Nossa
crise vai além, muito além da econômica (que, diga-se de passagem, é também
mundial). E esta não é a nossa maior crise. Por isso, falamos em crises
(plural).
O
Brasil, historicamente e culturalmente é corrupto e racista. E isso,
tristemente se estende às instituições, até aquelas 'sagradas', ou seja, as 'de
direito' ou com teor de 'jurídicas' e políticas, assim como na família e na
religião. Falta certa moral e ética nos pensamentos, costumes, tradições, ações de parte da população que foi educada ou
doutrinada, quando não militarmente, ideologicamente ou religiosamente, sob a
sombra de certas concepções 'elitistas' e 'raciais' de classe. Porém, nem
todos, ou muitos poucos, sabem ou compreendem isso. Outros, não querem nem saber.
Nossa
maior crise é educacional e cultural, no que concernem os valores, crenças,
bases teóricas, o que reflete diretamente nas práticas cotidianas, dentro e
fora das instituições. E aí está a conjuntura, o contexto atual, o resultado do
desmantelamento sociopolítico. Eis a face de uma realidade que poucos admitem e
muitos não fazem questão de modificar...
*
Vamos brincar de ser gente séria?
Fazer de conta que nosso maior problema é o governo e a corrupção que
atribuímos exclusivamente para ele? Sair pra rua manifestando nossos anseios,
euforias, histerias e disfarces de uma vida mesquinha, medíocre, incoerente e
insustentável. Vamos vestir o verde-amarelo do futebol-nike e mostrar os peitos
pelas ruas, vomitando discursos odiosos anti-projetos sociais. Vamos fazer de
conta que também somos contra Cunha e demais psicopatas da política nacional,
mas torcemos por ele e sua investida criminosa contra a democracia. Vamos com
nossos interesses pessoais ou particulares gritar pelo impeachment da presidenta,
nem que este seja um golpe de Estado arquitetado para fins
político-partidários. Nós não acreditamos no óbvio, só naquilo que nos
interessa crer. Somos religiosos até o talo, como nossa nova musa passageira e
como tantos outros heróis da pátria fumegante que usurpou nativos em pró desta
‘civilização’ de bondosos cidadãos brancos e ricos de bem - a jurista-pastora
que, histérica grita pelo impeachment que nós ansiamos ver para que nosso
carnaval de misérias intelectuais, culturais, morais e éticas seja da cor da
nossa bandeira, onde o sangue do nativo foi encoberto pela hipocrisia
discursiva da ‘ordem e progresso’ positivista, portanto ideológica. Mas nós
fingimos bem. Reproduzimos e nosso ódio opositor nos traz sentimentos de que
estamos vivos, nem que seja por míseros instantes. Nos apegamos a homens-mitos
como Bolsonaro, Neves e Rodrigues. Somos o cú da falsa inteligência. A bunda
gorda e sedentária batendo panelas das janelas limitadas da nossa alma sem luz
nem reflexão. Na pseudo-filosofia somos Olavos de Carvalhos, como na música
somos Lobões disfarçados de cordeirinhos, mas somos também parte do rebanho que
não quer se auto-determinar, mas quer prosseguir sob a sombra dos seus
pastores. Aleluia!
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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