Dos discursos e contradições
A 'esquerda' latino-americana perde
um importante espaço político com a derrota de uma aliada ‘centro-esquerda’ na
presidência da república. Enquanto isso, na espetaculosa medíocre mídia
brasileira, comemoração em tom cínico. O novo presidente argentino em discurso
eleitoral disse que vai governar 'sem ideologia', mas na sua primeira fala
pós-eleição também disse que vai pedir a retirada da Venezuela do MERCOSUL. Grande
‘coerência’, não?! O sonho da esquerda em unificar a América Latina como soberana
frente aos interesses imperialistas capitaneados pelos EUA, vai desfalecendo,
enquanto o ‘velho’ neoliberalismo que assombrou os anos’90 vai sorrindo
novamente.
Um erro da
teoria economicista?
A melhoria da condição econômica da população
brasileira e, consequentemente, o aumento do consumo, não acompanhados na mesma
proporção de um aprofundamento cultural e educacional, gerou um aumento
significativo da intolerância, da violência (física e simbólica), assim como da
manifestação da ignorância em muitos níveis sociais e políticos. Isso comprova
que, não é só a ‘economia’ quem determina o meio e a cultura, como proferem
alguns interpretes do marxismo e seu aspecto ‘economicista’. Erro teórico? (se
é que isso existe, pois toda teoria quando apontada para o futuro como um
caminho de tempo linear-progressista que promove uma crença idealista de
progresso, é apenas uma perspectiva, uma projeção, uma crença, e não uma
verdade ou realidade), ou erro de interpretação? Em todo caso, além de teorias,
leituras e interpretações, é necessário perceber as transformações históricas e
suas contradições, para além da crença e da perspectiva ou intenção. Toda
teoria não deve ser concebida como um receituário, bula ou religião, mas apenas
como possibilidade. Os avanços sociais que o Brasil teve nestes últimos anos
com os governos Lula e Dilma vão balançando com isso – por isso.
Novo romance
místico?
Eduardo Cunha alivia sua investida no processo de
impeachment da presidenta Dilma. Em troca, do outro lado, parte significativa
do PT alivia o processo de cassação de Cunha. É o jogo amigos! Um jogo, sob
tudo, obediente a uma estrutura de poder que, historicamente, tem como forma as
negociações, as trocas de interesses e de benefícios. Tudo em pró de um poder
que quase não se sustenta, onde a realidade se torna uma ironia do destino,
jogada, como dizem, a toda sorte, como bem fabulam certos discursos místicos.
Enquanto isso, a realidade nua e crua de alguns muitos brasileiros continua
sendo um carma.
‘O bolsonarismo
é o despertar do neonazismo a brasileira’.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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