Quando comecei a
ouvir rock, lá no final dos anos oitenta, tinha o mesmo sonho que muitos
roqueiros novos hoje também têm. E eu era uma criança. Incrível como hoje isso
ainda existe! Em menor grau, mas existe. Uma febre. Vendo aqueles rock-stars,
com seus glamoures, guitarras e equipamentos caros, carrões e alguns que tinham
até aviões, cercados de belas mulheres, roupas e posturas extravagantes, etc.
Tudo resumido no discurso midiático do velho e reducionista clichê: ‘sexo,
drogas e rock’and’roll’. Era tudo. Uma ‘rebeldia’ incontida e meio sem causa –
ou bastante! (hoje vejo mais como uma ‘pseudo-rebeldia’, pois é algo bem
individual e privado). Cresci assistindo filmes do Elvis e comecei no rock
ouvindo rock’n’roll’50, depois jovem guarda, hard rock, algo de progressivo e
psicodélico. Mas o tempo passou e eu cresci, não tanto em tamanho
físico-corporal, mas mentalmente. Naquela época tive sorte ou sei lá o que,
pois esta ilusão de status ‘rock-star’ em mim, durou muito pouco. Devido,
talvez, a minha timidez, além da educação um tanto rígida que recebi do meu pai
e por minhas leituras em literatura, poesia e filosofia. Ou seja, o ‘sonho’ ou
ilusão de rock-star pra mim foi um flash. Logo comecei a produzir e compor.
Montei minha primeira banda no início dos anos noventa, ainda muito jovem.
Comecei com bandas punk. Alguns anos depois, voltei ao ‘rock clássico’, ao
garage rock e ao psicodélico. Fui para o rock progressivo com nuances
psicodélicas, até assumir de vez o garage rock e o psicodélico. Aos poucos
estes títulos ou estilos passaram a se fundirem e geraram o som que faço hoje
com meus companheiros/as de bandas. O ‘estilo’ já não é tão mais importante,
mas a música e a sinceridade em fazê-la, é. Uma necessidade existencial e
artística (de expressão), onde a ideia ou desejo de ‘sucesso’ e/ou ‘fama’
típico do ‘rock-star’ não faz a diferença.
Os anos se passaram e
tive boas oportunidades e bons contatos que me trouxeram muito conhecimento
musical. Tive acesso e aproveitei. Tanto que tenho uma ‘coleção’ de sons
considerável (em rock e muitos outros estilos musicais, além de conhecer outros
tantos). Nisso, confesso que também tive minha ‘febre’ saudosista. E ainda bem
que para mim foi apenas mais uma ‘febre’, mais um flash. É fato que os anos de
60 e 70 produziram muito do que é significativo, historicamente falando, em
rock. Porém, isso também é relativo, pois tivemos muita coisa boa nos anos 50,
80, 90, como temos agora nos 2000. Talvez, a maioria do que ouço em rock data
dos anos 60, 70 e 2000. Em menor escala dos anos 90. Por fim, 80 e 50 (não
necessariamente nesta ordem). Mas, também é fato (não reconhecido ou concebido
por muitos, principalmente pelos chamados ‘saudosistas’) que hoje, em 2016,
encontramos bandas e discos tão bons quanto foi nos anos 60 e 70. Só não aceita
isso quem é mesmo ‘saudosista’ ou não pesquisa o suficiente, ou ainda, não abre
a cabeça (e os ouvidos) para o que de bom (muito bom!) está sendo composto,
produzido e lançado em disco por aí. Saudosistas são viciados. Viciados no
tempo que passou. Olham para trás toda vez que precisam encarar o tempo atual
(presente), buscando recuperar aquilo que não volta mais – o tempo. Não que o
tempo, o mundo ou a vida, sejam algo linear como quiseram algumas (e
predominantes – infelizmente) teorias filosóficas modernas relacionadas ao
tempo, mas, o tempo não para e não volta em existência. Ainda bem que os
registros do passado existem e continuam ecoando, inspirando e servindo de
referências para o novo. Mais que isso, falamos em cópia ou plágio. Algo nada
autêntico ou sincero. Nisso, o tempo de atuar, compor, produzir é hoje. É
agora! Mas no saudosismo idealista dos saudosistas, geralmente esta realidade não
é aceita.
Para compor e fazer
ecoar algo sincero e autêntico hoje, não é nada fácil. O que mais existe por aí
é reprodução e caricatura do que já foi. Ter aquilo que A. Alvarez em seu livro
‘A voz do escritor’ chama de ‘voz própria’, seja em literatura quanto em música
(ou outras linguagens artísticas), não é nada fácil nem para todo mundo. Mas,
também não é impossível. Para os saudosistas, desistentes da autenticidade e da
busca pela ‘voz própria’, sim, ser ‘autêntico’ atualmente é impossível, já que
vivem dos ‘sonhos’ (ilusões) e ‘louros’ de um passado já morto. A história
continua, pois ao contrário do que pensa o ‘senso comum’, ela não é só passado.
Vivemos sempre o presente, e é nele também que a história é escrita e,
portanto, vivida. Ou seja, sim, a história continua, e junto dela, continuam as
criações e os seres criativos que se atualizam sem precisar desprezar o passado
(também tendo-o como referência), mas vivendo o hoje com toda sua intensidade e
suas condições. A prova disso está na força das obras artísticas e musicais que
hoje, em pleno 2016, mantém vivo um cenário artístico e musical real, ativo,
vivo, presente, atual! Aos saudosistas que acreditam religiosamente numa
‘verdade’ sonhada por eles próprios e discursada pelos meios de comunicação de
massa que quer manter certo status acima dos nomes mortos (mas que ecoam
através de seus belíssimos e importantes trabalhos) que ainda lhes rende muita
notícia (e lucros), posso dizer que a história ainda é escrita, registrada,
gravada, vivida, e que, belíssimas obras estão por aí, algumas mais conhecidas
que outras, porém, ambas expressivas e com intensidade, e que serão boas e
contundentes referências para futuros artistas, músicos, compositores e suas
bandas, seus discos, suas obras.
Enfim... Não há fim!
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