quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Leituras do Cotidiano

Dos discursos e contradições

A 'esquerda' latino-americana perde um importante espaço político com a derrota de uma aliada ‘centro-esquerda’ na presidência da república. Enquanto isso, na espetaculosa medíocre mídia brasileira, comemoração em tom cínico. O novo presidente argentino em discurso eleitoral disse que vai governar 'sem ideologia', mas na sua primeira fala pós-eleição também disse que vai pedir a retirada da Venezuela do MERCOSUL. Grande ‘coerência’, não?! O sonho da esquerda em unificar a América Latina como soberana frente aos interesses imperialistas capitaneados pelos EUA, vai desfalecendo, enquanto o ‘velho’ neoliberalismo que assombrou os anos’90 vai sorrindo novamente.

Um erro da teoria economicista?

A melhoria da condição econômica da população brasileira e, consequentemente, o aumento do consumo, não acompanhados na mesma proporção de um aprofundamento cultural e educacional, gerou um aumento significativo da intolerância, da violência (física e simbólica), assim como da manifestação da ignorância em muitos níveis sociais e políticos. Isso comprova que, não é só a ‘economia’ quem determina o meio e a cultura, como proferem alguns interpretes do marxismo e seu aspecto ‘economicista’. Erro teórico? (se é que isso existe, pois toda teoria quando apontada para o futuro como um caminho de tempo linear-progressista que promove uma crença idealista de progresso, é apenas uma perspectiva, uma projeção, uma crença, e não uma verdade ou realidade), ou erro de interpretação? Em todo caso, além de teorias, leituras e interpretações, é necessário perceber as transformações históricas e suas contradições, para além da crença e da perspectiva ou intenção. Toda teoria não deve ser concebida como um receituário, bula ou religião, mas apenas como possibilidade. Os avanços sociais que o Brasil teve nestes últimos anos com os governos Lula e Dilma vão balançando com isso – por isso.

Novo romance místico?

Eduardo Cunha alivia sua investida no processo de impeachment da presidenta Dilma. Em troca, do outro lado, parte significativa do PT alivia o processo de cassação de Cunha. É o jogo amigos! Um jogo, sob tudo, obediente a uma estrutura de poder que, historicamente, tem como forma as negociações, as trocas de interesses e de benefícios. Tudo em pró de um poder que quase não se sustenta, onde a realidade se torna uma ironia do destino, jogada, como dizem, a toda sorte, como bem fabulam certos discursos místicos. Enquanto isso, a realidade nua e crua de alguns muitos brasileiros continua sendo um carma.


‘O bolsonarismo é o despertar do neonazismo a brasileira’.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



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