quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um poema feito na rua...

















A visão em vermelho

...e ela via o mundo com os olhos mais embaçados que os meus.
Sorriso largo na boca ensebada. Aroma de carne viva na rua.
Quadris disformes nos passos descompassados. E eu a amava.
Em meu peito eu cravava esperanças.
Um verme mais querido do que qualquer santidade. Divino e vulgar.
Como eu gostaria de beijar aquele ventre dilatado
De tanta fúria, de tanto fazer.
O trabalho na rua só a tornava mais pura pra mim.
O vermelho do batom gasto, o verme-vermelho do sangue sujo.
E eu a amava.
Fazia versos, canções absurdas pintadas em muros quase verdes de limbo.
Enquanto um e outro a passava
Eu no meu canto só querendo
Covarde, estúpido, quase morto.
Verme de verso imundo nunca enxergava direito.
Eu, só eu. Sonhava dançando dentro daquela boca melada
Que cheirava a pileque de vodka barata, e continuava...

...e ela via o mundo com os olhos mais embaçados que os meus.




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