Aos resistentes da praça
central...
Eles movimentam-se rumo a dias melhores. Utopia ou esperança, não
importa, estão ativos. Pensam para além
de si próprios. Pensam, não pelo outro, mas o outro - e com o outro. As coisas
da vida em pauta. Pensam o mundo, a rua. A rua como espaço público de
convivência, para além do controle e do concreto. Enquanto muitos permanecem
trancados em suas casas no pretexto de que a rua é um lugar perigoso, eles
fazem da rua um lugar amplo, diverso, vivo. A rua traz um ar de liberdade e de
possibilidades que ela, só ela, tem. Viver a rua é ampliar as possibilidades de
vida. São guerreiros, são lutadores. São corajosos amantes da rua, pois só quem
ama a rua também a pode viver. Juntaram-se a outros guerreiros, outros lutadores
que, mesmo antes deles, já estavam por lá, cobertos por papelões dormindo sobre
o chão. Acompanhados por seus cães magros e alegres e com suas barbas mal
feitas, seus odores de sofrimento, seus risos de poucos dentes e muitas lidas,
eles fazem das ruas suas casas. Casas de tetos estrelados onde os quintais são
livres de muros e grades. Os guerreiros lutam por espaços mais amplos e
humanizados, por certa dignidade que consta em certos livros e discursos por
aí. Ocupam praças se aquecendo do frio com abraços solidários. Barracas armadas
de esperança e fé. Não a fé distante dos cultos ou das igrejas, nem das
promessas ou das instituições burocráticas, mas a fé cantante, expressiva e
audaz do povo. Eles fazem mais do que os olhos podem ver, e são agentes que
escrevem a história presente, com seus atos e palavras, com suas coragens e
vontades de mudança, e por mais difícil que a luta possa ser, resistem, sem
perder o riso e a ternura, jamais!
*
Dedicado aos acampados da ‘Assembleia Popular Permanente’ da praça
central de Xapecó.
*
O lugar da filosofia para além da
fragmentação filosófica
Os que habitam o mundo ideal não
percebem a guerra que há aqui fora
Tratar o conhecimento e o pensamento como algo distante das
experiências cotidianas faz perder a noção do todo, e isso é admitir a
existência de uma ‘superioridade’ de pensamento, ou seja, uma divinização do
lugar do pensar e do pensador - como reza, por exemplo, o idealismo platônico.
Uma das problemáticas a enfrentar no contemporâneo, é justamente a fragmentação
do pensamento. É preciso retomar o pensamento (e o conhecimento), como algo
‘universal’ (mas não generalizante – e há uma diferença nisso). Para isso, são
imprescindíveis as referências ou a soma dos conhecimentos e leituras de mundo
adquiridos no caminho e pelo tempo.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 11/07
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