Queria
estar por dentro da aventura das palavras que correm a frase. Queria compor o
texto até o fim, linha após linha, parágrafo após parágrafo, para que quando
terminasse, algum leitor dissesse baixinho: ‘Deve ter sofrido, mas terminou’.
Um reconhecimento. Queria dizer coisas que não se dizem a qualquer
circunstancia ou momento, a qualquer preço, por qualquer motivo. Dizer coisas
importantes, grandes, inusitadas e de impacto. Mas só sei o óbvio. Alguém deve
saber mais que isso, mas não se manifesta. Por quê? Gostaria de saber. Queria
falar do pássaro bem-te-vi que canta toda manhã na janela da minha cozinha
enquanto tomo meu Nescafé amargo. Queria ter a sensibilidade de falar do cão
que passa triste todo dia às cinco da tarde em frente a minha casa, falar do
dia e da noite, suas nuvens e suas estrelas, seus princípios e seus fins.
Queria falar do mundo, do tudo e do nada, onde eles se encontram – deve ser na
curva de algum lugar impossível. Queria entender a física quântica, Freud e a
poesia do Mano Lima. Meu avô disse um dia que eu poderia falar, poderia
escrever e me expressar sem objetivos, mas eu não acreditei. Hoje, ainda
duvido. Queria beber cerveja comendo fritura no bar da esquina e, sentindo o
cheiro da chuva chegando, alertar os que estão em volta: ‘Vai chover!’ – só
para me achar alguém especial (mas não há nada de especial nisso). Queria falar
aos meus alunos do problema ambiental sem precisar de tanto argumento,
fazendo-me compreender facilmente. Mas não, estou aqui, parecendo um doido, no
encosto de uma sombra diurna, sonhando com o que ainda não fiz e talvez nunca
faça.
Contudo,
eu devia estar satisfeito, conformado, com tudo. Mas não, prossigo
insatisfeito. Procuro e não acho e quando acho já não quero mais. Minha vida é
cheia de vontades e possibilidades, de limites e paixões e muitas negações.
Minha vida é uma história e pode ser um conto, novela ou romance. Uma canção.
Um dia, quem sabe, um poema.
O ato de escrever...
“O escritor
é o arauto emocional de seu país e de sua classe, é seu ouvido, seus olhos e
seu coração; é a voz de sua época. Deve saber tanto quanto seja possível, e
quanto melhor conheça o passado melhor entenderá seu próprio tempo, (...)”.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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