sábado, 7 de janeiro de 2012

Rum!




















(...)

Quando soube que nunca mais ia tê-la, enlouqueci: Antes que se passe um segundo você terá morrido cem mil vezes, diz uma frase do Corão e eu tive que vivenciá-la. Ela não tinha deixado de me amar mas seu amor estava doente e não suportava a minha presença. Vi toda a dor nos seus olhos, todas as minhas traições e mentiras, eu era a pessoa entre ela e eu, o rival impossível. Então, quando já não importava, o meu amor eclodiu: seu amor doente não opunha resistência e o meu foi em direção a ela como um raio mas ela estava fechada. E o meu amor ficou comigo e houve gotas de sangue no meu silêncio. Ela se afastou e eu entrei no quarto do castigo, o menos florido de todos os manicômios, e ainda não saí.

Efraim Medina Reyes


*
( Canto lírico dedicado à Nietzsche )

Como o amigo ama o amigo,
Assim te amo, vida surpreendente!
Quer me alegre ou chore contigo,
Quer me proporciones alegria ou sofrimento,
Amo-te com tua felicidade e tua dor,
E se tens de me aniquilar,
Ao te deixar eu sofrerei.
Como o amigo que se arranca aos braços do amigo,
Te apertarei com toda a minha força :
Se já não tens felicidade a dar-me,
Dá-me tua dor.
                                                           Lou.

Lou Salomé

















Friedrich Nietzsche, 1899 (1844 - 1900)

*


Perdão se pelos meus olhos não chegou
mais claridade que a espuma marinha,
perdão porque meu espaço
se estende sem amparo
e não termina:
- monótono é meu canto,
minha palavra é um pássaro sombrio,
fauna de pedra e mar, o desconsolo
de um planeta invernal, incorruptível.
Perdão por esta sucessão de água,
da rocha, a espuma, o delírio da maré
- assim é minha solidão -
saltos bruscos de sal contra os muros
de meu ser secreto, de tal maneira
que eu sou uma parte do inverno,
da mesma extensão que se repete
de sino em sino em tantas ondas
e de um silêncio como cabeleira,
silêncio de alga, canto submergido.

 ...

WALKING AROUND

Acontece que me canso de ser homem.
Acontece que entro nas alfaiatarias e nos cinemas
murcho, impenetrável, como um cisne de feltro
navegando numa água de origem e de cinzas.

O cheiro das barbearias me faz chorar a gritos.
Só quero um descanso de pedras ou de lã,
só quero não ver estabelecimentos nem jardins,
nem mercadorias, nem óculos, nem elevadores.

Acontece que me canso dos meus pés das minhas unhas
meu cabelo e minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

No entanto seria delicioso
assustar um tabelião com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco no ouvido
Seria ótimo
andar pelas ruas com uma faca verde
soltando berros até morrer de frio.

Não quero continuar sendo raiz nas trevas,
hesitante, estendido, tiritando de sono,
para baixo, nas tripas molhadas da terra,
absorvendo e pensando, comendo cada dia.

Não quero para mim tantas desgraças.
Não quero continuar como raiz e túmulo,
subterrâneo solitário, adega de mortos,
enrijecido e morrendo de tristeza.

Por isso a segunda-feira arde como petróleo  
quando me vê chegar com minha cara de prisão,
e uiva no seu transcurso como uma roda ferida,
e dá passos de sangue fervente rumo à noite.

E me empurra para certos lugares, certas casas úmidas,
para hospitais de onde saem ossos das janelas,
certas sapatarias com cheiro de vinagre,
ruas horríveis como gretas.

Há pássaros cor de enxofre e horríveis intestinos
pendurados nas portas das casas que odeio,
há dentaduras esquecidas em um bule,
há espelhos
que devem ter chorado de vergonha e horror,
há guarda-chuvas em toda parte, e venenos, e umbigos.

Eu passeio com calma, com olhos, com sapatos,
com fúria, com esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas de ortopedia,
e pátios onde há roupas penduradas num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sujas.


















Pablo Neruda.


*

El fantasma de Canterville
(Charly Garcia) – Sui Géneris

Yo era un hombre Bueno
si hay alguien bueno en este lugar,
pagué todas mí deudas,
pagué mi oportunidad de amar,
sin embargo estoy tirado,
y nadie se acuerda de mí
Paso a través de la gente,
Como el fantasma de Canterville.

Me han ofendido mucho
y nadie dió una explicación.
Ayl si pudiera matarlos
lo haría sin ningún temor,
pero siempre fui un tonto
que creyó en la legalidad,
ahora que estoy afuera
ya sé lo que es la libertad.

Ahora que puedo amarte, nena,
yo voy a amarte de verdad.
Mientras me quede aire,
calor nunca te va a faltar,
y jamás volveré a fijarme
en la cara de los demás,
esa careta idiota que tira y tira
para atrás.

He muerto muchas veces
acribillado en la ciudad.
Pero es mejor ser muerto
que un número que viene y va,
y en mí tumba tengo un perro
y cosas que no me hacen mal
después de muerta, nena,
vos me vendrás a visitar,
después de muerta, nena,
vos me vendrás a visitar.

Charly Garcia


*
Ah! Querida!

No futuro, se sobrevivermos a este tédio moral
Em alguma esquina desse mundo,
Talvez você me encontre gordo, com a barba por fazer
O rosto riscado de faca,
A barriga furada de bala
Minha decadência acompanha a decadência do mundo

Mas pelos meus olhos vai me reconhecer
E eles lhe dirão a mesma coisa que eu disse ontem

Serei o mesmo pelos meus olhos

(...)

Hoje, caminho só por uma estrada deserta
Uma estrada distante – para a eternidade
Sigo sem olhar pra trás
E não deixo rastro...















Herman G. Silvani

*


Cavalo-marinho  
(...)

o cavalo que possuo e o eu que possuo

ficaremos azuis maravilhosos e limpos

de novo

e eu sairei e

esperarei por você(s).  

 

Charles Bukowski

 

 

 

 

hgs.

 

 

 

Um comentário:

Vanessa disse...

Nossa! Que sequencia de belos, intensos e tristes poemas!