roubar minha ideia, eu processo - ou limpo dessa história, como fizeram alguns 'construtores' da 'nossa história' com os índios, caboclos e forasteiros... Então, cuidado comigo, sou mau! Agora também escrevo no Gazeta de Chapecó. Aproveitem, fiquem a vontade e até podem me xingar de ‘PeTista’, ‘cu-munista’, ou o que for. Não importa. Só não é tão fácil assim me localizar e/ou classificar. Tenho a benção de Dionísio e a proteção de Exu Ventania – e a minha própria contradição. E se vivo entre ‘heróis’ e ‘malditos’, ‘mocinhos’ e ‘bandidos’, tenho olhos acesos nessa dualidade.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó - 09/05



Da janela vejo a rua...






















Encontrada no lixo por uma vizinha, viva e amarrada dentro de uma sacola plástica, ela foi adotada. Algum (des)humano irresponsável a fez objeto descartável. Cães jogados na rua, ignorados pela estupidez humana passeiam suas misérias por toda a cidade. Foi atropelada por um carro que não prestou socorro. Com a coluna quebrada caiu no asfalto. Resistiu ao atropelamento, mas seu sofrimento foi não andar, correr, nem brincar mais. Mas ontem ela aproveitou e latiu o que pôde, como nunca. Comeu bolo doce e avançou. Fez coisas que nada ou pouco havia feito antes. Foram seus últimos momentos antes da agulha atravessar seus pelos, furar seu couro e entrar em sua veia. Ela foi embora lentamente e alcançou o seu céu. Um céu dourado cheio de cães, ossos, natureza e carinhos. Muito do que lhe faltou na sua breve vida. Adeus canina olfatória que passou seu tempo aqui, passeando na frente da minha casa junto o latido dos meus cães que corriam de um lado ao outro do pátio, querendo ganhar a rua com você. Agora, da janela aqui de casa, só vejo aquilo que foi sua morada em dias de chuva e frio. A casinha branca é uma lembrança triste. Olho pela janela. A rua na frente de casa nunca esteve tão vazia...

Em memória... 06/05/2013.


* também publicado no jornal Folha do Bairro, em 10/05