sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Um adeus à Francisco Gomes


Acordo cedo e cevo um mate em homenagem à Francisco Gomes, meu avô.
Seu Chico ou vô Chico, como também era chamado pelos seus, foi um grande homem, da raça dos campesinos colorados,
destes que o tempo esculpiu, com foice e enxada, na dura peleja da vida e lida da terra,
que foi seu sustento e da nossa família.
Noventa e dois invernos de história, destas que não figuram nos documentos oficiais, por não caberem neles.
Meu avô era Caboclo, destes que já não se nascem mais.
Grande mestre de conhecimentos passados que pouco vigoram nos programas de televisão, revistas, jornais
ou falatórios por aí,
mas que sustentam parte deste mundo feito a ferro e fogo...
e também alguns amores.
Seu Chico cresceu trajando bombacha, de facão na mão, cortador de erva-mate no interior do Rio Grande.
Foi com o vô Chico que aprendi algumas das maiores lições da minha vida: O amor e respeito pela terra e o pouco que sei da lida com ela, o amor pela literatura, pelas ‘estórias’, que aprendi ouvindo seus causos que me faziam sonhar, nas nossas prosas noturnas iluminadas pelo candeeiro,
nós e as mariposas que voejavam em roda.
Ah, foram dos melhores dias da minha vida àqueles, junto do meu avô!
E que bela infância eu tive por isso!
Nossas carteadas embaladas de risos e cachaça na ameixa,
antes dos mais deliciosos almoços do mundo, preparados pela minha avó no fogão a lenha.
Nenhuma rua ou prédio público levará seu nome. Nenhuma estátua será erguida em sua memória, pois isso tudo é muito pouco e não representa a importância de um homem e seu tempo, como meu avô.
Francisco Gomes, o vô Chico, um Caboclo, pediu para ser velado e sepultado vestido de bombacha e lenço vermelho.
A capelinha de madeira com a Santa Maria, antiga, ao lado.
Hoje o vô Chico descansa e seu riso me é eterno.
Enquanto escrevo estas linhas insuficientes para falar da sua grandeza, vou proseando e mateando com meu avô, com seu nobre espírito, sua energia presente, orgulhoso e honrado por ser herdeiro seu, da maior fortuna que pode existir: o amor pelas coisas simples e fundamentais da vida.
E ouço, serena, sua voz me dizendo: ‘Bombeie lá...’


Adeus Francisco Gomes, obrigado por tudo! E até mais ver...

* Bom descanso e boa transformação meu avô! Te amo!

08/08/2019.

 

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