A caçada a
presidenta Dilma, além de um processo cheio de subjetividades que pouco ou nada
comprovam algum crime por parte dela, começou já na sua primeira campanha
eleitoral. Um dos principais motivos: ser mulher! Sim, um ser humano do gênero
feminino. Bem lembro de algumas polêmicas geradas e alimentadas por sua
oposição e pela grande mídia nacional (que também faz parte desta ‘oposição’),
não só político-partidária, mas oposição de gênero e condição sociocultural. Ou
seja, a primeira presidente (ou presidenta) mulher, eleita democraticamente
pelo voto direto, desde o início gerou resistência de alguns muitos setores
conservadores e machistas da sociedade, acostumados, historicamente com o jogo
de poder entre varões (leia-se homens ou machos). Historicamente o Brasil é um
país (como tantos) patriarcal, onde a mulher sempre foi inferiorizada, e a
perseguição à presidenta iniciada pelo preconceito, antes mesmo de se tornar
presidenta, onde chacotas com seu biotipo, sua aparência, sua oratória e sua
história de mulher guerrilheira contra a ditadura militar (regime que, diga-se
de passagem, também foi masculino e machista), reforçada depois de já ser
eleita, representa em certo grau esta tentativa continuada de inferiorização,
submissão e ‘marginalização’ do feminino – também na política. E está aí a
medíocre e machista frase dita pela boca de muitos deputados (homens – ou algo
similar a isso) no dia da votação do impeachment no congresso: ‘Tchau
querida!’. Uma forma ‘irônica’ ou ‘sarcástica’ de impor o predomínio do
discurso e postura machista, de forma ‘semi-velada’ (tentando ser
‘engraçadinha’) sobre a imagem, corpo e pessoa de Dilma, que, mais que uma
chefa de Estado, é uma mulher. Não bastasse isso, a grande mídia ideológica e
imbecilizadora, usou outro chavão do gênero, só que agora acima da figura da
possível futura ‘primeira dama’, tentando gerar um efeito contrário, que diz: ‘bela,
recatada e do lar’. Esta configuração representa aquilo que a sociedade
patriarcal-machista quer que seja ou continue sendo a mulher brasileira. Ou
seja, que a mulher tenha estas características e funções na sociedade.
Substituindo a falta de ‘presença’ ou ‘aparência forte humana’ do vice Michel
Temer, sua esposa, mais nova e seguindo um estereotipo de ‘mulher’ que muitos
querem que seja, acaba servindo à ‘ideologia do território’ como um símbolo de
demarcação deste espaço que é o poder, mesmo ela sendo apenas ‘alguém ao lado’
do seu ‘homem’. E é isso que os machistas que ocupam parte significativa do
poder governamental querem. Dilma não é esta mulher, ‘símbolo sexual’ de uma
suposta ‘fragilidade’ ou ‘feminilidade’, onde a beleza estética segue certo
padrão que, por sua vez, vem acompanhado de certo comportamento. Comportamento
este inferiorizado na figura feminina. Dilma, diferente de grande parte dos
seus desafetos políticos (homens) não faz happy
hour nos bares de Brasília no final do expediente, nem tampouco os
acompanha nos vídeos pornôs ou noitadas nas zonas do entorno da capital
federal. Dilma é mulher de carne, osso, alma, cabeça e coração, e não uma
manequim ou alegoria dos homens que a perseguem e incriminam. Por isso, o
‘crime’ de Dilma está além de ser presidenta petista. O ‘crime’ de Dilma para
estes senhores hipócritas e machistas, é ser mulher. Eis um dos principais motivos
desta caçada em forma de golpe e enfeitada com o título de impeachment.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó
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