"A grande virtude do Céu e da Terra chama-se vida" (‘I Ching, o Livro das
Mutações’)
O ano começa no nosso calendário gregoriano-ocidental
e continua no tempo livre da vida tal como ela é, cheia de natureza, caos e algumas
ordens ou organizações próprias – além da organização sociocultural humana.
Pois bem. Nós com a vida continuamos, sobreviventes em meio aos trâmites do
tempo. O clima anda revolto, com tempestades e outras violências aumentadas
pelo aquecimento global. A correria que o ‘homem civilizado atual, profissional
e bem sucedido’ condiciona para a educação, cultura e modo de vida, reflete em
outra corrida, a ‘corrida para a morte’. Sua morte. Nossa morte. A própria
morte do homem que corre e nunca chega - pois já está. Essa, esta, isso e não
aquilo é a vida. Sem tirar nem por. Assim mesmo. Quem segue o discurso
idealista-reducionista de ‘se dar bem na vida’ já está automaticamente
correndo, buscando, não a vida, mas a morte, pois é ela, a morte, a única que chega
– a vida sempre está. Sim, tudo bem, pode ser. Se existir um ‘depois da morte’,
aí, talvez então saibamos se existe algo como ‘outra vida’. Uma ‘vida
pós-morte’ muito prometida pelas religiões. Seja no alcance do paraíso ou por
encarnação, não temos esta ‘projeção de vida’, pois a vida que temos é esta,
aqui e agora. Mas, todos realmente vivem esta vida? Ou alguns (ou muitos)
apenas sobrevivem sobre ela? Acontece que, em várias situações desta vida,
pessoas ‘escolhem’ coisas para fazer e então ser-estar que reduzem a potência
das suas próprias condições de viventes. Ou seja, no leque de possibilidades
que a vida é ou nos oferece, muitos ‘optam’ pelo ‘comum’ ou pelo que está na
moda, ou ainda, pelo que lhes parece mais conveniente e/ou fácil, movidos por
certa comodidade ou preguiça mental e física. Pior é que com isso, levam
consigo outros, ou pelo menos, situações ou contextos se criam integrando
outros devido a essa comodidade ou preguiça. Eis que muita coisa incoerente,
bizarra, mesquinha, superficial acontece e toma boa parte do espaço daquilo que
poderia ser grandioso ou pelo menos instigante para a vida e a organização
sociocultural humana como um todo. Falo em ‘reflexo’. Ações, assim como
palavras, refletem no mundo, na vida, tornando-se partes deles. E nisso, se
integram as ‘escolhas’, as poucas que realmente nos aparecem como
‘oportunidades’ ou ‘possibilidades’, pois grande parte delas são induções ou
alienações. Portanto, vivamos, para além das convenções...
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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