Certa
feita, certo 'pensador' disse: 'no mundo existem dois tipos de pessoas: as
elegantes e as enfeitadas'. Nisso, ouço pelo rádio uma chamada para duas festas
do dito 'sertanejo universitário' de uma dita 'casa de shows' (meio badalada)
aqui da cidade, que dizia: "O que acontece na 'casa' fica na 'casa'"
- e outra: "Se eu não lembro, não fiz". Estes são os nomes das
'festas'. Percebam o recado sugestivo que estes
nomes de festas trazem em si. Como tantos eventos de 'música
popularizada' (e não 'popular' como se diz), convites sugestivos que induzem e
'tentam' ser 'descolados', inteligentes e bem humorados, mas que, no fundo são
apenas discursos clichês e apelativos. E o 'estilo musical' traz em si o
complemento 'universitário'. Com isso, conseguiram ludibriar direitinho àqueles
que não pensam por si próprios e 'vivem na carona' de outros. Nessas festas
prevalece certa 'breguice' (não me refiro ao 'brega' popular como proposta
estético-provocativa), mas sim àquilo que quer ser sofisticado ou inteligente e
acaba sendo vulgar e caricato. Um pseudo-refinamento, uma tentativa discursiva
de elegância, inteligência ou sofisticação. Começando pelo anúncio dos eventos
e pela 'baixa qualidade' artístico-musical das atrações e indo até a 'ação de
rebanho' e falta de personalidade daqueles que apenas consomem e são
consumidos, seguem modas e alimentam o circo horroroso que é esta 'cultura do
espetáculo', da frivolidade e da falta de ideias e imagem próprias. Elegância é
outra coisa. Falando em cultura, a 'cultura
popular' em sua maior expressão está no interior, nas suas festas e ritos, como
as das etnias indígena e cabocla. Mas, a questão que problematizo é o centro da
cidade mesmo, no que alguns chamam cultura pra juventude. Acontece que não há
uma política pública quanto aos espaços para a questão sociocultural na cidade,
aí o negócio fica concentrado no setor privado. Assim ficamos reféns do
capital, do dinheiro. As poucas ações que existem, geralmente vem de pessoas
que se organizam independente do poder público, na maioria das vezes em 'feiras’.
E mesmo nestas, predomina o ‘comércio’. Elas precisam ter mais elementos
artísticos, assim como incentivar o 'escambo' (troca) e valorizar os artistas
que se apresentam e expõem sua arte, para além da compra e venda. Em se
tratando de 'artesanato', acho válido que se comercialize, como acontece,
porém, também defendo que precisa mais espaço e incentivo e valorização da
'arte' mesmo, dos artistas e suas expressões. Não sendo contra, muito pelo
contrário, é digno que aconteçam feiras, e que o artesanato, assim como o
'comércio alternativo', tomem seus espaços, porém, como já disse, para ser algo
mais abrangente, a arte e suas expressões precisam acontecer e serem
valorizadas também, assim como está sendo o 'comércio alternativo'. E isso, para
se tornar uma cultura, um hábito em Chapecó, depende, além da organização, dos
que frequentam e vivem isso, sejam eles 'artistas' ou 'apreciadores' das artes,
de investimentos e projetos vindos do poder público. Ofertar isso à população é
obrigação, e assim ter espaços diferentes ou alternativos aos das festas
privadas cheias de enfeite e pouca elegância.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó
Nenhum comentário:
Postar um comentário