quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Leituras do Cotidiano

Militarismo, um governo a parte?

A partir de postagens em perfis de policiais militares no facebook, um sociólogo constatou que a violência e a discriminação faz parte de certa ‘cultura militar’. Um dos elementos mais propagados nestes perfis é a apologia à violência e ao uso de armas como pretexto moral de certa ‘correção social’. Outro fato comum é o uso vulgar do termo ‘vagabundo’ por parte significativa dos policiais, uma palavra adorada por muitos militares e historicamente carregada de significados preconceituosos e discriminatórios. A ‘cultura militar’ atual tem relações diretas com o período da ditadura militar brasileira, onde se perseguiam e reprimiam estudantes, professores, intelectuais, artistas e pensadores, em nome de uma pretensa ‘ordem’ - ordem para quem?

A psicanálise constatou que parte significativa do autoritarismo e abuso de poder, assim como outras violências, tanto físicas quanto verbais, acontecem como uma compensação de frustrações e impotências. Alguns estudiosos também falam de uma lacuna intelectual e falta de sensibilidade, sendo que, historicamente, o militarismo é marcado pela repressão e caça aos diferentes: movimentos culturais e sociais. A partir disso, a questão que não dá para ignorar: O que se ensina nos quartéis? Não seriam os policiais doutrinados para tal repressão às diferenças e minorias? 

Alguém vem e me diz que ‘policiais ganham mal, por isso agem assim’. Então quer dizer que ‘ganhar mal’ justifica o abuso de poder? Sou professor e ganho tão mal quando um policial, e muitas vezes sou mal tratado e desvalorizado na minha profissão, então se fosse por esta ‘lógica’ deveria eu descontar isso no meu trabalho e nos meus alunos?

Casos de violência policial e abusos de poder são corriqueiros no Brasil. Leia-se os inúmeros e cotidianos casos no Rio de Janeiro, por exemplo, onde policiais forjam situações para cometerem seus crimes. Aqui em Chapecó, professores e alunos da Universidade Federal (UFFS) denunciaram uma abordagem violenta da polícia contra eles numa festa. Violência física e verbal: xenofobia, racismo, machismo, preconceito, discriminação, chutes, tapas e socos, spray de pimenta e até ‘confisco’ de celulares para que não vazassem imagens da abordagem na internet. Enfim...


Nesta ‘cultura militar e violenta’, seria a polícia um governo a parte que faz suas próprias leis? Que age acima da lei constitucional? Que justiça é esta? Que moral é esta? Que ética é esta? Um crime por acaso justifica outro? É preciso urgente rever esta situação antes que tudo vire banalidade e guerra...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



Nenhum comentário: