segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Adeus vó Miri...

Minha vó fazia a melhor comida de panela do mundo. Sempre no fogão a lenha. Começava cedo. Era um ritual. Primeiro pela horta. Ia juntando os temperos, transformando as coisas, criando seu sabor. Numa relação muito íntima com a natureza, majestosamente ia desenvolvendo sua arte, passo à passo. A delicadeza com que tratava suas plantas jamais será vista novamente. Nem por mim, nem por ninguém. A leveza dos passos, da presença e da voz caracterizavam minha vó. Vó Miri flutuava. Silenciosa como só ela conseguia ser. Como pluma, como passarinho. Uma mestra na arte de ser o que se é, sem estereótipos. Queria eu ter a autenticidade e leveza da minha vó. Treino muito pra isso. Talvez um dia eu consiga. Tive uma grande mestra. 

Vó Miri era irmã das plantas, filha da terra, amiga do vento. Tudo o que plantava colhia. Sua imagem, sutil como sua voz e seus passos, nunca sairá da minha cabeça. Seu sorriso tímido, porém pleno, seguirá sendo uma imagem cheia de vida. Lembro do tempo em que me deixava tratar as galinhas e de quando eu a ajudava fazer bolacha e massa. A farinha, o manivelar da máquina, a bolacha de estrelinha, nossas conversas e risos. Ah, bons tempos de criança eternizados junto da minha vó! 

Mas hoje, a vó Miri se transformou, retornou, sem alardes, assim como sempre viveu. Penso que, se todos tivessem um pouco, só um pouco do que foi a pequena, sutil e grandiosa vó Miri, o mundo seria um tanto melhor. Não tenho palavras para descrever o amor que sinto pela minha vó que acaba de partir. Penso que foi encontrar meu vô, o Chico, outro mestre, com quem viveu até seus noventa e tantos invernos, e que lhe esperava desde o ano passado. Finalmente estarão novamente juntos, como sempre foi...

Adeus minha vó querida! Boa transformação, bom retorno! 

Continua conosco em energia e memória... 

Obrigado por tudo! Te amo! Te amamos!



Nenhum comentário: