Crianças
precisam brincar, correr, serem ouvidas e respeitadas. Crianças precisam de
afeto, carinho, sensibilidade, proteção. Crianças precisam de risos, cães,
gatos, bichos ao seu redor, de grama, terra e ar para respirar. Crianças
precisam de palavras livres, de música boa e diversão. Crianças precisam
estudar. Crianças estudantes para além do formalismo escolar, para além dos
desejos mercadológicos e de status da família nuclear, do dogmatismo religioso,
das necessidades cartesianas criadas e usadas para a manutenção de um modo de
vida que se mostra faz tempo, equivocado, reducionista e medíocre. Crianças não
precisam dos valores de mercado, dos valores da dita ‘livre concorrência’ ou da
competição ou disputa por espaços de poder. Crianças precisam de certa
educação. Não a educação mecânica e materialista. Não da educação mesquinha
vinda dos aparelhos ideológicos publicitários, privados ou do Estado. Educação
para além ‘dessa educação’. Quando ouço falar em ‘educação financeira’, sinto
náuseas. Amo as crianças, e isso explica esse meu sentimento. A parcela ainda
sensível do mundo adulto precisa proteger as crianças da ambição competitiva
que se estabelece nessa cultura de resultados e somas. Criança não é objeto nem
número. ‘Educação financeira’ é uma ‘didática’ destrutiva dos ‘valores’ (ou
modos) infantis. É o assassinato da criança que, mais próxima da natureza, tem necessidade
e a criatividade para fazer o diferente – e manter o riso espontâneo do ‘ser
criança’. Uma legião de crianças risonhas desprezando a ‘educação financeira’
dentro das escolas, seria um belo feito educacional. Eu, como professor, estarei
do lado delas...
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 26/07