Vida e trabalho
De um lado uma concepção de vida e trabalho taoista-budista
oriental marcada pela constância, onde o corpo é parte fundamental da
existência e a mente um complexo ‘espirituoso’ de pensamentos e profundidades,
ambos em equilíbrio com a energia cósmica vital que circunda toda a existência,
coexistindo em tempo real. De outro, uma concepção ocidental judaico-cristã
cartesiana, marcada pela segmentação, onde o corpo e a mente são separados,
sendo o corpo um território cercado como propriedade de um estado de coisas
úteis, tornado doente, impuro, mecânico, e a mente um depósito de concepções
ideológicas e doutrinárias que vive além do presente, em um futuro idealizado
ou em um passado já sepultado, porém, sempre assombroso.
Excessos
O mundo atual agoniza devido aos excessos. Há excesso em quase
tudo. Até muitos dos que se acreditam ou dizem serem ‘transformadores
progressistas’ deste mundo (ou ‘revolucionários’), reproduzem, lá nos detalhes
e entrelinhas das suas ideias e práticas cotidianas, os mesmos excessos, pois
vivem atrelados a eles, sem perceberem que, nas entrelinhas dos seus
cotidianos, ao invés de serem o contraponto, acabam sendo elementos que
constituem estes excessos mantenedores.
Reproduções
Uma das maiores contradições de muitos ditos
‘progressistas’ é que, como os ‘conservadores’, veem, concebem ou tratam as
linguagens artísticas e suas potências, como meros objetos de entretenimento, partindo
verticalmente de uma concepção ‘economicista’ de vida, o que reflete
diretamente nas suas práticas políticas e cotidianas, em que, de certo modo,
acabam por enquadrar suas mentes, corpos e espaços, fazendo das artes e da
filosofia meros cabides de seus desejos e fugas existenciais, enquadrando
também outros, e não percebendo que, além da infraestrutura, o mundo se move fortemente
também pela superestrutura (leia-se sociologia), onde o pensamento e as
linguagens artísticas e suas ‘subjetividades’ residem. Por fim, acabam como
tantos outros reprodutores, servindo e alimentando o modo de vida, a cultura
seus valores e suas contradições.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
Nenhum comentário:
Postar um comentário