quinta-feira, 14 de abril de 2016

Nossas crises...

Nossa crise vai além, muito além da econômica (que, diga-se de passagem, é também mundial). E esta não é a nossa maior crise. Por isso, falamos em crises (plural).
O Brasil, historicamente e culturalmente é corrupto e racista. E isso, tristemente se estende às instituições, até aquelas 'sagradas', ou seja, as 'de direito' ou com teor de 'jurídicas' e políticas, assim como na família e na religião. Falta certa moral e ética nos pensamentos, costumes, tradições, ações de parte da população que foi educada ou doutrinada, quando não militarmente, ideologicamente ou religiosamente, sob a sombra de certas concepções 'elitistas' e 'raciais' de classe. Porém, nem todos, ou muitos poucos, sabem ou compreendem isso. Outros, não querem nem saber.
Nossa maior crise é educacional e cultural, no que concernem os valores, crenças, bases teóricas, o que reflete diretamente nas práticas cotidianas, dentro e fora das instituições. E aí está a conjuntura, o contexto atual, o resultado do desmantelamento sociopolítico. Eis a face de uma realidade que poucos admitem e muitos não fazem questão de modificar...

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Vamos brincar de ser gente séria? Fazer de conta que nosso maior problema é o governo e a corrupção que atribuímos exclusivamente para ele? Sair pra rua manifestando nossos anseios, euforias, histerias e disfarces de uma vida mesquinha, medíocre, incoerente e insustentável. Vamos vestir o verde-amarelo do futebol-nike e mostrar os peitos pelas ruas, vomitando discursos odiosos anti-projetos sociais. Vamos fazer de conta que também somos contra Cunha e demais psicopatas da política nacional, mas torcemos por ele e sua investida criminosa contra a democracia. Vamos com nossos interesses pessoais ou particulares gritar pelo impeachment da presidenta, nem que este seja um golpe de Estado arquitetado para fins político-partidários. Nós não acreditamos no óbvio, só naquilo que nos interessa crer. Somos religiosos até o talo, como nossa nova musa passageira e como tantos outros heróis da pátria fumegante que usurpou nativos em pró desta ‘civilização’ de bondosos cidadãos brancos e ricos de bem - a jurista-pastora que, histérica grita pelo impeachment que nós ansiamos ver para que nosso carnaval de misérias intelectuais, culturais, morais e éticas seja da cor da nossa bandeira, onde o sangue do nativo foi encoberto pela hipocrisia discursiva da ‘ordem e progresso’ positivista, portanto ideológica. Mas nós fingimos bem. Reproduzimos e nosso ódio opositor nos traz sentimentos de que estamos vivos, nem que seja por míseros instantes. Nos apegamos a homens-mitos como Bolsonaro, Neves e Rodrigues. Somos o cú da falsa inteligência. A bunda gorda e sedentária batendo panelas das janelas limitadas da nossa alma sem luz nem reflexão. Na pseudo-filosofia somos Olavos de Carvalhos, como na música somos Lobões disfarçados de cordeirinhos, mas somos também parte do rebanho que não quer se auto-determinar, mas quer prosseguir sob a sombra dos seus pastores. Aleluia!


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



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