Militarismo,
um governo a parte?
A partir de postagens em perfis de
policiais militares no facebook, um sociólogo constatou que a violência e a
discriminação faz parte de certa ‘cultura militar’. Um dos elementos mais
propagados nestes perfis é a apologia à violência e ao uso de armas como
pretexto moral de certa ‘correção social’. Outro fato comum é o uso vulgar do
termo ‘vagabundo’ por parte significativa dos policiais, uma palavra adorada
por muitos militares e historicamente carregada de significados preconceituosos
e discriminatórios. A ‘cultura militar’ atual tem relações diretas com o
período da ditadura militar brasileira, onde se perseguiam e reprimiam
estudantes, professores, intelectuais, artistas e pensadores, em nome de uma
pretensa ‘ordem’ - ordem para quem?
A psicanálise constatou que parte significativa
do autoritarismo e abuso de poder, assim como outras violências, tanto físicas
quanto verbais, acontecem como uma compensação de frustrações e impotências.
Alguns estudiosos também falam de uma lacuna intelectual e falta de
sensibilidade, sendo que, historicamente, o militarismo é marcado pela repressão
e caça aos diferentes: movimentos culturais e sociais. A partir disso, a
questão que não dá para ignorar: O que se ensina nos quartéis? Não seriam os
policiais doutrinados para tal repressão às diferenças e minorias?
Alguém vem e me diz que ‘policiais ganham mal,
por isso agem assim’. Então quer dizer que ‘ganhar mal’ justifica o abuso de
poder? Sou professor e ganho tão mal quando um policial, e muitas vezes sou mal
tratado e desvalorizado na minha profissão, então se fosse por esta ‘lógica’
deveria eu descontar isso no meu trabalho e nos meus alunos?
Casos de violência policial e
abusos de poder são corriqueiros no Brasil. Leia-se os inúmeros e cotidianos
casos no Rio de Janeiro, por exemplo, onde policiais forjam situações para
cometerem seus crimes. Aqui em Chapecó, professores e alunos da Universidade
Federal (UFFS) denunciaram uma abordagem violenta da polícia contra eles numa
festa. Violência física e verbal: xenofobia, racismo, machismo, preconceito,
discriminação, chutes, tapas e socos, spray de pimenta e até ‘confisco’ de
celulares para que não vazassem imagens da abordagem na internet. Enfim...
Nesta ‘cultura militar e violenta’,
seria a polícia um governo a parte que faz
suas próprias leis? Que age acima da lei constitucional? Que justiça é esta?
Que moral é esta? Que ética é esta? Um crime por acaso justifica outro? É
preciso urgente rever esta situação antes que tudo vire banalidade e guerra...
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó
Nenhum comentário:
Postar um comentário