Xapecó tem um
belo histórico de produções artísticas, intelectuais, políticas e culturais. De
poetas e compositores musicais a professores, pesquisadores e agentes
políticos. ‘Personagens’, muitos deles(as) reais, uns já mortos, outros ainda
vivos, partes fundamentais da história do município e da região Oeste. Poderia
citar aqui nomes como os de Fen’Nó, a ‘índia guerreira’, Vicente Morelatto, o
‘poeta da chacina’, Dom José Gomes, o ‘bispo do povo’, Tyto Livi e Grupo Nozes,
os ‘pioneiros do rock autoral independente regional’, entre outros artistas
plásticos, escritores, pesquisadores, etc. Todos(as) com suas devidas
importâncias no desenvolvimento de nossa cidade, sua história, cultura e
educação. Viajando pelo tempo, foram muitos os indivíduos criativos que
deixaram, de algum modo, seus feitos, suas produções ou criações registradas
para que a cidade pudesse ter sua história de desenvolvimento humano, social,
artístico, político ou cultural. Atualmente, aqui mesmo neste chão, muito de
conteúdo autêntico se produz, e são vários os produtores. Porém, nos meios de
comunicação de massa, como geralmente acontece em quase todo o país, os espaços
para estes são restritos. TV, rádios e jornais, em sua esmagadora maioria, reservam
maior espaço para o segmento de ‘reprodução’, o que na música chamamos de
‘cover’. Uma espécie de ‘imitação’ de algo que é o ‘original’. A exemplo, nos bares e casa de shows da cidade,
pouco ou quase nada se ouve tocar músicas dos compositores locais, assim como,
existe o predomínio do ‘cover’ em detrimento da música autoral (composição
própria) nos eventos musicais. E isso, de certo modo, atinge as outras áreas da
produção, sejam elas artísticas ou não. Ou seja, sofremos de falta de
incentivos, tanto do poder público e do setor privado-empresarial, quanto de
parte significativa dos cidadãos xapecoenses. Isso não é regra geral, é claro,
mas, o predomínio da ‘imitação’ ou da ‘reprodução’ do que já é consumado (e
consumido), do que ‘vem pronto’, é fato, infelizmente. Perdemos, enquanto
‘comunidade’ (cidade ou sociedade) com isso, alguns ‘valores próprios’, quando
oportunizamos e valorizamos mais ‘produtos’ industrializados e vendidos (como
mercadoria e ideologia) do que ‘arte’ e ‘produção autoral’ locais,
desprestigiando assim o que poderia fazer parte de uma identidade local, ou
‘nossa própria identidade’. Nisso, somos uma cidade sem ‘voz própria’ em muitas
e fundamentais questões. Estas ‘vozes’ existem, porém, nem sempre, quase nunca
ou muito pouco, são ouvidas e ecoadas. Muitos ‘preferem’ o que já está dado.
Medo do novo? Do próprio? Ou falta de consideração sócio-histórica, artística e
cultural local? Bandas ditas ‘cover’ enchem a noite xapecoense com as canções
ou músicas que não são suas. Nada contra. Mas também, nada a favor, pois,
reproduzir não é criar, nem aprofundar ou ampliar. Reproduzir é apenas repetir,
imitar e matar – ou morrer. Xapecó é uma ‘cidade cover’ quando muda o nome de
uma rua ou de um estádio de futebol só para riscar a palavra ‘índio’ da sua
formação. Quando valoriza mais o ‘produto’ mercadológico do que a ‘arte’ e o
que vem embalado de fora e de cima pra baixo (leia-se ‘indústria cultural’) do
que o que se cria e se produz aqui. E é assim que, através dos anos Xapecó vai
envelhecendo com uma saúde precária, mas, muito bem maquiada. E é assim que
também vejo muita linguagem e produção local morrer lentamente...
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó
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