sexta-feira, 5 de abril de 2013

A beleza é um estado de espírito


...já ouvi isso em algum lugar. E concordo. Também já ouvi que, em se tratando de ‘beleza’, existem dois tipos de pessoas: ‘as elegantes e as enfeitadas’ - e também concordo com isso. Viu só? Nem tudo que vem de mim é discordância – como reza o senso comum daqueles que só encheram um lado da minha moeda. Na verdade, concordo com muita coisa, só que, concordâncias, geralmente, não dão boas crônicas. Um dos grandes sentidos da crônica é o questionamento, a problematização (ainda mais se o cronista tem ‘pés’ na filosofia, sociologia, linguagem e história).

A beleza e a elegância estão nos gestos, nas palavras, no modo de ser e dizer, na gentileza das ações e da relação. A beleza física, essa pode ser (e é!), um tanto relativa. Nossa herança grega (apolínea, melhor dizendo), e em algum grau, platônico-idealista, torna a ‘beleza’ aparente, ideal, vista linearmente pelo olhar já acostumado e convencido dos homens. Conceitos como ‘perfeição’ ou ‘beleza’, da forma que são concebidos no ocidente, seja por uma tradição ‘grego-apolínea-ideal’ ou pela publicidade mercadológica, no contexto da sociedade espetacular, alimentada por uma indústria cultural que tem força de indução e convencimento, são correntes em nossos dias, e reproduzidos pelos seres mais desavisados.

Atualmente esses conceitos, como o de beleza e perfeição, da forma como são usados, se apresentam como ‘verdades’ naturalizadas, absolutas, feitas publicidade e reprodução, e estão presentes no cotidiano do homem contemporâneo, consumista não por essência, mas por demência, e isso chega de forma ‘cruel’ até as crianças (ou pré-adolescentes, como comumente se diz hoje), que acabam reproduzindo ‘ingenuamente’ esses conceitos e valores, esses ‘quereres’ feitos ‘necessidades’ por ações massivas de convencimento, principalmente através da imagem vinculada nos vários meios de comunicação. Essas ‘crianças’ acabam perdendo o bom senso para a arrogância e vaidade, convencidas das suas ‘pseudoliberdades’, quando utilizando-se desse ‘poder’ das aparências para submeter outros e fazer disso uma forma de se impor e/ou impor seus modos superficiais ao meio. E o respeito, e o interesse pelo diferente, pelo conteúdo, caem na superfície de um ‘não pensar’ e ser. E essas crianças um dia crescerão, e muitas delas não passarão de reprodutoras de um modo de vida medíocre, mesquinho e televisionado, sem resquício algum de originalidade ou autenticidade. Seres pobres (ou miseráveis) de espírito, tão superficiais quanto suas posturas, modos, pensamentos, aparências e práticas.  Essa beleza não passa da superfície. Uma ‘beleza feia’, que transparece ao menor movimento ou sussurro da pobre criatura que, se mostrar alguma beleza, só o fará quando estiver imóvel. É assim que o ser vivo é confundido com uma estátua, e a vida com a morte. 


* também publicado no jornal Folha do Bairro, em 05/04


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