Saúdo o mundo ao meu redor. As pessoas passam sem me notar. Não
enxergam ou fingem não ver. Parece que não há mais poesia pelas ruas. Carros e
seus motoristas afobados entopem o trânsito e atropelam cães, gatos, velhos e
crianças. E eu observo tudo bem de perto. Tento dizer algo, mas minha voz não
chega aos ouvidos ocupados desses cidadãos trabalhadores e ordeiros. Correm.
Como eles correm! Deixam seus filhos na escola para algum professor cuidar e no
final do mês receber uma miséria por isso. Em casa, empurram seus filhos para o
vídeo game ou internet. Uma mão na direção outra no celular. Assim conduzem
seus veículos pelas ruas destruídas desta cidade com pouca memória. Construções
históricas dão lugar a prédios retos e brancos, quando não, para
estacionamentos. Carros e mais carros. E a vida passa sem sinalização que a
faça ir mais devagar. Já está na hora de ir. Recolho meus apetrechos. Cobertor
e chapéu velhos, minha garrafa de canha, meu rádio de pilha. O dia foi longo e
cansativo. Algumas moedas vão garantir meu jantar e o trago. Amanhã procuro
outro ponto da cidade para ganhar a vida e observar a corrida deste mundo
louco. Minha cidade já foi mais bonita e tranquila. As coisas mudaram. Algumas
não. A vida continua sendo um apanhado de contradições humanas...
"Chapecó, aqui tudo acontece (?)"
Desvio de
merenda escolar por deputado e secretária da educação, vereador morto
misteriosamente (leia-se caso Chiarello), caso de privilegio fraudulento na
contratação de serviço entre poder público e empresa promovedora de eventos
(leia-se caso Efapi), assim como no transporte público, entre outros. É, aqui
tudo acontece mesmo.
‘Caminhoneiros' ou 'empresas de transporte'?
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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