...pelo menos a escravatura legalizada. A 'classe
dirigente' no Brasil é escravocrata. Alia-se a grupos econômicos mundiais e
deixa a população mais desprestigiada a mercê da miséria, da ignorância e da
violência. E não importa se jovens e crianças pobres morram por esse
'desleixo'. É o preço de certos privilégios de uma minoria burocrata e que vive de
status, e um modo de vida legitimado pelo consumismo irracional e irresponsável
da maioria. Quando falo em ‘classe dirigente’, roubo o conceito do professor
Dr. Gaudêncio Frigotto, e me refiro a grandes empresários, políticos, ícones da
indústria cultural, líderes religiosos, etc., todos os que têm muito poder e só
o utilizam para seus próprios interesses.
Depois de anos, a profissão de doméstica foi levada a sério e
inserida a sombra da lei e do Estado, como algo merecedor de respeito e
atenção, como tantas outras. Mas, bastou saírem às primeiras notícias a
respeito, que membros das ditas ‘classes’ média e alta, se manifestaram de
forma conservadora e segundo seus interesses ‘pequeno-burgueses’. Doeu, eu sei,
mas às vezes, a dor é necessária para que se perceba um naco maior a realidade.
Essa manifestação indignada contra a legitimidade da profissão de doméstica
mostra um espírito escravocrata de parte significativa da dita ‘classe
patronal’ no Brasil, herança elitista-portuguesa, dos tempos do Brasil império.
Pior é que ‘opiniões’ escravocratas são reproduzidas em salas de aula por
alunos, crianças. Nisso, eu imagino o que alguns pais andaram falando aos
filhos a respeito dessa questão.
Por acaso, um
bom médico continuaria sendo bom se não tivesse roupa lavada e passada, casa
limpa, crianças cuidadas, almoço na mesa? Então, é bom que os reclamantes se
acostumem com a ideia, pois, até que enfim, no Brasil, os últimos resquícios de
uma das várias formas de escravidão que ainda marcam a história desse país, desaparecerão
- pelo menos a nível legal, pois a escravidão clandestina e dos dias úteis, das
convicções e crenças báfias, de uma educação reprodutora e mantenedora,
continuam firmes e fortes.
* também publicado no jornal Folha do Bairro - 12/04/2013.
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