sexta-feira, 11 de março de 2016

Na noite xapecoense: 'pessoas elegantes e pessoas enfeitadas'...

Certa feita, certo 'pensador' disse: 'no mundo existem dois tipos de pessoas: as elegantes e as enfeitadas'. Nisso, ouço pelo rádio uma chamada para duas festas do dito 'sertanejo universitário' de uma dita 'casa de shows' (meio badalada) aqui da cidade, que dizia: "O que acontece na 'casa' fica na 'casa'" - e outra: "Se eu não lembro, não fiz". Estes são os nomes das 'festas'. Percebam o recado sugestivo que estes nomes de festas trazem em si. Como tantos eventos de 'música popularizada' (e não 'popular' como se diz), convites sugestivos que induzem e 'tentam' ser 'descolados', inteligentes e bem humorados, mas que, no fundo são apenas discursos clichês e apelativos. E o 'estilo musical' traz em si o complemento 'universitário'. Com isso, conseguiram ludibriar direitinho àqueles que não pensam por si próprios e 'vivem na carona' de outros. Nessas festas prevalece certa 'breguice' (não me refiro ao 'brega' popular como proposta estético-provocativa), mas sim àquilo que quer ser sofisticado ou inteligente e acaba sendo vulgar e caricato. Um pseudo-refinamento, uma tentativa discursiva de elegância, inteligência ou sofisticação. Começando pelo anúncio dos eventos e pela 'baixa qualidade' artístico-musical das atrações e indo até a 'ação de rebanho' e falta de personalidade daqueles que apenas consomem e são consumidos, seguem modas e alimentam o circo horroroso que é esta 'cultura do espetáculo', da frivolidade e da falta de ideias e imagem próprias. Elegância é outra coisa. Falando em cultura, a 'cultura popular' em sua maior expressão está no interior, nas suas festas e ritos, como as das etnias indígena e cabocla. Mas, a questão que problematizo é o centro da cidade mesmo, no que alguns chamam cultura pra juventude. Acontece que não há uma política pública quanto aos espaços para a questão sociocultural na cidade, aí o negócio fica concentrado no setor privado. Assim ficamos reféns do capital, do dinheiro. As poucas ações que existem, geralmente vem de pessoas que se organizam independente do poder público, na maioria das vezes em 'feiras’. E mesmo nestas, predomina o ‘comércio’. Elas precisam ter mais elementos artísticos, assim como incentivar o 'escambo' (troca) e valorizar os artistas que se apresentam e expõem sua arte, para além da compra e venda. Em se tratando de 'artesanato', acho válido que se comercialize, como acontece, porém, também defendo que precisa mais espaço e incentivo e valorização da 'arte' mesmo, dos artistas e suas expressões. Não sendo contra, muito pelo contrário, é digno que aconteçam feiras, e que o artesanato, assim como o 'comércio alternativo', tomem seus espaços, porém, como já disse, para ser algo mais abrangente, a arte e suas expressões precisam acontecer e serem valorizadas também, assim como está sendo o 'comércio alternativo'. E isso, para se tornar uma cultura, um hábito em Chapecó, depende, além da organização, dos que frequentam e vivem isso, sejam eles 'artistas' ou 'apreciadores' das artes, de investimentos e projetos vindos do poder público. Ofertar isso à população é obrigação, e assim ter espaços diferentes ou alternativos aos das festas privadas cheias de enfeite e pouca elegância.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó



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