quarta-feira, 18 de maio de 2016

Xapecó, cidade cover...

Xapecó tem um belo histórico de produções artísticas, intelectuais, políticas e culturais. De poetas e compositores musicais a professores, pesquisadores e agentes políticos. ‘Personagens’, muitos deles(as) reais, uns já mortos, outros ainda vivos, partes fundamentais da história do município e da região Oeste. Poderia citar aqui nomes como os de Fen’Nó, a ‘índia guerreira’, Vicente Morelatto, o ‘poeta da chacina’, Dom José Gomes, o ‘bispo do povo’, Tyto Livi e Grupo Nozes, os ‘pioneiros do rock autoral independente regional’, entre outros artistas plásticos, escritores, pesquisadores, etc. Todos(as) com suas devidas importâncias no desenvolvimento de nossa cidade, sua história, cultura e educação. Viajando pelo tempo, foram muitos os indivíduos criativos que deixaram, de algum modo, seus feitos, suas produções ou criações registradas para que a cidade pudesse ter sua história de desenvolvimento humano, social, artístico, político ou cultural. Atualmente, aqui mesmo neste chão, muito de conteúdo autêntico se produz, e são vários os produtores. Porém, nos meios de comunicação de massa, como geralmente acontece em quase todo o país, os espaços para estes são restritos. TV, rádios e jornais, em sua esmagadora maioria, reservam maior espaço para o segmento de ‘reprodução’, o que na música chamamos de ‘cover’. Uma espécie de ‘imitação’ de algo que é o ‘original’. A  exemplo, nos bares e casa de shows da cidade, pouco ou quase nada se ouve tocar músicas dos compositores locais, assim como, existe o predomínio do ‘cover’ em detrimento da música autoral (composição própria) nos eventos musicais. E isso, de certo modo, atinge as outras áreas da produção, sejam elas artísticas ou não. Ou seja, sofremos de falta de incentivos, tanto do poder público e do setor privado-empresarial, quanto de parte significativa dos cidadãos xapecoenses. Isso não é regra geral, é claro, mas, o predomínio da ‘imitação’ ou da ‘reprodução’ do que já é consumado (e consumido), do que ‘vem pronto’, é fato, infelizmente. Perdemos, enquanto ‘comunidade’ (cidade ou sociedade) com isso, alguns ‘valores próprios’, quando oportunizamos e valorizamos mais ‘produtos’ industrializados e vendidos (como mercadoria e ideologia) do que ‘arte’ e ‘produção autoral’ locais, desprestigiando assim o que poderia fazer parte de uma identidade local, ou ‘nossa própria identidade’. Nisso, somos uma cidade sem ‘voz própria’ em muitas e fundamentais questões. Estas ‘vozes’ existem, porém, nem sempre, quase nunca ou muito pouco, são ouvidas e ecoadas. Muitos ‘preferem’ o que já está dado. Medo do novo? Do próprio? Ou falta de consideração sócio-histórica, artística e cultural local? Bandas ditas ‘cover’ enchem a noite xapecoense com as canções ou músicas que não são suas. Nada contra. Mas também, nada a favor, pois, reproduzir não é criar, nem aprofundar ou ampliar. Reproduzir é apenas repetir, imitar e matar – ou morrer. Xapecó é uma ‘cidade cover’ quando muda o nome de uma rua ou de um estádio de futebol só para riscar a palavra ‘índio’ da sua formação. Quando valoriza mais o ‘produto’ mercadológico do que a ‘arte’ e o que vem embalado de fora e de cima pra baixo (leia-se ‘indústria cultural’) do que o que se cria e se produz aqui. E é assim que, através dos anos Xapecó vai envelhecendo com uma saúde precária, mas, muito bem maquiada. E é assim que também vejo muita linguagem e produção local morrer lentamente... 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



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