quarta-feira, 29 de junho de 2016

Antropocentrismo humanista como crença e ideologia: um problema de concepção


















“O pensamento ocidental está fixado no hiato entre o que é e o que deveria ser.” (John Gray, ‘Cachorros de Palha’)


As disputas humanas ‘territoriais’ e, portanto, econômicas e politico-ideológicas (entre outras), da forma que estão sendo no mundo contemporâneo, tem seus fundamentos nas concepções e buscas incessantes por 'recursos' e certas 'razões' ocidentais. Historicamente, o ocidente, seja ele filiado à ideologia política que for, não conseguiu (e por acaso tentou?) se livrar de seu 'espírito' tradicional de disputa, status e acumulação, como também não conseguiu ir além de um 'tipo idealizado' (o que, por enquanto não passa disso) e não real de 'sistema' humanamente evoluído ou equilibrado de vida ou organização sociocultural. Para que esta possibilidade existisse, seria preciso abandonar certas crenças, preceitos e concepções em pró de outros menos ambiciosos (e aparentes) e mais profundos (e ‘silenciosos’). Um caminho visível seria buscar possibilidades em outras concepções, teorias e experiências (o ‘taoismo’, por exemplo - enquanto 'filosofia' e não religião - é um desses possíveis caminhos), para além do 'dualismo' platônico segmentador e do 'idealismo', também platônico e que inspirou a concepção 'judaico-cristã' de 'verdade' final, direta ou indiretamente influenciando quase todo o pensamento ocidental moderno, com forte acréscimo do 'humanismo iluminista', inclusive suas teorias de sociedade e economia - leia-se anarquismo, socialismo, comunismo e liberalismo, que, mesmo diferentes entre si, ou até antagônicos, tem uma mesma base de crença e modo de conceber o 'futuro', ou seja, um tempo linear de história, com base numa crença de ‘progresso’, em termos religiosos, um suposto 'paraíso' vindouro (ou qualquer outro nome que isso possa ter). Gostemos ou não, existe um furo nessas concepções ocidentais todas  - e sobra algo relacionado aos 'excessos' e ao 'ego', ao que se acredita como 'melhor', 'superior' ou ‘ideal’. O ocidente, por tradição filosófica ou religiosa, é 'desequilibrado'. Já conquistou territórios e desenvolveu tecnologias e formas de economia e ordem sociocultural o suficiente para poder viver hoje com mais equilíbrio entre si e com a natureza, mas parece que ainda não sabe disso e continua 'barulhento', 'rígido', 'míope' frente a esta natureza e a outras possibilidades de pensamento e práticas que considerem a ‘vida como relação’ e não como ‘conquista’.  Mas ainda são as concepções 'religiosa' e ‘humanista’ (leia-se ‘antropocentrismo’) de que o homem é o ser mais importante (feito ‘a imagem e semelhança de deus’) que regem a cultura humana, e que, por isso, tenta justificar sua luta incessante por 'poder', luxo (o que se confunde por 'conforto') e lugar próprio e exclusivo na natureza. Um lugar que nem seu é - e nunca vai ser, pois nem existe, onde ele, o homem, neste planeta, apenas 'está' como parte de um todo, muito maior do que ele, seu ego e suas disputas.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



sábado, 18 de junho de 2016

Estupros e outras violências


Porque o estupro também é uma 'cultura' no Brasil?

O estupro sofrido pela jovem de 16 anos (entre tantos outros não noticiados), não foi só o dos 30 homens. O estupro foi (e é) feito por compositores, grupos musicais, produtores, desenhos-novelas-filmes, religiões, valores, hábitos, costumes de homens e também mulheres. O estupro é feito pela grande mídia, sua publicidade e ideologia, pela 'indústria cultural' e 'sociedade do espetáculo', ao fabricarem, produzirem e veicularem certos ‘produtos’ ofertados ao público.

Mídia xapecoense

"Falta dizer: Marmanjões, vadias e vadios, fazendo protestos e ocupando escolas e universidades pelo Brasil. Querem restaurantes e 'merendas' de boa qualidade. Que falta de laço! Vão trabalhar. Os operários, trabalhadores, não têm nada disso..." (PRATES, Luiz Carlos)
* 'Cronista' do DI (Diário do Iguaçu), em 06/06
Este é o tipo de ‘opinião’ e ‘informação’ que o dito jornal veicula em suas páginas?


Para ir além, às vezes, é preciso romper (uma consideração para uma esquerda mais libertária - ou pelo menos, menos corporativista ou limitada ao lugar comum)

O elo de ligação da esquerda humanista-iluminista organizada socialmente (tanto marxista quanto anarquista, seja ela científica ou utópica) com a direita liberal (também 'humanista'-iluminista), é o senso 'religioso' de iconização e o ‘idealismo paradisíaco’. Ou seja, a esquerda ainda não conseguiu se livrar do 'judaico-cristianismo platônico idealista' que a circunda (e a compõe – segundo Nietzsche) historicamente. Mas antes é preciso perceber e reconhecer isso, depois a 'libertação' e então os necessários 'avanços internos', o que, vai, automaticamente, refletir nos 'avanços externos', portanto, socioculturais e políticos...


Efeito ‘anti-PeTismo’ e as panelas

Comprovando que a política oficial-institucional brasileira é uma jogatina enfadonha, viciada e mofada, o precocemente ex-ministro do ‘novo-velho’ governo interino Temer, Jucá, em escuta telefônica já deixou muito claro o golpe contra a democracia. Golpe este que contou com entidades empresariais, o judiciário brasileiro e a mídia (entre outros), além da cumplicidade de parte significativa da população que, amesquinhada engoliu o ‘anti-PeTismo’ como ideologia de classe e se depois se acomodou. A bateção de panelas cessou e a corrupção agora revigorada, continua firme e forte. Amém!


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



sábado, 11 de junho de 2016

Cultura dos estupros...

Nos dias em que uma adolescente foi estuprada por vários homens no Brasil, o Ministro da Educação do 'novo-velho' governo Temer recebe Alexandre Frota (que declarou publicamente já ter estuprado), junto a um líder dos ‘Revoltados on line’. Frota foi entregar-lhe um ‘projeto para a educação’, visando 'censurar' professores de falarem de certos assuntos importantes, socialmente falando, com seus alunos. Eis a face bizarra de um governo golpista e seus apoiadores. Eis outro estupro...

Cultura machista (e do estupro) na música pop - além do do funk...




















Sertanejo 'universitário':
"Nossa, nossa! Assim você me mata. Ai, se eu te pego. Ai, ai se eu te pego. Delícia, delicia, assim você me mata. Ai, se eu te pego. Ai, ai, se eu te pego"! (Michel Teló)
“Se bebe tudo elas liberam geral”. (Henrique Costa)

'Axé' music:
"As ‘novinha’ que não têm peito, Por favor, não desiluda: Se você não tem peito, agora vire e vem com a bunda, Vem com a bunda". (Aviões do Forró)
“Tudo que é perfeito a gente pega pelo braço/ Joga lá no meio/ Mete em cima/ mete em baixo/ Depois de nove meses você vê o resultado”. (É o Tchan)

'Rock':
“Me fala a verdade...quantos anos você tem?/ Eu acho que com a sua idade/ Já dá pra brincar de fazer neném...”. (Raimundos)

Entre tantos outros...
Não é o 'estilo', é o compositor, os produtores, o mercado e o vínculo midiático, a 'indústria cultural'! A 'ética' da 'sociedade do espetáculo' é fabricar, vender e tornar ídolo ou ícone ('popular') para sua própria manutenção ideológica.


















*
Em 19 dias de governo (golpista) interino Temer, caem 2 ministros por envolvimento em corrupção. O mais recente, dito 'ministro da transparência'. Vejam só que 'coerência'!

No Festival de Teatro de Chapecó...

 Na ação-apresentação do Grupo Vertigem de Ações Poéticas, tivemos um belo e intenso momento de poesia, música, vídeo, manifestações, expressões - e vinho. Senti a falta de muitos 'agentes políticos e sociais' de Chapecó (os organizados em entidades ou partidos), convidados para a 'ação'/apresentação. Neste momento político e social em que vivemos, penso que devam olhar mais para a arte e suas movimentações (para além do quesito entretenimento) para aprender com ela que, as manifestações e expressões artísticas estão entre as mais fortes expressões sociais e 'políticas' (postura), e que no Brasil, assim como Educação, Arte (e cultura) nunca foram prioridade (e continuam não sendo), muitas vezes ignoradas pelo 'velho e empoeirado jeito de fazer política' obediente a um receituário (de cunho platônico judaico-cristão, diga-se de passagem), inclusive por algumas entidades de 'esquerda' que se movem com muita posição e importância a nível 'político' (principalmente institucional), mas que falham e devem muito quando se refere a integração artístico-cultural. A postura e posição de muitos artistas ou agentes culturais hoje pelo Brasil, junto a mobilizações dos estudantes, mostram que estes tem força em se tratando de resistência e luta 'política social' e 'cultural' no país. Portanto, nos liguemos nisso...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó