segunda-feira, 26 de março de 2012

O ‘maior espetáculo da terra!’ – Uma celebração!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não há palavras, mas vou tentar traduzir um pouco, talvez o mínimo do que foi aquilo que vi-ouvi no domingo à noite em Porto Alegre (e não só eu. Foram 6 ônibus e alguns micro-ônibus e algumas vãs que saíram aqui de Xapecó e da região). Aproximadamente 80 mil pessoas puderam ou tiveram o privilégio de poder ver aquilo. Se disser que foi uma apresentação, um show, um espetáculo, estarei mentindo. Por não ter um termo mais adequado (quem saiba ele nem exista), vou chamar aquilo de ‘celebração’. Isso mesmo, foi uma celebração da música e da imagem, da arte áudio-visual. Não foi por nada que este show foi chamado de ‘o maior espetáculo da terra’. Roger Waters é mesmo um dos gênios vivos da música mundial, assim como Pink Floyd foi (e é) uma das maiores bandas de todos os tempos. Chegamos a Porto Alegre depois do meio-dia. Foram quase 8 horas de estrada num ônibus muito confortável. Viagem tranqüila. Durante anos a fio eu e Liza fomos até POA participar do FSM (Fórum Social Mundial) e das Bienais de Arte do Mercosul, e já fazia um tempo que não íamos. Saudades daquela cidade que gosto tanto. Já passei noites em claro naquele caos urbano da capital gaúcha, sentindo a vida e o perigo urbano de perto. Mas essa é outra história. Chegamos direto para o almoço no shopping Praia de Belas, pertinho do rio Guaíba. Confesso que o shopping não é um bom lugar para almoçar. Demora no atendimento e a comida veio fria. Mas o chope, o bate-papo e as companhias salvaram aquele momento. Depois de um tempinho sentados na grama de uma praça pra esticar um pouco, caminhamos rumo ao estádio Beira Rio. Entre uma cerveja e outra (polar, muita polar, dado beer e Heineken – eita!), entre um bate papo e outro, se passaram umas 4 horas - e nós na fila. Uma multidão se dirigia aos portões que se abriram depois das 17h. Sofrimento? Que nada! Cerveja gelada e boas companhias fazem o tempo ser mesmo relativo. Curtimos cada momento, ainda mais sabendo pra onde estávamos indo. Gente de toda a idade se aglomerava naquela caminhada lenta para dentro do estádio. Entramos. Lá estava aquele muro de aproximadamente 140 metros de comprimento e alguns tantos de altura (creio eu) – era enorme! Aquele palco gigantesco e com uma estrutura que eu nunca havia visto antes. Duas enormes torres de projeção direcionadas para o muro. Enquanto o espetáculo não começava, do outro lado uma banda local tocava (muito boa por sinal), era a Bluegrass, que fazia um country-folk na linha mais tradicional. Ficamos um tempo sentados na grama ouvindo a banda e bicando uma cervejinha. O estádio começou a lotar e fomos tomar nosso espaço antes que fosse tarde. Conseguimos um bom lugar no meio das duas torres de projeção. Mais alguns minutos e as luzes se apagaram, a escuridão tomou conta do estádio lotado e os gritos e aplausos se fizeram ouvir. Luzes leves se acenderam no palco e com um estouro muito alto começou o ‘maior espetáculo da terra’. Um clima de ‘revolução’ iniciou o espetáculo, com bandeiras tremulando e símbolos projetados no muro. No final da primeira música ‘In the Flash?’, um avião que veio pelo nosso lado direito, vai e se choca no muro. Se houve uma explosão. O disco The Wall, se não me equivoco, foi tocado de cabo a rabo. Som e imagem como nunca havia visto antes. Falo de qualidade senhores e senhoras, qualidade! Falo de exuberância e grandiosidade. Se ‘não existe mesmo perfeição’, este foi o show deixou essa afirmação em dúvida. Projeção no muro inteiro. A banda tocando no palco que ficava na parte inferior do muro (e que banda!). O espetáculo foi dividido em dois atos ou partes de, mais ou menos, uma hora cada. E a história foi contada. Desde a Segunda Guerra Mundial, passando pela Guerra Fria e a ‘queda’ dos regimes totalitários e por fim a ascensão do capitalismo moderno-contemporâneo (o que foi o maior alvo de crítica do show). Um porco (ou javali) enorme foi lançado acima do público com símbolos e frases de efeito. Alguma frases em língua portuguesa, como: “se o campo não planta a cidade não janta”, estavam escritas no porco. No muro, também foram projetadas algumas frases em português. Waters falou um pouco com o público em português, tecendo até uma crítica ao ‘Terrorismo de Estado’, quando as imagens no muro davam conta disso. Imagens de guerras e ataques do ocidente contra o oriente, muito atuais, mesclavam-se com mensagens anti-consumismo e anti-guerra. Símbolos de poder a todo momento eram trazidos a tona, sempre duramente criticados de forma artística e estética, com certo sarcasmo e ironia. Até aquela imagem divulgada pelo site WikiLeaks de Julian Assenge, denunciando um ataque aéreo do exército norte americano a civis no Iraque foi projetada no muro. Uma homenagem ao brasileiro morto ‘por engano’ na Inglaterra à alguns anos atrás também foi feita por Waters. Tudo isso e muito mais foi possível se ver/perceber e sentir durante esse ‘feito’. Com certeza uma aula de história e sociologia, tendo como linguagem a música e a poética e o realismo e beleza e pujança das imagens. Tudo muito bem sincronizado e preparado para possibilitar efeitos e leituras. As referências também ficaram visíveis para os que conhecem e relacionam obras e criação. O escritor George Orwell e suas obras: ‘1984’ e ‘A revolução dos bichos’, assim como o artista plástico Banksy, entre outras, certamente, foram referências para a construção e concepção do espetáculo. Acabado o concerto da ‘maior ópera rock da história’, com muitos agradecimentos por parte de Roger Waters e sua equipe de músicos e produtores, nos dirigimos a saída do estádio. Tudo transcorreu bem, e o comentário era um só por parte de todo aquele povo que se reunião para tomar uma superdose de música, arte, cultura, história e crítica social: ‘Sem palavras!’. Sem exageros, mas isso tudo o que escrevi aqui, não chega nem perto do que pude presenciar. E o mundo continua a valer a pena, e eu alimentado de vontade criativa e de luta - mais ainda, depois disso. Ouvidos, razão e alma contemplados, agora é refazer o mundo, alimentado com essa ‘celebração’ a arte e a vida. Eu que já era exigente (ou chato) em relação as minhas escolhas, ao meu gosto, aos meus critérios quanto a arte de um modo geral, com isso, me tornei ainda mais. Enfim... Obrigado Roger Waters e The Wall!


Herman G. Silvani (ou Niko).


















* Vídeo/Abertura do Show em POA:





Mais informações e imagens em:






Um comentário:

Liza disse...

....ainda Comfortably Numb!